26 abril, 2009

Aborto, corpo, poder e saúde pública

por Solange Pereira Pinto

Desde o movimento feminista, o papel da mulher (e do homem) tem se reconfigurado. Por estarmos na era tecnológica e de ampla comunicação e mídias, isso se faz – aparentemente – com maior rapidez. A nova visão de mundo e as necessidades das mulheres derrubaram mitos e tem erguido diversas formas de relacionamento com o outro e com a sociedade, de tal forma que novos comportamentos e posturas podem sim influenciar aspectos da saúde pública.

O aborto, por exemplo, tem se mostrado um tema relevante para a saúde da mulher, uma vez que aquelas que decidem se submeter a essa intervenção não possuem o respaldo técnico da medicina, exceto os poucos casos previstos em lei. Mulheres sem condições financeiras e mais vulneráveis acabam por colocar a própria vida em risco ao tentarem abortar. Ainda que em nosso país o aborto seja proibido, tal fator não impede às mulheres que de fato se vejam em certas situações – limite ou não (por elas julgadas assim) – tentem recorrer a essa prática.

“Abortar” não pode mais ser tratado como um assunto apartado do contexto cultural, plural, social e globalizado em que a humanidade vive neste século XXI. Os tempos mudaram e têm mudado ainda mais. Hoje, o domínio que a mulher pretende dar ao seu corpo é muito maior do que em tempos atrás. Hoje, de modo geral, a mulher não aceita mais que seu corpo pertença ao domínio de outrem, seja esse outro a Igreja, o marido, o pai, o Estado, a Lei. Ou, ainda, ao masculino e suas formas de representação. A mulher quer dispor do seu corpo como pertencente ao seu domínio próprio (autonomia) e integrado ao seu sujeito – ser mulher, com seus valores e subjetividades. Aliadas a elas estão a camisinha feminina, a pílula do dia seguinte, o DIU, a pílula anticoncepcional. E o aborto...

O problema torna-se ainda mais grave, pois, como analisam os pesquisadores, o abortamento inseguro cria um ambiente ameaçador, de violência psicológica e de culpabilidade que leva muitas mulheres a apresentarem sintomas de depressão, ansiedade, insônia e arrependimento da escolha realizada. “O problema da gravidez não desejada deve ser enfrentado a partir de políticas públicas que reconheçam os direitos humanos reprodutivos das mulheres, que incluam os homens nessas políticas e criem nos municípios brasileiros com ações de saúde a cultura de ações de educação sexual e de atenção à anticoncepção”.

Por outro lado, interessante é notar que, contemporaneamente, podemos fazer uma série de mutilações corporais (tatuagens, piercings, silicones, próteses penianas, redução de estômago, retirada de sisos, retirada de amídalas, doação de rins, plásticas estéticas de todo tipo de órgão, amputações, depilações, escarificação e até implante de orelha no braço como vi recentemente e outras formas de bodymodification). Isso significa que a cultura do corpo tem tomado outras dimensões em nossa época. E a mulher está integrada a esse fluxo.

Segundo Domingues , o corpo “é produto e produtor do meio, nele estão inscritas as marcas bio-histórico-culturais de cada sociedade. É preciso compreender que o corpo tem uma história, é dotado de linguagem, por isso, fala e exprime seus anseios de forma bastante significativa”.

Isso pode sem dúvida gerar tensões e discussões sobre ética médica, humana, estética etc. Mas como o aborto e o papel da mulher entram nesta polêmica?

A sociedade, também, tem mudado seu conceito de reprodução biológica e social. O modelo familiar – mulher, marido, filhos – toma novas formas a partir das uniões homossexuais, das construções familiares híbridas com filhos de vários casamentos, famílias só de mulheres com avós participantes. Ou seja, a própria definição de família mudou.

Nesse sentido, a mulher vem procurando outras formas de reprodução e planejamento familiar em razão das novas tecnologias e nova visão de mundo, numa “pós-modernidade líquida, uma realidade ambígua, multiforme”, como definiu o sociólogo polonês Zygmunt Bauman e por que não dizer “descartável”.

De um lado, os métodos de reprodução assistida, inseminação artificial, proveta, barriga de aluguel, banco de esperma estão disponíveis (em maior ou menor grau) para aquelas mulheres que usam de todos os meios para atingir seu fim: engravidar.

De outro lado, resta a clandestinidade das agulhas de tricô e ingestão desmedida de Citotec. Algumas mulheres vêem a gestação como uma “invasão” de seu corpo. Outras que engravidaram “inconscientemente” quando estavam drogadas, alcoolizadas. Ou aquelas que já têm tantos filhos e sem planejamento familiar não querem mais uma gestação. São muitas as questões e conflitos que pairam nas cabeças das mulheres que optam por vários meios perigosos para se atingir um único fim: abortar.

O filósofo francês Jean-François Lyotard considerou a pós-modernidade como um tempo em que a ciência não pode ser considerada como a fonte da verdade. Se assim estamos, não há mais que se falar em condutas únicas. Por isso, o importante papel da bioética para colocar em discussão a ética da vida e as conseqüências de certas posturas para a humanidade. Discutir o que é vida, onde ela começa e quando ela termina são pautas da agenda atual.

Para tantos questionamentos, surgem infinitas teorias. “As técnicas desempenham importante papel na constituição e manutenção da sociedade do controle. Os instrumentais refinados de comunicação e informação, resultantes da terceira revolução tecnológica, enraizam-se nas subjetividades, produzem novos desejos e sensações – o pós-humano. Sobre essa base, emerge uma nova tecnologia do poder, o biopoder”, analisa Braga e Vlach

A mulher ter “direito ao aborto” é a meu ver um assunto não somente relacionado ao conceito de vida ou não do embrião/feto, mas do domínio do corpo da mulher por ela mesma. É também uma questão de poder. Há por trás do aborto muito mais subjetividades do que simplesmente “eliminar uma gravidez”.

Na sua origem, o poder biotécnico disciplinador identificado por Foucault como a forma caracteristicamente moderna do poder estava baseada em duas formas principais: “a anátomo-política do corpo humano, centrada no corpo como máquina útil e dócil, que pode ser adestrada, ampliada em suas aptidões e ‘extorquida em suas forças’ e a biopolítica das populações, centrada no ‘corpo-espécie regulável’ do ponto de vista da natalidade, mortalidade, nível de saúde e duração da vida” (Foucault, 1990, p.131).

Por fim, longe de esgotar a discussão, engravidar e abortar são questões de saúde pública que tem a mulher como protagonista e passam pela noção de poder sobre o corpo feminino.

História

No início da era cristã, advogado era alguém que falava no lugar de outra pessoa.

Hoje que nome se dá a quem fala pelo outro?

25 abril, 2009

Enfim, as pazes com a cama

Medicina & Bem-estar

Especialistas indicam uma nova receita para o tratamento da insônia, problema que atinge 20 milhões de pessoas no Brasil

por Greice Rodrigues e Mônica Tarantino

O funcionário público Rogério Gomes passou mais da metade dos seus 37 anos com muita dificuldade para dormir. Ele até contou as noites em que ficou boa parte do tempo em claro: cerca de três mil. Ele assistia à televisão, ficava no computador, comia, andava pela casa ou rolava na cama à espera do sono. No ano passado, Gomes foi ao Instituto do Sono, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na capital paulista.

Era mais uma tentativa de tentar resolver o problema. Lá, a primeira lição que aprendeu foi identificar a causa da insônia. Nas consultas seguintes, descobriu que o que fazia à noite só servia para mantê-lo mais desperto. Até o banho que tomava na hora de ir para a cama. "Não tinha consciência de que isso tudo interferia no problema", conta. "Fiz um processo de reeducação e treinamento para abolir os hábitos prejudiciais." Hoje, ele dorme até seis horas por noite. Finalmente fez as pazes com a cama.

O segredo que ajudou Gomes a recuperar o sono foi a terapia cognitivo-comportamental (TCC), um recurso usado pela Psicologia para auxiliar os indivíduos a mudar sua maneira de se relacionar com situações indesejadas. Seu objetivo é ajudar a pessoa a identificar o que a está levando a viver determinada circunstância e auxiliá-la a alterar esses gatilhos.

No caso da insônia - mal que atinge cerca de 20 milhões de brasileiros -, o que se quer é que o indivíduo entenda a relação estabelecida com o sono, descubra o que está fazendo de errado e corrija esse caminho. A terapia faz isso a partir do trabalho sobre dois pilares: a percepção que se tem do problema, ou seja, em nível cognitivo, e as atitudes relacionadas ao que se pretende transformar - em termos de comportamento. Daí o nome de cognitivo-comportamental.

Há três meses, a TCC, como a terapia é chamada pelos especialistas, passou a ser indicada como primeira opção de tratamento para a insônia, antes mesmo dos remédios. A mudança na receita foi designada pelo novo Consenso Brasileiro de Insônia, concluído no final do ano passado pela Associação Brasileira do Sono. "Hoje o tratamento é muito baseado em medicamentos", explica o neurologista Luciano Ribeiro Pinto, do Laboratório de Fisiobiologia do Instituto do Sono e presidente da entidade. "Queremos mudar a conduta do médico e o comportamento do paciente", esclarece. A nova diretriz será publicada em revistas médicas brasileiras até o final do semestre.

O modelo segue a abordagem já usada nos Estados Unidos e na Europa. Nesses locais, a TCC tem se mostrado um recurso imprescindível. Aqui no Brasil, os primeiros resultados obtidos no Instituto do Sono são animadores. "Até 80% dos pacientes que fizeram a terapia deixaram de tomar remédios", afirma a terapeuta Maria Christina Ribeiro, especialista em distúrbios do sono e pesquisadora do instituto.

A mudança no jeito de tratar a insônia se deve à constatação de que o distúrbio tem suas raízes mais em questões psicológicas e comportamentais do que em disfunções orgânicas. Segundo os especialistas, os pacientes não têm esse entendimento e manifestam a tendência de enxergar a dificuldade para dormir como um problema isolado. Não percebem que, na maioria das vezes, ela é só um sintoma cujas causas podem ser complicações financeiras, crises familiares ou profissionais, por exemplo. "Com a TCC, ensinamos o indivíduo a dissociar os problemas", explica Maria Christina. "Ele desvia o foco da insônia e passa a administrar as duas coisas separadamente: o problema e o sono."

