29 março, 2007

A mala quase sem alça

A encomenda era clara: "pinte a mala - bem diferente e personalizada - para mim, pois não quero que a minha se perca junto às milhares de pretas nos aeroportos de Portugal, Inglaterra e França"...

Ok.

Entendi o recado. O problema era qual tinta tecido sintético e muito poroso iria aderir...






Feita a primeira versão, a mala "engoliu" todo o branco... sninf....
O resultado foi desastroso... arght...



Depois de SETE camadas de tintas consegui finalmente uma "base"... rsss


Sentada no chão da cozinha (ai ai ai, quero um ATELIÊ GRANDE) fui pincelando...


Finalmente uma mala "personalizada feita no Brasil" para uma irmã!
Boa viagem amiga! Sei que se lembrará de mim por todo o percurso
hahahahahahha


Será que essa irá se perder no meio das pretas? rssss

Frase noturna...

E lá no lançamento do livro ela disse:

"Agora que já abracei o seu marido um monte vou ter que lhe abraçar também"...


E a vida continua...

25 março, 2007

Artes - eu recomendo


Fotos: Marcos Zacaríades


Depois de passar por Salvador, chega a Brasília Memorabilia, uma exposição que mistura arte com reminiscências pessoais da autora, a artista Mili Genestreti. São nove telas, nove objetos e uma instalação, cujo ferro é matéria-prima essencial.

Memorabilia, que em latim significa coisas ou fatos dignos de memória, é resultado de um verdadeiro "vasculhamento" de lembranças, segundo define a própria Mili, iniciado na fazenda Boa União, em Ibicaraí, a 470 quilômetros da capital baiana.

As obras são compostas de pedaços de tecido, prego, fios, objetos em cobre, limalha de ferro, rendas e vidros. Na instalação, são usados ainda vergalhões de ferro, luzes e sons de um coração humano. A idéia nasceu da pesquisa Claustro: uma poética do tempo e da memória, do mestrado em Artes Visuais que Mili cumpre em Salvador.

Formada pela UFBA, Mili Genestreti já participou de diversas exposições. Dentre as individuais, destacam-se as realizadas na Chapada Diamantina (2004) e na Itália (2006). As principais exposições coletivas foram Um Certo Olhar, no Museu de Arte Sacra (2000), Princípios Vitais, na Caixa Cultural de Salvador (2001); e O Banquete, no Museu Henrique Catarino (2003).

Local: Caixa Cultural (INFORMAÇÕES)

Data(s): 14 de março a 15 de abril;
Horário(s): terça a domingo, das 9h às 21h.

24 março, 2007

Três numa mesa de bar...

Homens discutem relação afetiva com outros homens. Depois conto essa história...

a linguagem...

"A linguagem é uma pele: esfrego minha linguagem no outro. É como se eu tivesse palavras ao invés de dedos, ou dedos na ponta das palavras"



Barthes

23 março, 2007

As pessoas surtam

Hoje recebi um e-mail “desaforado” de uma pessoa que julgava ter “bom-senso”. Ah, a tal relatividade! O que é bom-senso? De repente você encontra alguém na vida virtual e admira um texto, um artigo, uma postura. Em outras vezes acontece exatamente o contrário, você percebe que aquela pessoa não tem “nada importante a lhe dizer”. Até aí tudo bem. Não somos obrigados a concordar com tudo que nos deparamos no grande palco que é a internet. Todos com direito a expressar o que bem quiserem.

Depois da internet, acredito, as relações tomaram outras dimensões. Pessoas com dificuldades a, b ou c se se sentiram capazes de externar suas problemáticas. Outras continuaram a ser quem eram da mesma forma. Por outro lado, há quem se transfigure em múltiplos personagens, e por aí vai...

No mundo virtual se pode ser homem, mulher, criança, adulto, famoso, anônimo, a personalidade que se deseje apresentar. Não há um “checar” instantâneo como nas relações presenciais.

