Editorial de Páscoa
diretamente do blog pensar enlouquece
"1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 - então o 11, e você começa tudo outra vez". Onze, a renovação da dezena: assim interpreta Joseph Campbell em O Poder do Mito. Viver é começar de novo, e de novo, e de novo. Nada mais apropriado, pois, do que uma edição número onze no dia em que se celebra a ressurreição de Cristo: morte e renovação.
Toda mudança carrega em si um pouco de morte e mais um tanto de renascimento. Como o adulto de hoje, que precisou matar muitas atitudes e ilusões da infância para se tornar o que é. Como eu, que assassinei, a sangue frio, muitos dos mitos que carreguei comigo em meus "wonder years": o Papai Noel, o coelhinho da Páscoa, o "bom selvagem" de Rousseau, a minha futura carreira de cantor de rock, os amores que um dia se foram (sempre me identifiquei com o Charlie Brown, em seus constantes desencontros com a garotinha ruiva).
Hoje sou um homem mais cínico e cético do que gostaria, mas acredito que dentro da dosagem necessária para sobreviver a um mundo que vem sem manuais de instrução ou botes salva-vidas. Sei um pouco a respeito das engrenagens sujas que movem o teatro da vida, o bastante para acreditar que um pouco de ignorância é pressuposto fundamental para ser feliz no mundo em que vivemos. Mas, acima de tudo, tenho esperanças.
Sim, tenho esperanças. Não que eu seja um daqueles caras que acreditam que basta juntarmos nossas mãos e cantar "Imagine"para mudar o mundo: meu lado cínico não resiste a fazer piadas sobre hippies emaconhados (não aqueles mauricinhos da novela das seis, assépticos e domesticados como o som de uma boy band), ou esquerdistas que guardam suas camisetas com a foto do Che Guevara penduradas ao lado de suas calças Fórum e t-shirtsNike.
Minhas esperanças não estão atreladas a nenhum credo ou religião. Não tenho ídolos nem líderes a seguir, que pudessem me guiar em meio à alienação, ao tédio e ao torpor de um mundo devastado por guerras estúpidas, preconceitos acéfalos, desigualdade social e falta de amor. Não leio livros de autoajuda, não sigo paradas de sucesso, não faço doações à LBV, não sei qual é o sentido de nossa passagem por aqui e, por favor, não desejo receber nenhum anexo de Power Point com mensagens edificantes sobre a humanidade.
Tampouco sei porque fui acometido com estas reflexões. Talvez seja porque não ganhei nenhum ovo de Páscoa.
Toda mudança carrega em si um pouco de morte e mais um tanto de renascimento. Como o adulto de hoje, que precisou matar muitas atitudes e ilusões da infância para se tornar o que é. Como eu, que assassinei, a sangue frio, muitos dos mitos que carreguei comigo em meus "wonder years": o Papai Noel, o coelhinho da Páscoa, o "bom selvagem" de Rousseau, a minha futura carreira de cantor de rock, os amores que um dia se foram (sempre me identifiquei com o Charlie Brown, em seus constantes desencontros com a garotinha ruiva).
Hoje sou um homem mais cínico e cético do que gostaria, mas acredito que dentro da dosagem necessária para sobreviver a um mundo que vem sem manuais de instrução ou botes salva-vidas. Sei um pouco a respeito das engrenagens sujas que movem o teatro da vida, o bastante para acreditar que um pouco de ignorância é pressuposto fundamental para ser feliz no mundo em que vivemos. Mas, acima de tudo, tenho esperanças.
Sim, tenho esperanças. Não que eu seja um daqueles caras que acreditam que basta juntarmos nossas mãos e cantar "Imagine"para mudar o mundo: meu lado cínico não resiste a fazer piadas sobre hippies emaconhados (não aqueles mauricinhos da novela das seis, assépticos e domesticados como o som de uma boy band), ou esquerdistas que guardam suas camisetas com a foto do Che Guevara penduradas ao lado de suas calças Fórum e t-shirtsNike.
Minhas esperanças não estão atreladas a nenhum credo ou religião. Não tenho ídolos nem líderes a seguir, que pudessem me guiar em meio à alienação, ao tédio e ao torpor de um mundo devastado por guerras estúpidas, preconceitos acéfalos, desigualdade social e falta de amor. Não leio livros de autoajuda, não sigo paradas de sucesso, não faço doações à LBV, não sei qual é o sentido de nossa passagem por aqui e, por favor, não desejo receber nenhum anexo de Power Point com mensagens edificantes sobre a humanidade.
Tampouco sei porque fui acometido com estas reflexões. Talvez seja porque não ganhei nenhum ovo de Páscoa.
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P.S. 1: O texto acima foi publicado originalmente na edição 011 do SpamZine, em 15 de abril de 2001. À guisa de contextualização: o SZ foi um fanzine, distribuído semanalmente por e-mail para mais de 3.500 assinantes previamente cadastrados, que durou 93 edições e circulou de fevereiro de 2001 a novembro de 2003. Criação minha e do cumpadi Ricardo Sabbag, o SpamZine surgiu na esteira do seminal CardosOnline, mailzine criado por André Czarnobai, a.k.a. Cardoso, que influenciou toda uma geração de novos autores que encontrou na internet o espaço ideal para divulgar seus trabalhos e achar novos comparsas.
Mas enfim, como diz aquele clichê amarfanhado, recordar é viver. Citei o SpamZine em uma entrevista que dei a Augusto Nunes para o site da Veja. Bom pretexto para resgatar este texto sobre a Páscoa e lembrar dos bons tempos em que fui editor de um fanzine rodado em um mimeógrafo virtual. 
P.S. 2: Sobre a época dos fanzines por e-mail, vale a pena ler este artigo do Pedro Doria: "Quando Cardoso inventou a internet".
P.S. 3: Minhas opiniões sobre a Páscoa, escritas há nove anos, são essencialmente as mesmas. Mas houve ao menos uma diferença essencial neste ano de 2010: ganhei um ovo de Páscoa. 
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