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16 outubro, 2010

Técnicas de negociação hahaha

25 agosto, 2010

Deus (conselheiro político?)

Deus
Data: 29/08/2010
Veículo: FOLHA DE S. PAULO - SP
Editoria: PODER
Jornalista(s): FERNANDA TORRES
Assunto principal:POLITICA 
A eleição virou um fenômeno de massa, midiático, que age em favor próprio

NA ESPERANÇA de ver os candidatos ao vivo, fui ao encontro do Fórum Nacional na Academia Brasileira de Letras no Rio de Janeiro. O fórum é uma associação apartidária de crânios privilegiados que estuda maneiras viáveis de modernizar o Brasil.
Serra fez forfait e Dilma enviou Michel Temer. Marina e Plínio compareceram. A sessão foi presidida por Reis Veloso, ministro do Planejamento de Médici e Geisel e um dos responsáveis pelo milagre brasileiro nos anos 70.
Quando eu era adolescente, qualquer homem público ligado aos militares era visto como a encarnação viva do Lobo Mau. Hoje, é curioso perceber que a agenda econômica da ditadura não se afasta muito da dos candidatos de esquerda que disputam a Presidência.
Veloso fez uma impecável explanação histórica do nosso atraso. Comparou o PIB, a taxa de crescimento, tocou na tragédia inflacionária e desfiou todo o rosário de números que paira acima das convicções partidárias para apresentar o inteligentíssimo documento de propostas do fórum.
Quarenta anos depois da revolução de 64, a ideologia não norteia mais nossas decisões. A economia tomou seu lugar. A economia e os interesses eleitorais.
Graças ao voto obrigatório e ao crescimento da população, a eleição se transformou em um fenômeno de massa, midiático, que age em favor próprio.
A corrida eleitoral fomenta os caixas dois, os bilhões gastos em propaganda, os conluios imperdoáveis e a retórica para boi dormir dirigida a currais de eleitores com nível zero de educação.
A democracia não funciona. O problema é que não encontraram um sistema melhor; as opções são terríveis.
Depois de Veloso, Marina Silva abriu seu discurso agradecendo a Deus.
Uma senhorinha paulistana confessou ao padre engajado que vai votar em Marina porque, para Dilma, Lula é Deus, para Serra, São Paulo é Deus, e para Marina, Deus é Deus mesmo.
Já o filho adolescente de um amigo meu se revoltou ao saber que o pai votaria na ex-ministra. "Mas ela é criacionista!", disse o menino. Ao que o pai respondeu: "Mas os outros são se-criacionistas, meu filho!"
Marina é monoteísta e monotemática.
Ela relembrou as catástrofes causadas pelas mudanças climáticas e repetiu, com razão, que o desenvolvimento sustentável passa por todos os problemas capitais do Brasil: educação, saúde, saneamento...
Concordo. Só tenho dificuldade quando a ex-ministra afirma que escolherá os melhores quadros, criará as ferramentas mais eficazes e julgará o que for mais justo, mas não explica, na prática, como concretizará tais mudanças.
E Deus sabe como é difícil.
No fórum, depois que Reis Veloso citou a frase da "Economist" ("a natureza foi generosa demais com o Brasil"), Marina narrou sua luta no ministério, e mais tarde no Senado, para aprovar as leis de proteção da biodiversidade brasileira. Foi derrotada em todas as instâncias.
Esse fato me fez pensar. Dilma não precisa de mim. É só vê-la sóbria e sólida na campanha de TV. Dilma já está presidente. O programa de Serra é estranhíssimo, mais populista que o dos populistas, e o enquadraram na frente de um cartaz do Cristo Redentor cujos braços abertos parecem sair de dentro de suas orelhas. Será que ninguém notou?
O PSDB entregou para o DEM a candidatura de um político valioso como José Serra. Como pôde?
Eu nunca votei para ganhar. Depois do encontro na ABL, tive vontade de exercer meu voto útil e fortalecer as forças contrárias ao extrativismo atávico tão bem representado no Congresso.
Até outubro, decido. Quem sabe com a ajuda de Deus.

FERNANDA TORRES é atriz

05 agosto, 2010

Valores e horrores, quais são os seus?

Quino, Autor da “Mafalda”, desiludido com o rumo deste século no que
respeita a valores e educação, deixou impresso nos cartoons o seu sentimento.

 




 


 


 


 


 


 

 


20 junho, 2010

Faculdade indenizará professor por danos morais



A Fundação de Ensino Superior de Passos está obrigada a pagar indenização de R$ 10 mil, por danos morais, a um ex-professor de Medicina Legal do curso de Direito. A 1ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho rejeitou Agravo de Instrumento da Fundação e confirmou decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região. A decisão foi tomada porque a entidade manteve, indevidamente, o nome do professor no quadro de docentes para obter o reconhecimento do Ministério da Educação do curso de Direito.

De acordo com o processo, em 1999, depois de ser dispensando da Fesp, o professor tomou conhecimento de que seu nome havia sido aprovado como responsável para ministrar a disciplina Medicina Legal e como titular do curso para obter o reconhecimento do curso de Direito pelo Conselho Estadual de Educação. Diante disso, ele ingressou com ação trabalhista requerendo danos morais contra a instituição.

O juiz de primeiro grau reconheceu o direito do professor. A Fundação recorreu ao TRT-3, que confirmou a sentença, condenando a Fesp a pagar indenização no valor de R$ 10 mil. Para a segunda instância, a empresa não conseguiu demonstrar o motivo pelo qual não substituiu o nome do professor por outro docente. Contra essa decisão, a Fundação interpôs Recurso de Revista. O recurso foi rejeitado na segunda instância.

Diante disso, a Fundação ingressou com Agravo de Instrumento no TST. Alegou que não houve a comprovação do dano. O relator do processo na 1ª Turma, ministro Walmir Oliveira da Costa, não deu razão à instituição. Em sua avaliação, o TRT demonstrou que houve a violação de direito personalíssimo expresso no uso indevido das qualificações profissionais e do nome do professor, quando nem sequer fazia parte do curso.

Segundo o relator, em caso de dano moral, não há necessidade de prova do prejuízo, por se tratar de aspecto imaterial. Com esses fundamentos, a 1ª Turma negou Agravo de Instrumento da faculdade e manteve a condenação por danos morais contra a instituição. Com informações da Assessoria de Imprensa do TST.

