31 dezembro, 2006

O calendário existencial

Por Solange Pereira Pinto


Confesso que hoje queria jorrar palavras bonitas sobre o papel.
Mas, os pensamentos estremecem as mãos lançando os vocábulos tortos.
Por vezes meus olhos me traíram mirando os arredores.
As retinas captavam o furta-cor das faces vizinhas, enquanto suas peles pálidas escondiam seus sentimentos purpúreos.
Tremeluziam, em mim, crenças coloridas.
Ainda era jovem.
Não habitavam as sensações fugidias que agora escorregam na curva do arco-íris, em um sumidouro de sol refratado.
Era menina-mulher.
Havia o pote, um tesouro, escondido de fé além da chuva, do cinza, da atmosfera falseada.
Necessitava da visão sombria, que revela os bolores humanos, para não mais permitir os açoites transvestidos de cordialidades amareladas.
Já mulher.
Enganei-me com tons de uma natureza que se transforma sem alterar a essência.
Os semitons, os meio-sorrisos.
Esbarrei-me na dificuldade de saquear os abrigos e praticar friamente rejeições desmotivadas.
Dentes a mostra, olhar verdadeiro, sinceridade tatuada no rosto, traiam-me novamente.
Teria que reconstituir as máscaras destruídas e picotadas pelo idealismo de se ser o que se é.
Teria mesmo?
Amadurecida.
Nas festas do final de ano, entre as luzes empoeiradas da antiga árvore de natal, lá vinha Papai Noel distribuindo suas caixas enfeitadas de mentiras e hipocrisias.
A ceia embusteira da meia-noite. A troca forjada de abraços ao redor de uma mesa de confraternização servida de mágoas, mexericos, orgulhos, vilezas e mesquinharias.
Era a comemoração maior do ser humano requintada de imperfeições intrínsecas aos mortais.
As badaladas do relógio, uma semana depois, avisaram a chegada do ano novo.
Entrava em cena mais uma convenção. O calendário do tempo, dos rituais, das obrigações, da falência familiar, do rebanho, da convivência artificial entre raposas, galinhas, patos e cavalos.
A folhinha animalesca, desgastada, do tempo existencial.
Pisei pela última vez sobre os cacos, sobre os restos de pó das mascarilhas, lavei o rosto novamente e não olhei para trás.
Aquele mundo não me pertencia.
O cuco que berrasse. Já estaria longe, junto às aves de mesma plumagem.
Sobrevoando como águia além do tempo, dos quadrúpedes, da estupidez.
Recolhida à escolha e não mais à obrigação.

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Feliz 2007 àqueles que sabem escolher...

Frase do milênio

"Cada vez menos acredito no homem.
Cada vez mais acredito na monstruosidade...
ela venceu.
A humanidade perdeu...
há tempos.
A natureza humana me causa
náusea, decepção e medo".

Quatro bebidas (31.12.2006)

1. champanhe
2. Vinho
3. Cerveja
4. Água com gás gelo e limão

A Casa do Tempo Perdido



Por Carlos Drummond de Andrade



Bati no portão do tempo perdido, ninguém atendeu.
Bati segunda vez e mais outra e mais outra.
Resposta nenhuma.


A casa do tempo perdido está coberta de hera
Pela metade; a outra metade são cinzas.
Casa onde não mora ninguém, e eu batendo e chamando
Pela dor de chamar e não ser escutado.


Simplesmente bater. O eco devolve
Minha ânsia de entreabrir esses paços gelados.
A noite e o dia se confundem no esperar,
No bater e bater.


O tempo perdido certamente não existe.
É o casarão vazio e condenado.

30 dezembro, 2006

Cinco prazeres (30.12.2006)

1. namorar
2. dormir
3. banho quente
4. massagem
5. bom papo

Saddam Hussein é enforcado... e agora?

ÚLTIMAS NOTÍCIAS...


De acordo com um dos advogados, as autoridades militares norte-americanas, que tiveram o réu sob sua custódia até poucas horas antes, teriam exigido do governo iraquiano que impedisse qualquer humilhação do condenado ou violação do corpo. “Os americanos queriam que ele fosse enforcado respeitosamente”, disse Najib Al-Naimi. Leia mais aqui

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Os americanos são de fato muuuuuuuuuuuito "respeitosos".

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Papa condena eutanásia e multidão critica Igreja em funeral

ROMA (Reuters) - Cerca de 1.000 pessoas, algumas gritando "vergonha, vergonha, vergonha", participaram neste domingo em uma praça de Roma do funeral de um homem que não teve serviço religioso católico porque ele pediu para morrer. Leia mais aqui.

