29 setembro, 2009

INGs – Indivíduos Não Governamentais




INGs – Indivíduos Não Governamentais – Reciclando a Cultura do Lixo

documentário produzido por Averaldo Nunes Rocha e Márcio Mitio Konno


A história de dois catadores de papel que tomaram atitudes inusitadas para promover cultura: Severino Manoel de Souza montou uma Biblioteca Comunitária com livros encontrados no lixo e José Luiz Zagati, exibe filmes de graça no Cinema montado na laje da sua casa.

Além de relatar esses dois casos incomuns, foi promovido um debate indireto com o sociólogo Reinaldo Pacheco, o então presidente da Funarte Celso Frateschi, o geógrafo Aziz Ab’Saber e o músico Tom Zé.

Esse documentário é o resultado do Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo da Uniradial, em 2007, que em sua primeira apresentação teve como público mais de 300 pessoas. Após a apresentação, o documentário passou a ser utilizado como material pedagógico na formação dos cursos de Comunicação Social da faculdade.

O Trabalho estrapolou os limites da faculdade e foi exibido em diversos locais como: Sesc Ipiranga, Semasa (Santo André), Uniradial Santo Amaro, Uniradial Jabaquara, Unifieo, Faculdade Cásper Líbero, USP, entre outros.

Também foi exibido em diversos cursos de preparação de trabalho e salas de aula como elemento para mobilização e protagonismo.



INGs - Indivíduos Não Governamentais
Averaldo Nunes Rocha / Márcio Sno Mitio Konno
www.ings.com.br
ings07@hotmail.com
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=41779300

26 setembro, 2009

Bar Leblon ensina preconceito


Fico impressionada em ver o quanto a nossa sociedade é ridícula e preconceituosa. Num misto de aparência de “gente-boa-descolada-sensual-alegre-carnavalesca-futeboleira” o brasileiro esconde sua face verdadeira: preconceito, ignorância, machismo, conveniência e intolerância.

Em Brasília (capital com IDH elevado e educação privilegiada segundo as estatísticas) o acontecimento no homofóbico Bar Leblon (208 sul) mostra o quão pouco democráticos, respeitosos e civilizados são as pessoas.

A notícia abaixo, publicada no jornal Correio Braziliense, não deixa dúvidas da cultura tacanha em que estamos inseridos. Um beijo no rosto – de homem com homem – não pode acontecer no boteco por ser contra os bons costumes, não ser "maneira adequada".

Porém, questiono-me (se for para entrar nessa mesquinhez de pensamento raso) se homens bêbados falando palavrão e vendo futebol é modelo de boa postura e exemplo a ser seguido (?), pois foi exatamente nesse cenário que se deu o imbróglio que foi parar na delegacia.
Uma pena ter que assistir homofobia em pleno século XXI na capital do Brasil e não ter mais noção de quais são os bons e os maus costumes...


Leia abaixo a notícia

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Beijo entre homossexuais vira caso de polícia na Asa Sul

Após trocar uma carícia no rosto, dois amigos homossexuais são convidados, pelo dono do bar onde estavam, a se comportar de "maneira adequada". O caso para na delegacia



por Naira Trindade

Publicação: 26/09/2009



Cinco amigos atores — todos homossexuais — sentaram-se a uma mesa de bar. Um beijou a face do outro como demonstração de carinho. A atitude causou irritação no proprietário do estabelecimento, que pediu que os jovens se “comportassem” enquanto permanecessem no local. A intimidação constrangeu os rapazes e eles se retiraram do espaço. A noite que deveria ser de diversão terminou na 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), com o registro de uma ocorrência sobre ofensa ao direito à personalidade, garantido pela Constituição Federal.

As vítimas não formam um casal homoafetivo. Jonathan Andrade, 27 anos, e Eduardo Dutra, 25, são amigos. Na última quarta-feira, eles escolheram o Bar Leblon, na 208 Sul, para uma conversa regada a chope. Chegaram às 23h e pediram as bebidas. Antes mesmo que elas fossem servidas, Eduardo abraçou o amigo Jonathan e afirma ter lhe dado um beijo no rosto. Em menos de 10 minutos de permanência do grupo no bar, o gerente José Geraldo Vieira aproximou-se educadamente e pediu que os dois não se abraçassem ou se beijassem enquanto estivessem no local.