É preciso identificar as atitudes que impedem o adormecer ou nos levam a acordar de madrugada

À primeira vista, para quem está à procura do alívio do sono, pode ser desanimador pensar que terá de encarar um tratamento psicológico para resolver um problema que compromete tanto a vida - uma noite maldormida deixa qualquer um nervoso e desconcentrado. Uma pílula não resolveria o problema - pelo menos esse - mais rápido? Sim, mas cobrando um alto preço por isso. Segundo o neurologista Nonato Rodrigues, da Universidade de Brasília, quase a totalidade das drogas contra a insônia causa dependência a curto prazo. "Além disso, provocam prejuízos à memória e à atenção", afirma Rodrigues.

A TCC não é uma daquelas terapias sem fim, sem foco, sem resultados relativamente rápidos. O tratamento consiste geralmente em seis sessões - uma por semana. Na primeira, o paciente passa por uma avaliação para identificação, pelo especialista, das causas comportamentais ou psicológicas do problema. Depois, recebe informações sobre o sono e a insônia. Nesse momento, ele próprio começa a identificar a origem de sua dificuldade para dormir. A partir dessa etapa, é convidado a escrever um diário sobre o seu sono, relacionando os hábitos associados à hora de dormir.

Esse registro ajuda a detectar mitos e conceitos errados sobre o sono. Um dos mais comuns é esperar por ele na cama, mesmo quando ele não vem. Por meio de técnicas específicas, os terapeutas corrigem essas concepções, no plano mental, e orientam para a tomada de atitudes práticas, no plano do comportamento. Em relação a ficar rolando na cama, por exemplo, fazem uma comparação com o ato de comer. "Ninguém fica na mesa esperando a fome chegar", exemplifica Maria Christina. "Portanto, o melhor é ir para a cama quando tiver sono." Outro equívoco é realizar uma atividade, como meditação ou tomar um banho morno, e esperar que ela vá fazê-lo dormir melhor.

Tomar um banho morno antes de dormir esperando que isso ajude pode trazer ansiedade e piorar a situação

Os estudos mostraram que quando o paciente tem essa expectativa naturalmente fica ansioso para vê-la realizada. O problema é que ansiedade não combina com bom sono e o que se tem é o contrário do esperado. Outra técnica usada na TCC é a chamada intenção paradoxal: as pessoas são orientadas a fazer força para não dormir. O resultado é que a maioria pega no sono.

Para aumentar o acesso à terapia, foi criada uma versão para a internet. Em geral, o atendimento começa com um cadastramento. A condição básica é ter acesso diário ao computador, e-mail e telefone celular. No Japão, por exemplo, a maioria dos participantes dos testes que avaliam a ferramenta preferiu participar do programa usando celulares. Depois de ganhar uma senha, o interessado em se tratar online responde a perguntas sobre os hábitos de sono (a que horas vai para a cama, quantas horas dorme, se acorda durante a noite) e estilo de vida (se fuma, se faz exercícios).

Horário para adolescentes

O sono dos adolescentes tem sido alvo de estudo. É conhecida a dificuldade que eles têm para dormir cedo e pular da cama nas primeiras horas da manhã. Geralmente, dormem tarde e acordam lá pelo meio da manhã. Quando são obrigados a ir para a escola cedo, é um drama. Muitos não acompanham as aulas, de tanto sono.

Ainda não se sabe exatamente o que ocorre nessa fase da vida que leva a essa mudança. Há alguns indicativos. O primeiro seria a ocorrência de um atraso no ritmo do relógio biológico, causado pelas mudanças hormonais típicas da idade. Sabe-se que a melatonina, o hormônio que induz ao sono, começa a ser produzida um pouco mais tarde do que nos adultos. Isso atrasa o início do adormecimento e posterga o despertar.


Existe também um forte componente comportamental. Eles estão habituados a assistir à tevê até mais tarde, ficam noite adentro no computador. Retardam o sono porque demoram a ir para a cama e também porque ficam mais estimulados mentalmente.

A queda no rendimento escolar derivada das poucas horas de sono começou a preocupar pais e professores e está promovendo mudanças no horário escolar. "A solução mais sensata é atrasar os horários de atividades pela manhã", afirma Luiz Menna-Barreto, da Universidade de São Paulo (USP).

Em São Paulo, a Escola de Aplicação da USP e a Escola Estadual Francisco Brasiliense Fusco fizeram alterações. "Os adolescentes que estudavam de manhã passavam boa parte das aulas com sono. Os menores que estudavam à tarde dormiam na classe", conta Rosângela Moura, diretora da escola pública. Os horários foram invertidos. As faltas caíram e as notas melhoraram. Há iniciativas individuais também. Caio Dini, 14 anos, do Colégio Albert Sabin (SP), trocou de horário para render na escola. "Ele sentia sono pela manhã. Depois que foi transferido, virou outro aluno", diz Deise Dini, mãe do estudante.

Além disso, ele precisa dar informações diárias sobre seu estado de humor e sua disposição. A partir daí, o programa informa o beabá da insônia, como os fatores de risco, para só então introduzir as sugestões de mudanças no cotidiano. Pioneiro na investigação do potencial da internet contra o transtorno, o americano Lee Ritterband, da Universidade da Virgínia, acredita que essa é a melhor forma de reduzir o impacto mundial das noites em claro. "Vimos que esse tipo de intervenção pode melhorar o sono, o estado de humor e as funções cognitivas, como concentração e aprendizagem, prejudicadas pelo pouco sono", afirma o médico, baseado em uma pesquisa recente financiada pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos.

Além da TCC, outra novidade tem empolgado os especialistas: o treinamento com imagens mentais, que associa técnicas de respiração e relaxamento com a visualização. O objetivo é levar o paciente a relaxar antes de dormir e criar imagens mentais para eliminar o fator estressante que pode estar por trás da briga contra o sono. Por exemplo, se é um cachorro que late sem parar, pode-se imaginar que o animal está num barco que vai levá-lo para muito longe. Se o que incomoda é o ranger da porta, pode-se colocar o barulho em uma caixinha e jogá-la no lixo. "O insone é uma pessoa que rumina preocupação e ansiedade.

Sem perceber, alguns também selecionam e monitoram estímulos que atrapalham o sono. É necessário trocar essas atitudes mentais por outras mais tranquilas", explica a bióloga Yara Molen, de São Paulo. Ela estuda o desempenho do método desde 2006, como tema de uma pesquisa de doutorado conduzida na Unifesp.

Até agora, 80 pessoas foram submetidas ao processo. Os resultados são bons. "A maioria aumentou seu tempo de sono entre 38 minutos a uma hora e meia", conta Yara. "Outros mudaram a percepção que tinham da qualidade do próprio sono." O engenheiro de sistemas Giovanni Celestre, 48 anos, por exemplo, submeteu-se a dez sessões para colocar abaixo as barreiras que interrompiam o seu sono e o faziam trabalhar mais para compensar a falta de concentração. "Minha insônia deixou de ser crônica e eu sei que se uma noite for ruim, na outra vou dormir bem", afirma.

A recomendação é que os remédios apresentem baixo risco de dependência e que sejam tirados aos poucos

A ascensão das duas modalidades de tratamento é o sinal evidente de que o moderno controle da insônia baseia-se principalmente em opções mais delicadas. Meditação e acupuntura, por exemplo, encontram-se entre elas. "Elas atuam na redução da ansiedade e no controle do stress, dois fatores que levam ao problema", afirma o médico e acupunturista Hong Jin Pai, do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC-SP).

Porém, há situações na quais só as terapias não farmacológicas não bastam. "Não é raro a insônia estar associada a alterações e transtornos mentais, como a depressão", diz o neurologista Flávio Aloe, coordenador do Centro Interdepartamental de Estudos do Sono do HC-SP. Nestes casos, o remédio ainda é indispensável. Contudo, a necessidade de usar medicamentos é algo que nem todos aceitam de imediato.

A massagista e ex-publicitária Regina Chagas Paganoni, 42 anos, por exemplo, ficou surpresa ao saber que estava entrando em depressão porque não dormia bem havia pelo menos dez anos e teria de tomar antidepressivo. "Demorei a me acostumar com a ideia", lembra. Medicada, voltou a dormir e hoje trabalha com disposição.

Segundo o novo modelo de tratamento em vigor agora no Brasil, nos casos nos quais há real necessidade de remédio, o ideal é escolher entre as versões mais modernas de algumas medicações - elas apresentam menos risco de dependência. Algumas, entretanto, ainda não estão disponíveis no País. Depois, a recomendação é que o medicamento seja retirado aos poucos, com o apoio de terapias como a TCC. É nesta fase que se encontra a cabeleireira Fernanda Aparecida dos Santos, 27 anos, de São Paulo. Ela chegou a tomar três remédios por dia, e, ainda assim, não dormia. Hoje, quase um ano depois de ter começado a terapia, não usa mais medicamentos fortes e consegue, finalmente, fechar os olhos e se entregar ao sono. "A noite agora não me assusta mais", diz.

24 abril, 2009

Guias e receitas



Inovar para degustar é a meta dos apaixonados por gastronomia.





Para quem curte a arte do paladar tem um blog que dá dicas exóticas sensacionais: Gastronomix!





Confira também o guia Brasília de restaurantes e saia da mesmice caíndo de boca nas nuvens...





Dadinhos de coalho com abacaxi /Rodrigo Caetano

23 abril, 2009

o Eu na vitrine

19/4/2009

Facebook, MySpace, Orkut e Twitter.
''Só é o que se vê''.
Entrevista especial com Paula Sibilia


Redes sociais como Facebook, Twitter e MySpace são, na opinião da professora do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Paula Sibilia, “compatíveis com as habilidades que o mundo contemporâneo solicita de todos nós com crescente insistência”. Segundo ela, essas ferramentas servem para dois propósitos fundamentais. “Em primeiro lugar, elas ajudam a construir o próprio ‘eu’, ou seja, servem para que cada usuário se auto-construa na visibilidade das telas. Além disso, são instrumentos úteis para que cada um possa se relacionar com os outros, usando os mesmos recursos audiovisuais e interativos”, explica.

Em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, Paula Sibilia reflete sobre as mudanças de comportamento da sociedade contemporânea e afirma que “mudaram as premissas a partir das quais edificamos o eu”. Na atual sociedade do espetáculo, continua, “se quisermos ‘ser alguém’, temos que exibir permanentemente aquilo que supostamente somos”. E dispara: “Esses são os valores que têm se desenvolvido intensamente nos últimos tempos, uma época na qual, por diversos motivos, se enfraqueceram as nossas crenças em tudo aquilo que não se vê, em tudo aquilo que permanece oculto.”