AIRR-23040-83.2006.5.03.0101
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27 abril, 2010

o inferior ensino superior

A catástrofe dos cursos de Letras


A formação dos professores de português, hoje, no Brasil, é uma catástrofe. Nós, os responsáveis pelos cursos de Letras, não enxergamos a bomba-relógio que temos nas mãos. As estatísticas não mentem: a retumbante maioria dos estudantes de Letras vêm de camadas sociais pobres ou mesmo miseráveis, filhos de pais analfabetos ou que têm escolarização inferior a quatro anos. 


Isso significa muita coisa. Significa que esses estudantes têm um histórico de letramento muito reduzido: no ambiente familiar, não convivem com a cultura letrada, não têm acesso a livros, revistas, enciclopédias etc. Significa que não são falantes das normas urbanas de prestígio (as mesmas que supostamente terão de ensinar a seus futuros alunos) e têm domínio escasso da leitura e da escrita. Só na faculdade é que a maioria deles vai ler, pela primeira vez na vida, um romance inteiro ou um texto teórico. Vêm, quase todos, do ensino público, essa tragédia ecológica brasileira muito pior que as queimadas na Amazônia.

Nós, porém, fingimos que eles são ótimos leitores e redatores, e despejamos sobre eles, logo no primeiro semestre, teorias sofisticadas, que exigem alto poder de abstração e familiaridade com a reflexão filosófica, e textos de literatura clássica, escritos numa língua que para eles é quase estrangeira. E assim vamos nos iludindo e iludindo os estudantes.



O resultado é que os estudantes de Letras saem diplomados sem saber lingüística, sem saber teoria e crítica literária e sem saber escrever um texto acadêmico com pé e cabeça. Todos os dias, recebo mensagens de formandos que me pedem orientação para seus trabalhos finais. Alguns até me enviam seus projetos. São textos repletos de erros primários de ortografia, pontuação, sintaxe, vocabulário, com frases truncadas e sem sentido. Assim eles chegam ao final do curso, e suas monografias, mal escritas, sem nenhum rigor teórico ou metodológico, são aprovadas alegre e irresponsavelmente por seus supostos orientadores.
.
O problema, é claro, não está no fato (que merece comemoração) de acolhermos na universidade alunos vindos das camadas mais desfavorecidas da população. O problema é não oferecermos a eles condições de, primeiro, se familiarizar com o mundo acadêmico, que lhes é totalmente estranho, por meio de cursos intensivos (e exclusivos) de leitura e produção de textos, de muita leitura e muita produção de textos, para só depois desses (no mínimo) dois anos de preparação eles poderem começar a adentrar o terreno das teorias, das reflexões filosóficas, da alta literatura. 



Se não fizermos isso urgentemente (anteontem!), as salas de aula do ensino básico estarão ocupadas por professores que, mal sabendo ler e escrever adequadamente, não poderão desempenhar sua principal tarefa: ensinar a ler e a escrever adequadamente! Não sei, aliás, por que escrevi “estarão ocupadas”: elas já estão ocupadas, neste momento, por essas pessoas, de quem se cobra tanto e a quem não se oferece uma formação docente que também seja, minimamente, decente.


*Marcos Bagno, linguista, escritor, tradutor e professor da UNB


veja tbm o vídeo

20 abril, 2010

Acabou o bombril

Acabou o bombril



Por Solange Pereira Pinto
Em 19 de abril de 2010.

 





Eu não sei de nada!

Só sei de laicidade
e de jornalismo 2.0.
Balé,  Dromos, Dina
e dever de casa.

Eu não sei de nada!
Nem de terremoto,
Nem de governador.

Só sei de entupimento
na carótida e coronária,
de sabão em pó, convênio
e coxão mole.

Eu não sei de nada!
Nem de vulcão,
Nem do Chico Xavier.

Só sei de MSN, de twitter
e de responder gmail.
Barra de nutri e
bala de coco.

Eu não sei de nada!
Nem de Belo Monte,
Nem da Grã-bretanha.
Só sei de gasolina
e de cheque especial.
Coceira no dedo, anel
e fio dental.

Eu não sei de nada!
Nem de Viver a Vida,
Nem de Faustão.

Só sei de camisinha e
de ventilador ligado.
Xampu de algas, celular
e aluguel.

Eu não sei de nada!
Nem do Haiti,
Nem da H1N1.

Só sei de cansaço e
de tempo escasso.
Acabou o bombril

18 abril, 2010

Administrar tempo, desejos, frustrações, sucesso e informações - desafios do século XXI


– Que eu faço? Meu filho me escancarava os olhos azuis fervilhando dúvidas. Era sexta-feira à noite, estávamos em casa relaxando depois de uma semana febril. Do meu lado, mantinha meu olhar ocamente suspenso sobre a pilha de livros que haviam chegado. Meu filho de 7 anos tinha ultrapassado cinco dias de aula e lições, curso de italiano, treinos de futebol, sessão de acompanhamento pedagógico, fora as atividades extracurriculares na própria escola, de filosofia construtivista – que aproxima aprendizado e diversão. "E agora, o que faço?", eu me perguntava, espiando a pilha de livros que havia colecionado durante a semana só para chegar àquele momento tão sonhado em que afinal pudesse editar eu mesmo o meu caos particular – e ainda por cima mergulhar no caos do meu filho.

– Ah, sei lá, moleque... vai brincar!

E Lorenzo desapareceu atrás de uma pilha de Lego.

Se até uma criança de 7 anos confunde horário livre com horário de obrigação, imagine você, cujo dia se espraia entre dever e lazer. A não ser que seu ofício seja braçal ou burocrático, os limites entre coisa e loisa estão cada vez mais indefinidos – atire o primeiro mouse quem destinar a seu e-mail um uso mais corporativo do que como pinball de papo-furado. Na Era do Excesso, os limites são fluidos entre trabalho e prazer, oferta e demanda (tanto de obrigação quanto de diversão), realidade e virtualidade, vida social e vida privada (o que, no caso dos políticos, costuma ser grave). Para quem trabalha com publicações de todo tipo, às vezes pegar num livro detona no corpo reações estranhas, alérgicas – como se aquele maravilhoso exemplar da nova edição da Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, se transformasse de repente num cartão de ponto a martelar nos tímpanos um enigmático "Você está atrasado, você está atrasado!".