Eu já conheci e fiz grande amigos pela net. E, posso dizer que admiro a capacidade das pessoas que têm o “dom”, a predisposição, de formar vínculos, de interagir, de comunicar. Afinal, somos seres humanos sociáveis e comunicativos, produtores de linguagem complexa, o que nos diferencia das outras espécies animais.

No entanto, nem todos os indivíduos possuem o talento das relações humanas. Existem fobias, patologias, limitações, e uma série de dificuldades que impede uma pessoa de estabelecer interatividade e troca com seres da mesma espécie. Nem todos são iguais. É algo a ser respeitado.

Existem eremitas que resolvem viver longe da “civilização”. Há quem prefira o isolamento. Mas, em tese, precisamos conviver com o outro para sobreviver na condição de humanos, seres gregários.

O que me chama à atenção é a projeção. Segundo a psicanálise, é aquele mecanismo de defesa que consiste em atribuir a terceiros ou ao mundo que o rodeia os erros ou desejos pessoais. Aquilo que “inconscientemente” fazemos, atribuindo ao outro uma dificuldade nossa.

Vejo que a intolerância é crescente. O simples fato de receber e-mails “desagradáveis” pode tirar uma pessoa de sua compostura. Receber um panfleto pode fazer alguém ter uma atitude exacerbada. Levar uma fechada no trânsito pode terminar em tiro. Pergunto-me: cadê a racionalidade e o equilíbrio?

Talvez sejamos, na verdade, puros animais instintivos como são as antas, vacas, cavalos e rinocerontes etc. As formigas e as abelhas ainda são cooperativas. Mas, nós, mortais humanos ainda não descobrimos que certas posturas podem nos aniquilar. Há quem sobreviva dando coices, mas também poderá levar uma chifrada. A vida é incerta e a internet nos possibilita um lugar plural com animais de todas as espécies. As pessoas surtam!


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Abaixo o e-mail que eu recebi e toda minha lista de contatos teve a oportunidade de ler. O detalhe é que conversei com a autora da mensagem algumas vezes, inclusive por MSN. Uma "pessoa" que se dizia escritora e mandou esse texto em resposta à divulgação que fiz de um lançamento de livro.
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Cara Solange,

Creio que você seja a pessoa que um dia elogiou um texto de minha autoria que postei no "Recanto das Letras". Nessa ocasião, você obteve meu endereço eletrônico devido ao envio que fiz, a seu pedido, do texto em questão. Desde lá, você vem me enviando sistematicamente convites/propagandas de eventos no Brazil.
Por nunca termos conversado antes, prática importante para que duas pessoas venham a trocar emails, você não chegou a saber que moro na américa do norte, e que reservo esse meu endereço eletrônico para asuntos pessoais que façam parte do meu universo; universo que você desconhece. Sou da opinião de que o envio de emails pessoa > grupo deva ser feito com o consentimento de cada componente da lista de destinatários. Tenho fé, também, de que as trocas de emails pessoa <> pessoa devam ser preservadas e até fomentadas, para que a comunicação virtual que, a priori, tinha tudo para sustentar o mundo sensível de todos nós, não se torne canal de divulgação pessoal, propaganda política, comercial, religiosa, correntes etc. Acho tão desagradável receber correntes de boa sorte, quanto receber convites de uma pessoa que não quis trocar comigo mais de vinte palavras, para que se achasse no direito de encher minha caixa postal com mensagens que estão fora do meu universo. É mais do que válido mandarmos convites de eventos de amigos nossos, para nossos amigos, mas não sou sua amiga Solange, nada sabemos uma da outra, e, se um dia eu tivesse que te mandar um email seria primeiramente para saber um pouco de você e te falar um pouco de mim. Discordo desse expediente de se obter o endereço eletrônico de uma pessoa usando um caminho, para depois usar um caminho totalmente diverso para chegar a esse mesmo endereço. Hoje, quando nos cadastramos em algum site, respondemos um questionário onde informamos se queremos receber divulgações e também a natureza delas. Solange, você não me consultou a respeito. Não gostei do que aconteceu, dei um prazo, acreditando que os emails parariam de chegar. Mas isso não ocorreu. Sendo assim, por favor, visto que não houve de sua parte interesse algum em me conhecer, não gostaria de fazer parte de sua lista de contatos, uma vez que, nada que você envia faz parte do meu interesse.