Paula Sibilia é graduada em Ciências da Comunicação, pela Universidade de Buenos Aires (UBA), mestre na mesma área, pela Universidade Federal Fluminense (UFF), e doutora em Saúde Coletiva, pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente, é professora no Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Entre suas obras, citamos O homem pós-orgânico: corpo, subjetividade e tecnologias digitais (Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002) e O show do eu (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008). Em 2008, ela participou do Simpósio Internacional Uma sociedade pós-humana? possibilidades e limites das nanotecnologias, realizado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O que redes sociais como Facebook, Orkut, Twitter e Myspace revelam sobre a sociedade contemporânea?

Paula Sibilia - Estas novas ferramentas, que apareceram nos últimos anos e de repente se tornaram tão populares, servem para dois propósitos fundamentais. Em primeiro lugar, elas ajudam a construir o próprio “eu”, ou seja, servem para que cada usuário se autoconstrua na visibilidade das telas. Além disso, são instrumentos úteis para que cada um possa se relacionar com os outros, usando os mesmos recursos audiovisuais e interativos.

Por isso, tanto as redes sociais como Orkut, Facebook, Twitter ou MySpace como os blogs, fotologs, YouTube e outros canais desse tipo que hoje proliferam na internet são perfeitamente compatíveis com as habilidades que o mundo contemporâneo solicita de todos nós com crescente insistência. E uma dessas capacidades que tanto se estimula que desenvolvamos é, precisamente, a de “espetacularizar” a nossa personalidade. O que significa isso? Tornarmos-nos visíveis, fazer do próprio “eu” um show.

Este fenômeno responde a uma série de transformações que têm ocorrido nas últimas décadas, que envolvem um conjunto extremamente complexo de fatores econômicos, políticos e socioculturais, e que converteram o mundo em um cenário onde todos devemos nos mostrar. Se quisermos “ser alguém”, precisamos exibir permanentemente aquilo que supostamente somos. Nos últimos anos, portanto, têm cristalizado uma série de transformações profundas nas crenças e valores em que nossos modos de vida se baseiam, e a “espetacularização do eu” faz parte dessa trama.

IHU On-Line – Que novos modelos de relações se configuram através das redes sociais? A senhora acredita que as relações ganham um novo sentido?

Paula Sibilia - Uma das manifestações dessa mutação que tem ocorrido na sociedade contemporânea é a derrubada das fronteiras que costumavam separar o âmbito privado e o espaço público, e que constituíam um ingrediente fundamental do modo de vida moderno. Então, junto com essas mudanças que se consumaram nos últimos anos, também se reconfigurou a maneira com que nos construímos como sujeitos.

Mudaram as premissas a partir das quais edificamos o eu, e isso aconteceu porque também se transformaram as nossas ambições e os nossos horizontes. Portanto, não se modificaram apenas as formas de nos relacionarmos conosco, com o próprio “eu”, mas também as relações com os outros. E ferramentas como o Facebook ou o Orkut caíram como luvas nesse novo universo: são extremamente úteis para consumar essas novas metas.

Porque na atual “sociedade do espetáculo” só é o que se vê. Portanto, se algo (ou alguém) não se expõe nas telas globais, se não está à vista de todos — sob os flashes dos paparazzis ou, pelo menos, sob a lente de uma modesta webcam caseira —, então nada garante que realmente exista. Esses são os valores que têm se desenvolvido intensamente nos últimos tempos, uma época na qual, por diversos motivos, se enfraqueceram as nossas crenças em tudo aquilo que não se vê, em tudo aquilo que permanece oculto. “A beleza interior” seria um exemplo. Enquanto isso, de forma paralela e complementar, exacerbaram-se as nossas crenças no valor das imagens, na importância da visibilidade e da celebridade como fins em si mesmos, como metas auto-justificáveis, às quais supõe-se que todos deveríamos aspirar.

IHU On-Line – A partir dessas redes sociais, como a senhora descreve o nosso atual modelo de vida?

Paula Sibilia - Há uma necessidade de se mostrar constantemente, que se exacerba por toda parte, embora não tenhamos nada muito importante para mostrar ou para dizer. Os canais interativos da Web 2.0 permitem fazer isso a vontade, facilmente e com baixos custos, de um modo ainda mais eficaz do que os meios de comunicação tradicionais. Porque essas novas ferramentas “democratizam” o acesso à fama e a visibilidade.

Mas o Orkut e o Facebook não surgiram do nada. Ao contrário, as redes sociais apareceram num terreno que já estava muito bem sedimentado para que essas práticas pudessem florescer. Nos últimos anos, temos aprendido a estar conectados o tempo todo. Utilizando as mais diversas ferramentas tecnológicas (celulares, e-mail, GPS etc.), aprendemos a estar sempre disponíveis e potencialmente em contato. Acredito que tudo isso esteja dando conta de um forte desejo de estar à vista dos outros, de sermos observados, mesmo que seja apenas para confirmar que estamos vivos. Para constatarmos que somos “alguém”, que existimos. Sem dúvida, entre várias outras coisas, há muita solidão e vazio por trás de tudo isto.

IHU On-Line – O conceito de intimidade conhecido até então é alterado a partir de programas como Facebook, Twitter, Orkut?

Paula Sibilia - Neste momento, quando tantas imagens e relatos supostamente “íntimos” estão publicamente disponíveis, é evidente que a intimidade tem deixado de ser o que era. Nos velhos tempos modernos, aqueles que brilharam ao longo do século XIX e durante boa parte do XX, cada um devia resguardar sua própria privacidade de qualquer intromissão alheia. Isso não se conseguia somente graças às grossas paredes e às portas fechadas do lar, mas também mediante todos os rigores e pudores da antiga moral burguesa.

Agora, porém, a intimidade tem se convertido em um cenário no qual todos devemos montar o espetáculo daquilo que somos. E esse show do eu precisa ser visível, porque se esses pequenos espetáculos intimistas se mantivessem dentro dos limites da velha privacidade — aquela que era oculta e secreta por definição — ninguém poderia vê-los e, então, correriam o risco de não existirem.

É por isso que hoje se torna tão imperiosa essa necessidade de fazer público algo que, não muito tempo atrás e por definição, supunha-se que devia permanecer protegido no silêncio do privado. Porque mudaram os modos de se construir o “eu” e mudaram também os alicerces sobre os quais se sustenta esse complexo edifício.

Por isso, se as práticas que eram habituais naqueles tempos (como o diário íntimo e a correspondência epistolar) procuravam mergulhar no mais obscuro de si mesmo para ter acesso às próprias verdades, nestes costumes novos a meta é outra e bem diferente. No Orkut ou no Facebook, é evidente que o que se persegue é a visibilidade e, em certo sentido, também a celebridade. Ambas como fines autojustificados e como metas finais, não como um meio para conseguir alguma outra coisa e nem como uma consequência de algo maior.

IHU On-Line – Que futuro a senhora vislumbra a partir dessas redes sociais na internet? A sociedade tende a mudar ainda mais seus hábitos e comportamentos?

Paula Sibilia - Sobre o futuro, feliz ou infelizmente, é pouco o que posso dizer. Mas acredito que já seja possível fazer algumas avaliações sobre as implicações destas novidades.

Por um lado, estamos perdendo a possibilidade de nos refugiarmos em toda aquela bagagem da própria interioridade, que oferecia uma espécie de âncora ou um porto seguro para cada sujeito, que acolchoava seu “eu” contra as inclemências do mundo exterior e contra o inferno representado pelos outros.

Por outro lado, também é claro que ganhamos algumas coisas: uma libertação daquela prisão “interior”, ao se esfacelar essa condenação a ser “você mesmo”, aquela obrigação de permanecer fiel à interioridade oculta, densa e muitas vezes terrível que amordaçava os sujeitos modernos.

Outro problema que surge com estas novidades, no entanto, é que os tentáculos do mercado se desenvolveram de um modo que teria sido impensável algumas décadas atrás, e que hoje chegam a tocar todos os âmbitos. Agora, nos inícios do século XXI, tanto as personalidades como os corpos podem se converter em mercadorias que se compram, se alugam, se vendem e depois se jogam no lixo.

Numa sociedade tão espetacularizada como a nossa, a imagem que projeta o “eu” é o capital mais valioso que cada sujeito possui. Mas é preciso ter a habilidade necessária para administrar esse tesouro, como se fosse uma marca capaz de se destacar no competitivo mercado atual das aparências. Hoje, o espírito empresarial contamina todas as instituições e se impregna em todos os âmbitos, inclusive nos mais “íntimos” e recônditos, e o mercado oferece soluções para qualquer necessidade ou desejo. Além disso, sempre será possível (e inclusive desejável) mudar de “perfil”, atualizando as informações pessoais ou alterando suas definições para melhorar a cotação do que se é. Seja no mesmo Orkut ou Facebook, ou então migrando para um novo sistema apresentado como bem melhor do que o anterior, mais atual e dinâmico, daqueles cujo surgimento e cujo sucesso potencial não cessam de ser anunciados.

Para ler mais:

22 abril, 2009

o outro sujeito

”...outrem assegura as margens e transições no mundo. Ele é a doçura das contigüidades e das semelhanças. [...] Povoa o mundo de um rumor benevolente. Faz com que as coisas se inclinem umas em direção às outras e de uma para outra encontrem complementos naturais. Quando nos queixamos da maldade de outrem, esquecemos esta outra maldade mais temível ainda, aquela que teriam as coisas se não houvesse outrem.”

Gilles Deleuze

21 abril, 2009

Blogueiros viram 'saco de pancada' e reclamam de valentões da internet

Falsa sensação de anonimato gera xingamentos e até ameaças.
Se comentários passarem dos limites, blogueiros podem entrar na Justiça.


Juliana Carpanez
Do G1, em São Paulo


O dono do terceiro blog mais lido do mundo cansou. Depois de três anos escrevendo sobre novas empresas e serviços de tecnologia, uma ameaça de morte e uma cuspida na cara, Michael Arrington, co-fundador do TechCrunch, decidiu dar um tempo do site.

“Escrevemos sobre tecnologia e empreendedorismo. São coisas importantes, mas não tão importantes para nos fazerem temer pela nossa segurança e a de nossas famílias”, afirmou o blogueiro em nome de todos os contribuintes da página. Apesar de seu afastamento, o TechCrunch continuará sendo atualizado.