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De fato a IGREJA é muuuuuuuuito "cristã"
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Sobe para 25 o número de mortos nos ataques no Rio de Janeiro

Rio de Janeiro, 30 dez (EFE) - A onda de violência no Rio de Janeiro, que começou com ataques na quinta-feira,deixou mais seis mortos hoje, elevando para 25 o número de vítimas nos atentados contra delegacias e ônibus. Leia mais aqui

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Estamos em 2007... NOVO MILÊNIO?

Para quê existem os livros?
o conhecimento adquirido?
os filósofos?
a literatura?
a ciência?
o HOMO SAPIENS?
que sabedoria é essa?

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Mundo imbecil de gente ignorante... estupidez é eterna já disseram muito antes...

Hipocrisia?

Estamos ainda na era medieval... de homens primatas... e capitalismo selvagem...

29 dezembro, 2006

Seis advérbios (29.12.2006)

1. onde?
2. aqui
3. quando?
4. agora
5. como?
6. surpreendentemente

28 dezembro, 2006

Sete autores inesquecíveis (28.12.06)

  1. Nietzsche
  2. Jacob Levy Moreno
  3. Soren Kierkegaard
  4. Fernando Pessoa
  5. Rubem Alves
  6. Lya Luft
  7. Milan Kundera

Oito trechos de músicas (27.12.06)

  1. “Eu faço samba e amor até mais tarde e tenho muito sono de manhã Escuto a correria da cidade, que arde E apressa o dia de amanhã...”
  2. “Você caiu do céu, um anjo lindo que apareceu com olhos de cristal me enfeitiçou, eu nunca vi nada igual. De repente você surgiu na minha frente...”
  3. “Preciso refrear um pouco o meu desejo de ajudar. Não vou mudar um mundo louco dando socos para o ar...”
  4. “Não vale a sombra no alto da escada que vela a vida aos olhos da lei... E acho que chega de fome e de praga, pois, penso que passam a fama e apaga...”
  5. “Meta sua grandeza no banco da esquina, vá tomar no verbo seu filho da letra meta sua usura na multinacional vá tomar na virgem seu filho da cruz...”
  6. “Te perturba esse amor, amor de juventude, Meu amor é amor de virtude. Te perturba esse amor, sem máscaras por trás, Meu amor é uma arte de paz....”
  7. “Quando fevereiro chegar Saudade já não mata a gente A chama continua no ar O fogo vai deixar semente A gente ri a gente chora Ai ai ai...”
  8. “Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso, porque já chorei demais Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei, eu nada sei...”

Faxina da virada




Recesso de boas festas é um bom momento para se “arrumar as tralhas”. De repente o Papai Noel despeja seu saco em nossas casas e hora de reajeitar a bagunça do ano. E haja saco! Saco de lixo, saco de paciência, saco de reinventar uma nova vida para o ano novo que se aproxima. Ontem foi dia de “faxinar” o quarto da criança que tem mais brinquedos que um dia pode conter. Pecinhas, jogos, panelinhas, coisinhas, bichinhos, bonecas, carrinhos, trenzinho etc., e haja fôlego para organizar, separar, e botar em ordem a desordem do ano, cuja pressa não nos deixa parar para manter os dias “arrumados” (se é que isso é possível). Agora, estou aqui na virada da meia-noite, assistindo “Sex and the City” (tão recomendado por uma amiga) e pensando a volubilidade da vida, pois viver é instável, praticamente incontrolável. Pensando nos dias perdidos, nas noites insones, nos desencontros, nas alegrias, nas decepções, enfim, refletindo sobre o ano. Ainda não estamos no dia 31 de dezembro, mas não há data certa para se rever propósitos, desejos, valores. Sei que 2006 (especialmente o segundo semestre) foi pancada para mim. Porém, é preciso renovar alguns itens da lista do viver. Encaixar melhor algumas peças do quebra-cabeça psicológico, consertar alguns jogos do poder capitalista e lançar novas estratégias, trocar as pilhas de vontades adormecidas, separar os dados da sorte das ondas de azar. Cuidar para que cada coisa volte ao seu lugar logo que findar (ou antes mesmo) o momento ruim e dar corda à brincadeira que nos faz feliz enquanto os olhos brilham, o tempo pára e o coração palpita. Perpetuar o que é bom é arte. Enterrar o que é ruim é virtude. E que 2007 seja um ano de arte e virtudes, acima de tudo lúdico, divertido. Sejamos sábios para que vida não vire simplesmente entulho!

