11 agosto, 2007

Existe faculdade séria

Gente, realmente, parece que existe ensino superior levado a sério! Veja o programa de Jornalismo da Facamp! e leia a matéria sobre o método lá aplicado... vale a pena!




Pedagogia do rigor



Com aulas em período integral, avaliações dissertativas e intolerância à cola, a Faculdade criada há sete anos alcança nota máxima em três cursos no Enade

por Carolina Cassiano



Criada há sete anos por três dos professores que fundaram a Unicamp - Liana Aureliano, João Manuel Cardoso de Mello e Luiz Gonzaga Belluzzo -, a Faculdade de Campinas (Facamp) tem um projeto muito peculiar. Dona de três dos oito cursos paulistas avaliados com duplo 5, a Facamp, vizinha da Unicamp, chama a atenção pelo rigor com que trata os estudos.




São apenas oito cursos, todos eles em período integral, das 8h às 17h. O projeto pedagógico prevê que a formação dos estudantes contenha diversas disciplinas de humanidades e exatas, ao longo de vários semestres. Não se trata de um ano com disciplinas básicas de conhecimentos gerais. São três ou até os quatro anos de curso de aprofundamento em áreas como Sociologia, Finanças, Filosofia, História Geral e do Brasil, Economia, Informática, entre outras.


Português e Inglês são tratadas de forma especial: ambas são ministradas por, no mínimo, três anos. Jornalismo tem quatro anos de língua portuguesa, fora as aulas de redação. Inglês é organizada em seis estágios (do básico ao avançado). O aluno entra no estágio mais adequado a seu conhecimento pregresso e atingir o sexto estágio é meta obrigatória para todos os alunos. Há ainda outras seis etapas opcionais de inglês, de nível avançado, com vistas a alcançar a proficiência plena.


Toda disciplina deve ter três avaliações individuais dissertativas, a cada semestre. A média para passar de semestre é sete. Em sete anos, já se somam 27 casos de expulsão da faculdade, quase todas elas por cola. "Cola aqui é falta grave", explica Liana Aureliano.


O vestibular é todo dissertativo e anual - embora o curso seja semestral. Atualmente, a escola tem 2.060 alunos, que se espalham pelo campus de 70 mil metros quadrados, cheio de verde, com ares de uma pequena cidade universitária. "Não aceitamos ultrapassar os 3.400 alunos nem criar novos cursos. Recebemos três propostas de franquias e não aceitaremos nunca", diz Liana. Este ano, o vestibular teve 1.751 candidatos concorrendo às 800 vagas, mas só foram preenchidas 620 vagas, para manter o nível desejado.


A cada fim de semestre, os alunos que estiverem entre os 10% com piores resultados são chamados para conversar. Boa parte deles é encaminhada para um dos três sistemas de monitoria: com o professor da matéria, que fica até duas horas por dia à disposição dos alunos depois da aula; com algum dos monitores, ex-alunos da Facamp e hoje mestrandos da Unicamp contratados para isso pela Facamp; ou um colega de classe do aluno que está com dificuldade.


Estudante do quinto semestre de administração, Bruna Gabriel Lourenço estava com dificuldades nas disciplinas de exatas. "Sempre me esforcei bastante, mas tinha dificuldade porque ficava presa aos detalhes e não via nada de forma sistemática", diz. Bruna procurou pela diretora Liana para pedir ajuda. "Não pedi ajuda antes por orgulho. Mas cheguei à conclusão de que, se não pedisse, não ia conseguir terminar o curso", lembra. Há um ano, começou a ser orientada, individualmente, por um ex-aluno, hoje mestrando da Unicamp, três vezes por semana, por algumas horas seguidas. "Hoje consigo me organizar melhor e sei que vou conseguir chegar bem ao fim do curso", conta.


Em todos os cursos, o estágio só é permitido no último ano. Para colocar a mão na massa, os alunos são estimulados dentro das disciplinas. Em administração, no sexto semestre, os alunos têm uma disciplina chamada Tópicos Avançados de Administração, que pede que os alunos comandem um processo de consultoria para uma empresa real.



Os alunos visitam uma empresa, levantam problemas, sugerem melhorias. A disciplina amarra os saberes de todas as matérias ministradas para executar o projeto, que é apresentado para uma banca examinadora. "Não raro empresários vêm assistir à análise da consultoria", diz Nivaldo Pilão, coordenador do curso de administração da Facamp. Esse tipo de proposta segue também pelo sétimo e oitavo semestres, nos quais os alunos devem criar um plano de negócios e fazer uma feira com os empreendimentos desenvolvidos.



No Enade, o trabalho apresentou resultados. Ao passo que os ingressantes obtiveram nota 40.3, os concluintes de administração da Facamp alcançaram a nota 56.1 e índice IDD 2.406. "Formamos um multiespecialista e não um generalista, porque fazemos que estude muito mais sobre todas as disciplinas relevantes para a formação dele", analisa Pilão. O coordenador diz que o estofo teórico e cultural denso é a base que ajuda a garantir espaço no mercado ao administrador. "Não há reserva de mercado para administrador. A reserva de mercado para ele é a competência e não o diploma", diz.