Michael Arrington contou no Twitter que havia tomado uma cuspida. No blog, ele escreveu sobre as agressões e ameaças. (Foto: Reprodução )
O fato de alguém desistir da blogosfera depois de chegar ao topo do Technorati, um site com a lista dos blogs mais acessados, indica que a pressão para quem está lá em cima não é pouca. E, como mostra o desabafo de Arrington, ela vem principalmente dos leitores: pessoas que muitas vezes não economizam na agressividade e apelam até para ameaças quando discordam do blogueiro -- esteja ele envolvido com temas polêmicos ou com amenidades.


Arrington afirmou ter se tornado alvo de empresas iniciantes que não recebem a atenção desejada, além de jornalistas e blogueiros concorrentes que acusam o TechCrunch “das coisas mais ridículas”. “Responder a essas acusações não vale nosso tempo: sempre achei que nosso trabalho e integridade iriam dar a resposta para tudo isso. Mas conforme crescemos e conquistamos mais sucesso, os ataques também cresceram”, contou.


No início de fevereiro, o autor de novelas Aguinaldo Silva fez um desabafo nesse mesmo tom em seu blog. “Dou aqui o meu melhor. Procuro não apenas agradar a quem me lê, mas dar informações, provocar debates, fazer pensar (...). E o meu modo de pensar, limpo e cristalino, está exposto aqui. Em troca dessa exposição, dessa sinceridade toda, o que recebo? Chutes na bunda. Agressões as mais deslavadas, e o que é pior: de pessoas que nem sequer existem! Pois em geral, todos os que entram aqui com propósitos deletérios tratam antes de resguardar com o maior cuidado suas identidades: são todas falsas.”

No post, o coautor de "Roque Santeiro", "Vale Tudo" e autor de "Duas Caras" afirma ter questionado se valia a pena manter a página, recebendo resposta negativa de seus amigos. Depois, ele concluiu: “vou desistir do blog? Pra deixar esse bando de zé ruelas feliz da vida? Mas nem morto!”



Ciberbullying

Erick Itakura, pesquisador do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica (PUC), classifica a agressão na blogosfera como um tipo de ciberbullying -- o termo define um comportamento agressivo e repetitivo adotado contra alguém no universo virtual, mesmo sem motivação aparente.



“O blogueiro exerce o direito dele de liberdade de expressão. Mas muitos leitores se incomodam e acabam querendo impor outras verdades”, afirmou o especialista, lembrando que a sensação de anonimato existente na internet facilita esse tipo de ação.

Segundo Itakura, as reações extremas na blogosfera acontecem quando alguém tem dificuldades em lidar com os sentimentos provocados pelo conteúdo postado - seja ele raiva, frustração, inveja ou admiração. “A agressão mostra que, de alguma forma, as informações tocaram a pessoa e ela não soube lidar com isso. Às vezes é mais fácil o leitor enxergar um defeito no blogueiro, que se expõe, do que nele mesmo.”


Ameaças


Rosana Hermann, 51, passou por uma situação parecida com a relatada pelo co-fundador do TechCrunch. Hoje dona do Querido Leitor, ela já chegou a fechar um blog e sair do país com a família, depois de receber uma ameaça no estilo “sei onde seus filhos estudam”.


Em outra ocasião, pagou um advogado até conseguir quebrar na Justiça o sigilo de um leitor definido por ela como “o clássico covarde na vida real, que se torna o bam-bam-bam atrevido sob o manto do anonimato”.

No segundo caso, após quebra de sigilo, ela acabou conversando com esse leitor pelo telefone -- ao identificar seu perfil, Rosana acabou desistindo do processo. O homem tinha 42 anos, era um administrador de empresas desempregado, morava com os pais, era separado e justificou os meses de perseguição à blogueira dizendo que queria ser como ela.

Depois de quase dez anos na blogosfera, Rosana diz que sua reação à agressão dos leitores depende de seu estado de espírito. “Quando vejo que a pessoa realmente só quer atenção, ignoro. Quando acho que existe alguma chance de trazê-la para a ‘luz’, comento no blog. Mas aí os outros leitores reclamam, dizendo que só dou atenção para quem me ofende”, contou em entrevista ao G1.


Se o comentário feito pelo internauta for mais “pesado, patológico ou perigoso”, ela o repassa a seu advogado, para que ele tome medidas legais.

O advogado Marcel Leonardi, especialista em direito digital, não vê problemas quando as críticas feitas em um blog são dirigidas ao conteúdo postado, e não à pessoa - nestes casos, eles diz que o debate é válido e está dentro dos limites da liberdade de manifestação de pensamento. No entanto, quando o leitor passa a ofender o blogueiro pessoalmente e vice-versa, pode-se cogitar os crimes de calúnia, injúria ou difamação.


Se isso acontecer e o blogueiro quiser entrar com uma ação judicial, Leonardi aconselha a não apagar o comentário. A informação preservada permite descobrir, com auxílio da Justiça, o endereço IP de quem publicou o texto. Assim, é possível identificar o responsável pela ofensa e tomar as medidas cabíveis.



Opinião

O jornalista Vitor Birner, 40, diz ser diariamente agredido nos comentários postados no Blog do Birner, uma página para fãs de futebol. “Há várias formar de agressão. O leitor mente a meu respeito, diz que falei o que não falei, fiz o que não fiz, penso o que não penso. E eu aprovo os comentários na gigantesca maiorias das vezes, por achar que as pessoas devem mostrar quem são”, contou ao G1. Segundo ele, também há muitas colocações interessantes, de pessoas inteligentes em sua página. “O blog é um local de informação e opinião. Ter de tudo faz parte.”

No mesmo endereço virtual desde 2007, Birner geralmente releva as agressões. No entanto, confessa que vez ou outra tem “seus dias” e responde às provocações deixadas na página. “Quando dizem que manipulo as informações, recomendo que não voltem ao meu blog. Se não acreditam no que escrevo, não devem perder seu tempo precioso de vida comigo.”

A estratégia de Renê Fraga, 25 anos, é tentar entender os leitores do Google Discovery -- mesmo aqueles mais agressivos. Ele diz sempre tentar oferecer um espaço para que o usuário da página expresse suas idéias.


“O trabalho do blogueiro é público e estamos envolvidos com diferentes tipos de pessoas. Por isso, é sempre importante manter uma conversação entre todos os envolvidos na blogosfera, respeitando suas opiniões”, defende.


Sem comentários

Já o Te Dou Um Dado?, com informações sobre o universo das celebridades, adota a direção oposta. A página criada por três blogueiros em abril de 2007 era aberta para comentários, mas com o tempo eles foram fechados. “Como a voz do povo definitivamente não é a voz de Deus, acabamos com essa história”, contou Ana Paula Barbi, a Polly, uma das criadoras do site.

A falta de espaço para comentários não impede, no entanto, que pessoas dispostas a agredir mandem e-mails para os blogueiros, muitas vezes com endereços falsos. “Quando ficaram sabendo que sofri uma parada respiratória, choveram mensagens. Mas o número de e-mails desejando melhoras foi infinitamente maior do que os xingando e celebrando minha quase-morte.”

Polly garante nunca se ofender com esse tipo de agressão, alegando que as pessoas não sabem xingar direito. “Elas não são criativas. É sempre aquela história de ‘você é gorda’. Poxa, jura? Valeu o toque, nunca tinha reparado”, ironizou a blogueira. “Grande parte desse recalque vem de uma vontade enorme de ser igual a nós. A pessoa queria muito ter um blog legal, mas não consegue e então apela para a agressão”, continuou, ecoando a explicação do psicólogo Erick Itakura.

19 abril, 2009

Porque eu vivo à noite

"O sucesso é construído à noite! Durante o dia você faz o que todos fazem."
Por Roberto Shinyashiki

Não conheço ninguém que conseguiu realizar seu sonho, sem sacrificar feriados e domingos pelo menos uma centena de vezes. Da mesma forma, se você quiser construir uma relação amiga com seus filhos, terá que se dedicar a isso, superar o cansaço, arrumar tempo para ficar com eles, deixar de lado o orgulho e o comodismo. Se quiser um casamento gratificante, terá que investir tempo, energia e sentimentos nesse objetivo. O sucesso é construído à noite! Durante o dia você faz o que todos fazem.

Mas, para obter resultado diferente da maioria, você tem que ser especial. Se fizer igual a todo mundo, obterás os mesmos resultados. Não compare à maioria, pois infelizmente ela não é modelo de sucesso. Se você quiser atingir uma meta especial, terá que estudar no horário em que os outros estão tomando chope com batatas fritas. Terá de planejar, enquanto os outros permanecem à frente da televisão. Terá de trabalhar enquanto os outros tomam sol à beira da piscina.

A realização de um sonho depende de dedicação. Há muita gente que espera que o sonho se realize por mágica. Mas toda mágica é ilusão. A ilusão não tira ninguém de onde está. Ilusão é combustível de perdedores. "Quem quer fazer alguma coisa, encontra um meio. Quem não quer fazer nada, encontra uma desculpa."

18 abril, 2009


A mudança é a lei da vida!

17 abril, 2009

Diálogos impossíveis

Cena de novela. Caminho das índias. César e Aida discutem ao telefone porque ele depositou pensão alimentícia a menos. Camila fala com Leinha:


A filha, cansada de ver a mãe discutir com o pai por causa da pensão alimentícia, chorosa pergunta à irmã:

- Por que eles não conversam civilizadamente como gente grande?

A irmã responde:

- Porque o papai não é gente grande.


_________________

( Solange pensando alto)

Já vi essa cena na vida real, apenas nunca pensei nesta sábia resposta. Eu na minha mania de achar que sempre o diálogo deve ser soberano, esqueço-me que, antes dele, há que se ter duas pessoas capazes e dispostas. O que raramente acontece simultaneamente. Uma pena. Dai este mundo cheio de monólogos alternados.

16 abril, 2009

o simples que cria o exótico

"Viver (ou criar) é o resultado de um diálogo contínuo entre o arbítrio e o inesperado, a ordem e a desordem, a necessidade e o acaso".

Ferreira Gullar




Lápis e cor e grafite sobre papel. Fantástico!


Veja o blog de Márcia de Moraes

15 abril, 2009

"A Poesia Surge do Espanto"


De repente, quando se ergue da cadeira, o poeta percebe que o fêmur de uma perna resvala no osso da bacia. Aquilo o intriga. “É desse tipo de surpresa que nasce um poema”, diz Ferreira Gullar


Por Armando Antenore (Revista Bravo!)