26 dezembro, 2006

Nove características indispensáveis (26.12.06)

  1. inteligência
  2. amorosidade
  3. Respeito
  4. caráter
  5. gentileza
  6. disponibilidade
  7. compreensão
  8. humor
  9. admiração

Dez comidas que eu não gosto (25.12.06)

  1. rabada
  2. língua de “bicho”
  3. dobradinha
  4. sarapatel
  5. jiló
  6. alface
  7. folhas amargas
  8. cozido
  9. carnes com gordura
  10. frango ao molho pardo

25 dezembro, 2006

Mamãe Noel

(Autor desconhecido)


Sabe por que Papai Noel Não existe?

Que vai carregar nas costas um saco pesadíssimo, ele que reclama até para colocar o lixo no corredor?

Porque é homem.

Dá para acreditar que um homem vai se preocupar em escolher o presente de cada pessoa da família, ele que nem compra as próprias meias?

Que toparia usar vermelho dos pés à cabeça, ele que só abandonou o marrom depois que conheceu o azul-marinho?

Que andaria num trenó puxado por renas, sem ar-condicionado, direção hidráulica e air-bag?
Ele não faria isso nem pelo sorriso da Luana Piovani!

Mamãe Noel, sim, existe.

Quem pagaria o mico de descer por uma chaminé para receber em troca o sorriso das criancinhas?

Papai Noel ainda está de ressaca no Dia de Reis.

Quem enche a geladeira de cerveja, coca-cola e champanhe?

Quem providencia o peru, o arroz à grega, o sarrabulho, as castanhas, o musse de atum, as lentilhas, os guardanapinhos decorados, os cálices lavadinhos, a toalha bem passada e ainda lembra de deixar algum disco meloso à mão?

Quem lembra de dar uma lembrancinha para o zelador, o porteiro, o carteiro, o entregador de jornal, o cabeleireiro, a diarista?

Quem compra o presente do amigo-secreto do escritório do Papai Noel?

Deveria ser o próprio, tão magnânimo, mas ele não tem tempo para essas coisas.

Anda muito requisitado como garoto-propaganda.

Enquanto Papai Noel distribui beijos e pirulitos bem acomodados em seu trono no shopping, quem entra em todas as lojas, pesquisa todos os preços, carrega sacolas, confere listas, lembra da sogra, do sogro, dos cunhados, dos irmãos, entra no cheque especial, deixa o carro no sol e chega em casa sofrendo por que comprou os mesmos presentes do ano passado?

Por trás do protagonista desse megaevento chamado Natal existe alguém em quem todos deveriam acreditar mais.


Um grande abraço
Mamãe Noel!

24 dezembro, 2006

Um homem em onze adjetivos (24.12.06)

sem título (intervenção no livro de artista)
Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: mista
Data: novembro/2006

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1. sensível
2. simpático
3. honesto
4. sincero
5. carinhoso
6. gentil
7. cuidadoso
8. responsável
9. dedicado
10. gostoso
11. divertido

Papai Noel às Avessas

por Carlos Drummond de Andrade


Papai Noel entrou pela porta dos fundos(no Brasil as chaminés não são praticáveis),entrou cauteloso que nem marido depois da farra.Tateando na escuridão torceu o comutadore a eletricidade bateu nas coisas resignadas,coisas que continuavam coisas no mistério do Natal.Papai Noel explorou a cozinha com olhos espertos,achou um queijo e comeu.


Depois tirou do bolso um cigarro que não quis acender.Teve medo talvez de pegar fogo nas barbas postiças(no Brasil os Papai-Noéis são todos de cara raspada)e avançou pelo corredor branco de luar.Aquele quarto é o das criançasPapai entrou compenetrado.


Os meninos dormiam sonhando outros natais muito mais lindosmas os sapatos deles estavam cheinhos de brinquedossoldados mulheres elefantes naviose um presidente de república de celulóide.


Papai Noel agachou-se e recolheu aquilo tudono interminável lenço vermelho de alcobaça.Fez a trouxa e deu o nó, mas apertou tantoque lá dentro mulheres elefantes soldados presidente brigavam por causa do aperto.


Os pequenos continuavam dormindo.Longe um galo comunicou o nascimento de Cristo.Papai Noel voltou de manso para a cozinha,apagou a luz, saiu pela porta dos fundos.


Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes.


Este poema foi publicado no livro "Alguma Poesia", Editora Pindorama, em1930, primeiro livro do autor. Texto extraído de "Nova Reunião", Livraria José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1983, pág. 24.


Fonte: Releituras

22 dezembro, 2006

Encontro em 12 substantivos... (23.12.06)




1. olhos
2. lábios
3. corpos
4. pulsações
5. batimentos
6. sussurros
7. almas
8. personalidades
9. afinidades
10. humores
11. indivíduos
12.
entrega...