A repressão causou indignação nos jovens. Eles se levantaram e acompanharam o gerente que se retirava após passar a mensagem. Queriam saber qual era o problema em manifestar afetividade em um espaço aberto ao público, como um bar. “Dava para perceber o constrangimento do gerente ao fazer o pedido. Parecia uma recomendação do superior dele”, observa Dutra. Durante a conversa, Pedro Diniz, 27, um dos três proprietários do estabelecimento, apareceu e convidou os jovens a continuar aquela conversa na calçada do lado de fora do bar, distante das mesas de clientes que assistiam a um jogo de futebol e ouviam música alta.

“Fomos levados para fora do local e lá o proprietário disse que não queria esse tipo de atitude (beijo entre pessoas de mesmo sexo) no bar dele, como se estivéssemos fazendo algo errado”, revolta-se Eduardo, que tem uma relação estável com um homem há cinco anos. Nem Jonathan nem Eduardo sentem vergonha em assumir a homossexualidade. O imbróglio envolvendo o grupo de amigos teria se iniciado na sexta-feira, dia 18, quando eles comemoravam um aniversário no mesmo bar. “Naquela noite, um dos nossos amigos deu um ‘selinho’ no namorado”, lembra Jonathan. Os jovens acreditam que o dono do bar lembrou-se do episódio e quis evitar que se repetisse.

Defesa
A versão é confirmada por Pedro Diniz, que alega que beijos excessivos — tanto entre heterossexuais quanto homossexuais — são reprimidos. “Se fosse um casal de heteros desrespeitando os outros clientes, a gente também pediria para parar. Nosso público é familiar.” Diniz garante que não expulsou o grupo: “Só pedi que eles se comportassem de maneira adequada. Não posso perder 10 mesas por causa de uma”.

A aversão a homossexuais — conhecida como homofobia — não é considerada crime no Brasil. No entanto, a discriminação contra raça, sexo ou gênero é crime de ofensa aos direitos da personalidade. “Todo e qualquer ato discriminatório deve ser terminantemente proibido. Se a atitude não foi nada que atentasse ao pudor de quem estava no local, ninguém tem o direito de recriminar. Eles são seres humanos e merecem respeito”, explica o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Jomar Alves Moreno. “A atitude cabe ação cível com direito a danos morais. Separar o local como ambiente familiar é outro erro. Homossexuais podem constituir uma família e adotar filhos”, completa.

Professora da Universidade de Brasília e doutoranda sobre relações homossexuais, Suzana Viegas complementa que existe uma proteção sobre a orientação sexual das pessoas. “O artigo 3º, inciso 4º da Constituição protege todas as pessoas de qualquer forma de discriminação, seja ela gorda, magra, negra, branca, hetero ou homossexual. E o fato de eles não formarem um casal só mostra que a ação foi arbitrária. É preciso ter respeito ao princípio da dignidade.”

O Núcleo de Atenção à Diversidade e Enfrentamento à Discriminação Etnorracial, Sexual e Religiosa (Nudim), da Secretaria Especial de Direitos Humanos do DF, acompanha há cinco meses episódios de preconceito na capital. “O órgão é novo e ainda não fizemos um levantamento da quantidade dos casos, mas estamos acompanhando e vamos verificar essa caso”, explica a chefe do núcleo, Carol Silvério.



PROJETO DE LEI

O artigo 2º do Projeto de Lei Federal 5003, de 2001, altera uma lei de 1989 que define como crime preconceitos de raça, cor ou sexo. No projeto, fica proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso a emprego, ou sua manutenção, por motivo de sexo, orientação sexual e identidade de gênero, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar ou idade, ressalvadas as hipóteses de proteção ao menor. O projeto prevê punição de dois a cinco anos de reclusão para quem discriminar outra pessoa pelas razões citadas. Àquele que impedir ou recusar o ingresso ou permanência em qualquer ambiente ou estabelecimento público ou privado, aberto ao público, a pena será de um a três anos de prisão. No entanto, o projeto tramita no Senado, sem previsão para ser votado.


TELEFONES
Denúncias de discriminação sexual podem ser feitas para o Núcleo de Atenção à Diversidade e Enfrentamento à Discriminação Etnorracial, Sexual e Religiosa (Nudim) pelos telefones 0800 647 1407, 3322-9368 ou 3224-4898.



Para saber mais


Beijaço para protestar

O corte da cena de um beijo entre atores de mesmo sexo na novela América, da Rede Globo, em 2005, gerou comoção nacional. Várias cidades do país promoveram um beijaço como forma de protestar contra o preconceito. A ação se repetiu em Brasília, quando um casal de homossexuais sofreu represálias ao se beijar à beira das piscinas da Água Mineral. Anos antes, em outubro de 2003, dezenas de brasilienses se reuniram no Bar Beirute, na Asa Sul, para se manifestar contra garçons que constantemente pediam aos casais de homens ou de mulheres que parassem de se beijar. Os funcionários argumentavam que o ato desrespeitava o local.