A instituição não cobra para o aluno cursar uma DP, o que deixa os professores confortáveis para reprovar o aluno tantas vezes quantas forem necessárias. "Deixamos 60% da turma de exame em economia e a reprovação chegou a 30%. Se reprovarmos todos os alunos, montaremos outra turma, sem problemas", diz Pilão. "O modelo da escola é de quem está disposto a estudar. Se não estiver disposto, perguntamos para os pais se não querem procurar outra escola", acrescenta Pilão.



O rigor continua no caso dos cursos de jornalismo e propaganda, também avaliados com nota máxima no Enade. "A disciplina aqui é igual à de colégio, mas é bom porque a necessidade faz você aprender a se auto-regular, a ser bem rigoroso consigo", diz André Monteiro, aluno do quinto semestre de jornalismo multimídia. Na classe de André, estudam apenas 14 alunos. "Isso acaba ajudando muito, porque é quase uma aula particular", diz. "O que mais dá qualidade para o curso é o fato de ser em período integral e ainda ter matérias optativas para complementar o currículo", opina Paulo Vaz, colega de classe de André.


Carlos Drummond, coordenador do curso de jornalismo da Facamp (chamado de jornalismo multimídia), diz que a peculiaridade mais marcante do curso é a importância que se dá à formação humanística. "Esta é a base do perfil de jornalista que queremos formar: alguém a serviço do interesse público e com conteúdo de alto nível", diz. Drummond diz que o próximo desafio é aumentar a autonomia intelectual do aluno. "Vamos desenvolver um projeto com esse objetivo nos próximos seis meses", conta.



Esse cuidado com o aluno é o que levaria a resultados expressivos no Enade. Tanto em jornalismo como em propaganda, a Facamp atingiu o índice IDD de 2.844, considerado bem alto. A formação geral dos futuros jornalistas atingiu nota 67.5, e dos publicitários 61.3. No conteú­do específico, a nota subiu de 38.8 dos ingressantes para 55.5 dos concluintes, no caso dos jornalistas; e de 37.5 para 53.0, entre os publicitários.



Apesar de serem muito cobrados, os alunos recebem apoio constantemente. "Aqui jornal-laboratório só vai para a gráfica quando está bom. O aluno refaz a reportagem quantas vezes for necessário", diz o coordenador.



O curso de propaganda e marketing era, em 2003, um curso de publicidade e propaganda. O foco mudou nos últimos anos e virou propaganda e marketing. "Detectamos a necessidade de uma carga maior de marketing, para que o profissional esteja apto a atuar em agências e nos departamentos de marketing", diz Helder de Melo Moraes, coordenador do curso da Facamp.



Uma das particularidades é a carga pesada de psicologia do consumidor, economia do consumo e sociologia do consumo, que recebem os estudantes. "O aluno aqui entende de grupos de convívio. Porque não se pode estabelecer comunicação com o público sem conhecê-lo bem", diz o coordenador. Segundo o professor, a faculdade leva o aluno a ser um bom estrategista e a se desvestir de preconceitos. "Ensinamos que todo público tem anseios iguais, só o poder aquisitivo é diferente", explica.



Já no final do segundo ano de curso, os alunos apresentam para uma banca uma proposta de uma campanha, com todos os passos reais. O trabalho é desenvolvido no Núcleo Prático, uma cadeira que agrega os saberes de criação, planejamento, mídia, fotografia, marketing e computação gráfica. "Os trabalhos e as avaliações aqui exigem que a gente relacione uma matéria com a outra, como sociologia e planejamento, por exemplo. Isso mudou meu jeito de estudar, porque passei a ver tudo como um conjunto e a interligar tudo", diz Lucas Aguiar, estudante do quinto semestre de propaganda e marketing. "Na escola eu não estudava nada, eu deduzia um pouco e estudava o que precisava mesmo. Aqui tenho de estudar e me sinto bem preparado", diz Thiago Amaral, colega de Lucas.



Lucas e Thiago participam da agência de propaganda da Facamp, que trabalha voluntariamente para entidades assistenciais. Lucas é autor de uma campanha vencedora do Concurso da Câmara Americana de Comércio (Amcham), cujo tema era a apresentação de produtos brasileiros fora no país. Intitulada "Brazil com Z: muito mais do que sementes", a campanha mostrava sementes de árvores nativas brasileiras formando a imagem de uma sandália brasileira de sucesso internacional.



Atualmente o curso se divide a partir do terceiro ano, quando os alunos escolhem focar o curso em propaganda (com disciplinas como direção de arte e redação) ou em marketing (mais administração e finanças). Para próximas turmas, a idéia é antecipar essa escolha para o segundo ano.



Fonte: Revista Ensino Superior

Um comentário:

Fernanda disse...

Amiga, eu sabia que você iria se apaixonar!!! Beijinhos!!!