"Faz parte da natureza humana aprender a lidar com limites. A atual cultura digital, entretanto, apresenta novos desafios no que diz respeito a estabelecer, burlar e equilibrar a relação com limitações", reflete o músico e pensador de cultura digital Gustavo Mini Bittencourt. "A cada dia, cerca de meio milhão de pessoas acessam a internet pela primeira vez. A cada minuto, 13 horas de vídeo são disponibilizadas no YouTube. Está se configurando um cenário no qual, em breve, muitos terão acesso a uma abundância virtual que não teve, não tem e nunca terá paralelo no meio físico. Muitos de nós nunca teremos tantos carros, roupas, imóveis e dinheiro quanto uma elite privilegiada. Mas todos logo poderemos ter tantos livros, vídeos, jornais, músicas e revistas quanto quisermos, devido à digitalização da produção, distribuição e consumo da informação. Desse ponto de vista, estamos adentrando no que alguns especialistas chamam de Era da Abundância", conclui Mini.

"O inventário das maravilhas que a vida pode oferecer são muito agradáveis e satisfatórios", afirma o sociólogo polonês Zygmunt Bauman emModernidade líquida, para logo em seguida ressaltar: "A suspeita de que nada do que já foi testado e apropriado é duradouro e garantido contra a decadência é, porém, a proverbial mosca na sopa. O mundo cheio de possibilidades é como uma mesa de bufê com tantos pratos deliciosos que nem o mais dedicado comensal poderia esperar provar de todos (...). A infelicidade dos consumidores deriva do excesso, e não da falta de escolha: 'Será que utilizei os meios à minha disposição da melhor maneira possível' é a pergunta que mais assombra e causa insônia ao consumidor", analisa Bauman. A metáfora culinária é ainda usada pelo filósofo francês Gilles Lipovetsky, que, à Era do Excesso, prefere demarcar nossa época com seu oposto, a Era do Vazio: "O self-service e o atendimento a la carte designam o modelo geral das sociedades contemporâneas, que veem proliferar de modo vertiginoso as fontes de informação, abrindo-se cada vez mais o leque de produtos expostos nos centros comerciais e nos hipermercados tentaculares, nas lojas ou nos restaurantes especializados. Assim, a sociedade pós-moderna se caracteriza por uma tendência global de reduzir-se a atitudes autoritárias e dirigistas e, ao mesmo tempo, a aumentar a oportunidade de escolhas particulares, a privilegiar a diversidade e, desde já, a oferecer fórmulas e 'programas independentes' nos esportes, nas tecnologias psicanalíticas, no turismo, na moda casual, nas relações humanas e sexuais", afirma Lipovetsky.

A quantidade de opções no grande restaurante por quilo da contemporaneidade faz com que, em vez de fome, sintamos fastio – como meu espreguiçante filho e seu "o que é que eu faço?". Lembro-me bem da época em que era tão difícil conseguir novidades da música alternativa: tinha de vagar entre as lojinhas das grandes galerias, do centro de São Paulo, e implorar aos vendedores que vendessem uma fitinha K-7 (lembra?) com os últimos sucessos do pós-punk londrino... E passava meses tentando decifrar as letras, imaginando como seriam os músicos, desvendando com emoção seu obscuro sentido. Hoje, é possível baixar os últimos sucessos do pós-rock canadense em meio segundo – os sucessos que semana que vem já serão esquecidos em favor das novidades do pós-eletrônico francês, que na semana seguinte vão perder a vez na fila para as loucuras da pós-polka polonesa... me contendo para não soltar um bocejo enquanto leio as letras, postadas em algum site hospedado em um servidor indonésio. Saudade dos tempos de caça ao tesouro. Mas: "Todo sistema com abundância de um elemento leva à escassez de outro. A abundância de informação leva à escassez de atenção", releva Mini Bittencourt. "Temos uma vasta oferta e uma fome interminável, porém uma capacidade cada vez mais limitada de prestar atenção e investir tempo no consumo de todo esse manancial a nós ofertado. Estamos à frente de um banquete, beliscando rapidamente um pedacinho de tudo que nos põem à frente, maravilhados com a variedade e quantidade de sabores, mas perigando perder lentamente a noção de desfrute", adverte o ciberpensador. A indigestão do excesso tem suscitado três epidemias. A mais leve atende pelo singelo nome de transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). A desatenção leva à propalada síndrome da falta de memória. A mais pesada epidemia ganha o nome de melancolia – vulgarmente chamada (e medicada) como depressão.

RITALINA PARA TODOS
O símbolo infotecnológico de 2009, ou ao menos no segundo semestre deste ano que passou (na Era do Excesso, é bom datar os fenômenos com precisão), é o serviço de microblog Twitter. Como afirmam os inteligentes humoristas (sim, uma coisa não exclui a outra) do grupo Massaroca, "o Twitter é a bandeira de uma geração com déficit de atenção". Pensava nisso outro dia, almoçando com uma amiga. Enquanto conversávamos sobre trabalho (e talvez estivéssemos pensando em outra coisa), elogiávamos a comida e olhávamos à direita, à esquerda, por sobre o ombro um do outro, sapeávamos o celular, que a cada minuto piscava com mensagem, e-mailtweet. Por um instante, um instante muito breve, eu sei, tive saudade daquele tempo em que tudo o que importava era somente o quente olhar da minha amiga – que jamais seria enquadrado em 140 caracteres. Mas logo pensei em outra coisa... e o instante bateu asas e voou.

O TDAH, que desde os anos 1950 medica com fartas doses de Ritalina as crianças que parecem ter formigas nos popôs, virou a doença da moda. Nada de novo, na real. "No elevador penso na roça, na roça penso no elevador", versejou Drummond sobre nossa eterna insatisfação. É que, adrenalinada por gadgets bacanudos, onipresentes mídias sociais e amigos sempre antenados, a insatisfação virou o status quo, o modus operandi, a condição sine qua non (na expressão favorita do presidente Lula). E dá-lhe diagnóstico: "O DSM -IV diferencia três tipos de sintomas de TDAH", explica Psicopatologia – Uma abordagem integrada, de David H. Barlow e V. Mark Durand, um útil guia para desvendar o DSM –IV, a quarta e mais recente edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, a bíblia norte-americana que orienta a psiquiatria (e a farmacologia) mundial. "O primeiro tipo é a desatenção: os portadores parecem não escutar as demais pessoas; não prestam atenção a detalhes, perdem coisas, cometem erros por falta de cuidado. O segundo sintoma é a hiperatividade, que envolve inquietação, dificuldade de permanecer sentado. O terceiro sintoma, a impulsividade, inclui dar respostas abruptas antes de as perguntas serem completadas e dificuldade para esperar a vez", afirmam os autores. Em outras palavras, o déficit de atenção leva a outro conhecido sintoma da Era do Excesso: o desmemoriamento.

