07 novembro, 2007
Livro O Bispo - Edir Macedo - Eu li e gostei - Resumo - Resenha - comentário
Primeira edição de 700 mil exemplares esgotada
É fácil julgar ao invejar
Domingo, dia de culto, dia de missa, dia de Faustão, eu estava passeando pelo Café com Letras e encontrei 'O bispo' em primeiro plano no balcão do caixa. Confesso que sempre tive preconceito relacionado à Universal, aos evangélicos, aos carolas, aos fanáticos religiosos de qualquer espécie. Aliás, fazendo a famosa mea-culpa: aversão a qualquer fanatismo que não fosse o meu.
Contudo, no caso Edir, eu não sabia a outra versão. Nos dias de hoje é muito fácil se formar uma opinião apenas por um lado da história. Vence a mídia que você mais acessa, mais participa, mais lhe atinge.
Quero dizer com isso que a interferência dos grandes meios de comunicação de massa (MCM) "pautam" nossas idéias, nossos pensamentos e até nossas atitudes (ou principalmente, o que é pior). TV, rádio, internet, jornais...
Porém, minha curiosidade é bem maior do que o meu preconceito e sempre será. Eu boto a cara e quero chafurdar na realidade vista diretamente pelos meus olhos. Comprei o livro (estava ansiosa pelo lançamento). Especular a vida do Edir Macedo, em sua biografia autorizada, foi um prazer. Nem tanto pela leitura, que, apesar da escrita fluente, da excelente diagramação e tipologia, peca por repetir demais.
Levei um susto! Embora se tenha em mão um exemplar do "olhar do outro" (no caso o dos autores da obra) dá para se refazer conceitos. A notícias que todos temos, pela mídia "global" (imperial e católica de carteirinha) é que o bispo é, em resumo, charlatão e estelionatário.
Vejamos: qual igreja, religião, não é chartalã e estelionatária? Simples: aquela em que acreditamos! Para os ateus o ateísmo, para os budistas o budismo, para os católicos o catolicismo. Daí a César o que é de César...
Todas as cristãs, praticamente, prometem milagres, cura, um pedaço do céu, a salvação do inferno, realização de promessas etc. Todas pedem uma "oferta", "oferenda", "dízimo", "contribuição" etc.
É o câmbio da salvação: pague e (um dia) terás!
Óbvio que há quem "pague" com dinheiro! A maioria decerto. Há quem pague com doações patrimoniais, alimentos, trabalho voluntário. Uma "ajudinha" daqui e outra dali.
Questionar os "pagamentos" feitos à igreja católica, por exemplo, não entra em cena. Por quê? Estamos acostumados! Simples assim.
Nossa cultura tem base católica e seus dogmas estão profundamente arraigados em nossas atitudes "cristãs". Mas ela prega o sacrifício, o voto de pobreza, o celibato.
O catolicismo prega a miséria, eu diria.
Eu que fui batizada, fiz primeira comunhão e crisma, aprendi, em síntese, a me sentir culpada. Sentir culpa de transar. Sentir culpa de ganhar dinheiro. Sentir culpa de ambicionar conforto. Sentir culpa de viver com os prazeres "da carne e da grana".
Lucrei frustrações e culpas que até hoje estão impregnadas no "automático" de minhas ações (claro que quando percebo mudo o rumo imediatamente). Ser "humilde", dar a outra face e carregar a cruz me foi ensinado. Vida de "penitências", de "pai-nosso" automático, de 230 aves-maria!
Sim. Nas outras também existem dogmas, submissões e blablabla. É por isso que jogar as pedras no Edir Macedo se torna um pouco ridículo. O papa é pobre? Come pão velho e água? Veste roupa de feira? Não, o papa é nobre! E o Edir é o papa da Universal.
Não, eu não me tornei evangélica. Continuo sem religião, entretanto não aprecio injustiças midiáticas advindas de visões rasas.
Acontece que os neo-evangélicos invadiram a praia e tomaram o terreno monopolizado da Igreja Católica. Isso sacudiu. Abalou. "Almas" foram "perdidas" para a concorrência. Lembremo-nos que estamos no capitalismo globalizado. Perder fiéis significa perder poder, que significa perder dinheiro, bens etc.
Acusam o Edir de atentar contra a "fé pública". Nada diferente, na minha opinião, do que faz a publicidade de celulares e os noticiários da TV que miram a camêra e editam precisamente as imagens que "devemos" ver... Ah, e o Congresso Nacional, o Executivo, o Judiciário, os padres pedófilos, as freiras autoritárias, as religiosas que usam Gucci... de uma lista sem-fim não escapam às distorções.
A Folha On-line acusa o jornalista Douglas Tavolaro (autor do livro) de ser "parcial", pois foi pago por seu patrão Edir para escrever...
Digam-me, então, sobre a mídia. Diariamente ela atenta contra o público ao selecionar as "matérias" que vão ao ar e mais, todos jornalistas são pagos por seus patrões para escrever e por isso parciais, não é mesmo? Ou neste caso há dois pesos e duas medidas? (adoro usar clichês em assuntos clichês).
Voltando ao livro "O Bispo". A obra mostra o que pensa Edir. Sim, o que Edir quer mostrar sobre ele. Sim, o que Edir assume como sendo "ele". Sabe, vi um Edir sincero. Autêntico. Posso dar meu testemunho: ele prega e dá exemplo! Ele quebra o paradigma da massa pobre, coitada, carente, sem eira, sem auto-estima, penitente, dócil.
Edir sacode a massa e chama, clama, à ação!