Creio também, que não seja uma boa prática expor os endereços de sua lista de amigos, nos emails que você envia. Seria mais justo que você preservasse a todos usando a cópia oculta.

Desde já agradeço sua atenção, certa de sua compreensão

Helena

22 março, 2007

missão?

"no fim das contas o único objetivo do ser humano é COPULAR. Isso mesmo! Transar, fazer sexo, fazer amor (se preferir), gozar! tudo que se faz nessa vida é com o objetivo final: TREPAR. ganha-se dinheiro para TRANSAR, conquista-se poder para TRANSAR, acumulam-se bens para TRANSAR, vive-se para TRANSAR... Não tenho dúvidas quanto a isso".

21 março, 2007


outra frase

"Vivemos na jaula da carne" Roger

Frase do dia

A vida é texto.
Tudo é texto.

Solange Pereira Pinto

19 março, 2007

Big Brother Brasil

Quem vai ganhar o BBB?

Airton

Detalhe: Não assisto o programa.

Quer apostar?

Quanto?

Nova campanha Pão de Açúcar...

O que faz você Feliz?
"O que faz você feliz?"
A lua, a praia, o mar
Ser amado e amar
Brincar até cansar ou trabalhar
Correr sentindo o vento
Ou correr contra o tempo
Botar o pé no chão ou só sonhar
Um filme uma conversa boa
Passear e rir à toa
O que faz você feliz?
Acordar sempre tarde
Comer um chocolate
O que você prefere, então me diz
Não deixe a vida passar debaixo do nariz
O que faz você feliz?
O que faz você feliz?
O que faz você feliz?


Fonte aqui

18 março, 2007

Folga

Depois de duas cirurgias e tantos atropelos acontecidos no semestre passado, tirei uma folga. De tudo! Quero que os projetos fiquem por uns dias engavetados. Que as contas fiquem suspensas. Que os afazares se façam por si mesmos. Que as pendências adormeçam como eu. Que o mundo se revista de silêncio. Que as dores cessem por esse tempo. Que os e-mails esperem respostas. Que os emitentes não as cobrem. Que os livros se aquietem em suas páginas de histórias. Que os filósofos se calem, por enquanto. Que minhas mãos repousem agradecidas. Que meus olhos não busquem novas paisagens. Que minha voz se guarde por um momento.


Quero ficar de pernas para o ar!


Quieta! Ociosa! Amada! Cuidada!


Será possível?


E, continuar o sonho com Mr. Big...

As azeitonas






Coisas, lugares, cheiros, músicas, cores, gostos
trazem lembranças.
Minha memória está, hoje, perfumada de azeitonas.
Não tem vida sem caroços.
Não há percurso sem jogos.
Não vi exército de um homem só.
As olivas estão enfileiradas, aguardando.
Um passo. Uma bocada.
Um tropeço. Uma cuspida.
Por vezes se fica na salmoura, esperando.
A temperança. O acolhimento.
A verdade. O esquecimento.
Preferia a ebriez do vinhedo.
Mas, dos meus olhos só escorre o azeite.

15 março, 2007

Blogueiro na prisão...