Certa manhã, enquanto fazia recortes para novas colagens, notou que umas tiras miúdas de papel salpicavam o piso da sala. Mal se abaixou com a intenção de recolhê-las, viu que formavam um desenho abstrato. A figura inusitada e bela surgira de modo espontâneo, à revelia de qualquer pretensão estética. O escritor, hipnotizado, apanhou os pedacinhos de papel e os fixou em uma cartolina amarronzada exatamente da maneira como caíram no chão. Batizou o trabalho de Por Acaso, Puro Acaso. Quem percorre o apartamento carioca logo avista a composição pendurada numa nesga de parede e um tanto oprimida pelas dezenas de outros quadros e gravuras que decoram o imóvel — a maioria de artistas tão míticos quanto Iberê Camargo, Rubem Valentim, Oscar Niemeyer e Marcelo Grassmann. "Todos bons amigos", comenta o dono da casa, com um híbrido de displicência e orgulho.

O episódio dos papéis revela muito sobre o jeito de o poeta enxergar a vida e o ato criativo. Para o autor do célebre Poema Sujo, viver (ou criar) é o resultado de um diálogo contínuo entre o arbítrio e o inesperado, a ordem e a desordem, a necessidade e o acaso. O assunto veio à tona numa tarde abafada de fevereiro, ao longo da conversa de três horas que Gullar manteve com BRAVO!. O apartamento de Copacabana, silencioso àquela altura do dia, serviu de cenário.

Viúvo, o maranhense namora a poetisa gaúcha Cláudia Ahimsa. Ele a conheceu durante a Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, em 1994. Pouco tempo antes, amargara a morte da mulher, Thereza Aragão, e de um dos três filhos, o caçula Marcos. Inspirado pela atual companheira, escreveu os versos "Olho a árvore e já/ não pergunto 'para quê?'/ A estranheza do mundo/ se dissipa em você".

BRAVO!: O senso comum costuma apregoar que poetas nascem poetas. Poesia é destino?

Ferreira Gullar: Prefiro dizer que é vocação. O poeta traz do berço um modo próprio de lidar com a palavra. Não se trata, porém, de um presente dos deuses, de uma concessão divina, como se pregava em outras épocas. Trata-se de um fenômeno genético, biológico, sei lá. Há quem nasça com talento para pintar, jogar futebol ou roubar. E há quem nasça com talento para fazer poemas. Sem a vocação, o sujeito não vai longe. Pode virar um excelente leitor ou crítico de poesia, mas nunca se transformará num poeta respeitável. Quando um jovem me mostra originais, percebo de cara se é ou não do ramo. Leio dois ou três poemas e concluo de imediato. Por outro lado, caso o sujeito tenha a vocação e não trabalhe duro, dificilmente produzirá um verso que preste. Se não estudar, se não batalhar pelo domínio da linguagem, acabará desperdiçando o talento. "Nasci poeta, vou ser poeta." Não, não funciona assim. Converter a vocação em expressão demanda um esforço imenso. Tudo vai depender do equilíbrio entre o acaso e a necessidade. A vocação é acaso. A expressão é necessidade. Compreende a diferença? No fundo, a vida não passa de uma constante tensão entre acaso e necessidade.

Nada escapa desse binômio?

Nada. O que faz o homem sobre a Terra? Luta para neutralizar o acaso. Eis a principal necessidade humana: driblar o imprevisível, a bala perdida. Concebemos Deus justamente porque buscamos nos proteger da bala perdida. Deus é a providência que elimina o acaso. É o antiacaso.

Você não crê que Ele exista?

Gostaria de acreditar, mas não acredito. Uma pena... Poucas crenças podem ser mais reconfortantes do que a fé em Deus. Ele enche de sentido as nossas vidas sem sentido. "Eu não sou cachorro, não!", cantava o Waldick Soriano, lembra? Uma frase sugestiva, já que os homens realmente não se veem como cachorros. Os homens anseiam uma condição sublime. Não à toa, inventaram Deus: para que Deus os criasse. Se você pensar direito, todas as coisas abstratas ou concretas que a humanidade constrói têm a intenção de dar significado à vida — e, não raro, um significado especial. Nós, que frequentemente praticamos atos injustos, inventamos a justiça. Por quê? Porque desejamos ser melhores do que somos e tornar menos insolúvel o mistério de viver. A arte surge pelo mesmo motivo.

Conclui-se, então, que o poema também almeja dar significado à vida.

O poema nasce do espanto, e o espanto decorre do incompreensível. Vou contar uma história: um dia, estava vendo televisão e o telefone tocou. Mal me ergui para atendê-lo, o fêmur de uma das minhas pernas bateu no osso da bacia. Algo do tipo já acontecera antes? Com certeza. Entretanto, naquela ocasião, o atrito dos ossos me espantou. Uma ocorrência explicável de súbito ganhou contornos inexplicáveis. Quer dizer que sou osso?, refleti, surpreso. Eu sou osso? Osso pergunta? A parte que em mim pergunta é igualmente osso? Na tentativa de elucidar os questionamentos despertados pelo espanto, eclode um poema. Entende agora por que demoro 10, 12 anos para lançar um novo livro de poesia? Porque preciso do espanto. Não determino o instante de escrever: "Hoje vou sentar e redigir um poema". A poesia está além de minha vontade. Por isso, quando me indagam se sou Ferreira Gullar, respondo: "Às vezes".

A falta de controle sobre o ato de escrever o angustia?

Não, em absoluto. A experiência de criar um poema é maravilhosa. Mas, como não depende inteiramente de mim, sei que corro o risco de nunca mais vivenciá-la. Se parar de fazer poesia, vou lamentar — só que não a ponto de disparar um tiro na cabeça. Nenhum poema, de nenhum poeta, me parece imprescindível. Dante Alighieri poderia não ter escrito A Divina Comédia. Ou poderia tê-la escrito de outro jeito. Novamente: tudo se subordina à lei do acaso e da necessidade.

Um poema deve sempre emocionar?

Sim, deve emocionar primeiro o poeta e depois o leitor.

O pernambucano João Cabral de Melo Neto, com quem você conviveu, pensava diferente, não? Ele preconizava uma poesia menos emotiva.

João Cabral gostava de mentir! (risos) Pegue o poema O Ovo de Galinha e veja se aquilo não comove o leitor. Você acha que o João também não se comoveu ao escrevê-lo? Lógico que se comoveu! Na verdade, João recusava a ideia de o poeta transformar a poesia em confessionário, em objeto do sentimentalismo. Daí proclamar que o poema tinha de ser uma construção intelectual. A razão lhe serviu de bússola. No entanto, paradoxalmente, inúmeros de seus versos não resultaram tão frios. À medida que o tempo passa, o João se revela cada vez mais complexo, uma soma de contradições — o que, no fim das contas, só aumenta a grandeza dele.

Você concorda quando os críticos apontam o Poema Sujo, de 1975, como sua obra máxima?

Difícil responder. Não me debrucei profundamente sobre o assunto... O Poema Sujo é, de fato, o que reúne o maior número de interrogações e descobertas — em parte, pela extensão (os versos se espalham por quase 60 páginas); em parte, pela febre criativa que me assaltou enquanto o redigia. Entre maio e outubro de 1975, fiquei imerso no que classifico de "estado poético". Nada me tirava daquele clima. Eu comentava, brincando, que me tornara uma espécie de rei Midas. Tudo em que botava a mão virava ouro, tudo virava poesia. Foi uma fase excepcional. Para mim, porém, trabalhos mais recentes podem ter importância idêntica à do Poema Sujo, por exprimirem reflexões novas, algo que não me ocorrera dizer antes.

Uma parcela da crítica sustenta que você é o maior poeta brasileiro vivo. É mesmo?

Imagine! E como se mede o tamanho de um poeta?, já perguntava Carlos Drummond de Andrade. Que régua consegue dimensionar um negócio desses? Claro que, quando escuto uma avaliação do gênero, me envaideço. Mas não me iludo. Cada poeta, vivo ou morto, é inigualável. O João Cabral, o próprio Drummond, o Vinicius de Moraes, o Mário Quintana nos transmitiram um legado riquíssimo. São inventores de um universo muito pessoal e insubstituível. Sem mencionar o Murilo Mendes, autor de pérolas tão lindas quanto "A mulher do fim do mundo/ Chama a luz com um assobio".

Poeticamente, você jamais permaneceu num único lugar e sempre procurou a renovação. Em contrapartida, como crítico, acabou recebendo a pecha de conservador, por rejeitar diversas manifestações da arte contemporânea. O rótulo o incomoda?

Não, não me incomoda. Nesta altura do campeonato, quando o vale-tudo se apoderou das artes plásticas, a qualificação de "conservador" perdeu sentido. Conservador por quê? Por diferenciar expressão e arte? No meu entender, toda arte é expressão, mas nem toda expressão é arte. Se me machuco e grito de dor, estou me expressando; não estou produzindo arte. Da mesma maneira, se alguém começa a bater numa lata, emite sons; não cria música. O filósofo francês Jacques Maritain, católico, afirmava que a arte é "o Céu da razão operativa". Ou melhor: é o ápice do trabalho humano. Arte, portanto, pressupõe o "saber fazer". Saber pintar, saber dançar, saber esculpir, saber fotografar, saber tocar, saber compor. Tal critério prevaleceu durante milhares de anos, desde as cavernas até o advento das vanguardas, no final do século 19, período em que se questionou o "saber fazer". Pois bem: sob a minha ótica, a preocupação vanguardista é um fenômeno que se esgotou. Por milhares de anos, a arte seguiu adiante sem ligar para o conceito de vanguarda. Ninguém me convencerá de que, em pleno século 21, crucificar-se na traseira de um Fusca, deixar-se filmar cortando a vagina ou masturbar-se numa galeria equivale a um gesto artístico. Segundo o norte-americano John Canaday, historiador da arte, os críticos de hoje temem repetir o erro cometido pelos críticos do século 19, que não compreenderam os impressionistas. Em consequência, assinam embaixo de qualquer bobagem que levante a bandeira do "novo". Percebe a armadilha? Caso três ou quatro artistas resolvam espremer uma bisnaga de tinta no nariz de um crítico, ouvirão dele que praticaram um ato inovador. Definitivamente, não penso desse modo.

Nos tempos de militância comunista, você usou a poesia com fins políticos. O engajamento dos poetas ainda se justifica?