Saudade em treze verbos... (22.12.06)



1. olhar
2. conhecer
3. beijar
4. gostar
5. abraçar
6. desejar
7. amar
8. sonhar
9. realizar
10. alegrar
11. sentir
12. corresponder
13. esperar...
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Aqui começa a contagem regressiva....


20 dezembro, 2006

Por e-mail... para relaxar...



Chapeuzinho vermelho e os veículos de comunicação


Como encarar a linha editorial dos veículos brasileiros?
A melhor receita parece ser mesmo o humor.
"Como a imprensa brasileira noticiaria hoje a história de Chapeuzinho Vermelho?".


JORNAL NACIONAL (Willian Bonner): "Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo...". (Fátima Bernardes): "...mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia".


FANTÁSTICO (Glória Maria): "...que gracinha, gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?"

BRASIL URGENTE (Datena): "...onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? Cadê as autoridades?! Segurança!!! Cadê a polícia? A menina ia para a casa da avozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público! Isso é uma piada!! Esses políticos são uns brincalhões!! Ela foi devorada viva... Acorda autoridade! Um lobo, um lobo safado. Isso é um tapa na cara da sociedade brasileira. Põe na tela!! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não."


VEJA Chapeuzinho exclusivo: "Acho que não foi tão perigoso assim". "Relatório revela: Abin investigou ligações do lobo com o PT e as Farc".


CLÁUDIA "Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho".


NOVA Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama


MARIE-CLAIRE Na cama com o lobo e a vovó


FOLHA DE S.PAULO Legenda da foto: "Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador". Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos alimentares dos lobos e um imenso infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.


O ESTADO DE S.PAULO Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado aoPT


ZERO HORA Avó de Chapeuzinho nasceu no RS


AGORA Sangue e tragédia na casa da vovó


CARAS (Ensaio fotográfico com Chapéuzinho na semana seguinte) Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: "Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa"

PLAYBOY (Ensaio fotográfico no mês seguinte) Veja o que só o lobo viu".


ISTO É Gravações revelam que lobo foi assessor de influente político.


G MAGAZINE (Ensaio fotográfico com lenhador) Lenhador mostra o machado.

19 dezembro, 2006

Papai Noel brasileiro?


Hoje vi essa imagem na internet. Um papai noel quase submerso. Será ele um ícone do Natal brasileiro? Das enchentes? Das precariedades? Bem, mas lá vem o bom velhinho se esforçando para chegar... Boa sorte Noel!

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Mudando de assunto e não saíndo do tema:

Eba! Hoje é dia da festa de Natal do grande amigo Henrique!
Diversão e alegria!
Confraternização sem hipocrisia!
Brothers reunidos para o besteirol que desopila!
Vamos que vamos!
Inté mais!

18 dezembro, 2006

O esperado...


Título: Luz às avessas
Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: fotografia
Data: outubro/2006


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O esperado

“Esperar” é ter esperança, contar com, confiar em. É, também, ficar aguardando, não ir embora, não desistir... Isso quando se fala do verbo, mas indo para o adjetivo e substantivo masculino “esperado” se configura aquilo que já se prevê de antemão (redundante!); provável, previsto, esperável. Se o inesperado é o imprevisível, então, melhor falar em previsibilidades neste texto.


Enquanto espero chegar à hora de tomar o remédio da meia-noite, vou tecendo as elucubrações de irritantes probabilidades do cotidiano. Há quem não consiga “administrar” bem os imprevistos, por outro lado é também “ineficiente” aquele que não sabe lidar com certas previsões.


Se viver é tão incerto e somos tomados de sobressaltos que exigem alguma habilidade para tornar tranqüilo o momento seguinte, por que acontecimentos esperados são capazes de também causar transtornos, desassossego e desordem interna?


Cada indivíduo pode ter uma lista particular, de esperados e de inesperados, que lhe tira o sono. Confesso que esperar não é um verbo muito conjugado por mim, embora confiar eu flexione em vários tempos, modos, pessoas e números. De alguma forma me sinto menos “revoltada” com os inesperados (óbvio que nem todos). Mas, o inesperado é inesperado, por isso mesmo “incontrolável”, o que facilita o meu entendimento.


Pra quê falar de tudo isso? Nem eu sei. Vamos ver o que sairá daqui. Hoje tomei uma injeção que custou quase R$ 600, o preço foi inesperado, mas espero que cumpra os efeitos prometidos sem efeitos colaterais. Alguém me disse para tentar pelo SUS. Aí se chega a um ponto: a saúde pública no Brasil funciona de forma capenga, não é o que se espera (ou é?), mas é o que se encontra.

