31 dezembro, 2008

Naquele dia...



E assim, depois de muito esperar, num dia como outro qualquer, decidi triunfar...

Decidi não esperar as oportunidades e, sim, eu mesmo buscá-las.

Decidi ver cada problema como uma oportunidade de encontrar uma solução.

Decidi ver cada deserto como uma possibilidade de encontrar um oásis.

Decidi ver cada noite como um mistério a resolver.

Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz.

Naquele dia, descobri que meu único rival não era mais que minhas próprias limitações e que enfrentá-las era a única e melhor forma de superá-las.

Naquele dia, descobri que eu não era o melhor e que talvez eu nunca tivesse sido.

Deixei de me importar com quem ganha ou perde, agora me importa simplesmente saber melhor o que fazer.

Aprendi que o difícil não é chegar lá em cima, e, sim, deixar de subir.

Aprendi que o melhor triunfo é poder chamar alguém de amigo.

Descobri que o amor é mais que um simples estado de enamoramento, o amor é uma filosofia de vida.

Naquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados e passei a ser uma tênue luz no presente.

Aprendi que de nada serve ser luz se não iluminar o caminho dos demais.

Naquele dia, decidi trocar tantas coisas...

Naquele dia, aprendi que os sonhos existem para tornar-se realidade.

E desde aquele dia já não durmo para descansar...

Simplesmente durmo para sonhar.


(Campanha Disney Channel 2008)

30 dezembro, 2008

Domingo à noite




Boa combinação: chá e chuva! Além do "ch" de ambos a chiar... chiar... como os lábios a soprar a fumaça do chá e as gotas da chuva a deslizarem pela janela... chuáaaa... chiiiii....


Hoje, às 23h andei na chuva e foi bom.

Molhei a cabeça, a roupa e lavei o pensamento.

Depois de um banho quente, vem a xícara de chá.

Viver é bom!

29 dezembro, 2008

Dica de blog!


Vídeos, filme, músicas para download, dicas, análises e muito picadinho estão disponíveis no bem formatado blog Pauta de Buteco, eu recomendo!

Memórias póstumas da Flip - 2008´- parte II

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Enviado por André Miranda, de Paraty - 5/7/2008- 7:30


‘Minhas histórias vêm da voz’, diz Alessandro Baricco

Entre goles de cerveja e baforadas de cigarro, um simpático Alessandro Baricco (na foto de Michel Filho) conversou com O GLOBO num bar de Paraty. O autor italiano está na cidade fluminense para participar, neste sábado, às 15h, da mesa “Fábulas italianas”, com Contardo Calligaris. Autor de “City”, “Seda” e “Esta história”, Baricco é considerado um dos mais importantes escritores contemporâneos da Itália, e alcançou fama na Europa com seus livros, suas participações em programas de TV, sua parceria com a banda francesa Air e a adaptação de suas histórias para o cinema — como foi o caso da peça “Novecentos”, transformada no filme “A lenda do pianista do mar” por Giuseppe Tornatore. Dele, a Companhia das Letras acaba de lançar o romance “Sem sangue”, em que a personagem Nina parte para uma vingança depois que sua família é vítima de uma guerra cruel. O resultado é uma obra bem ao estilo do autor: guiada por música e útil para o leitor.

Você foi um dos fundadores de uma escola de escrita criativa na Itália, nos anos 1990. Mas é possível ensinar alguém a escrever com criatividade?

ALESSANDRO BARICCO: Na verdade, não é exatamente uma escola de escrita criativa. Nós costumamos dizer que é uma escola de narrativa. Os alunos ficam dois anos com a gente e alguns escrevem livros, mas muitos outros escrevem para televisão, para o cinema, para publicidade, para quadrinhos... Não é uma escola para se aprender a escrever livros, mas uma escola para você aprender a contar histórias.

Da mesma forma, esta edição da Flip tem um sentido mais amplo do que é considerado literatura. E você, também, é um autor acostumado a trabalhar com outras formas de narrativa, como cinema e teatro. Partindo da experiência da escola, no fundo, tudo isso se trata do mesmo assunto, contar uma história?

BARICCO: É o mesmo ato, o ato da escrita. Se você quer ter isso como profissão, escrever é uma coisa bem natural, como correr. Não é necessário ir para uma escola aprender a correr. Mas se você quiser viver de correr, se quiser ir para os Jogos Olímpicos, aí é diferente, você também precisa estudar. Além disso, há muitos talentos que vivem distantes do mundo cultural, e a escola os coloca próximos a esse mundo cultural. A escola os coloca mais perto do mundo que eles querem habitar. Nossa escola ajuda os alunos a entender muito mais seu próprio talento.

O nome da escola é Scuola Holden, numa homenagem ao personagem de J.D. Salinger. A influência de Salinger é grande assim?

BARICCO: Quando eu e outros quatro amigos a fundamos, nós queríamos fazer uma escola diferente. Então pensamos numa escola em que Holden Caulfield pudesse aprender alguma coisa. Escolher o nome de Holden foi um desafio de fazer uma escola que ele iria amar. Salinger se mantinha na superfície dos temas e, assim, conseguia alcançar resultados muito profundos.

Você apresentou um programa de TV sobre ópera na Itália e, anos depois, gravou o CD “City reading” com a banda francesa Air, de música eletrônica. Como nas várias formas de escrita, os diferentes estilos musicais também têm o mesmo valor?

BARICCO: A música está dentro da escrita. Não em todas. Nos textos de Kafka, por exemplo, quase não há música. Mas para mim é muito importante, é meu jeito de escrever. Minhas histórias vêm da voz, na minha forma de escrever é possível reconhecer a voz. Na minha vida, eu trabalhei de muitas formas diferentes para cruzar música com palavras, histórias e ficção. Minha paixão pela ópera nasceu daí. Eu via as óperas como grandes histórias e, depois, havia a música. Eram as palavras dentro do ritmo. O cruzamento foi muito forte, muito bem-sucedido. E o mesmo ocorre hoje. Eu pedi ao Air para fazer uma performance comigo em Roma, com música ao vivo. Eles aceitaram e nós fizemos uma espécie de leitura de algumas páginas de “City”. Aí eles pediram que gravássemos um CD. É um CD estranho, um tipo de música que não existe. Mas eu gosto.