21 setembro, 2009

10 dicas para estimular a criatividade

por Raul Evaristo



Por mais que todas as teorias de educação preguem o contrário, o fato é que as escolas treinam as crianças para que busquem a solução CORRETA, não a criativa. A maioria das pessoas nasce relativamente livre para ser, com o tempo, continuamente reprimida até quase não sobrar idéias. Em outras palavras, a criatividade é inata; a “caretização”, aprendida.

Esse sistema predatório em busca de “resultados” torna a massa extremamente dócil, já que, em qualquer cultura, é preciso coragem para se ter idéias novas. E muito, muito mais coragem para expô-las. Quantos não pensaram que a Terra era redonda mas não eram machos o suficiente para dizê-lo? E que o homem e o macaco tinham um antepassado em comum? Mesmo hoje, quantos não reprimem idéias que poderiam levar a um mundo melhor apenas pelo medo do ridículo?

Pois é. Para se ter idéias novas é preciso motivação, encantamento, relaxamento e, acima de tudo, uma baita duma coragem. Com isso em mente, seguem mais 10 dicas:



Informe-se. A inspiração não surge do nada. Pessoas criativas normalmente conhecem a fundo os temas sobre quais opinam.



Desfoque. A pressão para pensar em um único tema é uma inibição latente. Por mais que falem maravilhas de se permanecer “concentrado”, é sempre bom ter em mente que esse processo restringe e limita idéias novas.



Busque experiências diferentes. Entre em contato com manifestações artísticas ou atividades físicas inéditas. Novos esportes, radicais ou não, tipos de dança ou coreografias como Capoeira, livros de autores desconhecidos ou inéditos para você (Dostoiévski, por exemplo). O mesmo vale para gêneros musicais e artísticos em geral.



Tire um tempo para si. Procure reservar de 15 minutos a meia hora por sessão, pelo menos umas três vezes por semana, para escrever, desenhar, tocar algum instrumento ou mesmo cochilar, sem ser interrompido.



Redefina visuais. Desenhe um mesmo objeto de vinte ou mais formas diferentes. Se não souber desenhar ou estiver com preguiça, procure fotografar um mesmo objeto de 50 formas diferentes.



Fotografe sua rua. Aproveite que câmaras digitais tornam a fotografia uma experiência barata e condicione seu olhar. Sem sair de casa ou de sua rua, fotografe texturas, folhas, cores, formas. Se aproxime de objetos cotidianos como tampas de bueiros e os explore visualmente.



Exagere. Amplifique detalhes de sua experiência ou de sua relação com o mundo. Veja seu cotidiano pela ótica de uma criança de seis anos ou menos. Transporte-se para um olhar diferente do seu.



Interrompa seu dia. Pare por alguns instantes e faça algo que demande atenção, de preferência física. Regue plantas, por exemplo. Isso ajuda a desfocar e quebra a concentração. Vá tomar um café, converse com alguém alheio ao problema (mas não se prenda ao assunto que está trabalhando).



Copie. Por mais que pareça feio, essa atividade não tem nada a ver com plágio, muito pelo contrário. Ao copiar uma obra pronta sem saber qual foram as etapas seguidas para sua realização, você é obrigado a refazer o caminho passo a passo. Nesse processo, muitos desvios aparecem, sugerindo soluções mais adequadas. Para tornar o tópico mais divertido, copie coisas que não têm nada a ver com seu trabalho: esculturas, peças de teatro, prédios etc.



Mova do literal para o pictórico. Desenhe, diagrame ou busque fotografias que ilustrem sensações ou situações cotidianas. O barulho de um mosquito, o cheiro de pipoca etc.
Mesmo que essas dicas todas não te ajudem, certamente não farão mal. Tenha em mente que aquele tipo focado e concentrado, o tipo que nunca se desvia do assunto, pode até ser bom profissional, mas é chatérrimo.

Fonte: Blog Arte e Desing Gráfico

19 setembro, 2009

Oficina de arte educação



Criativa essa oficina! Diretamente do blog Arte educação & meios da Samara Costa. Parabéns!