Da mesma forma, a Educação no país está mais do que perneta. O sistema está caótico, não é o que se espera (ou é?), mas é o que se encontra... Para falar mais diretamente da parte que “me toca”, a situação do ensino superior particular, em geral, é vergonhosa. Alunos muito despreparados e desinteressados (grande maioria) “comprando” seus canudos. Professores, coordenadores, direção cúmplices do cenário (nem vou falar dos proprietários que só visam quantidade e lucro). Alguém me alertou: “não ande na contramão, se é para aprovar, aprove”. Qual é a previsibilidade aqui? É chegar numa sala de aula cheia de disposição para romper o padrão (quebrar o paradigma esperado, porém indecente) e encontrar o “esperado”. Pior que isso, não saber como lidar com esse “esperado” que causa (pelo menos em mim) a sensação de impotência, incompetência e irresponsabilidade. Sei que não sou a única, é um dilema debatido na sala dos professores em várias instituições Brasil afora.


Ora, se alguém se propõe a fazer um trabalho “sério”, “correto”, como pode não entrar em conflito ao ter que “entrar no esquema”? É como o caso das propinas e corrupções que apenas aparentemente “assustam”, pois debaixo dos panos, no dia-a-dia, se faz a tal “vista grossa”.


Pelo dicionário, “imoral” é algo “contrário à moral, às regras de conduta vigentes em dada época ou sociedade ou ainda àquelas que um indivíduo estabelece para si próprio; falta de moralidade; indecoroso, vergonhoso”.


Vejo que hoje a conduta vigente no Brasil é “entrar no esquema”, ainda que, particularmente, para algumas pessoas, isso seja imoral. Para se ter o emprego, ou melhor, se manter no emprego é preciso não ver, não ouvir, não falar. Sábio presidente Lula que levou ao “pé da letra” essas negativas.


Atualmente, um professor que vê que o aluno não tem condições mínimas de passar não pode “enxerga-lo”. Assim como, um funcionário público que vê um sistema de corrupção, e é subalterno, não pode “enxergar” os colegas, chefes envolvidos etc. E, ainda, um médico não vê seu paciente "terminal" para abrir vaga a outro "menos comprometido".


Ter que sobreviver se adequando às “previsibilidades” do jeitinho brasileiro, ou dos costumes que estão se formando (ou já estão formados?) neste país, é revoltante. Fingir que não vê, que não se importa, que não se percebe, para se manter vivo é um aprendizado oneroso para alguns (dentre os quais eu me incluo).


No mundo contemporâneo é “esperado” (ou previsível?) que não tenha médico para todos, que não tenha vaga na escola para todos, que não tenha remédio para todos, que não tenha emprego para todos, que não tenha comida para todos, que não tenha moradia para todos, que não tenha sobrevivência para todos. Provavelmente, em outras épocas também era assim, a diferença é que eu vivo hoje, e não consigo simplesmente ignorar, ou, talvez, me conformar que eu deva ser cúmplice da covardia de não transformar a parte que me cabe.


Dizem. Ah, isso é utopia! (Uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade). É verdade, é utopia. Contudo, o que fazer diante da falta de capacidade ser unicamente realista? Não aprendi a ver apenas o concreto, vejo as paredes brancas com os inúmeros “possíveis” quadros que ainda se recostarão sobre ela. Vejo as páginas virgens com os inúmeros “possíveis” textos que ainda se deitarão sobre elas. Só não vejo como me calar, conter meu atrevimento, diante das “previsíveis” e “esperadas” situações que tendem perpetuar certas vilezas.


Fico por aqui. Chegou a hora de tomar o remédio da meia-noite, tão “esperado” e com resultados, talvez, “imprevisíveis”. Resta-me engoli-lo e acreditar que o efeito não seja inverso ao prometido. Ou será que preciso aprender que o "esperado" pode ser "imprevisível"?

17 dezembro, 2006

O inesperado...

Malabares na Torre de TV (domingo)


Performance contemporânea (sábado)

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O inesperado




A conversa está animada. O rapaz sobe as escadas com uma placa de metal. Ferro, talvez. Sai para a calçada. Meia-noite. Começa a arrastar o retângulo pesado. Joga no chão. Pisa. Pula. Salta sobre a placa. Arrasta novamente. O ruído metálico desliza pelo eco, pelo beco. Ressoa alto nos tímpanos. É visível a força do artista. O suor brilha na pele. Ele coloca o gel e ateia fogo. Um desenho se forma. Platéia atenta. Enigmática. Surge um rapaz e uma criança. “O que isso significa. Estou curioso. Você pode explicar”. A resposta vem encabulada. “É arte”. Ahn? “Isso é arte”. “Sim. Uma performance”. Uns sorrisos contidos e outros mais soltos estampam os rostos, enquanto a chama azulada queima e dança sobre o ferro amarelado. Uma janela se abre no andar acima. Um homem esbraveja. “Porra! Quero dormir! Caralho! Minha mãe trabalha amanhã o dia todo. Quer barulho, quer? Vou dar uns pipocos!” Os gritos ameaçadores competem com o espetáculo da construção artística contemporânea. Outra performance surge na cena. Um surto cheio de raiva e adrenalina. Estão todos ligados em emoções similares. Perplexidade geral. Vem o temor, o show acaba. Medo? Adrenalina? É o inesperado... da arte, do artista, da platéia, do pedestre, do homem que acorda, do metal aparentemente rígido que se contorce aos golpes do tempo, da criatividade, do....


