30 novembro, 2007
Deixei de ser ONG agora sou multinacional
Por Solange Pereira Pinto
Como tenho multidões dentro de mim, resolvi mudar o contrato social. Fazia tempo que eu vinha funcionando como instituição sem fins-lucrativos. Voluntária aqui e ali. Soll©, revisa um texto aí? Soll©, já que você é tão criativa me ajuda a decorar meu quarto novo? Soll©, estou com uns problemas, pode me ajudar? Soll©, você é tão boa para escrever, faz um texto para eu colocar no meu site? Soll©, pinta minha mala? Soll©, pinta a parede da minha sala? Soll©, me ajuda na minha monografia? Soll©, me ensina fazer um blog? Soll©, ajeita umas fotos pra mim? Soll©, me ajuda a organizar uma festa? Soll©, pode fazer os enfeites da festa do meu filho? Soll©, bola ai uma alternativa para um guarda-roupa funcional? Soll©, dá uma olhadinha no meu contrato de locação? Soll©, quais são meus direitos do consumidor nesse caso x? Soll©, Soll©, Soll©, Soll©, Soll©, Soll©, Soll©, Soll©, Soll©, Soll©, Soll©, Soll©, Soll©, Soll©...
É isso! Cansei! Perdi as contas de quantas vezes “servi” ao próximo. Um favorzinho aqui. Uma ajudinha ali. Fui quebrando os galhos dos outros e acabei no buraco! É fácil pedir algo a quem é disponível, inteligente e criativo, não é? E, isso tem custo? E, isso tem preço?
Sim. Tem sim. O tempo que se gasta pensando. O tempo que se investe criando. O tempo que se consome executando. O tempo que se foi estudando. O tempo que se acabou ampliando o conhecimento. E, tals. Quanto se gastou em livros? Quanto se gastou em conversas? Quanto se gastou em curiosidades? Quanto se gastou em museus? Quanto se gastou em pesquisas na internet? Quanto se gastou em anos ininterruptos de estudos? O tempo... Quanto... Só eu sei.
De verdade nunca me incomodei em ajudar uns e outros naquilo que sei fazer. Muito menos fiz o que fiz pensando em lucros financeiros. Ocorre que, hoje, do que me vale “tudo isso” se estou numa pindaíba total? Aqueles que se beneficiaram (por se julgarem pouco criativos, ou pouco habilidosos, ou desconhecedores de xy) como estão?
Conheço um monte de gente “linear” (e por isso mesmo) com contracheque garantido no final do mês. Porém precisam de uma “ajudinha criativa” vez por outra.
Ah, no Brasil artista é desvalorizado! Ah, viver de arte não dá! Ah,... É mesmo! Precisamos acabar com essa idéia de que arte, criatividade, soluções, textos, letra bonita, desenho bem-feito, tapete interessante, são “coisas menores”, ou de menor valor.
Valorizar um artista, valorizar um jovem talentoso, valorizar uma idéia, valorizar uma cortina exótica, valorizar um texto bem-escrito é PAGAR por isso. Certos “favores” prestados não deveriam ser favores, mas serviços. Principalmente, se quem os presta vive daquilo, por aquilo e para aquilo, embora não cobre por isso.
A partir de hoje deixo de ser ONG e passo a ser uma multinacional lucrativa e em expansão. Cada serviço prestado tem seu preço, seu custo, seu valor. A contribuição que darei à sociedade é essa: mudar a mentalidade quanto aos seres criativos. Eles merecem recompensas financeiras e as terão. E, você, não ouse pedir uma logomarca grátis, para o seu novo negócio, àquele sobrinho craque no computador. Mesmo que ele não cobre, pague por isso. Assim, faremos um mundo melhor, mais justo, mais criativo e honesto. Afinal, quem trabalha de graça acaba fodido e ainda é chamado de coitado!
p.s. Esta não é uma obra de ficção, portanto qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.
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4 comentários:
quando você abrir seu capital para entrar na bolsa de valores, eu compro seu ipo. Enquanto isso nao vinga, vou abrir empresa concorrente, se importa? A concorrencia sempre é boa pros negocios... é aquele pingo no i, o algo a mais... daí, no futuro, já consolidadas, faremos parcerias e dominaremos o mercado, comprando os menores. Lucro sobre lucro. total.
uma holding planetária! hahaha bjs
Sentados à beira do rio, dois pescadores seguram suas varas à espera de um peixe.
De repente, gritos de crianças trincam o silêncio. Os dois se assustam. Olham para a frente, olham para trás. Mas nada enxergam. Os berros continuam fortes e vêm de onde eles menos esperam. A correnteza trazia duas crianças pedindo socorro.
Os pescadores pulam na água, mas mal conseguem salvá-las com muito esforço, eles então ouvem mais berros e notam mais quatro crianças debatendo-se na água.
Desta vez, apenas duas são resgatadas. Aturdidos, os dois ouvem uma gritaria ainda maior. Dessa vez, oito crianças estão vindo correnteza abaixo.
Um dos pescadores vira as costas ao rio e começa a ir embora. O amigo exclama:
- Você está louco, não vai me ajudar?
Sem deter o passo, ele responde:
- Faça o que puder. Eu vou tentar descobrir quem está jogando as crianças no rio.
(Roger - SC)
Oi Sol, sou a prima da Fernanda, ela me recomendou a leitura deste texto seu. Muito boa a sacada! Ser boazinha não compensa nem prá gente nem pro outro. Mas minha contribuição pros seres não lineares é que esquecendo da linearidade da vida não sabem qual é seu devido valor pois até ONG recebe financiamentos ;-)
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