Não, de jeito nenhum. Os poetas, agora, irão se engajar em quê? No socialismo ridículo do Hugo Chávez? Foi um engano imaginar que versos contribuiriam para a revolução social. Admito que um poema consiga iluminar o leitor, consiga lhe abrir a cabeça. Mas daí a mudar a sociedade... Muito complicado! Abandonei todos os mitos daquela época. Não creio mais em luta de classes. Já aprendi que o capitalismo é como a natureza: invencível.

E a crise econômica que o mundo enfrenta atualmente? Não põe o capitalismo em xeque?

Sem dúvida atravessamos um momento delicadíssimo. Mesmo assim, estou convicto de que o capitalismo resistirá. Trata-se apenas de mais uma crise num sistema que vive de crises. Repito: o capitalismo vai imperar porque segue a lógica da natureza. É brutal, é feroz, é amoral. Não demonstra piedade por nada nem por ninguém. Em compensação, nos oferece uma série de benefícios. O capitalismo, à semelhança da natureza, se desenvolve espontaneamente. Não precisa que meia dúzia de burocratas dite o rumo das coisas, como acontecia nos regimes socialistas. Em qualquer canto, há um cara inventando uma empresinha. De repente, no meio deles, aparece um Bill Gates. São multidões em busca de dinheiro! Impossível deter uma engrenagem tão eficiente. Podemos, no máximo, brigar para que as desigualdades geradas pelo capitalismo diminuam. Aliás, convém que briguemos. Não devemos abdicar de um mundo mais justo, ainda que capitalista.


Como você avalia o governo Lula?

Avalio mal. O Lula é um grande pelego. Sabe aquele indivíduo que se infiltra nos sindicatos para amortecer os conflitos entre trabalhadores e patrões? O Lula age exatamente assim. Por um lado, agrada os banqueiros e os empresários. Por outro, corrompe o povão com programas assistencialistas. Posa de líder popular, e a massa o aplaude. Viva o pai dos pobres! Resultado: todo mundo confia no Lula, o rico e o miserável. Em decorrência, as tensões sociais se diluem. Que maravilha, não? Um país de carneirinhos...

Em setembro de 2010, você completa 80 anos. Sente-se realizado?

Olha, a vida é uma cesta em que, quanto mais se põe, mais se deseja colocar. Estamos sempre partindo do zero. Hoje pinto um quadro ou termino de ler um livro. Fico satisfeito. Mas, amanhã, me pergunto: e agora?

14 abril, 2009

Caminho em frente pra sentir saudade

Janta (Marcelo Camelo e Mallu Magalhães)


informe o(s) compositor(es)
Eu quis te conhecer mas tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
Pode ser cruel a eternidade
Eu ando em frente por sentir vontade

Eu quis te convencer mas chega de insistir
Caberá ao nosso amor o que há de vir
Pode ser a eternidade má
Caminho em frente pra sentir saudade

Paper clips and crayons in my bed
Everybody thinks that i'm sad
I'll take a ride in melodies and bees and birds
Will hear my words
Will be both us and you and them together

Cause i can forget about myself, trying to be everybody else
I feel allright that we can go away
And please my day
I let you stay with me if you surrender

Eu quis te conhecer mas tenho que aceitar
(I can forget about myself trying to be everybody else)
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
(I feel all right that we can go away)
Pode ser a eternidade má
(And please my Day)
Eu ando sempre pra sentir vontade.
(I'll let you stay with me if you surrender)

13 abril, 2009

Páscoa



"Se tiver que ir, vá.
Se tiver que parar, pare.
Mas não vacile".

(In: Aqui e agora, 100 pensamentos zen-budistas)

















Arte: Ana Luppso

10 abril, 2009

pesquisa sobre blog... começa o interesse acadêmico pelo fenÔmeno

Oi pessoal, estou participando de uma pesquisa e aproveito para compartilhar com vocês o meu pensamento...

_________________________



Esta é uma pesquisa qualitativa para uma matéria acadêmica. Ela tem como objetivo mostrar a influência de um blog na vida profissional do comunicador.
Por isso, gostaria que você respondesse a algumas questões.

Entrevistada: Solange Pereira Pinto

• Data de início do blog 03.04.2006

• Média de visitação mensal/diária média mensal 2.500 - média diária entre 80 a 120

• Tempo investido na manutenção do blog diariamente/semanalmente - Depende da época. Em geral, gasto pelo menos 10 horas semanais pesquisando na internet ou produzindo textos para atualizar o blog.



Perguntas

Quais são as tendências da sua profissão?
Creio que a tendência da profissão, tanto professora quanto jornalista, é utilizar cada vez mais as tecnologias e os blogs como ordenadores de conteúdo

• Por que criar um blog?
Depende. Para uso pessoal, entendo que o blog é um espaço de expressão. Nele podemos nos valorizar como sujeitos produtores de conhecimento, idéias e textos. Há nisso uma "liberdade" de ser "autoral". Podemos, assim, escrever o que vemos e pensamos sobre o mundo. Além disso, podemos comentar notícias, replicar outros pensamentos. O blog é democrático, uma vez que disponibiliza espaço gratuito para quem se interessar. Antes, os espaços eram caros ou destinados a pessoas escolhidas, colunistas famosos etc. Agora todos podem mostrar o que querem. Isso é muito bom e enriquece os debates.

Quais os meios de comunicação que você utiliza para se manter atualizado?
Praticamente a Internet. Leio muitos livros e artigos científicos também.

• Você acompanha blogs sobre quais assuntos? Quantos?
Nossa, acompanho vários blogs. Principalmente aqueles ligados às artes, jornalismo e educação. Além disso, acompanho blogs pessoais de pessoas que julgo interessantes. Não sei avaliar quantos blogs eu acompanho...

• Em que sentido ler outros blogs te influencia pessoalmente?
Influencia na abertura do pensamento. A partir de outras idéias eu amplio a minha visão de mundo. E, também, aprendo novas tecnologias e recursos para utilizar nos meus blogs.

Quais as semelhanças [relação] entre seu blog e seu trabalho?
Hum... Da mesma forma que preciso estudar, ler, inovar na minha profissão, preciso fazer o mesmo com o blog para que ele se torne interessante.

Como seu blog prejudica suas atividades profissionais?
Não vejo muitos prejuízos. Talvez o maior dele seja o tempo. Quando gasto muito tempo para manter meus blogs, deixo de dedicar tempo a alguma outra ativiidade. Embora eu aproveite o conteúdo dos blogs para dar aulas, por exemplo. No fim, tudo se mistura. A vida hoje é muito mais complexa. Sem investimento pessoal não dá para ser bom profissional. Precisamos derrubar certos mitos de que o tempo para o trabalho é utilizado somente no trabalho. Somos seres indissolutos,o que dedicamos à vida pessoal reflete na profissional e vice-versa. Uma pessoa que tem blog está quando não diretamente, está indiretamente se aperfeiçoando profissionalmente. Ou seja, está ordenando infomações, está se atualizando, está fazendo resumos, está exercendo o pensamento crítico, está se expondo às críticas e elogios dos outros, está sendo pro-ativo, está praticando a escrita, está conhecendo novas tecnologias, está melhorando a performance de pesquisador etc. Tudo isso é um "treinamento" não pago pela empresa que amplia as habilidades do indivíduo. Como isso pode ser prejuízo? Apesar de termos muitas empresas/pessoas ainda com pensamento retrogrado... Mas isso é outra coisa.

Quais as oportunidades que seu blog já te proporcionou profissionalmente?
Além do desenvolvimento das habilidades que mencionei, tenho me tornado referência nos blogs pedagógicos. O blog pessoal já me deu novos clientes. No dia a dia profissional, os meus blogs me dão um diferencial, pois entendo de uma tecnologia que nem todo mundo domina e algumas empresas já estão partindo para os blogs corporativos.




06 abril, 2009

*O mundo conforme Casciari*

Li uma vez que a Argentina não é nem melhor, nem pior que a Espanha,só que mais jovem. Gostei dessa teoria e aí inventei um truque para descobrir a idade dos países baseando-me no 'sistema cão'. Desde meninos nos explicam que para saber se um cão é jovem ou velho, deveríamos multiplicar a sua idade biológica por 7.. No caso de países temos que dividir a sua idade histórica por 14 para conhecer a sua correspondência humana. Confuso? Neste artigo exponho alguns exemplares reveladores.

A Argentina nasceu em 1816, assim sendo, já tem 190 anos. Se dividimos estes anos por 14, a Argentina tem 'humanamente' cerca de 13 anos e meio, ou seja, está na pré-adolescência. É rebelde, se masturba, não tem memória, responde sem pensar e está cheia de acne. Quase todos os países da América Latina têm a mesma idade, e como acontece nesses casos, eles formam gangues. A gangue do Mercosul é formada por quatro adolescentes que tem um conjunto de rock. Ensaiam em uma garagem, fazem muito barulho, e jamais gravaram um disco. A Venezuela, que já tem peitinhos, está querendo unir-se a eles para fazer o coro. Em realidade, como a maioria das mocinhas da sua idade, quer é sexo, neste caso com Brasil que tem 14 anos e um membro grande.

O México também é adolescente, mas com ascendente indígena. Por isso, ri pouco e não fuma nem um inofensivo baseado, como o resto dos seus amiguinhos. Mastiga coca, e se junta com os Estados Unidos, um retardado mental de 17 anos, que se dedica a atacar os meninos famintos de 6 anos em outros continentes.

No outro extremo, está a China milenária. Se dividirmos os seus 1.200 anos por 14 obtemos uma senhora de 85, conservadora, com cheiro a xixi de gato, que passa o dia comendo arroz porque não tem - ainda - dinheiro para comprar uma dentadura postiça. A China tem um neto de 8 anos, Taiwan, que lhe faz a vida impossível. Está divorciada faz tempo de Japão, um velho chato, que se juntou às Filipinas, uma jovem pirada, que sempre está disposta a qualquer aberração em troca de grana.

Depois, estão os países que são maiores de idade e saem com o BMW do pai. Por exemplo, Austrália e Canadá. Típicos países que cresceram ao amparo de papai Inglaterra e mamãe França, tiveram uma educação restrita e antiquada e agora se fingem de loucos.

A Austrália é uma babaca de pouco mais de 18 anos, que faz topless e sexo com a África do Sul. O Canadá é um mocinho gay emancipado, que a qualquer momento pode adotar o bebê da Groenlândia para formar uma dessas famílias alternativas que estão de moda.