...Domingo de chuva fina. Sol se deitou sobre a manhã e cedeu às nuvens um espaço no céu de Brasília. Torre de TV. Feira de artesãos. Passeio de famílias. Programa de namorados. Ganha pão de muita gente. Três malabaristas se revezam com nove malabares. Em círculo coreografam os objetos lançados acima de suas cabeças. Começa o espetáculo. As mãos hábeis e os olhos atentos conduzem o ritmo e o equilíbrio do vôo. Mudam a posição. Agora estão em fila. Continua o jogo. Novamente a acrobacia no ar. Um malabar cai no chão... depois outro... e mais um... É o inesperado... da arte, do artista, da platéia, do pipoqueiro, da feira, da...



...Escultura de fumaça rompe do piso ao teto. Forma um cilindro de luz e transparência. O menino golpeia o ar para romper o formato. O ar bambeia e outra escultura aparece. Ó vapor se transforma na imaginação dos expectadores. A visão recolhe a imagem das transmutações. Segundo a segundo outra configuração se torna possível. O homem entra na modelagem e seus cabelos sobem com o vento. As câmeras fotográficas tentam captar o que apenas os olhos vêem. Revela-se o inimaginável. Não está mais ali o cone. Nem menino. Nem o homem. A fumaça rompe do piso ao teto inaugurando novos estados de arte. É o inesperado... da arte, do artista, da platéia, da escultura, do homem, do menino, da mulher... do...



Pub lotado. É quinta-feira. Novamente as amigas vão dançar. A mesmice de sempre. Até que no fim da noite aparece alguém. Do nada. E entra na sua vida. Fica. Treme a pele. Dispara o coração. É o inesperado... da vida que não tem controle remoto, nem replay, muito menos manual...



Talvez viver seja mais simples quando se aceita o inesperado...


o momento... abrupto, acidental, acidentário, brusco, casual, episódico, estamarrado, extemporâneo, extraordinário, fortuito, impensado, impensável, impremeditado, impremeditável, imprevisível, imprevisto, incalculado, incalculável, inopinado, ocasional, repentino, subitâneo, súbito, surpreendente, infreqüente, incomum...



o natal vem aí...

Desenho: Contagem regressiva para o Natal (Lulu, 5 anos)

Mãe à esquerda e filha à direita festejando.
Muitas luzes, presentes e alegria.
Papai Noel vem aí trazendo surpresas.
O meu presente chegou no dia 7/12...
E que presentão!
O da Lulu chegará no dia 24/12 pelas mãos do bom velhinho.
É bom ser criança. A qualquer tempo. Em qualquer momento.
Só sei que minha menina interna está radiante e a externa também!
Bom Natal para todos! Cristãos ou não, o importante é desejar... e acreditar... seja lá no que for...

Frase no orkut

A frase abaixo eu pesquei no orkut, que ultimamente está LOTADO DE SPAMs (um porre!!). Mas, até que garimpando na lama surge alguma coisa interessante...


"Dizem que a intensidade é inversamente proporcional ao quadrado da distância. Qual será a distância segura?."

13 dezembro, 2006

ouvindo a música...

Na Paz
Orlando Morais


Meu amor onde esta você
Te liguei só pra dizer
Que a noite foi boa demais
Acordei e nem quis saber
Se hoje vou trabalhar, nem sei
Só queria ficar com você na paz
Que preguiça de levantar
Encarar a cidade
Ter que rir para não chorar
Meu amor que saudade
Da tristeza só de pensar
Pra que tanta maldade
Meu amor, meu amor...

12 dezembro, 2006

Ficção ou realidade?



Por Solange Pereira Pinto

Há muito queria escrever sobre o que distingue a ficção da realidade, se é que isso é possível. Vamos ao esboço dessa idéia.


Quem é escritor sabe que muitas vezes é tênue o limite que leva o leitor a "acreditar" que as cenas, ou os acontecimentos narrados no texto, foram totalmente inventados ou baseados em experiências reais.