"Recolho cacos de espelho na rua sempre que os encontro.
Recolho objetos que, por algum motivo estão na rua, fragmentados, gastos, corroídos, magnificamente, sob um ponto de vista estético pessoal, prontos para serem expostos em um Museu de Arte.
Reorganizo cores, formas e texturas de imagens recortadas de revistas e jornais.
Também guardo todo o lixo não orgânico, resultado de meu consumo diário.
Com estas matérias primas, corto, rasgo, serro, furo, monto, prego, amarro, colo, grampeio...
Crio e construo metáforas.
Agora, ando às voltas com as sementes, procurando com elas, frestas entre o cimento e o asfalto para viabilizar sua (nossa) proposta de vida!"
Samara Costa

entrevista - Fernanda Torres

"Agora posso falar sobre drogas"

Longe do vício e sem medo de recaídas, a atriz abre o jogo sobre a sua experiência com cocaína e diz que hoje os antidepressivos viraram moda

Por Eliane Lobato Revista IstoÉ


Novos hábitos "Antes eu não ia a salão de beleza nem arrastada. Agora, fico lá duas horas"
A atriz Fernanda Torres está fazendo a sua estreia como autora de teatro com a peça "Deus É Química", em cartaz no Rio de Janeiro. Tratase de uma corajosa abordagem sobre o uso de drogas e de antidepressivos que termina fornecendo o número de telefone dos Narcóticos Anônimos. Aos 43 anos, Fernandinha - como é conhecida a filha dos atores Fernanda Montenegro e Fernando Torres - encara no espetáculo um tema que conhece bem. Nessa entrevista à ISTOÉ, ela conta que usou drogas durante anos - em especial, a cocaína, que considera "o pior demônio". A peça é uma comédia bem diferente do filme "Os Normais 2", grande sucesso de público e no qual ela forma um casal com Luiz Fernando Guimarães, também seu parceiro no palco. Mãe de dois filhos pequenos, Joaquim e Antonio, e casada há 13 anos com o diretor Andrucha Waddington, Fernandinha considera os remédios para regular humor uma espécie de droga contemporânea. "É a geração Rivotril", diz, referindo-se a um tranquilizante. Ela foi casada com o jornalista Pedro Bial durante dois anos e com o diretor teatral Gerald Thomas, por quatro. Hoje se considera "um exemplo". Além de falar de drogas, traição e política, faz uma bonita declaração de amor à mãe: "Ser filha da Fernanda é uma bênção."


ISTOÉ - Por que fazer uma peça sobre drogas?
Fernanda Torres - Eu tinha essa cena na cabeça, um casal de cariocas esperando o vapor (entregador de drogas), enquanto polícia e traficantes se enfrentavam a tiros do lado de fora da casa: um paradoxo da classe média liberal. Falar de drogas é um projeto antigo, de anos.

ISTOÉ - A sra. já usou drogas? Quais?
Fernanda - Comecei com maconha e fui até o pó.

ISTOÉ - Ainda usa?
Fernanda - Parei. Faz um bom tempo. Outro dia comentei isso: só posso fazer essa peça agora porque "vi Jesus" (risos). Sabia que faria essa peça apenas quando não tivesse mais culpa no cartório. Hoje eu posso.

ISTOÉ - Quando parou e o que a fez parar?
Fernanda - Tudo, sei lá. Acho que o que me bateu mais foi a saúde. A sensação que eu tenho é que a gente vai ficando mais velha e se vendo mais mortal. Mas, quando se é novo, queremos experimentar morrer. Quando eu olho para trás, penso: nossa, eu corri tantos riscos de morte na minha juventude. Não me arrisco mais assim. Depois que a gente se torna mãe, então, não quer se arriscar nem na ponte aérea.

ISTOÉ - A sra. subia o morro para comprar droga?
Fernanda - Não, não. Eu sou babona (medrosa).

ISTOÉ - Como a sra. pretende falar sobre drogas com seus filhos?
Fernanda - Acho que o máximo que os pais podem fazer é estabelecer uma relação de amizade. Meus pais fizeram assim: eles não deixavam usar drogas em casa. Sabiam que eu usava. Mas não se falava sobre isso, não se tocava no assunto. Eles eram uma espécie de freio mental.

ISTOÉ - A sra. foi uma adolescente difícil?
Fernanda - Não. Fui uma adolescente casmurra. E fiquei jovem depois dos 18 anos. Aí, fui ficando cada vez mais jovem. Eu cresci numa época em que a cocaína era dominante na sociedade, no mundo todo. E cocaína é uma droga horrorosa, talvez o pior demônio, um horror. Vi amigos embotados. O ecstasy eu não peguei.

ISTOÉ - Sua peça faz uma crítica severa às drogas.
Fernanda - Não sei, acho que não.