12/03/2007 - 13h40
Egito confirma pena de quatro anos para blogueiro

da Efe, no Cairo


Um tribunal egípcio de Alexandria (norte do país) confirmou nesta segunda-feira a pena de quatro anos de prisão do blogueiro Abdel Karim Suleiman por insultar o islã e o presidente Hosni Mubarak.A advogada de Karim, Rawda Ahmad Said, disse que o tribunal confirmou a pena estabelecida em primeira instância no dia 22 de fevereiro e acrescentou uma multa de 2 mil libras egípcias (cerca de R$ 900).A advogada afirmou que pensa em apelar da segunda sentença nos próximos dias e disse temer o resultado final. "É uma sentença estranha e, para nós, imprevista", disse a advogada.A condenação confirmada pelo tribunal foi referente a dois crimes: três anos de prisão por insultar o islã e um por criticar o presidente egípcio, Hosni Mubarak.Em seu blog (karam903.blogspot.com), o egípcio crítica as instituições do país e do islã.




Fonte: Folha On-line

well???

De repente você faz uma discagem 21 e... surpresa! Ele não está lá! Já passou da meia-noite e o recepcionista do hotel indica: "ele não está no quarto". Você amarela no "Ok, obrigada". Desliga a chamada e pensa: "será que eu devo ligar amanhã?". ai ai ai...

Relax

Hoje fumei muito Narguilé. Falamos de amores impossíveis. Do bingo familiar. Da megasena filial. Rimos. Dormimos. Bebemos. Fumamos. Sem respostas, até porque não devíamos tê-las, passamos uma noite a mais na cidade. Ah, como há segredos no cotidiano!!! Pobres daqueles que pensam que viver é real. Agora lá vou eu para o meu edredon, curtir o frio do pé que não está ao meu lado. Beijão. soll

Frase de março

"É fácil ser engenheiro de obra pronta"

14 março, 2007

Incompetência pública

Desde agosto do ano passado tento receber um seguro desemprego (que tenho direito!), mas a burocracia, incompetência, desorganização do serviço público é TÃO GRANDE que até hoje não consegui recebê-lo!PQP!!! só xingando! Já entrei com quatro recursos e a coisa não anda! Esse Brasil é mesmo uma merda! O PIOR DO BRASIL É O BRASILEIRO!

De calça rosa e blusa preta

O calor pede refresco. Lá vou eu. A lista de boêmios está com problemas. Uns viajando. Outros casados. Alguns dormindo. E, ainda, tem quem nem atenda o telefone. Minha adrenalina noturna pede paz. Acabo o trabalho, dirijo os 40 km pensando para qual lugar ir. Páro na estação de sempre. Peço a latinha gelada, um copo de gelo e subo com um livro. "A vida sexual da mulher feia", de Claudia Tajes. Lá pela página 58, encontro a personagem Catilene, minha filha imaginária. Dou gargalhadas solitárias, e quase histéricas, enquanto escuto uma conversa de homens. Três. "O que mudou na relação entre nós foi minha maneira de olhá-la". Bonita frase. O papo estava tão interessante quanto as tentativas sexuais da feia. Com um olho no livro e um ouvido na mesa ao lado vou me divertindo. Os caras precisavam decidir como mandar uma mulher embora da casa. Um mulher que pelo menos dois deles já tinham transado. Enquanto a protagonista dizia suas estratégias para entrar na casa de um homem e ser possuída. Ficção e realidade se confundiam na noite quente. Entre goles e tragadas eu seguia pelos ponteiros do esquecimento. Queria conhecer o início da história da menina que poderia surtar ao ser expulsa pelo complô. Assim como queria saber o final da história daquela que poderia constatar que a "feiura é apenas um estado de espírito". Não cheguei nem a um, nem ao outro. Recolhi as tralhas, desci as escadas, paguei R$ 9,90, dei partida. Faróis acesos e com as pupilas anoitecidas dei tchau. Eu que me sentasse à beira das teclas para conduzir qualquer história, com início e fim.