Você também apresentou um programa de TV sobre livros. Televisão e literatura são artes consideradas quase antagônicas: uma está mais ligada à alta cultura, enquanto a outra é mais associada à cultura popular. É possível juntas as duas?

BARICCO: É possível. Você tem que pensar que um programa de TV quer dizer, pelo menos, um milhão de pessoas. É um público pequeno em comparação com outros programas de TV, mas é muito grande para a literatura. Então, se essas pessoas param e te ouvem, elas demonstram curiosidade, mostram que podem entender o que você está falando. O que funciona na TV é alguém contando alguma coisa com paixão. Isso pode ser com beisebol, com política, com outros temas. É exatamente o que eu fazia. De uma forma bem simples, eu ia lá e falava dos meus livros favoritos. E funcionava. Eu conseguia botar um livro na lista dos mais vendidos no fim de semana, depois de falar dele no programa. Fiz isso com o Salinger, por exemplo.

O seu romance “Sem sangue”, que está sendo lançado aqui agora, foi publicado originalmente em 2002, um ano depois do 11 de Setembro, numa época em que todo o mundo só falava de guerra. Isso de certa forma o influenciou?

BARICCO: Escrever sobre guerra era uma coisa que eu já tinha na minha cabeça muito tempo antes. Mas eu tinha um certo medo de tratar disso. Aí, comecei a fazer o “Sem sangue”, escrevi um trabalho sobre a “Ilíada”, que para mim é uma ótima reflexão sobre a guerra, e uma parte do “Esta história”, meu último romance, é sobre guerra. Acho que precisei escrever de formas diferentes sobre esse tópico. Talvez o 11 de Setembro tenha, de certa forma, me empurrado para o tema.

E como você enxerga a personagem Nina? Ela é uma vítima?

BARICCO: Ela é motivada pela vingança. No livro, até o fim, você não consegue saber se ela é mesmo uma assassina ou não. Você sempre tem duas versões. Tradicionalmente, as personagens femininas são a voz da paz. Os homens agem como animais e as mulheres ficam em casa com as crianças, esperando os homens voltarem da guerra. É assim na “Ilíada”, por exemplo. Em “Sem sangue”, trabalhei com uma personagem feminina e eu mesmo não sei dizer se a Nina é uma assassina ou não.

Você é um dos mais respeitados autores contemporâneos da Itália e também um dos mais vendidos. Ao criar uma história, você pensa no leitor?

BARICCO: Não em termos de mercado. Eu acho que é como fazer uma mesa. Eu quero fazer alguma coisa que funcione. Uma coisa sólida onde as pessoas podem apoiar seus copos e beber. Os livros, para mim, são coisas úteis, de que as pessoas precisam, como precisam de pão. Eu penso no leitor porque quero que ele se sente e use a mesa. E quero que ele ache que é uma mesa confortável, bonita. Esse é o meu trabalho.

Você já conhecia o Brasil, não? Quais suas impressões sobre o país?

BARICCO: Eu já havia estado no Brasil duas vezes. Na última, houve um grande problema em São Paulo, um ataque a vários pontos comandado por criminosos de dentro da prisão. Achei aquilo assustador. Não consigo imaginar como é conviver com esse tipo de situação. Como vocês conseguem?

(entrevista publicada hoje no caderno especial do Globo na Flip)

28 dezembro, 2008

Filme de sábado à noite...Deite Comigo

Filme: Deite comigo (Lie with Me, 2005)


Cotação: bom


Ponto forte: Filme canadense com outro ritmo de filmagem e movimento que fala sobre as compulsividades, sexo e sedução. A cenas de nudez são contextualizadas e não banalizam o filme. Ao contrário tornam o texto mais próximo à realidade - a intimidade que se tem com a nudez no século XXI.


Para não esquecer: "a vida sexual de uma mulher pode ser igual a vida sexual de um homem".

Sinopse
Leila (Lauren Lee Smith) é uma jovem que adora sexo, se relacionando com os homens através de encontros casuais e sempre de forma breve. Uma noite, em uma festa lotada, ela encontra-se com David (Eric Balfour). Mais tarde Leila e um homem transam atrás da casa, com David e sua namorada observando sua performance de longe. David também transa com a namorada, sendo que seu olhar e o de Leila se cruzam enquanto ambos estão fazendo sexo com outra pessoa. Pouco depois David e Leila começam a namorar e, em seu relacionamento, eles começam a ter necessidades e desejos que vão além do lado físico.
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Ficha Técnica
Título Original: Lie with Me
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 93 minutos
Ano de Lançamento (Canadá): 2005
Site Oficial: www.liewithme.com
Estúdio: Conquering Lion Productions
Distribuição: THINKFilm / Europa Filmes
Direção: Clément Virgo
Roteiro: Tamara Berger e Clément Virgo, baseado em livro de Tamara Berger
Produção: Damon D'Oliveira e Clément Virgo
Música: Byron Wong
Fotografia: Barry Stone
Desenho de Produção: Kathleen Climie
Direção de Arte: Sharon Lacoste
Figurino: Antoinette Messam
Edição: Susan Maggie


Elenco
Lauren Lee Smith (Leila)
Eric Balfour (David)
Polly Shannon (Victoria)
Mayko Nguyen (Kika)
Kate Lynch (Marla)
Ron White (Ben)
Kristin Lehman (Rachel)
Don Francks (Joshua)
Frank Chiesurin (Joel)
Michael Facciolo (Rapaz tímido)

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copiei o texto abaixo, que embora não esteja lá grandes coisas, fala um pouco sobre o enredo.
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Por : Carlos Aguena - "Da equipe de redatores Palcoetv" e-mail: aguenaca@yahoo.com.br Carlos Artur Aguena: Psicólogo Clínico com especialização em Jung e Técnicas Corporais pelo Instituto Sedes Sapientiae

Vivemos a era das compulsividades. Somos viciados em comida, regimes, trabalho, sexo, academia, religião, álcool, drogas, conhecimento intelectual, relacionamentos. Por aí vai uma extensa lista de atividades que nos distraem de nós mesmos e de nossas questões mais profundas e existenciais que nos fazem sofrer. Livros de auto-ajuda e grupos anônimos proliferam, tentando apresentar uma vida mais cor-de-rosa e acolhedora e nos eximir de incertezas, angústias e perdas que no final são inevitáveis. O preço a ser pago por tantas distrações e disfarces é a superficialidade e o vazio existencial. A vida parece não fazer sentido e não há diversão que dê conta de nos afastar dessa estado. Não é a toa que hoje há também cada vez mais deprimidos.