A cura prática para isso, transformando cada lobo insaciável por um assunto novo em uma fofa ovelhinha de olhar fixo, é, como se disse, a Ritalina, entre outros fármacos – até mesmo um neurocientista respeitado como o argentino/gaúcho Ivan Izquierdo, um dos maiores especialistas mundiais em estudo da memória, já sugeriu seus efeitos positivos. Durante entrevista à neurocientista Suzana Herculano-Houzel, balanceou: "A Ritalina tem efeito sobre a persistência da memória. Mas ainda não sei se tem algum efeito fora da persistência", adverte o cientista, que ainda sugere não ser assim tão indispensável o uso de um medicamento – algo que tem virado mania até entre pessoas que não foram diagnosticadas com TDAH.

"A melhor maneira de as pessoas cuidarem de sua memória? Que fiquem calmos – e se perguntem: 'Será que isso é mesmo necessário?'", provoca Izquierdo. "Nossa memória está sempre funcionando o melhor que pode, mais do que isso não dá! Em geral, as drogas, sobretudo no tratamento do Alzheimer, são muito boas para quem tem a doença, mas na pessoa normal não têm efeito nenhum", alerta. A advertência é um bom lembrete de que viver é prejudicial à saúde. Não tem remédio – conforme lembra o psicanalista Jorge Forbes em Você quer o que deseja?(esgotado): "A época atual, marcada por forte ideologia biologizante, quer transformar o carinho do avô que dizia 'para tudo tem remédio' em verdade científica (...)”. Forbes volta à carga e diz: “A menina apaixonada poderia corrigir, com medicamentos, o namorado capenga, transformando-o em um príncipe potente, magro e bem-humorado ao oferecer-lhe coquetéis repetitivos de Viagra, Xenical e Prozac. Ridículo? Médicos começam a ser agredidos em ambulatórios públicos quando se recusam a prescrever remédios, a seu ver, inadequados ao paciente e que, no entanto, lhe são exigidos; como se não dá-los fosse negar, ao paciente, uma felicidade de propaganda".

Volto a lembrar que, embora a atual velocidade com que acessemos qualquer coisa – informação, bens, pessoas – não tenha paralelo na história da humanidade, o fenômeno da aceleração é velho conhecido. No belo O tempo e o cão, a psicanalista Maria Rita Khel recorre ao famoso ensaio do pensador alemão Walter Benjamin sobre o poeta francês Charles Baudelaire para abordar a depressão contemporânea. "A modernidade é o transitório, o fugidio, o contingente, a metade da arte, cuja outra metade é o eterno e o imutável... Para que toda modernidade seja digna de se tornar antiguidade, é preciso que a beleza misteriosa, que a vida humana ali coloca involuntariamente, tenha sido extraída dela", escreveu o filósofo sobre o autor de Flores do mal. Conforme Maria Rita, "o heroísmo de Baudelaire não consiste em se fazer defensor da multidão fascinada e consumida pelas mercadorias e pelo trabalho braçal que a aproxima e afasta do brilho das mercadorias. Consiste apenas, o que já é muito, em descrer de tal fascínio".

Maria Rita Khel relaciona a atualidade da depressão à adição pela velocidade excessiva: "A que se deve a pressa do sujeito contemporâneo? Não ao valor que ele atribui ao seu tempo, como costumamos pensar, e sim, ao contrário, à sua desvalorização. Pouco se questiona a ideia de que o valor do tempo se mede pelo dinheiro. O homem contemporâneo tem horror a tudo o que possa ser considerado perda de tempo, que, para ele, é sinônimo de perda de dinheiro. Walter Benjamin cita Paul Valéry: 'O homem de hoje não cultiva o que não possa ser abreviado'", diz a psicanalista. "Até mesmo o raro tempo ocioso deve ser preenchido com atividades interessantes – o que torna, do ponto de vista da psique, o uso do tempo livre idêntico ao do trabalho. É evidente o sentimento de mundo vazio, ou de vida vazia, que decorre da supremacia da vivência sobre a experiência. A falta de tempo para o devaneio e outras atividades psíquicas 'improdutivas' exclui exatamente aquelas que proveem um sentido (imaginário) à vida, assim como as atividades da imaginação, filhas do ócio e do abandono", conclui – e aí fazemos outro elo na cadeia trabalho-lazer.

RELAXE
Na balada The Tourist, que fecha o clássico álbum Ok Computer, a banda inglesa Radiohead se espanta com a pressa por ver tudo, típica do turista – e nos faz pensar se, como um integrante de uma excursão, câmera na mão e mapa em punho, todos nós não estamos nessa vida mais como turistas do que como viajantes: "It barks at no-one else but me/ like it's seen a ghost/ I guess it's seen the sparks a-flowin/ no-one else would know/ (...) They ask me where the hell I'm going?/ At a 1000 feet per second/ Hey man, slow down, slow down/ idiot, slow down" (em tradução livre: "Ele late para mim, só para mim/ como se tivesse visto um fantasma/ Acho que deve ser por causa dos relâmpagos fluindo/ quem poderia saber?/ Eles me perguntam pra onde diabos estou indo/ A 1000 quilômetros por hora/ Ei, cara, relaxe/ idiota, relaxe".