Posso dizer, por mim, que vários dos meus textos são totalmente inventados, embora pareçam vividos. Acredito que essa é a arte de escrever, trazer uma verossimilhança que transporte o leitor à “ilusão da verdade”. É aí que ele se identifica e se apropria da história, reflete e transforma.

Mas, quando um texto parece absurdo e é relato “ficcionado” de algo experimentado por alguém? O escritor pode por firulas, pode acrescentar nuances, pode apimentar, porém a “trama”, o enredo precisa de algo, digamos, “lógico”.

No entanto, a vida da atualidade está recheada de “verdades inacreditáveis”. Distinguir ficção de realidade é cada vez mais difícil. Quantas vezes já ouvi histórias de amigos, conhecidos, que jamais supus serem possíveis.

Escrever é um exercício de criatividade, imaginação, e, mais do que isso, coragem. Confundir o protagonista de uma obra, o narrador, ou outros personagens, com o indivíduo que escreve (o autor) é um tanto comum. Até mesmo porque várias obras têm algo de “autobiográfico” (outras não).

O repertório que se utiliza para a escrita não necessariamente vem da própria vida do escritor, porém de alguma forma esta ligado a algo que ele acha “possível” existir. Os temas vêm dos mais diversos olhares. De releituras. De observações. De experiências (suas ou alheias). De pura imaginação.

Eu, por exemplo, que estou sempre blogando tenho a mania de inventar “fatos”. Exercitar a capacidade de reinvenção da existência. Sonhos? Fantasias? Desejos? Viagens surreais? Memórias? Um pouco de tudo isso e mais. Lembrando Pessoa, “o poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente”.

Por isso, hoje lendo a notícia do “Caso Litvinenko” (que supera a ficção, dizem escritores) fiquei pensando nas inúmeras possibilidades da escrita que podem e devem ir além da realidade, pois viver nos surpreende dia após dia. E, as bizarrices estão a solta.

Veja a nóticia abaixo.
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Por Paul Majendie



LONDRES (Reuters) - A vida supera a ficção. Para os escritores de romances de mistério, o envenenamento por material radioativo do ex-espião russo Alexandre Litvinenko é um caso típico em que a realidade supera a criatividade literária.

Cada novo desdobramento da trama macabra vem dando origem a novas teorias da conspiração, ressuscitando lembranças dos tempos da Guerra Fria e abalando as relações diplomáticas entre Rússia e Grã-Bretanha.

Litvinenko, enterrado na semana passada no mesmo cemitério londrino onde está Karl Marx, acusou antes de morrer o presidente Vladimir Putin pelo envenenamento, o que o Kremlin negou com veemência.

A caça a vestígios de radiação passou por aviões, hotéis e hospitais, de Londres a Moscou, de Roma a Hamburgo.

Frederick Forsyth, um dos escritores de suspense mais famosos do mundo, disse que seus editores jamais acreditariam numa trama dessas. "Acho que meu editor me aconselharia a abandoná-la e preferir alguma coisa mais realista", disse o escritor, que fez fama com "O Dia do Chacal", sobre um plano para assassinar o presidente francês Charles de Gaulle.

"Acho que meu editor me diria que eu estava exagerando e que eu devia dar um tempo. Está ficando muito difícil escrever alguma coisa que não fique superada, por mais bizarra e maluca que seja", disse ele à Reuters.

Fascinado pelo caso Litvinenko, ele afirmou: "É o que sempre aconteceu, e está ficando pior, primeiro dentro da Rússia, e agora, parece, para além de suas fronteiras. Não vimos esse tipo de assassinato por encomenda no exterior há 20 anos".

"Mas por que preferir esse jeito bizarro de executá-lo, deixando toda essa confusão como rastro?", questionou.

John Le Carré, cujos livros como "O Espião que Veio do Frio" evocam o clima da Guerra Fria, evita se envolver no caso. "Decidi resistir às perguntas sobre esse assunto", disse ele à Reuters, respondendo a um pedido de entrevista por email. "Com as provas que temos diante de nós confesso minha total perplexidade e não considero minhas conjecturas mais críveis que as de qualquer outra pessoa".

O soldado britânico que virou escritor Andy McNab, que ficou famoso com o livro de 1993 "Bravo Two Zero", onde narra uma missão fracassada do SAS (Serviço Aéreo Especial) na Guerra do Golfo, disse: "A realidade é sempre mais estranha que a ficção".

Assim como Forsyth, ele acha que não conseguiria vender a história para seus editores. "Tentar explicar essa trama para eles seria um pesadelo", disse McNab. "Todo mundo ficaria confuso".


o tempo não pára?

Mesa de trabalho no final do semestre
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Uma semana?