As compulsividades colocam no comando nossos aspectos mais primitivos e instintuais e, em níveis mais patológicos, podem comprometer seriamente nossas vidas. Convivência familiar, compromissos de trabalho, relacionamentos sociais ou cuidados básicos com a saúde podem ir para o espaço quando, incontroladamente, a compulsão impera. Tragicamente, algumas compulsões são até muito valorizadas na sociedade, como por exemplo o trabalho e, em algumas situações, o sexo. No tarot, é a carta da roda da fortuna onde um macaco com a coroa reina no lugar do imperador. O imperador soberano precisa urgentemente recuperar o seu trono usurpado, pois nessa condição seu império corre sérios riscos de cair no mais absoluto caos.


O filme Deite Comigo do diretor jamaicano Clement Virgo conta a história de Leila, uma jovem mulher obcecada por sexo. Ela se masturba em frente a televisão vendo filmes pornográficos e sai à noite em busca de parceiros ocasionais. É significativo ver um personagem feminino com comportamentos sexuais muito parecidos com os masculinos.




Leila é uma caçadora e domina no ato sexual. Sinal dos novos tempos. Em uma de suas caçadas, Leila conhece David, um jovem artista com quem consegue grandes performances na cama. David também é um atleta no sexo e encontra em Leila sua parceira perfeita.


Leila só sabe se relacionar sexualmente com seus parceiros. Não há outra forma de encontro possível para ela. Ela não tem um bom relacionamento com seus pais. David namorava uma garota antes de Leila e cuida de seu pai inválido de maneira extremamente amorosa.


Tudo vai indo muito bem nesse encontro perfeito até que algo acontece e Leila se dá conta que ela e David não são apenas corpos com zonas erógenas e que a vida não se reduz ao deleite e a satisfação dos instintos.

Algo sai do controle. A vida coloca situações de fragilidade e vulnerabilidade que nos tira a ilusão de que tudo pode se resumir a escapismos. Nessa hora não há distrações que possam anestesiar a dor e Leila perde o chão. Ela se dá conta de sua condição humana.


Em suas buscas noturnas de satisfação de seu desejo, Leila conhece David e, inadvertidamente, encontra a qualidade humana dos sentimentos e afetos em si mesma e em seu parceiro. Aí pode estar uma chave libertadora do aprisionamento dos vícios tão desesperadamente buscada pelos compulsivos.


É possível ver esse filme e se deleitar unicamente com as belas cenas de sexo, mantendo-se no padrão de conduta da personagem principal. Ou então perceber que a vida oferece saídas.

27 dezembro, 2008

Arte eletrônica? Se liga!

Segunda-feira, 14/4/2008

Paula Mastroberti






O movimento "art pour l'art", a partir do século XIX, teve o mérito de questionar a função social da arte e, ao voltar-se para uma avaliação de si mesma, refletir sobre as próprias ferramentas e sobre como explorá-las livremente, até a implosão. O custo foi alto, embora necessário, tendo rendido, de qualquer forma, excelentes frutos na modernidade.

Porém nem o artista concretizou o sonho de desagrilhoar-se dos seus entornos (eu diria, aliás, que nunca a relação entre o artista e o sistema social e econômico foi tão tensa e intrincada como a partir do século XIX), nem a sociedade engoliu assim, com tanta facilidade ― e prazer ― o livre-arbítrio estético. Acho que eu posso afirmar sem risco que os tempos da pós-modernidade (embora conceituar um artista como pós-moderno seja o mesmo que chamar Você-Sabe-Quem de Lord Voldemort) mostram, sobretudo, uma preocupação em re-estabelecer o elo perdido entre objeto artístico e sujeito ― ok, entre arte e público.

Chega de bancar o autista, dizia a turma dos anos 80. Gradualmente, queiram ou não os pessimistas, os saudosistas e até mesmo alguns críticos cujo olhar permanece vinculado à proposta romântico-modernista, os artistas voltaram a trocar o "u" pelo "r" e as mostras de arte estão, cada vez mais, comprometidas com idéias e conceitos antes considerados incompatíveis, tais como: entretenimento; contato físico (lembrando que antigamente se dizia: não se toca em obra de arte!); jogo; comunicação; e até mesmo ― oh! ― pedagogia da arte!

Nesse exato instante, temos um belo exemplo bombando, aqui em Porto Alegre, no Santander Cultural: o FILE ― Feira Internacional de Arte Eletrônica. Net-art, instalações, filmes interativos, realidade virtual, vídeos, games e web-art, tudo misturado esperando não só pelo seu click no mouse, mas por sua entrega de corpo inteiro. Coragem: passe ridículo, dance, olhe, toque, ouça: afinal, você é um espectador contemporâneo, e não são apenas os seus olhos que estão literalmente em jogo, mas toda a sua capacidade cognitiva e motora. Divirta-se, mas preste atenção.

Algo está acontecendo com aquilo que chamamos ― ou costumávamos chamar de arte. Esqueça as tradicionais definições, elas não cabem nesse caso. Mais do que uma exposição lúdica e, em alguns casos, reflexiva, a FILE quer nos propor a derrubada de fronteiras há muito destituídas de sentido. Por que essa assimetria entre função estética e função comunicativa? Por que priorizar estesia em detrimento da diversão? Por que, aliás, queimar fosfato tentando diferenciar o que é arte daquilo que não é?