Relaxar, pegar leve, tirar onda, desacelerar – tudo isso faz parte da filosofia Slow, seguida tanto pelos japoneses do Clube da Preguiça, quanto pelos italianos do Slow Food, pelos espanhóis que retomam o hábito salutar da siesta após o almoço e pelos ingleses que inventaram um curioso Slow Sex. No livro-manifesto Devagar, o jornalista escocês Carl Honoré reflete que as crianças são as maiores vítimas da orgia de aceleração. "Vivem tão ocupadas quanto os pais, permanentemente consultando agendas cheias de compromissos, que vão das aulas particulares depois da escola a aulas de piano e partidas de futebol. Os psicólogos especializados no tratamento de adolescentes que sofrem de ansiedade estão com as salas de espera cheias de crianças de não mais que 5 anos, acometidas de problemas gástricos, enxaquecas, insônia, depressão e distúrbios de alimentação. Em muitos países industrializados, os suicídios de adolescentes vêm aumentando. O que não surpreende,

Considerando-se a pressão que muitos sofrem na escola", afirma Honoré. É verdade que, com dúzias de contas para pagar, a pressão dos colegas competitivos e as demandas por novos estilos de prazer façam com que diminuir o ritmo de vida seja uma utopia agrária. Ninguém aqui vai ser ingênuo e acreditar que seja possível voltar atrás: a velocidade dos avanços tecnológicos tende a progredir exponencialmente – pelo menos até um AVC tecnológico não ocorrer, a Lei de Moore, em vigor há mais de 30 anos, segundo a qual a cada 18 meses a capacidade de processamento dos computadores dobra, enquanto os custos se mantém constantes, permanece como uma determinística infalível. Mas enfim, sempre se pode pensar em brechas. "É bem verdade que certas manifestações da filosofia Devagar – a medicina alternativa, os bairros exclusivamente para pedestres, a carne de gado que pasta livremente – não se adaptam a todos os orçamentos. Mas a maioria delas, sim. Passar mais tempo com os amigos e com a família não custa nada. Como tampouco caminhar, cozinhar, meditar, fazer amor, ler ou jantar à mesa, em vez de fazê-lo em frente à TV. A simples decisão de resistir à pressão para correr é absolutamente grátis", reflete Honoré.

Não existe, como foi dito, um remédio específico para filtrar o excesso de estímulos sensoriais que nos assola. Cada um tem o seu truque. Em Diários de bicicleta, o músico e multiartista escocês-nova-iorquino David Byrne confessa que encontrou seu nirvana no prosaico uso da bike. No livro, mistura de autobiografia com ensaio multicultural e relato de viagem, Byrne conta a experiência de 30 anos levando o tempo "humanizado" da bicicleta a cidades tão diferentes quanto São Francisco, Manila, Berlim, Londres e Buenos Aires. "Não ando de bicicleta para todo lugar por ser ecológico ou digno de nota. Faço principalmente pelo senso de liberdade e êxtase. (...) Realizar uma tarefa corriqueira, como andar de bicicleta, coloca as pessoas em um estado mental não muito profundo nem envolvente. (...) Como alguém que vê grande parte da origem de seu trabalho e criatividade nessas borbulhas do subconsciente, acho que é uma boa estratégia para se fazer essa conexão: quando a mente consciente se distrai, o inconsciente assume o comando", acredita Byrne. "O caminho mais inteligente não passa por demonizar a velocidade da evolução digital. O caminho mais inteligente é... prestar atenção", contrapõe Mini Bittencourt. "Só isso já faz toda a diferença e transforma completamente qualquer experiência. A atenção, a presença do corpo e da respiração junto à mente (que, vagando indefinidamente não traz satisfação, só mais necessidade) são a peça de resistência contra o novo consumismo que trocou o dinheiro pelo déficit de atenção como pilar central de sua existência", conclui o ciberpensador. Entre a distração esperta de Byrne e o minutinho da sua atenção pedido por Bittencourt, horas se passaram e eu passeei por meia-dúzia de livros. Do outro lado do meu MacBook, meu filho já construiu e destruiu meia-dúzia de carros, personagens e espaçonaves multicoloridos. De algum modo misterioso, eu no trabalho, ele no ócio, estávamos conectados, em harmonia. Para que mais? ©


UM TEMPO DIFERENTE

Se muitos adultos têm dificuldade de lidar com tantas necessidades modernas, as crianças – com menos defesas para “loucuras” – estão mais sujeitas a problemas nascidos de uma agenda cheia. “É uma questão muito séria, que precisa ser repensada. O tempo cronológico difere muito de pessoa para pessoa. Três horas para uma criança é uma faixa de tempo completamente diferente para outra criança e seus usos são diferentes também”, esclarece Sílvia Fichmann, educadora e sócia-diretora do portal Soluções Educacionais Inovadoras. De acordo com a educadora, a participação de pais, escola e da própria criança ou adolescente é fundamental. “Só assim a agenda dessas crianças e adolescentes vai poder refletir exatamente as necessidades deles”, defende. “Não podemos pensar como se todo mundo fosse igual. Temos que considerar o perfil individual de cada.” Para Sílvia, além de dividir com a criança que tipo de atividades elas querem ter durante o dia, é preciso que a agenda desses “pequenos adultos” preveja tempo livre, inclusive de sugestões. “Esse tempo será para essa criança ou adolescente decidir o que quer fazer dele. Se ela fica sobrecarregada e não tem esse escape, alguma parte do dia será prejudicada.” O respeito aos perfis leva a outro ponto defendido pela educadora: mesmo diante de tantos excessos para quem ainda está no “tempo de brincar”, como chamou a infância o poeta Torquato Neto, há casos em que uma agenda cheia é a solução. “Temos casos de crianças e adolescentes hiperativos que precisam estar o tempo todo em atividade. Nesses casos, uma agenda cheia é fundamental”, garante Sílvia. (Pedro Jansen


09 abril, 2010

A era dos adultos infantilizados


A era dos adultos infantilizados
Se não conseguimos crescer, como será possível educar os filhos?
 Reprodução
ELIANE BRUM
ebrum@edglobo.com.br 
Repórter especial de ÉPOCA, integra a equipe da revista desde 2000. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de Jornalismo. É autora de 
A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua(Globo)
Na semana passada, um amigo me enviou um email com o anúncio de um personal organizer. Ele sugeria que eu contratasse um desses “profissionais” para arrumar a minha mesa. Era uma sacanagem, claro. Eu detenho o título de autora da mesa mais bagunçada da Época desde que entrei na equipe da revista, em janeiro de 2000. Nesse quesito, sou imbatível. Na minha mesa, é possível encontrar, convivendo ecumenicamente lado a lado (ou um em cima do outro), um saco de salgadinhos, uma imagem de São Francisco de Assis, uma lagosta de borracha e um dicionário de sinônimos. Isso em apenas um cantinho. Às vezes preciso escrever com os cotovelos grudados no corpo, porque não tenho outro lugar para apoiá-los. Embora venha cogitando ter uma mesa organizada há umas duas décadas, na minha bagunça pessoal eu acho tudo e não perco nada – ou quase nada. É o meu jeito. 