13 março, 2007

Uma pausa


Depois de uma antes da próxima
Autora: Solange Pereira Pinto
Ano: março/2007
Técnica: fotografia (Pátio Brasil)
Prefácio
Este post ficará confuso e banal.
Introdução
Tenho lido muito. Visto muito. Ouvido muito.
Quantos pés tenho para tantos sapatos? Quantos braços para tantos adereços? Quantas cabeças para tantos chapéus? Quantos corpos para tantas roupas?
A vida está lotada.
De calorias, de pensamentos, de idéias, de vontades tolas, de desejos rápidos, de vitrines convidativas, de questionamentos, de livros.
A Terra está cheia de gente.
De músicas, de CDs, de DVDs, de vídeos, de MP3, de computadores, de exames eletrônicos, de cirurgias avançadas, de vacinas, de impressoras, de papéis velhos, de softwares, de fios, tomadas, de consumo de energia.
O planeta está sozinho.
Na fome, na doença, no frio, na angústia, no desamor, na piedade, no desemprego, na violência, no abuso, na guerra, na seca, nas queimadas, nas derrubadas, nos assassinatos, na carne viva, na morte.
Não escrevi nos últimos dias.
Faltam palavras. Elas se debruçam embaralhadas sobre a mente e imobilizam meus dedos. Tenho vivido de rascunhos de idéias, de temas relâmpagos em dias de sol.
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Um exemplo, a frase que me martelou por dias: "sofremos na medida da nossa necessidade de viver..."
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Outra, "engordar é engolir mágoas e angústias junto à comida..."
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Mais uma, "em setembro de 2006 começou o ano judaico de 5767..."
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Continuando, "a literatura brasileira da atualidade é escrita, predominantemente, por gays..."
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Ainda, "o inferno e o paraíso estão dentro de cada um de nós, basta escolher em qual ficar..."
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E, "cada período da história é feito por determinadas características de época; como se existisse um 'gene' que produz o homem que produz o que produz para ser história; uma lógica interna que permite a emergência dos saberes...".
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Melhor dizendo, "cada época histórica possui sua própria episteme, o solo do qual emergem os saberes, que ao mesmo tempo é'sua condição de possibilidade e também sua conformação..."
O universo é feito de dúvidas.
O discurso gera o pensamento ou o pensamento gera o discurso? Quem gera a ação o pensamento, o discurso ou a vontade? A existência precede o ser ou a essência vem antes? Quem pensa mais é mais infeliz do que quem pensa menos? O que é felicidade? A ignorância é que gera o caos? Ou o caos existirá independentemente de nossas vontades? A água vai acabar por atitudes negligentes dos humanos ou ela acabaria de qualquer forma neste ciclo da natureza que coincide com a época em que vivemos? Se as noções de sujeito são históricas, quem somos nós neste ponto da existência? Investir em cooperação, invés de competição, geraria um "mundo" melhor? O que é educar?
O cosmos é Deus.
Por que a necessidade de um Deus criador? Por que nós somos feitos à sua semelhança? Para quê serve o juízo final? Se é mais fácil um pobre de espírito passar para o reino dos céus, que vantagem se tem na vida evoluir o espírito? Por que vivemos na cultura da miséria e da pobreza? Por que ter sucesso é um desejo escondido e vergonhoso? Por que é melhor dar a outra face e ser humilde? Por que não crer no "Deus" bíblico é motivo de espanto?
Cada ser é uma galáxia.
Não saberemos para aonde vamos e nem de onde viemos. É preciso saber? Para quê perguntar? Não basta saber que vamos hoje à noite tomar um chopp com os amigos e dar boas risadas? Ou que esta tarde de sol promete piscina? Por que essa prisão de passado e de futuro, com um descaso com o presente?
Conclusão
Nem metade das idéias vieram até este blog, agora. Tomo um copo com água gelada. Teclo mais uma frase, para em seguida dar o "publicar", mesmo que ninguém vá ler. Assim, passei uma hora e produzi um rascunho para os próximos anos, de coisas que li no passado. Viver é paradoxal.