Essas questões não implicam de forma alguma propor o fim da arte como conceito, mas o seu deslocamento, numa reorganização inclusiva do saber estético. Gosto muito de uma frase de Gérard Genette ― teórico mais conhecido pela tribo literária, mas que tem um livrinho fantástico chamado A Obra de Arte: Imanência e Transcendência ― onde ele afirma que definir um objeto como obra de arte não passa de uma convenção útil, quando desejamos situar esse objeto em seu contexto sócio-cultural e econômico; contudo, essa definição é, não só hipotética, mas provisória, requerendo uma previsão de intencionalidade ― é preciso que esse artefato tenha sua função estética reconhecida tanto por quem o produz, como para quem o percebe. Esse raciocínio fica bastante claro para mim toda vez que penso em Duchamp como um exemplo de manipulação desses conceitos. Porém, deixemos Duchamp em paz, nesse momento.

Na FILE, tudo pode ser, alguma coisa deve ser, ou nada daquilo é ― arte. Depende muito da intenção autoral de tal objeto (se ele foi concebido para exercer essa função), mas também dependerá do modo como ela será veiculada ou compreendida ― o fato de ela estar inserida num espaço institucional concebido para expor obras de arte faz muita diferença. Ou não faz?

E se a Feira tivesse ocupado o estacionamento de um shopping center, tal como fazem as feiras de design, ou de informática? E se você pudesse acessar cada trabalho (como é o caso de alguns) pela internet? Será que isso mudaria alguma coisa para você, meu caro sujeito interagente? Será que isso mudaria a função ― ou o caráter ontológico ― do objeto artístico?

Hans Belting e Arthur Danto, não por nada, ao discorrerem sobre o fim da história da arte, querem dizer do fim de um determinado approach do objeto auto-reflexivo estético, cuja validade encontra-se com os dias contados, se é que já não venceu.

Porém, a meu ver, não se trata somente de um modo de aproximação desse objeto; tudo indica (sintoma e diagnóstico tão provisórios quanto quaisquer outros, não esqueçam) que as fronteiras entre linguagens estéticas e suas aplicações, sejam elas puramente poéticas, utilitárias, educativas ou lúdicas, por enquanto e para o pensamento contemporâneo, estejam caminhando para uma espécie de pulverização, o que não quer dizer que tudo o que se faça ou se intencione produzir como arte, preencha de forma adequada ou bem-sucedida essa função.

Por enquanto, ligue-se e verifique por si mesmo: pense, enquanto se diverte. E vice-versa.


Paula Mastroberti
Porto Alegre, 14/4/2008

25 dezembro, 2008

Para 2009

Nada é mais difícil do que realizar, mais perigoso de conduzir, ou mais incerto quanto ao seu êxito, do que iniciar a introdução de uma nova ordem de coisas, pois a inovação tem, como inimigos, todos aqueles que prosperam sob as condições antigas, e como defensores tíbios todos aqueles que podem se dar bem nas novas condições.


(Maquiavel, O Príncipe)

24 dezembro, 2008

Brasil sem Machado

"Machado de Assis, por exemplo, em sua fase realista consegue provar para o leitor que o mundo é ruim, a vida é ruim e as pessoas são ruins! Não há o que dizer, ele prova! Ele tem o dom da linguagem e da manipulação das evidências. Os puristas devem tomar cuidado"...

Renan da Silva Melo

22 dezembro, 2008

Ho ho ho ! felizes festas







Que em 2009 a vida corra livre, leve e solta como o espírito das crianças !

17 dezembro, 2008

Mensagem de natal

Natal: tempo de brincar com a caixa. Valorização do consumo imaterial


"Esta talvez seja uma hora propícia para considerar como seria um Natal em que os desejos de consumo ficassem em segundo plano", escreve Hélio Mattar, doutor em engenharia industrial pela Universidade Stanford (EUA), diretor-presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 19-12-2008. E sugere: "Que tal se você parasse para pensar em qual seria "a caixa" de seu Natal? Algo de valor simbólico que lhe fizesse lembrar deste Natal como uma festa especial, guardada para sempre em sua memória".

Segundo ele, "talvez possamos, neste Natal, iniciar uma nova forma de pensar o consumo, a forma que deverá ser a predominante no futuro, em que substituiremos, cada vez mais, o consumo material pelo consumo imaterial, intangível, simbólico".

Eis o artigo.

O tempo atual é de crise. A incerteza quanto ao futuro pesa sobre os ombros de todos com a ameaça de menor atividade econômica e desemprego. Mas o tempo é também de festa, uma festa cristã há muito associada a dar e receber presentes: o Natal. Podemos, portanto, usar a oportunidade da atual crise para repensar o papel do Natal, uma festa que passou a ser uma celebração do consumo, muitas vezes de excessos e desperdícios.

Esta talvez seja uma hora propícia para considerar como seria um Natal, uma festa em família ou entre amigos em que os desejos de consumo ficassem em segundo plano. Uma boa hora para refletir como seria o encontro com as pessoas que amamos se não houvesse a intermediação dos objetos, das coisas, dos presentes materiais. Refletir sobre o desafio de usar a imaginação e a criatividade para criar momentos felizes tendo como principais valores a simplicidade, os sentimentos e a descoberta do que é realmente importante na vida. Aliás, como fazem as crianças, especialmente as muito pequenas. Ao ganharem um brinquedo, divertem-se muito mais brincando com a caixa do que com o próprio brinquedo.

Que tal se você parasse para pensar em qual seria "a caixa" de seu Natal? Algo de valor simbólico que lhe fizesse lembrar deste Natal como uma festa especial, guardada para sempre em sua memória.

Lembro-me de um Natal com meus pais em que pedi a cada um dos membros da família que trouxesse um texto para ler na ceia, um texto próprio ou escrito por um terceiro, e que tivesse um significado especial. Nunca me esqueci daquele Natal, dos textos emocionados que cada um trouxe e que se tornaram a atração principal, muito mais do que os presentes. Lembro-me dos textos. Não lembro quais foram os presentes. Os presentes têm o papel de traduzir o afeto que sentimos pelos outros.