Acho que critica severamente o uso de antidepressivos, a droga da felicidade. Faz uma crítica feroz à cocaína, mas, ao mesmo tempo, fala que as pessoas sempre se drogaram, bebendo, fumando. Nós estávamos em dúvida se a peça seria vista como crítica ou apologia porque resgata a ideia dos anos 60, quando as drogas eram um caminho para o autoconhecimento. O lema era "Seja Marginal, Seja Herói" (obra do artista plástico Hélio Oiticica). O mito do marginal, do revolucionário, era encantador. Eu cresci nessa época. A direita estava no poder e nós tínhamos de fazer o oposto da direita, por princípio. Nas escolas experimentais, onde eu estudei, o refrão era a liberdade para tudo. Hoje ficou diferente.

ISTOÉ - Como é hoje?
Fernanda - Hoje todo mundo é deprimido. Se você tem uma tristeza, logo aparece alguém para aconselhar a tomar um remedinho para ficar bem, para não ficar ansioso. É a geração do Rivotril (tranquilizante). É remédio para regular humor, combater tristeza, emagrecer. Uma vez tomei um emagrecedor e falei: gente, desculpa, mas isso é igual à cocaína. Primeiro, eu fiquei com palpitação no coração e, depois, meio deprimidinha. Fiquei sem fome e excitada e, depois, muito angustiada. Já vi isso antes, só que tinha outro nome: cocaína. Antigamente, todo mundo fazia análise, hoje a psicanálise perdeu para a psiquiatria. Todo mundo tem um psiquiatra, é bipolar, e toda criança é hiperativa. Impressionante. Deve haver outra maneira de resolver nossos problemas que não seja tomando remedinhos, né? Isso eu acho muito sinistro. Marca o nosso tempo.

ISTOÉ - A peça termina aconselhando as pessoas a pensar bem antes de recorrer a remédios e drogas.
Fernanda - A ideia é baseada no livro do Antonio Damásio ("Homem na Escuridão"), para quem o medo, a angústia e todas as emoções básicas fazem parte do instinto de sobrevivência humana. Uma sociedade que escolhe não lidar com a angústia e o luto é uma sociedade que está abrindo mão de suas defesas. O que queremos dizer é: como você vai lidar com as suas angústias. Dá um jeito. Todo mundo que eu conheço que se drogou muito, recebeu uma conta dura lá adiante. Ao mesmo tempo, tenho medo de me tornar uma pessoa toda controlada e chata, que malha, que não se droga, nunca sai de si, consciente, ecologicamente correta.

ISTOÉ - A sra. é assim, toda certinha?
Fernanda - Sou. E tenho horror de mim mesma, às vezes. Realmente, estou um exemplo. Acordo cedo, cuido dos meus filhos, malho, mas eu estou virando um ser totalmente antissocial. Depois que tive meu segundo filho, passei a ter insônia. Outra noite, eu fiquei "fritando" na cama até cinco da manhã. Depois de uma noite assim, você vira um zumbi. Mas não tomo remédio para dormir, tenho medo de ficar dependente. Muito medo.

ISTOÉ - Qual seria a saída para o problema das drogas?
Fernanda - A descriminalização pode ser um bom caminho. Tirar a droga da área de polícia, crime, e levar para a questão de saúde. Tirar o glamour também ajuda a diminuir o uso, conforme já se comprovou. O cigarro já foi glamouroso e, hoje, fumar é out.

O adolescente que fuma é visto como um otário, um bobo. Essa é uma boa maneira de lidar. Lembro de um amigo meu em coma alcoólico com 14 ou 15 anos. É uma das imagens mais doidas que eu já vi na minha vida. Era o batismo dele, estava num rito de passagem, virando homem. Sinto que as drogas também têm esse papel na vida dos jovens.

ISTOÉ - A sra. e o Luiz Fernando Guimarães são amigos antigos?
Fernanda - Nós somos um casal (risos). Trabalhamos juntos, viajamos juntos. Fomos para a África uma vez e ele curou minha dor de corno do Gerald Thomas.

ISTOÉ - Por quê? Quando se separou do Thomas ele já estava com outra?
Fernanda - Sempre, né?

ISTOÉ - A sra. fez poucas novelas? Por quê?
Fernanda - A última que fiz foi "Selva de Pedra" (1986). Fiquei com medo de fechar contrato, tinha sempre um filme para fazer em algum lugar, eu queria ir para o mundo. E vi, também, que eu era muito imatura para gravações de tevê. Fui uma péssima funcionária na época dessa novela. Acho que não foi justo com a casa (Rede Globo). Fui irresponsável. Fiquei muito mal-humorada. Então, nunca mais quis me arriscar. Eu respeito quem me dá emprego, sabe?