A França é uma separada de 36 anos, mais puta que uma galinha, mas muito respeitada no âmbito profissional. Tem um filho de apenas 6 anos: Mônaco, que vai acabar virando puto ou bailarino ... ou ambas coisas. É a amante esporádica da Alemanha, um caminhoneiro rico que está casado com a Áustria, que sabe que é chifruda, mas que não se importa.

A Itália é viúva faz muito tempo. Vive cuidando de São Marino e do Vaticano, dois filhos católicos gêmeos idênticos. Esteve casada em segundas núpcias com Alemanha (por pouco tempo e tiveram a Suíça), mas agora não quer saber mais de homens. A Itália gostaria de ser uma mulher como a Bélgica: advogada, executiva independente, que usa calças e fala de política de igual para igual com os homens A Bélgica também fantasia de vez em quando que sabe preparar espaguete.

A Espanha é a mulher mais linda de Europa (possivelmente a França se iguale a ela, mas perde espontaneidade por usar tanto perfume).. É muito tetuda e quase sempre está bêbada. Geralmente se deixa foder pela Inglaterra e depois a denuncia. A Espanha tem filhos por todas as partes (quase todos de 13 anos), que moram longe. Gosta muito deles, mas a perturbam quando têm fome, passam uma temporada na sua casa e assaltam sua geladeira.

Outro que tem filhos espalhados no mundo é a Inglaterra. Sai de barco de noite, transa com alguns babacas e nove meses depois, aparece uma nova ilha em alguma parte do mundo. Mas não fica de mal com ela. Em geral, as ilhas vivem com a mãe, mas a Inglaterra as alimenta.

A Escócia e a Irlanda, os irmãos de Inglaterra que moram no andar de cima, passam a vida inteira bêbados e nem sequer sabem jogar futebol. São a vergonha da família. A Suécia e a Noruega são duas lésbicas de quase 40 anos, que estão bem de corpo, apesar da idade, mas não ligam para ninguém. Transam e trabalham, pois são formadas em alguma coisa. Às vezes, fazem trio com a Holanda (quando necessitam maconha, haxixe e heroína); outras vezes cutucam a Finlândia, que é um cara meio andrógino de 30 anos, que vive só em um apartamento sem mobília e passa o tempo falando pelo celular com Coréia.

A Coréia (a do sul) vive de olho na sua irmã esquizóide. São gêmeas, mas a do Norte tomou líquido amniótico quando saiu do útero e ficou estúpida. Passou a infância usando pistolas e agora, que vive só, é capaz de qualquer coisa. Estados Unidos, o retardadinho de 17 anos, a vigia muito, não por medo, mas porque quer pegar as suas pistolas.

Irã e Iraque eram dois primos de 16 que roubavam motos e vendiam as peças, até que um dia roubaram uma peça da motoca dos Estados Unidos e acabou o negocio para eles. Agora estão comendo lixo. O mundo estava bem assim até que, um dia, a Rússia se juntou (sem casar) com a Perestroika e tiveram uma dúzia e meia de filhos. Todos esquisitos, alguns mongolóides, outros esquizofrênicos.

Faz uma semana, e por causa de um conflito com tiros e mortos, os habitantes sérios do mundo, descobrimos que tem um país que se chama Kabardino-Balkaria. É um país com bandeira, presidente, hino, flora, fauna... e até gente! Eu fico com medo quando aparecem países de pouca idade, assim de repente. Que saibamos deles por ter ouvido falar e ainda temos que fingir que sabíamos, para não passar por ignorantes.

Mas aí, eu pergunto: por que continuam nascendo países, se os que já existem ainda não funcionam?

NOTA SOBRE O AUTOR:
Hernán Casciari nasceu em Mercedes (Buenos Aires), a 16 de março de 1971. Escritor e jornalista argentino. É conhecido por seu trabalho ficcional na Internet, onde tem trabalhado na união entre literatura e blog, destacado na blognovela. Sua obra mais conhecida na rede, Weblog de una mujer gorda', foi editada em papel, com o título: 'Más respeto, que soy tu madre'.

05 abril, 2009

Teste básico para detecção de alcoolismo

Responda sim ou não:


1. Alguma vez o(a) senhor(a) sentiu que deveria diminuir a quantidade de bebida alcoólica ou parar de beber?


2. As pessoas o(a) aborrecem porque criticam o seu modo de tomar bebida alcoólica?


3. O(a) senhor(a) se sente chateado(a) consigo mesmo(a) pela maneira como costuma tomar bebidas alcoólicas?


4. Costuma tomar bebidas alcoólicas pela manhã para diminuir o nervosismo ou ressaca?


Leia mais sobre alcoolismo aqui





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Os Doze Passos de Alcoólicos Anônimos

Os Doze Passos de A.A. consistem em um grupo de princípios, espirituais em sua natureza que, se praticados como um modo de vida, podem expulsar a obsessão pela bebida e permitir que o sofredor se torne íntegro, feliz e útil. Não são teorias abstratas; são baseadas na experiência dos êxitos e fracassos dos primeiros membros de A.A.


PRIMEIRO PASSO:
Admitimos que éramos impotentes perante o álcool - que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas.

SEGUNDO PASSO:
Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade.

TERCEIRO PASSO:
Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos.

QUARTO PASSO:
Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.

QUINTO PASSO:
Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas.

SEXTO PASSO:
Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.

SÉTIMO PASSO:
Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.

OITAVO PASSO:
Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.

NONO PASSO:
Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem.

DÉCIMO PASSO:
Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.

DÉCIMO PRIMEIRO PASSO:
Procuramos através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que o concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós e forças para realizar essa vontade.

DÉCIMO SEGUNDO PASSO:
Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades.

OS DOZE PASSOS - Forma Integral: consultar o Livro: "OS DOZE PASSOS E AS DOZE TRADIÇÕES" Disponível na JUNAAB - Junta de Serviços Gerais de A.A. do Brasil. Avenida Senador Queiroz, 101 2 andar cj 205 Caixa Postal 580 - CEP 01060-970 S‹o Paulo/SP - Brasil



Fonte:

04 abril, 2009

Psicanalista: ganância gera mau humor do mercado

por Diego Salmen


Dia após dia, economistas dos quatros cantos do planeta se debruçam para tentar entender os motivos que geraram a atual crise no sistema financeiro mundial. Motivos e conseqüências. Por ora, ao que parece, tateiam no escuro: os mercados continuam oscilando, e ninguém arrisca um palpite sobre até quando a tormenta se estenderá. Estaria o discurso lógico e matemático também em crise, desta vez existencial?

A economia no divã.

Num esforço para compreender melhor os (maus) humores do Mercado, Terra Magazine conversa com a psicanalista e especialista em psicologia econômica Vera Rita de Mello Ferreira, autora do primeiro livro sobre o tema no Brasil (Psicologia Econômica - Estudo do comportamento econômico e da tomada de decisão).

- Enquanto a Bolsa cresce as pessoas tendem a afastar da consciência a percepção de que existe risco, de que não há segurança absoluta. Quando começa a cair, essa percepção volta com muita força, e daí parece um fantasma, um horror, uma coisa monstruosa a que você não vai sobreviver.

Vera também é representante do IAREP (International Association for Research in Economic Psychology) no país, além de ser coordenadora-adjunta e professora do curso "Psicanálise e Psicologia Econômica", na PUC-SP (Pontífica Universidade Católica de São Paulo).

A especialista lembra que a economia, apesar do amontoado de números e estatísticas, baseia-se no comportamento dos seres humanos. Estes, por sua vez, são movidos a emoções - o que ajuda a delinear um quadro de pouca racionalidade no mundo financeiro.

Isto posto, como se comportarão os investidores daqui para frente?

- A gente chama de falácia do apostador. Ele está lá no cassino perdendo, perdendo e perdendo. Ele pára de jogar e vai dormir? Não. Ele fica lá para ver se recupera.

Leia a seguir a entrevista com Vera Rita de Mello Ferreira:

Terra Magazine - Nós estamos vendo uma enorme oscilação nas Bolsas, e esse movimento muitas vezes é baseado em expectativas, e não em dados concretos. Existe uma histeria nesse momento vivido pela economia mundial?
Vera Ferreira - É um momento de pânico que nós estamos vivendo, um crash. Isso acontece regularmente depois do estouro de uma bolha. Em outras palavras: quando a bolha se forma, existe uma contaminação desse crença de que vai ser fácil ganhar dinheiro para sempre, que está tudo perfeito e de que ela não vai estourar jamais. De que é só deixar o dinheiro lá e não se preocupar. As pessoas nesse momento esquecem que Bolsa envolve risco - e é justamente por isso que ela oferece um retorno muito maior que outros investimentos conservadores. Elas vão sendo contagiadas por esse espírito de manada. Essas pessoas, quando começa a haver essas instabilidades que sempre existem, são as que ficam mais preocupadas, porque provalvemente acabarão perdendo dinheiro mesmo: elas entraram na alta e querem se desfazer dos papéis na baixa. Isso é o oposto do que todo mundo fala nas finanças. Quando a Bolsa está em alta, as pessoas querem sempre ganhar mais e mais e mais. E às vezes acabam deixando um percentual maior de seus recursos na Bolsa sem perceber que estão fazendo isso. Então, quando vem o tombo, o susto é muito maior, porque uma parcela maior do patrimônio está perdendo valor rapidamente.

Do ponto de vista psicológico, o que explica essa atração dos investidores pelo risco em um mercado que é, em grande medida, virtual? E, também, como explicar a reação quando há esse momento de ruptura?
As duas coisas estão interligadas. Para começar, existe a voracidade. As pessoas sempre querem ganhar mais, mais e mais. E se for aparentemente fácil o jeito de se ganhar, como parece ser (no mercado financeiro), isso acaba atraindo muito as pessoas, sem dúvida. Agora, enquanto a Bolsa cresce as pessoas tendem a afastar da consciência a percepção de que existe risco, de que não há segurança absoluta e até mesmo que eles próprios podem correr risco ao alocar uma parte tão grande de seus recursos ali, se for esse o caso. Quando começa a cair, essa percepção volta com muita força, toda força que você havia usado para afastar ela da sua consciência, como uma mola, e daí parece um fantasma, um horror, uma coisa monstruosa a que ela não vai sobreviver. E tem mais um fator aí.

Qual?
A psicologia econômica já pôde estudar em diversas situações experimentais que, quando as perspectivas são de perda, as pessoas, muitas vezes, acabam abraçando o risco muito mais do que fariam em situações normais. Então quando a pessoa está perdendo, ela vai perder em relação a um pico virtual. A maioria não vai nem fazer um cálculo para ver o quanto realmente está perdendo, se é que está perdendo em relação ao aporte inicial que ela havia feito.