Por isso mesmo, na hora de presentear, por que não pensar em algo que de fato reflita o que sentimos pelo outro? Em vez de recorrer aos produtos padronizados disponíveis nos shoppings, por que não pensar em presentear a quem amamos com algo feito por nós mesmos? Ou com algo que mostre que pensamos naquela pessoa de um modo especial?

Tenho um amigo, por exemplo, que gosta muito de goiabada com queijo. Tenho certeza de que se eu o convidasse para uma ceia de Natal em que houvesse uma boa goiabada com um ótimo queijo minas ele jamais esqueceria esse fato, pensado com carinho exclusivamente para ele. Será que o que vale ser vivido não é aquilo que será lembrado?

Talvez possamos, neste Natal, iniciar uma nova forma de pensar o consumo, a forma que deverá ser a predominante no futuro, em que substituiremos, cada vez mais, o consumo material pelo consumo imaterial, intangível, simbólico.

Uma mudança necessária, dado que, já hoje, a humanidade consome 30% a mais do que o planeta é capaz de renovar. O mundo só será sustentável no momento em que repensarmos o estilo de vida atual, com excesso de consumo, que usa recursos naturais finitos como se infinitos fossem.

É preciso iniciar um novo tempo, com novos Natais, em que iremos presentear as pessoas não com objetos, mas com experiências: um bilhete de ônibus para um passeio ao centro da cidade, um ingresso para uma bela exposição em um museu, um texto que nos emocionou, uma palavra sincera de carinho pensada especialmente para cada pessoa. Natais em que o único consumo exagerado será o de coisas que, como por milagre, quanto mais consumimos, mais se multiplicam: amor, beleza, alegria, carinho e amizade.

Dessa forma, o presente para o outro se transforma em presente para nós mesmos, pela alegria de nos expressarmos e de compartilharmos nosso carinho e querer bem. O Natal, assim, celebraria de fato o nascimento de algo novo, de uma nova proposta para a vida.

E não é esse, afinal, o verdadeiro significado do Natal?

15 dezembro, 2008

Dilemas de fim de ano

Claudio de Moura Castro
Aprovar quem
não aprendeu?

"O medo da repetência leva o aluno de classe média a estudar, para evitar os castigos. Nas famílias mais modestas não há medo nem pressão para que os filhos estudem"

Para chamar atenção sobre pesquisas irrelevantes, um bando de gaiatos de Harvard criou o prêmio Ignobel (um brasileiro já foi agraciado, por estudar o impacto dos tatus na arqueologia). De fato, esse é um problema clássico da academia. Como às vezes aparecem descobertas de valor na enxurrada de idéias que parecem bobas, todos se acham no direito de defender as suas. Diante disso, é reconfortante encontrar pesquisas colimando assuntos palpitantes e com resultados precisos e definitivos. Esse é o caso da tese de Luciana Luz, orientada pelo professor Rios Neto (UFMG), que examinou um problema fundamental: no fim do ano, o que fazer com um aluno que não aprendeu o suficiente? Dar bomba, para que repita o ano? Ou deixá-lo passar? O uso de dados longitudinais permitiu grande precisão na análise. A autora tratou os números com cuidado e sofisticação estatística. O cuidado aumenta a confiança nos resultados. Mas a sofisticação impossibilita que se faça aqui uma explicação acessível da análise estatística.

Contudo, a interpretação das conclusões é clara. A tese permite comparar um aluno que repetiu o ano por não saber a matéria com outro que foi aprovado em condições similares. Os números mostram com meridiana precisão: um ano depois, os repetentes aprenderam menos do que alunos aprovados sem saber o bastante. Tudo o que se diga sobre o assunto não pode ignorar o significado desses dados, que, aliás, corroboram o que foi encontrado pelo professor Naércio Menezes e por pesquisadores de outros países.

Ao que parece, para os repetentes, é a mesma chatice do ano anterior, somada à frustração e à auto-estima chamuscada. Andemos mais além da tese. Não reprovando, a nação economiza recursos, pois, com a repetência, o estado paga a conta duas vezes. E, como sabemos por meio de muitos estudos, os repetentes correm muito mais risco de uma evasão futura. Logo, ganha-se de três lados. Como a "pedagogia da reprovação" não funciona, a "promoção automática" é um mal menor.

Ilustração Atômica Studio


A história não acaba aqui. A angústia de decidir se devemos aprovar quem não sabe torna-se assunto secundário, diante da constatação de que o aluno não aprendeu. Esse é o drama mais brutal do ensino brasileiro. Por isso, a discussão está fora de foco. Precisamos fazer com que os alunos aprendam. De resto, não faltam idéias nos países onde a educação dá certo. Por exemplo, na Finlândia – e mesmo no Uruguai – há professores cuja tarefa é dar uma atenção especial aos mais fracos. Por que se digladiam todos contra a "promoção automática", quando a verdadeira chaga é o fraco aprendizado? De fato, há uma razão. Grosso modo, três quartos da população brasileira é definida como de "classe baixa". Dada essa enorme participação, o que é verdade para seus membros é verdade para o Brasil como um todo. Mas há os 20% de classe média e alta. Para esses pimpolhos, a situação é diferente. Famílias de classe baixa são fatalistas, assistem passivamente à reprovação dos seus filhos. Se não aprenderam a lição, é porque "sua cabeça não dá". Já na classe média a regra é outra. Levou bomba? Antes zunia a vara de marmelo, depois veio o confisco da bola, da bicicleta ou do iPhone. Santo remédio!