ISTOÉ - Evitar a tevê não teria sido também fugir de um território onde sua mãe é soberana?
Fernanda - Acho que esse medo aconteceu mais no teatro. Eu busquei o cinema porque era um alívio para mim, não tinha o domínio da Fernanda Montenegro. O cinema foi muito importante para eu virar eu. Depois é que eu fui para o teatro. Minha mãe é como o Tony Ramos: eles seguram um elenco. Mamãe é uma tropa, um capitão. Tony é como a mamãe nisso. Mamãe é incrível. Ela dá a dimensão do personagem, do melodrama, do romance. Isso é mais que louvável.
"Minha mãe é muito especial, sempre nos deu liberdade para sermos o que somos. Nunca vi medo nos olhos dela, medo de que a gente não vingasse"

ISTOÉ - E como mãe, ela também é fantástica?
Fernanda - Minha mãe é muito especial, ela sempre nos deu muita liberdade para sermos o que somos. Nunca vi medo nos olhos dela, medo de que a gente não vingasse. Lembro de uma cena de teatro que fizemos juntas e que me dá vontade até de chorar. Eu e ela jogando cartas, com música de Richard Wagner tocando, as duas vestidas de palhaças. O ápice foi quando fiz uma peça com mamãe ("The Flash and Crash Days", 1993), aquilo para mim foi uma carta de alforria. Ser filha da Fernanda é uma bênção.

ISTOÉ - A sra. ainda faz dieta? Cuida muito da imagem?
Fernanda - Eu era uma adolescente redonda, grande candidata a obesa. Um dia, entendi que malhando ajudava a segurar a carne, que não bastava emagrecer. Hoje faço ioga e pilates. Eu não ia a salão de beleza nem arrastada. Mas, agora, tenho a raiz do cabelo branca, fico lá duas horas. Mas não me maquio. Silicone e botox, eu tenho medo. Meus peitinhos nunca foram grandes, mas tive dois filhos e eles continuam aí, meus amigos. Gosto muito dos meus peitinhos, sou feliz com eles.

ISTOÉ - Já tem candidato para as eleições do ano que vem?
Fernanda - Não. Mas acho que ter (José) Serra, Dilma (Rousseff), Marina (Silva) e Ciro (Gomes) disputando significa que melhorou muito, né? Pode ser interessante uma alternância de poder. Aprendemos muito. Me lembro da época da campanha do Lula para a Presidência, muitos previam uma catástrofe, uma vergonha quando Lula fosse nos representar no Exterior. E o cara arrebentou. Fomos bem nesses últimos 16 anos. Hoje temos um denominador comum, um país.

ISTOÉ - Que problema a sra. teve com o Carlos Minc, hoje ministro do Meio Ambiente?
Fernanda - Foi na época do filme "O Que É Isso, Companheiro?" (1997). A produção do filme marcou uma conversa minha com ele para tirar dúvidas e, no dia seguinte, tinha uma nota num jornal dizendo que o Minc tinha ouvido de alguém do elenco que era um filme totalmente desacreditado. Ele criou uma nota enquanto eu estava conversando sobre dúvidas. Mas hoje me dou muito bem com ele.

17 setembro, 2009

Palestra sobre o modo de falar dos candangos

UnB 50 ANOS

Será ministrada pela professora da Faculdade de Educação Stella Bortoni, sexta-feira (18/09) às 15h, no Auditório da Reitoria (campus Plano Piloto). A professora desenvolve desde 1980 pesquisas sobre a construção do linguajar característico do Distrito Federal, que se dá por três movimentos associados ao desenvolvimento de Brasília. São eles: do rural para o urbano; do oral para o letrado e do regional para o suprarregional.
>Informações pelo telefone: 3307 2210.

15 setembro, 2009

Lixo que vira arte não polui as águas











Hoje visitando o Blog Bem Legaus peguei esta dica de arte feita a partir de reciclagem.

As obras são de David Edgar (artista e professor aposentado da Universidade de Charlotte). Depois de 25 anos fazendo esculturas em metal, atualmente trabalha com garrafas plásticas de detergente e de diversos outros produtos O projeto se chama "Plastiquarium: recycled plastic art" (veja no link mais fotos) e as peças são esculturas incríveis.