Mas há algo bem interessante na brincadeira do meu amigo. A multiplicação de termos como 
personal e coach diz muito sobre a época em que vivemos. E sobre os adultos que nos tornamos. 

O conceito de infância, como o conhecemos, se consolidou no Ocidente a partir do século XVIII. Até o século XVI, pelo menos, assim que fossem desmamadas e conseguissem se virar sem as mães ou as amas, as crianças eram integradas ao mundo dos adultos. E, como tal, eram responsáveis pelas consequências de seus atos. A infância, como idade da brincadeira e da formação escolar, ao mesmo tempo com direito à proteção dos pais e depois à do Estado, é algo relativamente novo. 

Nem sempre as crianças significaram a promessa para o futuro tanto de uma família como de uma nação. A infância não é um conceito natural ou determinado apenas pela biologia. Como tudo, é também ou principalmente uma invenção cultural, um fenômeno histórico implicado nas transformações econômicas e sociais do mundo dos humanos, em permanente mudança e construção. 

Me parece que hoje há algo novo nesse cenário. A partir do século XXI, vivemos a era dos adultos infantilizados. Uma espécie de infância permanente do indivíduo. Não é por acaso que os 
coaches proliferam. Coach, em inglês, significa treinador. Originalmente, treinador de times e de esportistas. Mas que foi ampliada para treinador de tudo, inclusive de como viver: os life coaches. Personal trainers têm função semelhante. Treinar alguém para se exercitar, comer, se vestir, namorar, conseguir amigos e emprego, lidar com conflitos matrimoniais e profissionais, arrumar as finanças e também organizar os armários e a mesa de trabalho, como na sugestão do meu amigo. 

Nesses conceitos importados dos Estados Unidos, o país que transformou a infância numa bilionária indústria cultural e de consumo, a ideia é a de que, embora estejamos no que se convencionou chamar de idade adulta, não sabemos lidar com nenhum aspecto da vida sozinhos. 
Coaches e personal trainers podem ser eufemismos para uma função muito parecida com a da babá. Crescemos, terminamos a escola, constituímos família ou não, vamos para o mercado de trabalho, mas precisamos de alguém que arrume nossa mesa e nossa casa, nos ensine a comer direito, nos diga como namorar e conseguir amigos, nos treine para impressionar o chefe e conquistar uma promoção. Nos ensine, em programas diários, semanais, mensais e anuais, como num planejamento das metas de uma empresa, a viver, como no caso dos life coaches

Ao nos reduzirmos a adultos que precisam de babás por total incapacidade de lidar com qualquer aspecto da vida, do sentimental ao profissional, a que renunciamos? A muito. Mas o principal é que renunciamos à responsabilidade. A construção contemporânea de infância está fundamentada no conceito de que, tanto no estatuto social quanto no jurídico, crianças são seres com direito à proteção e à educação – mas sem responsabilidade pelos seus atos. Crescer, tornar-se adulto, é justamente passar a responsabilizar-se pelos seus atos. Mas, no caso das novas gerações de 20, 30, 40 anos, se isso ainda vale para o estatuto jurídico, parece perder força no estatuto social. 

Os adultos desse início de milênio parecem prolongar a infância no sentido da não-responsabilização. São sinais, aqui e ali, de uma transformação na forma de ver a si mesmo – e de ser visto. É corriqueiro testemunhar, seja no bar ou na empresa, gente que fica muito surpresa porque seus atos motivaram uma reação indesejável, uma conseqüência pela qual precisam responder. Nesse momento, vemos adultos com cara de surpresa, olhos arregalados como os de uma criança. Parecem pensar: “Mas por que eu, que sou tão bacana, tão inteligente, tão cool?”. Quando podem, chamam os pais, os advogados.... os 
coaches para salvá-los. A expectativa, como um direito adquirido, é a de que sempre serão “perdoados”. 

Da mesma maneira, encarnam a geração do “eu mereço”. Se não há responsabilidade pelos seus atos, também não há responsabilidade pelas suas conquistas. Está cada vez mais diluída a ideia de trabalhar por aquilo que se quer com a consciência de que custa tempo, esforço, dedicação. Escolhas e também perdas, frustrações. Alcançar sonhos, ideais ou mesmo objetivos parece ser compreendido como uma consequência natural do próprio existir, de preferência imediata. É uma espécie de visão contemporânea da ideia mística de destino, de predestinação. Ou apenas uma questão de usar a estratégia certa. E, para nos ensinar a traçá-la, buscamos um 
business coach

O “eu mereço” vem a priori. “Eu mereço porque eu sou eu”. Ou: “Eu existo, logo mereço”. O fazer por merecer foi eliminado da equação. Quando essa crença, tão fundamentalista quanto os preceitos de algumas religiões, fracassa, aí é hora de buscar o 
happiness coach (treinador de felicidade), o dating coach (treinador de relacionamentos amorosos), ohealth coach (treinador de saúde), o conflict coach (treinador de conflitos matrimoniais e profissionais), o diet coach(treinador de alimentação saudável). O life coach. É estarrecedor verificar como as gerações que estão aí – e as que estão vindo – parecem não perceber que a vida é dura e dá trabalho conquistar o que se deseja. E, mesmo que se esforcem muito, haverá sempre o que não foi possível alcançar. 
Muito se tem falado e escrito sobre a falta de limites das crianças de hoje. E aqui o “de hoje” faz realmente sentido. A partir da constatação de que as crianças não param quietas um minuto, em lugar nenhum, a psiquiatria criou síndromes no mínimo curiosas. A indústria dos medicamentos estimulou a disseminação de drogas no mínimo questionáveis. Foram tecidas teses de todo o tipo, algumas delas bem estapafúrdias. Ou no mínimo curiosas. 

Afinal, os professores choram em sala de aula pela prepotência dos alunos. E ninguém mais aguenta crianças berrando nos restaurantes, falando nos cinemas, atropelando nos corredores. Eu, que sou bem pouco tolerante não só com crianças mal-educadas, mas com gente mal-educada, em geral reclamo. Os pequenos e rosados pimpolhos costumam me olhar com os olhos estalados: “Mas eu sou tão fofo! Por que você não gosta de mim?”. E as mães, indignadas por eu não me render ao encanto de seus rebentos, também me olham ofendidas: “Mas ele é tão fofo! Todo mundo gosta dele. Você deve ter algum problema!”. E lá vem a ofensa predileta para atingir uma mulher: “Sua mal-amada!”. 