Reina a "pedagogia do medo da repetência". Essa é a arma dos pais para que o filho se mantenha por longo tempo colado à cadeira e com os olhos no livro. Cá entre nós, eu estudava por medo da bomba. É também a ameaça da bomba que permite aos professores forçar os alunos a estudar. Sem ela, sentem-se impotentes. Portanto, estamos diante de um dilema. O medo da repetência leva a minoria de classe média a estudar, para evitar os castigos. Pode não ser a pedagogia ideal, mas ruim não é. Já nas famílias mais modestas não há medo nem pressão para que os filhos estudem. O que há são as bombas caindo do céu e criando repetência abundante e disfuncional. Pouquíssimos países no mundo têm níveis tão altos de repetência como o nosso. Ao contrário de outros dilemas, esse tem solução clara, ainda que difícil. Basta melhorar a qualidade da educação para todos.



Claudio de Moura Castro é economista
claudio&moura&castro@cmcastro.com.br

09 dezembro, 2008

Urbenauta

Tô lendo o blog do urbenauta e adorando...




"Afinal, se não tivermos medo, quem vai ficar em frente à TV".

"É a fase da viagem em que não sei se sou um pássaro com raízes ou uma árvore com asas".

08 dezembro, 2008

07 dezembro, 2008

Expo no próximo sábado!!!


Paixão: gente. Mania: fotografar. A exposição “Retratos e auto-retratos” reúne paixão e mania. Numa série de imagens, Solange Pereira Pinto, fotógrafa amadora, expõe ângulos do seu olhar. Com humor e vício, as imagens revelam parte das faces registradas ao longo de dez anos. Compartilhar o resultado é outro hábito dessa brasiliense que não pára. De 13 a 27 de dezembro, confira no Café com Letras (203 sul) a mostra “Mania em Exposição”, quem sabe você também não esteja por lá?
...

05 dezembro, 2008

Leis do mercado de trabalho

"As pessoas ganham (dinheiro) pela raridade e não pela importância". Waldez Ludwig

04 dezembro, 2008

Os 18 mandamentos de um tradutor

Já estou cansado!

por Danilo Nogueira




Tenho de dizer que já estou cansado de ouvir clientes finais, donos de agências e gerentes de projeto falando mal de tradutores e editores. Por outro lado, também estou cansado de ouvir tradutores e revisores falando mal de clientes finais, donos de agência e gerentes de projeto. Achar defeito no trabalho dos outros é muito fácil, mas pouco útil, por pelo menos duas razões: primeiro, a gente ganha muito pouco falando mal dos outros e, segundo, os outros geralmente não dão a mínima para o que a gente diz.



Isso dito, faço aqui a solene promessa de nunca mais criticar clientes finais, donos de agência e gerentes de projeto. Mas certamente vou criticar a mim próprio e aos membros da minha tribo, a tribo dos tradutores e revisores. Um pouco de autocrítica, um pouco de mea culpa, não faz mal a ninguém, desde que seja uma crítica honesta e inclua um certo esforço para abandonar os caminhos do pecado. Não, acho que vou fazer uma coisa melhor: em vez de autocrítica, vou escrever uma lista de decisões. Ainda é meio cedo para decisões de ano novo, mas não faz mal.


Prometo que vou sempre passar o revisor ortográfico mais uma vez antes de entregar o serviço. Uma vez, decidi fazer uma mudança de última hora em uma tradução para uma agência americana, onde ninguém entendia uma palavra de português. Fiz um “substituir todos” e, em conseqüência, mudei não só a palavra que queria mudar, como também as tripas de uma outra palavra mais comprida. Não me perguntem qual: prefiro esquecer essas coisas. Depois, o pessoal de DTP formatou o texto e mandou para o cliente final, que sabia português e quase teve um infarto. Se eu tivesse passado o revisor ortográfico mais uma vez, antes da entrega, teria poupado ao cliente um grande constrangimento e eu próprio não iria sofrer o prejuízo financeiro que sofri. E, já que estamos falando nisso, também prometo nunca mais usar o comando “substituir todos”.


Quando estiver revisando o serviço de um colega, prometo que nunca vou fazer uma alteração sem uma justificativa melhor do que “porque fica melhor assim”. Uma das coisas mais irritantes para um profissional é ver seu trabalho cheio de alterações aparentemente sem proveito nem finalidade. O gerente de projeto, que muitas vezes não sabe português, quando o cliente é estrangeiro, fica sem entender o que está acontecendo nem o que fazer. O tradutor fica zangado e tudo o que o revisor tem a dizer é “bom, fica melhor assim”. Nem sempre a gente pode justificar todas as alterações com gramática e dicionário, mas, pelo menos tente dizer coisas do tipo para manter a uniformidade, ou para melhorar a coerência. Comecei a agir assim e, aos poucos, estou desenvolvendo um conjunto de regras claras e precisas para melhorar a qualidade das traduções que reviso, isso para não falar das minhas próprias.


Não vou ficar furioso por causa de alterações de revisores. Se o revisor fizer uma alteração aceitável em minha tradução, eu vou aceitar. Se a alteração for inaceitável, entretanto, vou conversar com o gerente de projeto e tentar explicar claramente por que eu não concordo com ela. Não há motivo para começar cada um de meus comentários com alguma coisa do tipo “esse cricri imbecil…”. Simplesmente, vou tentar citar alguma prova de que estou certo. Por exemplo, a ortografia brasileira é governada por lei (2623/55, com suas emendas) e o regulamento pode ser encontrado em qualquer dicionário. Veja a regra 53 e note que ela dá pleno apoio à minha pontuação. Se você não leu a regra 53, abra o dicionário e leia agora. Talvez você tenha uma surpresa.