07 março, 2007

Frase - Dia da mulher

Mulher
Autora: Solange Pereira Pinto
Ano: março/2007
Técnica: mista







Mulher,

“É importante redescobrir seu papel sem atropelar o feminino, há que se conquistar os desejos sem perder a doçura...”


Solange PP
08/03/2007



Homenagem 2008 aqui

A Mulher Madura

Por Affonso Romano de Sant'Anna


O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos.


De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs. Vezes outras a entrevejo no espelho de uma joalheria. A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimé.


Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda.


A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo.


A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.


A adolescente, com o brilho de seus cabelos, com essa irradiação que vem dos dentes e dos olhos, nos extasia. Mas a mulher madura tem um som de adágio em suas formas. E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo e a sutileza de um oboé sobre a campina do leito.


A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos. Por isto as suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.


O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície. Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos, apalpa suas mensagens, decodifica as ameaças numa intimidade respeitosa.
Sei que falo de uma certa mulher madura localizada numa classe social, e os mais politizados têm que ter condescendência e me entender. A maturidade também vem à mulher pobre, mas vem com tal violência que o verde se perverte e sobre os casebres e corpos tudo se reveste de uma marrom tristeza.


Na verdade, talvez a mulher madura não se saiba assim inteira ante seu olho interior. Talvez a sua aura se inscreva melhor no olho exterior, que a maturidade é também algo que o outro nos confere, complementarmente. Maturidade é essa coisa dupla: um jogo de espelhos revelador.
Cada idade tem seu esplendor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago de juventude, um brilho de raquetes e pernas sobre as praias do tempo. Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo.


A mulher madura está pronta para algo definitivo.


Merece, por exemplo, sentar-se naquela praça de Siena à tarde acompanhando com o complacente olhar o vôo das andorinhas e as crianças a brincar. A mulher madura tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia. Descolou-se da superfície das coisas. Merece profundidades. Por isto, pode-se dizer que a mulher madura não ostenta jóias. As jóias brotaram de seu tronco, incorporaram-se naturalmente ao seu rosto, como se fossem prendas do tempo.
A mulher madura é um ser luminoso é repousante às quatro horas da tarde, quando as sereias se banham e saem discretamente perfumadas com seus filhos pelos parques do dia. Pena que seu marido não note, perdido que está nos escritórios e mesquinhas ações nos múltiplos mercados dos gestos. Ele não sabe, mas deveria voltar para casa tão maduro quanto Yves Montand e Paul Newman, quando nos seus filmes.


Sobretudo, o primeiro namorado ou o primeiro marido não sabem o que perderam em não esperá-la madurar. Ali está uma mulher madura, mais que nunca pronta para quem a souber amar.



(15.9.85)- O texto acima foi extraído do livro "A Mulher Madura", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1986, pág. 09.

06 março, 2007

Cuidado com o estresse...





"Mais vale chegar atrasado neste mundo... do que adiantado no outro . "

05 março, 2007

Eclipse: a vida em sombras

Sem título
Autora: Solange Pereira Pinto
Ano: março/2007
Técnica: mista

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Eclipse: a vida em sombras


Por Solange Pereira Pinto
03.03.2007



Março começou com eclipse total da lua. A terra se pôs entre o astro rei sol e o satélite lunar para fazer sombra. Ao contrário do eclipse solar, no qual a lua se coloca entre sol e terra. Por não ser um lugar comum o eclipse atrai atenção, olhares curiosos para o céu. É um momento para se perceber que a natureza é bem maior que nossos devaneios. É um instante para se notar que em um determinado intervalo de tempo, em rotações e translações infinitamente rápidas, os astros se movem e se postam em paralelas. O que isso me faz pensar? Tudo e nada.