Para além das boas hipóteses das muitas teses e debates sobre o fenômeno da infância insuportável, me parece que vale a pena pensar sobre quem são os pais dessas crianças. Se os pais são adultos infantilizados, que não conseguem se responsabilizar pelas suas vidas – e muitos nem acham que precisam... –, como esperar que suas crianças se responsabilizem? Como esperar que os pais sejam pais se continuam sendo filhos? 

Esses pais continuam sendo filhos ao não responsabilizarem-se pelas suas vidas. Ao permitir que seus filhos façam o que bem entendem, não só dentro de casa, mas no espaço público, estão escolhendo o que dá menos trabalho. Sim, porque educar, botar limites, se importar, dá muito trabalho. E exige tempo, gasto de energia, esforço. Amor. O mais fácil é deixar para lá. Ou bater a porta da rua e deixar que a babá – a de seus filhos – se vire. Mas há algo mais. 

Me parece que a permissividade com os filhos é uma permissividade consigo mesmo. Se os filhos encarnam o ideal dos pais, se neles estão colocados os desejos e as melhores esperanças dos pais, não seria de esperar que o ideal de pais infantilizados seja o de que os filhos possam tudo? Bem ou mal, ainda que andem pelo mundo como se não tivessem responsabilidade nem por si mesmos nem pelos destinos do planeta, em alguma medida esses adultos precisam lidar com as consequências de seus atos – ou não-atos. 

É de se esperar que, para os filhos, desejem, consciente ou inconscientemente, que possam fazer tudo sem nenhuma espécie de retaliação. Aos filhos, tudo deve ser permitido. Algo como: “se para mim não está sendo assim, que pelo menos seja para os meus filhos”. Um ideal tão óbvio como é o desejo que os filhos se formem na universidade para os pais que não puderam estudar ou que o filho tenha casa própria para os pais que viveram a vida inteira de aluguel. 

Desde que a infância se tornou um depositário do futuro, os pais desejam que os filhos realizem aquilo que não puderam realizar. Não seria lógico que os pais que se tornaram adultos sem se responsabilizar pela vida – sem sair da infância, portanto – desejem que os filhos possam fazer tudo? Nesse sentido, é ainda mais grave do que parece: ao permitir tudo, esses pais estão fazendo o melhor que podem para o cumprimento de suas mais caras esperanças. 

Há muito para pensar. E, por enquanto – ufa! – ainda não inventaram um 
think coach

21 março, 2010

Conheça o escroto e sem ética Boni, Boninho ou José Bonifácio de Oliveira

meus comentários são os grifos, ok?

21/03/2010 - 11h16

"'Big Brother' não é cultura, é um jogo cruel", diz Boninho


Big Brother Brasil 10A décima edição do "Big Brother Brasil" chega à reta final com recordes de votação e "merchandising" e mais interativo do que nunca.

"O 'BBB' não é cultura. É um jogo cruel", diz o diretor de núcleo do programa, José Bonifácio de Oliveira, o Boninho, em entrevista exclusiva à coluna Outro Canal.

Leia a íntegra da entrevista a seguir.

Renato Rocha Miranda/TVGlobo
O diretor do "Big Brother Brasil" Boninho
O diretor de núcleo do "Big Brother", José Bonifácio de Oliveira, o Boninho; programa está chegando à reta final

FOLHA - O que mais marcou o "BBB" nessas dez edições?
BONINHO - A coisa mais marcante do programa é o Pedro Bial, que vamos repetir sempre. Foi a melhor surpresa que tivemos. No começo, era ele e a Marisa [Orth]. O próprio Pedro descobriu algo diferente no programa. Um cara com a história dele como jornalista encarar isso com leveza, seriedade e bom humor, é raro.

FOLHA - Que fórmulas bem sucedidas são mantidas a cada edição?
BONINHO - Em conteúdo, quase nada. Todo mundo fala que há o pessoal que aprendeu, e há mesmo. Fazemos reality há doze anos. A televisão brasileira é muito poderosa, a penetração da TV na população é muito forte, então, há uma geração que já nasceu assistindo a esse programa e se preparando para participar dele. Da mesma forma que esses caras se preparam para participar, a gente aprende a surpreendê-los. De um programa para outro, percebemos que eles estão mais espertos e, então, nos preparamos para ficar mais espertos ainda. É meio que um jogo de gato e rato o tempo todo. Na realidade, em cada um há um pouquinho de tudo o que a gente já usou, mas sempre há uma virada nova. É uma preocupação muito grande ter novidades. Algumas coisas que fazem sucesso a gente mantém, como os desenhos de Maurício Ricardo, as historinhas, a forma como a gente apresenta os participantes. O que é bacana no "BBB" é que, quando se junta dez, 12 pessoas, conta-se sempre uma história diferente. Não adianta. A química do grupo é fundamental.

FOLHA - E o que a 'química' da homossexualidade traz para o jogo?
BONINHO - Isso não entra no jogo, mas, sim, na composição que a gente quer montar. Quem vou colocar no jogo para surpreender quem está dentro e quem está fora? Não colocamos ninguém no "BBB" para discutir homo ou heterofobia, minorias... Não escolhemos um personagem representando coisas. O fato de ser ou não homossexual não é para interagir no jogo. Não estou preocupado se o cara é gay ou não. Ele não vai entrar por ser gay, mas pelo que traz para a competição. Foi o que aconteceu com Jean [Wyllys, vencedor da quinta edição]. Ele não entrou por ser gay, entrou por ser inteligente. "Big Brother" não é cultura, não é um programa que propõe debates. É um jogo cruel, em que o público decide quem sai. Ele dá o poder de o cara que está em casa ir matando pessoas, cortando cabeças. Não é um jogo de quem ganha. Para o cara de casa, é um jogo de quem você elimina. Só no último programa é que é feita a pergunta: "Quem merece ganhar?".