Vou conferir a formatação de minhas traduções. Faz muito tempo que decidi aprender a formatar um documento direito com o MSWord. Nada de muito especial: O Word não é o QuarkExpress e eu não presto serviços de editoração eletrônica. Mas certas coisas como usar tabelas e tabulações corretamente, formatar parágrafos deslocados como se deve, em vez de usar marcas de parágrafo e espaços, coisas desse tipo. Se você não está entendendo, então precisa passar uma tarde com uma boa introdução ao Word for Windows. Quando terminar a tradução, veja se em algum lugar há dois espaços consecutivos. Salvo se o texto for em inglês e os dois espaços consecutivos forem usados no fim de uma sentença (e de todas as sentenças), não deve haver nenhum caso no texto todo. Muitas vezes, batemos a barra de espaço duas vezes ou mais entre uma palavra e outra e muitos de nós esquecem de apagar os espaços que sobram antes de entregar o serviço e, assim, o texto fica parecendo queijo suíço. Os espaços no início da linha ou antes de marcas de parágrafo ou tabulação também são um mau costume. Não deixe aprender a usar o tabulador. E nunca use um hífen quando deveria usar um travessão, por favor. E nunca use dois hífens quando deveria usar um travessão. Aquele pessoalzinho bom que edita seu trabalho ou faz editoração eletrônica vai ficar grato e, quem sabe, lembrar de você nas suas orações. E é mais provável que o cliente lembre de você para um outro serviço.


Vou respeitar as convenções tipográficas da língua de chegada. Os números em inglês seguem a regra do xxx,xxx.xx e em português a do xxx.xxx,xx, não faz diferença se a gente está contando dólares, reais ou camelos. Também vou respeitar todas as convenções sobre uso de maiúsculas e pontuação.


Não vou aceitar serviços que não possa fazer. O cliente (ou o gerente de projeto) pode bater a cabaça na parede, se quiser, mas não vou aceitar um prazo apertado demais. Não vou dar ouvidos àquela história de que é um serviço fácil, porque sei que isso não existe. Não vou dar ouvidos àquela história de que uma “minuta” serve, porque sei que o mesmo sujeito que diz que quer o texto “só para informação” é exatamente o mesmo que depois vai dizer que eu fiz um serviço porco e cobrei um dinheirão. Evidentemente, isso significa que vou aprender a fazer estimativas realistas do tempo necessário para fazer um serviço. Nunca mais vou dar uma olhadinha e dizer “tá bom, acho que vai dar.”


Vou fazer questão de ter tudo por escrito. Não estou dizendo que os clientes sejam desonestos. Mas a melhor maneira de evitar mal-entendidos é escrever tudo antes de começar a trabalhar: taxas, datas de entrega e quantificação. Se a contagem se basear no original, peça ao cliente a contagem e aceite antes de começar. Se o cliente insistir em uma contagem um pouco menor que a sua, não reclame: cada versão do Word for Windows dá uma contagem diferente. Simplesmente aceite as pequenas diferenças como coisa da vida. Se a diferença for grande, investigue o assunto. Se a taxa for boa, às vezes até uma contagem baixa demais pode ser aceitável. Nesse caso, não reclame. Se a paga final for baixa demais, não aceite o serviço. O que importa é que tudo deve estar por escrito e bem explicado. Quando receber as informações do cliente, leia tudo direitinho. Monstros terríveis muitas vezes se ocultam por detrás de um palavreado aparentemente inofensivo. E, finalmente, nunca aceite nada que o cliente diga que é somente “para constar”. É justamente esse trecho que o cliente vai pedir para você ler muito cuidadosamente, quando chegar a hora. E, se o acerto vier em forma de e-mail, imprima e pendure onde você veja. Combinar tudo por escrito, conferir o combinado direitinho e deixar tudo sempre à vista são um dos meios mais importantes para assegurar a satisfação do cliente. E, como você sabe, cliente satisfeito é cliente que volta.


Vou sempre cobrar o máximo e fazer um serviço tão bom quanto possível. Vou sempre procurar conseguir o maior pagamento possível por qualquer serviço que aparecer. Mas, depois de aceitar o serviço, vou esquecer quanto estou recebendo e fazer a melhor tradução que puder. Jamais vou fazer uma tradução de segunda e dizer que está até que boa demais para o que estão pagando. É uma estratégia é contraproducente, porque, quando alguém precisar de um bom tradutor, vai provavelmente oferecer ao sujeito que fez a tradução melhor, não a quem fez uma tradução “compatível com o preço”.


Não mentirei. Se não puder terminar o serviço em tempo, vu dizer “Desculpe, subestimei o tempo que precisava para essa tradução”. Ninguém mais acredita naquela história do HD novinho em folha que deu pau mais uma vez ontem.


Vou sempre conferir minha tradução, para ver se tem tradutorês. Tradutorês, caso você não saiba, é aquela língua esquisita que só se encontra em traduções. Não existe razão alguma para uma tradução parecer esquisita. Se você está traduzindo para o inglês, por exemplo, procure coisas como “The legislator of our fatherland found it to be a good thing to allow such action, being that under the previous legislation it was held to be illegal”. Se estiver traduzindo para o português, procure coisas do tipo Suficientes dados não estão disponíveis para que pudéssemos tornar nossas ações consistentes com… Não há justificativa para uma coisas dessas. Também procure coisas que não fazem muito sentido para você, porque, se não faz muito sentido para, você, provavelmente não vai fazer sentido algum para o leitor.


Não vou tentar “melhorar” o original. Tenho grande orgulho de meu trabalho como tradutor e não sinto o ímpeto de mostrar aos leitores de minhas traduções que grande escritor que eu sou. Por isso, não tento “melhorar” os originais que me confiam para traduzir. No início, muitas vezes eu tentava, até adicionando alguma coisa que achava de interesse, ou omitindo coisas que eu achava inúteis. Não faço mais isso. Com os prazos que tenho, mal dá para fazer uma tradução decente. E, de um modo ou de outro, quem lê a tradução tem o direito de saber o que o autor disse, não o que eu acho que ele deveria ter dito.


Não vou discutir com o cliente por causa de preferências de vocabulário e sintaxe. Se o cliente quiser mudar o texto, pode mudar à vontade. Vendi o texto para ele, e ele agora é o dono do texto. Essa é uma das razões pelas quais não gosto de assinar traduções. Finalmente, reservo-me o direito de jamais trabalhar para o cliente de novo – quer dizer, se eu encontrar outro melhor.