14 setembro, 2009

O pai dos burros


sinopse:
O pai dos burros é o resultado de uma obsessão de mais de três décadas - desde os anos 1970, o jornalista e escritor Humberto Werneck coleciona expressões que, de tanto ser repetidas, tornaram-se lugares-comuns ou frases feitas. O uso indiscriminado tornou-as gastas, carentes de significado.


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Folha de São Paulo
Data: 25/8/2009

Dicionário traz surrados clichês para todos os gostos


Livro reúne 4.500 lugares-comuns, terror dos escritores; autor lança hoje


IVAN FINOTTI

É de tirar o chapéu. A faraônica obra "O Pai dos Burros - Dicionário de Lugares-Comuns e Frases Feitas", de Humberto Werneck, vai cair como uma bomba na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, onde o autor estará autografando hoje à noite.

O livro, ao qual não se consegue largar, traz 4.500 surrados clichês, divididos em 2.000 verbetes, reunidos nos últimos quarenta anos pelo combativo jornalista. Werneck não brinca em serviço. Sempre que ouvia uma pérola, anotava num guardanapo. Ou melhor: pérola não, mas uma "antipérola", como ele prefere.

Sim, porque quem não vive da língua de Camões pode ficar até vivamente impressionado com as frases feitas. Os lugares-comuns travestem-se de sabedoria dos antigos e podem dar a impressão de que aquele indivíduo está fazendo bonito e falando difícil como um comendador. No fundo, porém, são apenas clichês que lhe saem da boca pra fora (é o caso clássico do jogador de futebol).

Werneck cita em seu prefácio uma ideia luminosa da socióloga e cientista política alemã Hannah Arendt: "Clichês, frases feitas, adesão a códigos de expressão e conduta convencionais e padronizados têm a função socialmente reconhecida de proteger-nos da realidade (...)".

É curioso procurar as palavras que mais se prestam ao lugar-comum. Há, por exemplo, "tempo" (30 frases feitas no dicionário), "vida" (35; confira no quadro à esquerda) ou "mão", com nada menos que 47 registros: mão na roda, meter a mão, de mãos abanando, com uma mão atrás e outra na frente, lavar as mãos e passar a mão.

Em resumo, os clichês são uma tragédia; o livro é um excelente manual de como não fazer um texto e o título "O Pai dos Burros" se revela uma injustiça clamorosa para com os dicionários.

O texto acima foi composto com 20 frases feitas tiradas do livro e, se o leitor não captou a brincadeira, é porque o tiro saiu pela culatra (21 frases, agora) e demos com os burros n'água (22)

O PAI DOS BURROS - DICIONÁRIO DE LUGARES-COMUNS E FRASES FEITAS
Autor: Humberto Werneck
Editora: Arquipélago
Quanto: R$ 29 (208 págs.)

Poesia é trabalho




Manoel de Barros não se cansa quando fala de sua paixão pela palavra
Por Caco de Paula
Revista Vida Simples - 06/2008


Há quase 30 anos, quando li pela primeira vez Manoel de Barros, ele já não cabia na definição de “poeta do Pantanal”. É poeta e ponto. Um dos maiores do Brasil. Confunde-se às vezes com a grande planície por onde a água flui e transforma a paisagem, feito as palavras escorrendo por sua poesia, como nos versos em que as garças pantaneiras “enchem de entardecer os campos e os homens”. Manoel é quase sinônimo do Pantanal, pois, grande poeta, é quem mais bem sabe cantar a terra – a água, o lodo e o cisco – em que vive.

Embora o Pantanal seja ambiência freqüente de sua poesia, seu tema central é o nada, o desimportante, os trastes esquecidos e jogados fora. “Todas as coisas cujos valores podem ser disputados no cuspe à distância servem para a poesia.” Não se pode passar régua no Pantanal, ou no poeta. Penso nisso, agora, chegando a Campo Grande, para novo encontro com Manoel, quase 20 anos depois da primeira vez que nos vimos. Falo com ele na véspera de viajar a uma paradisíaca reserva de proteção da natureza no Pantanal, mantida pelo Sesc, em Porto Cercado, onde borboletas se passam por folhas e aves se fazem de galhos.

O próprio Manoel me recebe quando chego à sua casa. Aos 91 anos, continua com olhos brilhantes de moleque curioso que se encanta ao contar histórias. Discreto, um caramujo, Manoel tem andado ainda mais recluso. “Desde que João, fi lho mais novo, morreu no ano passado, não vou mais à fazenda.” Não ouve direito de um ouvido e não quer usar aparelho. Pede que o interlocutor fique à sua direita. Acolhedora, Stella, sua mulher, se despede para ir ao dentista. Pedro, filho mais velho, vez em quando espia na sala. Cuida para que o pai não se canse.