FOLHA - O que marca esta edição?
BONINHO - É o "BBB" da porrada, do jogo. Não há um cara ali que esteja a passeio. Eles estão claramente jogando, disputando um prêmio de R$ 1,5 milhão. Isso é um pouco do que a gente tentou muito fazer. Nos dez programas, tínhamos a expectativa de ter um grupo que quisesse dar a cara a tapa para jogar. E essa galera toda dá. Não temos nem bons nem maus meninos, não há esses parâmetros no programa. Há o grupo que você ama ou odeia, mas não há um grande vilão ou um grande herói. No Twitter, torcem para todos. Toda vez que um deles é eliminado, uma das torcidas ameaça não assistir mais ao "BBB". Está claro que a gente tem uma torcida enorme para cada participante. Era isso [jogo o tempo todo] o que a gente queria fazer, e conseguimos. O "BBB" do Alemão [sétima edição] foi mocinho contra bandido. Era o Brasil contra o bandido. Quando, nas provas de resistência, a turminha do Alemão ganhava, era uma torcida só. Como na Copa do Mundo: Brasil contra todo mundo. Era um programa mais fácil de fazer. Se ele roubasse na prova, ninguém ia reclamar. Agora, temos milhões de fiscais.

FOLHA - Qual o papel da interatividade via Twitter nesse "BBB"?
BONINHO - Desde o terceiro "BBB", a gente passou a usar a internet como um meio de reconhecer o que o público olha, o que avalia do programa e mesmo como uma forma de a gente conseguir fazer a seleção. O "BBB" começa em agosto, com os participantes querendo entrar no programa. No de 2009, teve uma espécie de Orkut, mas eu não estou procurando agregar público com a internet. Ela é uma forma de falar do "BBB" em outros caminhos, é uma grande interatividade. O Twitter dá um poder para o cara de casa que ele sempre achou que tinha e, agora, está descobrindo que tem mesmo. A internet é para os tempos modernos o que eram, no passado, aquelas duas velhinhas que conversavam na janela sobre televisão. Os fatos que acontecem nesse tipo de programa precisam ter uma sobrevida, reverberar o tempo todo. O que faço é marketing do programa.

FOLHA - O que o programa tem de melhor e de pior?
BONINHO - Aqui não tem nem melhor nem pior. O que me incomoda é quando não conseguimos provocar esses caras e eles conseguem ficar "armados". Mas geralmente a gente consegue desmontá-los. O que a gente tem de lembrar é que o "Big Brother" é um jogo, vale uma grana. Você tem um melhor amigo na casa, mas ele é o seu maior inimigo. Ele está competindo com você. Só um dos dois vai ficar com o dinheiro. É muito cruel. A gente quer sempre provocar o pior neles, nunca o melhor. A gente não quer que todo mundo se abrace e diga que se ama. Isso, para mim, seria o pior. A tendência do jogo é fazer com que eles briguem, que lutem pelo dinheiro. Quando alguém é péssimo para o público, ele é maravilhoso para a gente. O "Big Brother", para a minha equipe de seleção, não é um jogo de experiência científica, é só um jogo. Não nos afeta, não nos chama a atenção a hora em que o cara fica acuado ou fica psicologicamente afetado por alguma coisa e pode virar um monstro. Não estamos preocupados com conceitos psicológicos, mas, sim, com os relacionamentos e com a brincadeira que é proposta.

FOLHA - "Brothers" marcantes?
BONINHO - O que acontece é que eu vou deletando. Tem alguns de que eu gosto. O Dhomini [Ferreira, ganhador do terceiro programa] é um cara que jogou de forma muito bacana. A Sabrina [Sato, participante do "BBB3"] é uma figura ótima, que impulsionou. O Jean [Wyllys] foi muito inteligente quando descobriu que a casa inteira estava contra ele e usou essa bandeira até o final para ganhar. O Alemão, com o triângulo amoroso [formado com Fani Pacheco e Íris Stefanelli], foi superengraçado. A crise da Tina [Vanessa Cristina Soares Dias, do "BBB2"], a loucura dela batendo panela, foi genial. Só penso no sucesso do jogo. Tem alguns que me ligam, de quem sou amigo. Mas digo sempre: quando vejo um "big brother", atravesso a rua. Não é maldade. Mas é que não me apego. Eu os encaro como peças de um produto, de um jogo. Fico o tempo todo pensando em que provas posso fazer para incomodar alguém. Esse tipo de trabalho dá uma distância e eu acabo não torcendo para ninguém.

FOLHA - E como você cria essas provas?
BONINHO - Há dois tipos de provas. No primeiro, observo o grupo. Em conversas, eles acabam dando dicas do que pode incomodar. Pode ser uma besteira, como na semana passada, quando fiz a eleição do mais falso da casa. O segundo são as provas de resistência, que fazemos quando há uma certa tensão, uma divisão.

FOLHA - E a reta final do programa?
BONINHO - Até terça da semana que vem, teremos um paredão atrás do outro. A gente vinha trabalhando com paredões triplos, o que deixa a casa um pouco mais indecisa porque, quando se tem três pessoas para serem votadas, eles não conseguem avaliar o que foi determinante na escolha do público. Trouxemos do ano passado a experiência de não contar o percentual de votos para eles. Quando a gente falava, eles tinham uma referência do que as pessoas queriam aqui fora. Não contar funcionou à beça, eles ficaram perdidos. Eles não sabiam ainda, mas, desde sexta, a cada três dias sairia alguém. Essa eliminação é o mais cruel que existe, porque eles veem as pessoas indo e caem na real, podem ser os próximos. Acho que é o que vai pesar na reta final. Como esse é um time que discute, briga, fala as coisas na cara, a chance de pegar mais fogo ainda é enorme.

FOLHA - O que há reservado para o futuro do programa?
BONINHO - Temos quatro edições já fechadas e estamos negociando mais quatro. Mas isso só se confirmará em agosto.

FOLHA - E a 11ª edição?
BONINHO - Queremos dividir os participantes por regiões. Podemos ter pequenos "BBBs" em cada região e, depois, trazê-los para a casa nova. Seriam cinco casas com seis pessoas, de onde sairiam os finalistas. Entre o final de dezembro e o começo de janeiro, teríamos um micro-"Big Brother" para cada região.

FOLHA - O que tem a dizer sobre a suposta invasão do impostor do "Pânico na TV" (Rede TV!)?
BONINHO - Sou diretor do "BBB", de núcleo. A decisão de fazer alguma coisa foi da direção da TV Globo e do departamento jurídico. Eles estão partindo para um processo. Eu concordo com isso.

FOLHA - Tudo certo com Tessália?
BONINHO - Mais ou menos. Pode ser até que ela não venha à final com todos os outros. Há uma grande chance de ela não vir. É uma decisão nossa, não tem nada a ver com a direção.