Não vou contradizer meu cliente. Se o cliente disser que a irmã dele poderia fazer a tradução, não vou abrir a boca. Se o cliente disser que o primo dele tem um programa que pode fazer a tradução, não vou discordar. Se o cliente alegar que, se eu insistir nesses preços abusivos, ele vai pedir para a filha dele fazer a tradução, vou, muito educadamente, dizer – desculpe, esse é o mínimo absoluto que eu posso cobrar –, sem uma sombra de ironia, desligar, e deixar que ele se dane.


Não vou falar mal de colegas, mas, se encontrar erros de tradução, vou apontar. Jamais vou dizer – não dê essa tradução para a Fulana, a mulher é quase analfabeta – , mesmo se souber com certeza que ela é mais burra que a mãe da burrice. Entretanto, vou dizer ao cliente que não acho mandate of security uma tradução decente para mandado de segurança e não quero saber quem disse que era.


Não vou brincar com taxas e condições de pagamento. Só vou aceitar o serviço quando o cliente e eu estivermos de acordo quanto a taxas e condições de pagamento e o cliente entender exatamente o que está pagando. As agências sabem exatamente o que estão fazendo, mas muitos clientes finais não têm idéia. Por exemplo, quando o cliente é brasileiro, provavelmente vai pensar que a lauda equivale a uma página de seu texto, o que não é verdade. Algumas agências pagam de acordo com o original, outras, pela tradução, e essas coisas precisam ser combinadas antecipadamente. E, feito o acordo, vou cumprir tudo cuidadosa e estritamente. Por exemplo, se o pagamento não estiver na minha conta na data combinada, o cliente vai ficar sabendo no dia seguinte, logo cedo.


Jamais vou me apresentar como “free lance”. Acho esse termo pejorativo. Um “free lance” é um mercenário e eu não sou “soldado da fortuna”. Sou tradutor profissional e faço o máximo para me conduzir como deve um profissional liberal.


E, finalmente, não vou resmungar. Estou cansado de ouvir tradutores, revisores, donos de agência e gerentes de projeto que vivem reclamando de tudo, do tanto que trabalham, do pouco que ganham, dos clientes e fornecedores incompreensivos e desonestos, de tudo. Considero reclamar um desperdício de tempo e energia. Vamos investir nosso tempo e energia em melhorar nossa sorte.

01 dezembro, 2008

Vida da pré-história à pós-modernidade em quadros


Um dia urbe de mulher
No seu turbinado conversível, fêmea-de-37-anos sai de casa para mais um dia de mulher independente. Agenda anotada e atividades para todos os segundos do calendário lotado nos próximos seis anos. Incluindo a data do casamento com o homem que irá conhecer e lhe pedir em casamento, os preparativos para o batizado dos dois filhos que irá conceber, um garotão macho e uma linda meninha, e... mais... muito mais... Já são quase nove da manhã.

A mulher-iniciada vence o tráfego com humor instável e dá uma passada na academia para deletar os brigadeiros da festa do afilhado e o vinho da despedida de solteira da amiga de 35 anos. Por duas horas faz planos imaginários que levantam a bunda, endurecem peitinhos, ajeitam a barriga, torneiam coxas, e assim conseguir brevemente se casar para crescer a barriga, amolecer os seios, correr atrás do bebê e sentar no chão para brincar de tatibitate.


No horário do almoço, eufórica-tarja-preta engole um saladinha de alfafa e outros vegetais descobertos quando a vida ainda era apenas agricultável. Mira as vitrines e investe o salário todo em prestações adquirindo umas roupinhas para um fim-de-semana-na-moda. Bola um visu feito maquiagem dos pés à cabeça. Trabalha até meio da noite e vai pra casa arquitetar a sexta, o sábado e o domingo.


Enquanto isso, fêmea-hormonal pinta as unhas e esquenta algo no microondas. Um chá verde e mais umas três ou quatro coisas da ordem boa forma propagandeada na TV e revistas de celebridades.


Pronta a ser caçada (melhor dizer caçar), mulher-enturmada passa na casa dos amigos para uma jogadinha embalada em absinto, som eletrônico e umas doses de atualização sobre quem-está-com-quem-e-quem-ainda-está-só-no-melhor-estilo-lattes-amoroso (naquele em que se verifica a performance das quantidades).


Eis que surge o homem-45-divorciado-ombros-largos. Apertos de mãos e olhares cruzados ela marca um almoço sabático.



Os lábios gesticulam: qual foi o último filme que você viu? Ela emenda, quando era pequena gostava de caçar coelhos. Ele devolve, fiz um projeto de engenharia para o metrô no ano passado. Ela assente, a firma de advocacia WYWQ quer me contratar. Eu adoro beijar, repetem juntos.



Splashssssssssss de ida e volta. Mãos nas contramãos. Flashes na memória. Ela vê para cima. Ele olha para baixo. Melhor tentar... Será que ele vai me pedir em casamento? Suspira silenciosa. Será que ela transa bem? Sorri atencioso.





No motel das vinte-e-duas-tardes-executivas ele abre o champanhe. Ela vibra e vibra nele. Ele vibra e vidra nela. A noite (se) passa.

Num átimo de retirada do preservativo ele volta para a ex-namorada de cinco anos. No ensaio de uma mecha por detrás da orelha esquerda, ela volta para casa e espera o telefone tocar o domingo inteiro. Repinta as unhas ao som do Tunai... "você caiu do céu/um anjo lindo que apareceu/com olhos de cristal/me enfeitiçou/eu nunca vi nada igual".

A segunda nasce. Mulher-carente-desolada apronta o visual super-independente-bem-resolvida e marca outra sessão no psicanalista. Espreme a espinha que surgiu no meio da testa. Come cinco barras de chocolate com menta. Comenta com as amigas também. Acaba a bateria do celular.


Entra no turbinado. Agenda anotada e atividades para todos os segundos do calendário lotado nos próximos seis anos. Incluindo a data do casamento com o homem que irá conhecer e lhe pedir em casamento, os preparativos para o batizado dos dois filhos que irá conceber, um garotão macho e uma linda meninha, e... mais... muito mais... Já são quase nove da manhã. Ela vai.