Até porque a perda só se concretiza quando o prejuízo é realizado.
Exatamente, assim como o ganho. Enquanto isso é tudo virtual. Muita gente está se desfazendo dos papéis, tanto que eles estão caindo. Isso mostra que muita gente está realizando perdas também. A pessoa fica naquela dúvida: eu vendo agora ou espero? Se ela, por exemplo, precisar do dinheiro no curto prazo, já não deveria ter entrado na Bolsa se for esse o horizonte temporal... Ela pensa: 'não, vou esperar mais um pouco para ver se volta e eu consiga recuperar minhas perdas'.

Seria algo como: "já está ruim mesmo, então vou pagar para ver se vai piorar ou se melhora um pouco"?
É, mais ou menos. A gente chama de falácia do apostador. Ele está lá no cassino perdendo, perdendo e perdendo. Ele pára de jogar e vai dormir? Não. Ele fica lá para ver se recupera. Só que isso não acontece. Normalmente, continua perdendo mesmo. Se a pessoa pensa no longo prazo, então deixa o dinheiro lá. Vai fazer o quê com ele agora? Muita gente não pensa nisso, só pensa em tentar se livrar do mal-estar da perda. Não é que a gente tenha sempre aversão ao risco; a gente tem aversão à perda sempre. Perder ninguém quer. Então ao tentar evitar uma perda, as pessoas acabam correndo mais riscos.

A senhora fala em perdas. É possível fazer uma analogia entre as perdas no mercado financeiro e as perdas e traumas vividas pelas pessoas no dia-a-dia? O mecanismo é semelhante?
Sim, sim. Todo mundo odeia perder - a não ser que seja peso (risos). O problema é que nós valorizamos qualquer coisa que já tenhamos, porque é nosso, e não queremos nem pensar na possibilidade de ficar sem aquilo, ou mesmo sem o sentimento ou a pessoa, como perder o namorado, etc. Então a frustração, já entrando pelo lado da psicanálise, é o que nos coloca mais à prova. Porque nós fazemos o diabo a quatro para evitar sentimentos de frustração. E a frustração em relação ao plano que você tinha feito, "vou ficar milionário em 15 minutos", de repente... De repente coisa nenhuma, aliás: já se fala em estouro da bolha há mais de ano. A única coisa que não estava prevista era o momento exato que a catástrofe iria acontecer. Quando o Robert Shiller, autor do livro Exuberância Irracional, sobre a Bolha da Internet, esteve no Brasil, perguntei a ele: "O senhor acha que as pessoas estão aprendendo mais com essas experiência de estouro de bolha?". A resposta dele foi: "eu sou cético".

É possível, com base nesse perfil psicológico, ter uma previsão de como os agentes econômicos vão agir daqui em diante? E em que medida uma expectativa ruim pode, por si só, resultar em novos problemas para os mercados?
Existem emoções guiando todos os nossos comportamentos. Isso é o que a psicanálise diz há mais de 100 anos, e é o que a psicologia econômica está começando a dizer também. Não existe nenhum comportamento, pensamento ou decisão humana que não esteja fundamentada em raízes emocionais. Isso está presente o tempo inteiro. Acontece que, quando as coisas estão aparentemente dando certo, ninguém se lembra disso. Todo mundo tende a atribuir a mecanismos maravilhosos e mecanismos perfeitos, como que "agora o mercado está 'super-equilibrado'". Tudo balela. Basta aparecer uma turbulência como essa, entendida como uma espécie de janela epistemológica para entender o que está acontecendo, que aparece em toda a sua crueza como nós somos movidos pelas emoções. Antes, a emoção da ganância, da voracidade. Se pedia para alguém explicar essa contabilidade mirabolante dos bancos norte-americanos, mas ninguém conseguia. Quem queria esmiuçar isso àquela hora? Ninguém; todo mundo quer continuar ganhando dinheiro acreditando que vai durar por toda a eternidade. Quando essas expectativas são frustradas, aí todo mundo pára. Quer dizer: na hora em que está tudo bem, as pessoas não estão interessadas (em entender o problema).

Há um discurso muito frio e matemático vigente hoje em dia para explicar a economia, mas há quem defenda que ela é uma ciência humana com componentes que não são racionais...
Sem dúvida. Quem faz a economia são os agentes econômicos, que são seres humanos. Seres humanos são constituídos como? Imperfeitamente, com uma série de limitações, um monte de precariedades e fundamentados em um funcionamento emocional, que não segue a lógica formal. Ele segue a 'psico-lógica'. Essas decisões não são nada consistentes. Minha frase de cabeceira é a seguinte: "A razão é escrava da emoção, e existe para racionalizar a experiência emocional". Em outras palavras, nós podemos fazer de conta que é tudo racional, tudo lógico. Mas não é. Arrumar desculpa, justificativa é a coisa mais fácil que tem. Até uma criança de seis anos pega com a boca na butija roubando doce dá um monte de explicações.

Essa tentativa frustrada de explicar racionalmente a crise explica de alguma maneira o desespero do mercado em não conseguir uma solução para ela?
Sim, sim. Tem até uma piada: "Se faz uma previsão. Ela está errada. Na semana seguinte, (o autor da previsão) está dando uma palestra sobre isso". Cada vez mais nós vemos que alguns economistas já incluem essas variáveis psicológicas nas suas análises. E é evidente que isso ter que ser feito. Em 2002, o Daniel Kahneman, psicólogo econômico, ganhou o Prêmio Nobel de Economia. Em 1978, um outro pesquisador, chamado Herbert Simon, já tinha ganho também. Ele tinha formação em psicologia e economia. Não teve muita repercussão porque, naquele momento, havia a onda de teorias de liberalização dos mercados, ninguém queria saber, porque "os mercados são eficientes"....

...era o começo do "fim da história", do Francis Fukuyama...
É, que não é fim, né? Isso que nós estamos vendo agora já se repetiu. Claro que, agora, há alguns fatores que são um pouco diferentes. Mercado globalizado como nunca houve, o peso da China na economia mundial, que ainda é incerto, tem a questão do excesso de dólares (na China) intocados. Aliás, essa subida do dólar é muito curiosa.

Por quê?
O mundo está querendo comprar dólares no momento em que a economia que sustenta o dólar está derretendo. Então, dá uma impressão - e isso é uma hipótese especulativa, inclusive - de que há uma espécie de "ancoragem". Quer dizer, as pessoas tradicionalmente sempre correram para o dólar, e não estão parando para pensar. Elas estão correndo para o dólar no piloto automático. Me dá essa impressão.

E elas podem, digamos, vir a "quebrar a cara" novamente?
Eu acho que não vai (reduzir a cotação do dólar) no curto prazo. O pessoal fala que vai viajar, não sabe se compra dólar. É melhor comprar, porque pelo que a gente está vendo, pelo menos nessa semana... Se bem que essas coisas são muito rápidas. Eu fui a Roma no final de agosto, e recebi o Financial Times no avião. Parecia que eu tinha ido a outro planeta, porque lá a crise já estava completamente decretada. E aqui não. Aqui estava "ó, que alegria, tudo de bom".

Esse é um aspecto curioso. O presidente Lula costuma dizer que a crise não vai atingir o país. A despeito do discurso político, isso também tem um efeito psicologicamente tranqüilizador para o país? Isso é importante para induzir a um certo comportamento a economia do país?
Mas não está adiantando, né?

E se ele chegar e disser: "A coisa está ruim, vamos todos correr para o banco"...
Acho que isso não (deve ser feito). Mas como eu sou partidária do contato com a realidade no maior grau possível, eu acho que ficar com otimismo excessivo, que é o que alimenta bolhas - seja na economia ou na política -, eu acho que não funciona.

Ele dizia que não iria afetar, mas hoje já diz que pode afetar um pouco, há uma mudança gradual no discurso...
É. É complicado porque a força do boca-a-boca é muito grande. Eu estudei, do ponto de vista da psicanálise e da psicologia econômica, o que aconteceu aqui em 2002, durante a campanha presidencial. Foi um problema local, mas foi uma loucura. O risco-país quase bateu em 2.500 pontos, o dólar quase bateu em R$ 4. As agências de risco e a imprensa internacional diziam que em outubro daquele ano o Brasil estaria quebrado. Claro, essas coisas acabavam influenciando mais o mercado do que o (ex-presidente) Fernando Henrique e o (ex-presidente do Banco Central) Armínio Fraga dizendo que estava tudo tranqüilo e que os fundamentos da economia eram sólidos. É complicado saber como as informações vão chegar à população porque a realidade é percebida por cada um à sua maneira. Todo mundo enviesa para um lado ou para o outro. O fato de você dar determinadas informações não significa que as pessoas vão captar essas informações. Elas podem captar o oposto.

Você havia perguntado se o pânico não se realimenta. Sim, nós vivemos isso no período da inflação. Era exatamente isso. As pessoas achavam que o preço ia subir, então começavam a subir o preço. Porque depois subiria, e é claro que depois subia mesmo, de verdade. É muito fácil, sim, você alimentar uma espiral ascendente e é muito mais complicado você chamar as pessoas à razão. Porque a gente funciona, na maior parte do tempo, de um jeito primitivo e baseado em emoções.

Voltando um pouco no noticiário, o pacote de US$ 700 bilhões aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos, pelo seu próprio valor, vultuosíssimo, deveria ter, em certa medida, um efeito placebo sobre o mercado?
Depende de como o mercado perceber isso (o pacote). Pelo jeito, não está percebendo de uma forma muito otimista, não. O efeito placebo é muito poderoso, as pessoas podem realmente se sentir melhor só porque tomaram o placebo, se acreditaram que não é placebo. Então, eu não chamaria de efeito placebo. Eu acho que aí tem que ver como o mercado vai captar essa informação e se vai acreditar que é a solução. Por enquanto não está colando, não. Até porque o rombo de verdade... Eu já ouvi US$ 3,5 trilhões, US$ 13 trilhões... As pessoas nem sabem direito o que quer dizer isso, mas começam um a olhar para o outro: "você acredita? Está tudo perdido! Tudo perdido!". Aí pronto. É fogo no mato. Todo mundo acredita que está tudo perdido mesmo. Para recompor isso, vai demorar.

Terra Magazine

03 abril, 2009

3 anos de ideias e ideais! parabéns blog!!


"A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.
Desta forma, eu digo: Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo, a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais".


Mário Quintana