Na quinta-feira passada(1/3/2007) um jovem se lançou de um andar do shopping Pátio Brasil (Brasília) até morrer no chão. É o oitavo caso e, eu fiquei sabendo, ao descer pelo elevador panorâmico, quando questionei a quantidade de policiais e seguranças no térreo, cercados por “fitas” de isolamento e proteção. Ao que se sabe, o “motivo”, foi por uma namorada que assistiu ao ato suicida.


O que isso tem relação com o eclipse? Tudo e nada. De repente o indivíduo se vê encurralado entre duas questões: viver ou morrer. Assim como a lua pode estar entre Terra e sol e a Terra entre sol e lua.


O que se vê é a sombra. A sombra das dúvidas, do incompreensível, do imponderável, da realidade perversa. Morrer em um shopping pode ter representações além de um caso amoroso. É um lugar de consumo, de aparência, de demonstração de poder. Matar-se pulando de uma ponte pode ter outros significados. Não estou aqui apontando verdades, mas elucubrando situações.


A pressão diária e a rotação das imposições econômicas e sociais nos fazem mover por “terras” incompreensivas e abusivas. Temos que sobreviver aos furacões da rotina e da selva urbana dia após dia, “intactos”, “soberanos”, “fortes”.


O dia-a-dia tem nos imposto capacidades e habilidades sobre-humanas para lidar com as intempéries cotidianas. Moradia, alimentação, escola, transporte, lazer, prazer e tudo o mais que a sociedade civilizada nos impele a acreditar como correto, oportuno, digno e necessário.


Não é para todos sobreviver a tamanhas exigências e compulsões. Somos animais, apesar de complexos pela construção e criação da linguagem, frágeis na estrutura emocional. Enquanto o “mundo” lhe pede para pisar sobre os outros para ser o predador bem-sucedido, há algo maior que reprime alguns a sobrepujar os semelhantes, ainda que diferentes.


Penso que viver no século XXI é quase um retorno à era primitiva, na qual se exigia mais força física para se manter incólume aos acontecimentos naturais e “civilizatórios”.


Já não sei mais o que é civilização, o que é natural, ou artificial. Nem mesmo quem sou e quem deveria ser ou não ser. Estamos na época do contraditório, do paradoxal, de se “matar para viver”. E é isso vida?


Assim, não somente jovens se jogam em vôos mortais por causa de suas sombras, mas toda sociedade está adoecida e enlouquecendo diante de tanta tecnologia, rapidez, estímulos e pressões. Somos, de certa forma, obrigados a ser felizes, bonitos, magros e ricos. Como se viver fosse entrar em uma máquina de fazer “gentes” iguais, ao final saindo quentinho do forno humanos padronizados.


Vivemos eclipses diários internos de emoções, razões, indignações e conformismos, cada hora um se postando frente ao outro. Os consultórios psiquiátricos estão cada vez mais lotados, os laboratórios farmacêuticos produzindo cada vez mais remédios tarjas pretas, os psicólogos se esbarrando em prédios comerciais, os indivíduos cada vez mais insatisfeitos e estressados. Crianças adoecendo de depressão e hipertensão, apatia e falta de concentração. Adultos impacientes. Igrejas em cada esquina disputando fiéis. Não sei em que momento “evolutivo” estamos, ou se é porque simplesmente a informação chegue mais rápido. Talvez tudo ainda esteja igual ao princípio...


A diferença é que nossos ancestrais tinham os astros e a natureza como deuses a temer ou reverenciar; que eclipse podia ser um fenômeno milagroso e sem compreensão; que se matar diante dos outros não tinha a conotação de “covardia”. Sei lá. Agora temos grades nos cercando e alguns querem ultrapassá-las. Suicídio não é a solução dos problemas para quem está de fora. Mas, sabe-se lá o que se passa dentro de um ser desesperado com “eclipses” internas. Não nos resta julgar, porém admitir que nossa “civilização” está adoecida e, por que não dizer, enlouquecendo. Já se disse por aí “de perto ninguém é normal”, alguém duvida?