Ontem fui em um culto evangélico, como o São Tomé - ver pra crer -, percebi que o que lá acontece é uma verdadeira terapia popular e o dízimo é o seu pagamento. Fundadores de terapias, de religiões, de seitas é que ditam as regras, né! Muitas vezes o que se muda é apenas o nome das coisas, vamos usando sinônimos e criando palavras novas. Roupagem diferente para antigas ações.
Lembrando de outros métodos, quem conhece a psicanálise sabe o quanto é importante o investimento do paciente em sua cura e isso, necessariamente, passa pelo metal. Em psicanálise o dinheiro (o valor da consulta paga ao psicanalista) faz parte da terapia. Se investe tempo e grana!
Se temos, hoje, consultas terapêuticas custando em média R$ 120,00 (por uma hora), em se tratando de dízimo equivaleria a um salário mensal de R$ 4.800,00. Então, quem ganha um salário mínimo poderia pagar cerca de R$ 40,00. Essa é a conta! Um "culto-terapêutico" fica na ordem de R$ 10,00 para quem ganha R$ 400,00. E, ainda, com direito a duas horas e meia de tempo, com direito a música (lembram do couvert de bar? mínimo R$ 3,00 por pessoa), interação grupal... E, mais, elevação da auto-estima pela fé! "Tudo pode quem nele crê".
Eu li num comentário que: "crente" é quem "crê" mas não se diz em "quê".
Crer é crer e dar o dízimo é crer e dar a oferta é crer. Jogar flores e champanhe para Iemanjá é crer (e poluir o meio-ambiente). Comer hóstia é crer. Rezar terço é crer. Ser voluntário (mão-de-obra grátis) é crer. Fazemos o que acreditamos que irá ajudar em nossa crença. Ler Saramago é crer. Ler boa literatura é crer nas possibilidades da arte e do intelecto.
Crer é crer. Dar crédito.
Edir Macedo crê no que diz. Seus fiéis também. O problema dele é ser claro. Ele é a favor do aborto e diz que é. Ele apóia o uso de camisinha, o controle da natalidade, o conforto, a riqueza material e espiritual. Ele é contra um monte de coisas também. Quem não é...
Os templos da Universal são requintados, confortáveis, suntuosos. O dinheiro dos fiéis é reinvestido em cadeiras macias, em piso nobre, em ar-condicionado, em pagamento de "salários". Algums padre trabalha de graça? Algum profissional quer trabalhar de graça?
Edir mostra que o que é bom, é bom, e deve ser para todos e não para poucos. Todavia não é parado que se conquista! Edir é movimento. É modelo.
Por fim, prefiro um Edir Macedo que conscientiza milhões de pessoas da "massa" (que deixam de ver TV apenas) para por a mão na massa e mudar de atitude. Ele prega que não se tenha filhos, pois o mundo já está lotado. Ele prega a adoção. Ele prega o não uso de drogas. Ele prega a união da família. Ele prega valores cristãos e capitalistas.
Ele é atual e prega para uma sociedade atual.
E, no final, como qualquer profissional, como qualquer terapeuta, ele ganha por isso. É injusto?
Por Solange Pereira Pinto
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A guerra da TV Globo Católica com a TV Record Evangélica está no começo. Talvez, a sociedade se equilibre mais.
Se a TV Record foi comprada com dinheiro "ilegal", a TV Globo também e outras tantas mídias, rádios, afiliadas bláblábla...
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4 comentários:
Faustão, Huck, Angélica, Sílvio Santos evangelizam... Sabe, gostei de seu texto. Parabéns!!!
Realmente amiga, temos vários evangelizadores de plantão, mas quem é preso é o Edir. obrigada pelo comentário e bjao! soll
Em meio à pequena grande tpm do mês, eu entro duas da manhã na internet com o pensamento: vou blogar. Estava moribunda, uma amiga ligou, saimos, e ela foi mesmo amiga. Entendi a mensagem do sábio guru, que em meio ao vazio que por vezes nos embrulha a alma, os amigos surgem para serem simplesmente amigos. Ligo a internet, o msn e a Solange não está. É, vou mesmo blogar, escrever da minha existência ausente da tpm gritante. Antes, uma passadinha no blog da Sol, claro, sempre tem novidades. Já tem tempo que eu me catequizei pelas letras dela. E hoje a coisa veio de xofre, já na primeira linha. Tema polêmico, o outro lado da moeda. E tem dias que eu fico pensando nessa homogeneidade de pensamentos pensados, cada um salvando o seu e ponto final. Minha briga com o cara pelo qual não me apaixonei é a mesma. Muito umbigo pra pouco homem. E ele só quer respirar, ver tevê aos domingos. Eu só quero inflamar, desconstruir o mundo e encontrar outro. Quero dinheiro também. Quero crer. E creio, na Sol. Há uma multidão dentro dela. Um ela que não é mono, que vê o outro lado da moeda, que pensa, que ri, que critica, faz arte, cria.
Bom, amiga, eu queria blogar lá no meu blog, vou deixar pra amanhã, hoje vou apenas degustar mais uma vez suas letras.
Beijão.
Ótima reportagem Comecei pesquisando no Googe uma resenha do livro O Bispo Não sabia do que se tratava, pois a única coisa que me tinham dito era que se tratava de um livro do qual não se tinha vontade de largar , antes de chegar ao final O que encontrei foi uma reportagem com uma análise tão boa que me levou a indicar o blog para outros lerem A começar pela escolha do nome Ideias & ideais Para quem desconhece a queda do acento da primeira, pode pensar que é a mesma palavra Coisas assim me surpreendem ,me empolgam e a empolgação é a arma para a mudança Parabéns !
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