17 dezembro, 2008

Mensagem de natal

Natal: tempo de brincar com a caixa. Valorização do consumo imaterial


"Esta talvez seja uma hora propícia para considerar como seria um Natal em que os desejos de consumo ficassem em segundo plano", escreve Hélio Mattar, doutor em engenharia industrial pela Universidade Stanford (EUA), diretor-presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 19-12-2008. E sugere: "Que tal se você parasse para pensar em qual seria "a caixa" de seu Natal? Algo de valor simbólico que lhe fizesse lembrar deste Natal como uma festa especial, guardada para sempre em sua memória".

Segundo ele, "talvez possamos, neste Natal, iniciar uma nova forma de pensar o consumo, a forma que deverá ser a predominante no futuro, em que substituiremos, cada vez mais, o consumo material pelo consumo imaterial, intangível, simbólico".

Eis o artigo.

O tempo atual é de crise. A incerteza quanto ao futuro pesa sobre os ombros de todos com a ameaça de menor atividade econômica e desemprego. Mas o tempo é também de festa, uma festa cristã há muito associada a dar e receber presentes: o Natal. Podemos, portanto, usar a oportunidade da atual crise para repensar o papel do Natal, uma festa que passou a ser uma celebração do consumo, muitas vezes de excessos e desperdícios.

Esta talvez seja uma hora propícia para considerar como seria um Natal, uma festa em família ou entre amigos em que os desejos de consumo ficassem em segundo plano. Uma boa hora para refletir como seria o encontro com as pessoas que amamos se não houvesse a intermediação dos objetos, das coisas, dos presentes materiais. Refletir sobre o desafio de usar a imaginação e a criatividade para criar momentos felizes tendo como principais valores a simplicidade, os sentimentos e a descoberta do que é realmente importante na vida. Aliás, como fazem as crianças, especialmente as muito pequenas. Ao ganharem um brinquedo, divertem-se muito mais brincando com a caixa do que com o próprio brinquedo.

Que tal se você parasse para pensar em qual seria "a caixa" de seu Natal? Algo de valor simbólico que lhe fizesse lembrar deste Natal como uma festa especial, guardada para sempre em sua memória.

Lembro-me de um Natal com meus pais em que pedi a cada um dos membros da família que trouxesse um texto para ler na ceia, um texto próprio ou escrito por um terceiro, e que tivesse um significado especial. Nunca me esqueci daquele Natal, dos textos emocionados que cada um trouxe e que se tornaram a atração principal, muito mais do que os presentes. Lembro-me dos textos. Não lembro quais foram os presentes. Os presentes têm o papel de traduzir o afeto que sentimos pelos outros.

Por isso mesmo, na hora de presentear, por que não pensar em algo que de fato reflita o que sentimos pelo outro? Em vez de recorrer aos produtos padronizados disponíveis nos shoppings, por que não pensar em presentear a quem amamos com algo feito por nós mesmos? Ou com algo que mostre que pensamos naquela pessoa de um modo especial?

Tenho um amigo, por exemplo, que gosta muito de goiabada com queijo. Tenho certeza de que se eu o convidasse para uma ceia de Natal em que houvesse uma boa goiabada com um ótimo queijo minas ele jamais esqueceria esse fato, pensado com carinho exclusivamente para ele. Será que o que vale ser vivido não é aquilo que será lembrado?

Talvez possamos, neste Natal, iniciar uma nova forma de pensar o consumo, a forma que deverá ser a predominante no futuro, em que substituiremos, cada vez mais, o consumo material pelo consumo imaterial, intangível, simbólico.

Uma mudança necessária, dado que, já hoje, a humanidade consome 30% a mais do que o planeta é capaz de renovar. O mundo só será sustentável no momento em que repensarmos o estilo de vida atual, com excesso de consumo, que usa recursos naturais finitos como se infinitos fossem.

É preciso iniciar um novo tempo, com novos Natais, em que iremos presentear as pessoas não com objetos, mas com experiências: um bilhete de ônibus para um passeio ao centro da cidade, um ingresso para uma bela exposição em um museu, um texto que nos emocionou, uma palavra sincera de carinho pensada especialmente para cada pessoa. Natais em que o único consumo exagerado será o de coisas que, como por milagre, quanto mais consumimos, mais se multiplicam: amor, beleza, alegria, carinho e amizade.

Dessa forma, o presente para o outro se transforma em presente para nós mesmos, pela alegria de nos expressarmos e de compartilharmos nosso carinho e querer bem. O Natal, assim, celebraria de fato o nascimento de algo novo, de uma nova proposta para a vida.

E não é esse, afinal, o verdadeiro significado do Natal?

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