Manoel não se cansa quando fala de sua paixão pela palavra ou do sentimento de pureza infantil que inaugurou seu amor à poesia. Conta-me dos andarilhos com quem conversava na infância e de como influenciaram sua linguagem. Diz que conselhos não servem a artistas, que precisam é ter dom. Lembra a importância de educar os sentidos, ler, ver arte, ouvir música, encantar-se pelas coisas.

Não acredita em inspiração, mas sim em vontade. “Poesia é trabalho, em cima de harmonia, ritmo, rima. Sou prático pela palavra. Se me vem um desejo de fazer um poema e, depois de algumas linhas, me falta uma palavra, é à noite que ela me vem. Aí, acordo e anoto num caderninho. Stella, minha mulher, fi ca incomodada. Já veio a palavra, Manoel? Então dorme. Poesia é assim. O poeta é um visionário.” Contame que não relê sua poesia, que tem tédio dela, por já ter sangrado e sofrido a cada verso. Que agora não está escrevendo, pois se sente oco. Que sua poesia é perseguida pela natureza e pelas percepções infantis.Que ainda quando criança aprendeu a distinguir o canto do gorjeio. Manoel me diz, principalmente, que a poesia é para ele uma espécie de encantamento – e que, se sua arte de fazer versos for uma espécie de loucura, não quer ser curado dela não.

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Caco de Paula não sabe direito a diferença entre canto e gorjeio, mas espera aprender relendo Compêndio para Uso dos Pássaros e outros livros de Manoel. homemdebem@abril.com.br



08 setembro, 2009

Criativas gostosuras

Doce fraldinha, lembrancinha de nascimento... que tal?

Brigadeiro de colher! Legal, né?

Visitem o blog Kitcake da Fernanda Monteiro!
Criativas gostosuras...

04 setembro, 2009

Sono criativo

Divulgação Científica
Sono criativo
9/6/2009

Agência FAPESP – Problema difícil de solucionar? Faltou criatividade? Melhor deixar para lá e ir dormir. Segundo um novo estudo, o sono estimula a criatividade e a solução de problemas. A pesquisa pode ter importante implicações para entender como o sono, especificamente o sono REM, atua na formação de redes associativas no cérebro.

Sono REM (sigla em inglês para “movimento rápido dos olhos”), também conhecido como sono paradoxal, é a fase caracterizada pela presença de sonhos e maior atividade neuronal do que a fase não-REM.

O estudo feito por Sara Mednick, da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos, e colegas mostra que a fase REM estimula diretamente o processamento criativo mais do que qualquer outra fase do sono ou mesmo durante o período em que se está acordado.

O trabalho será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

“Verificamos que, para questões ligadas ao que a pessoa está trabalhando no momento, a passagem do tempo é suficiente para encontrar as soluções. Entretanto, para novos problemas, apenas o sono REM é capaz de aumentar a criatividade”, disse Sara.

Segundo ela, aparentemente o sono REM ajuda a chegar a soluções por meio do estímulo de redes associativas, permitindo que o cérebro estabeleça ligações novas e úteis entre ideias não relacionadas. Outro ponto importante é que essa característica não seria por conta de melhorias na memória seletiva.

Para identificar se as melhoras eram devidas ao sono ou simplesmente à redução de interferências – uma vez que experiências durante o período acordado interferem na consolidação da memória –, os pesquisadores compararam períodos de sono com períodos de descanso controlado sem qualquer estímulo verbal.

Aos participantes do estudo foram apresentados múltiplos grupos de três palavras e eles tiveram que falar uma quarta palavra que poderia ser associada com as demais. Foram feitos testes nas manhãs e no fim do dia, com os voluntários divididos entre três grupos: o primeiro que dormiu à tarde e atingiu o sono REM, outro que dormiu mas não atingiu essa fase e um terceiro que ficou em descanso sem dormir.

Segundo o estudo, o primeiro grupo apresentou um aproveitamento 40% melhor nos testes feitos após o período de sono, enquanto os demais não mostraram resultados diferenciados.

Os pesquisadores sugerem que a formação de redes associativas a partir de informações previamente não relacionadas no cérebro, que levam à solução criativa de problemas, seria facilitada por mudanças nos sistemas neurotransmissores durante a fase de sono REM.

O artigo REM, not incubation, improves creativity by priming associative networks, de Sara Mednick e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da Pnas em www.pnas.org.
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POR ISSO ADORO DORMIR, SONHAR E CRIAR HEHEHEHE