Domingo – pressa, preocupação, trabalho, jejum, insônia
segunda-feira – preocupação com a saúde, exames, ansiedade, trabalho
terça-feira – mais exames, correria, angústia, trabalho, gastos além do limite
quarta-feira – muito trabalho, correções, prazos, cabeça a mil por hora
quinta-feira – angústia, ansiedade, trabalho, festa, dança, surpresa boa
sexta-feira – adiamento da angústia, tempo curto, muitos afazeres, prazo, impaciência, reconhecimento, alegria, bom papo, tesão
sábado – bom-humor, atenção familiar, preocupação, alívio, DVD, noite deliciosa
domingo – coração disparado, família, crianças, trabalho, agonia, cinema, tensão
segunda-feira – sorriso murcho, avaliação, alunos, decepção, questionamentos, inquietação, telefonema especial, leituras e blogs


Eita roda gigante é a emoção da gente. Em um mesmo dia podemos passar por tantos sentimentos, que cada vez mais é certo pensar que não há nada previsível nesta vida. O relógio não sabe lidar com sensações. O ser humano, embora racional, fica à mercê das variáveis. Viver é uma equação tão inexata que melhor mesmo é deixar o sol invadir os poros e a lua acalentar o peito, pois o vento leva as nuvens, transforma. A qualquer hora pode ou não chover, pode ou não se ver o céu, pode ou não se levantar. Mas, enquanto há desejo o tempo pára de existir. Contudo, a roda continua a girar...

09 dezembro, 2006

Exposição livro do artista


Ontem (8/12) teve exposição do Projeto Alfarrábios, que promove a troca de livros entre artistas de Brasília para intervenções artísticas. Durante o ano fizemos alguns encontros e o resultado pode ser visto no Café com Letras (203 sul).

Eu, particularmente, fiquei satisfeita com o resultado do meu livro. Todas as intervenções nele feitas estavam ótimas.

O que me deixa triste é a dificuldade de articulação entre as pessoas. Como existe desinteresse, falta de engajamento e de comprometimento! Affff! O ser humano é bicho esquisito mesmo!

Mas, lá estavam os livros. Levei também uns "livros-alternativos" e outras produções. Os amigos do peito estavam lá (alguns deles hehehe).

Foi divertido! Ri, brinquei, tomei muita água com gás e curti as pessoas que realmente valem a pena, embora tenha sentido falta de outras.

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Sobre o Projeto:


Atenção...gravando!
Alfarrábios
– Livros de artista em Brasília-


Por Manoela Afonso

Quem, quando adolescente, não fez um caderno com poesias, desenhos e colagens? Ou quando criança não adorava rabiscar os livros e revistas de seus pais? Muitas pessoas carregam consigo diários ou cadernos de anotações onde rabiscam, escrevem, desenham, anotam o sonho da noite passada, registram compromissos, histórias, projetos, idéias e objetivos a serem cumpridos na semana que vem, no mês que vem, no ano que vem ou daqui a 30 anos. Esses cadernos, agendas, diários e livros revelam todo um processo de criação e de estruturação de pensamento.


Paulo Silveira, em seu belo livro “A página violada”, chama a atenção para o fato de que livros como os de William Blake (publicados entre 1788 e 1821) e cadernos de Leonardo da Vinci (dos séculos XV e XVI) poderiam muito bem ser considerados livros de artista. Mas esse termo só foi legitimado e conceituado por volta das décadas de 60 e 70, período em que artistas de diversos países se apropriaram do formato “livro” para realizarem suas obras.


Nos anos 80 o livro de artista muitas vezes caracterizou-se pela sua forma ousada de livro-objeto. Artistas passaram a desenvolver um “não-livro”, ou seja, um objeto artístico em forma de livro, mas destituído de toda a sua função literária. As técnicas utilizadas eram as mais diversas: desenho, colagem, pintura, gravura, xerox, escultura. Seus formatos e materiais variavam muito, de papel e madeira a ferro, cerâmica, entre outros.


Em Brasília existe um projeto de troca de livros de artista chamado Alfarrábios que teve início no dia 18 de março deste ano e a sua proposta é reunir artistas para a troca de poéticas, registros e olhares através do livro-arte. Durante os encontros de troca, cada livro, já com algumas intervenções, foi apresentado por seu autor e, em seguida, realizou-se um sorteio para a definição da troca. Cada livro torna-se, então, uma obra coletiva sempre em construção e em infinita transformação.



Blogs do Projeto aqui e aqui
Blog de livro-arte e outros

Beirute, chuva, cerveja e gargalhada


Sentiram minha falta? hehe

Estava prá lá de ocupada!

Mas, na quinta-feira fomos ao Beira comemorar o niver da Selena.

Muita ceveja. Bons amigos. Ótimas risadas. Ponto para a Bianca que uma figuraça!

Ri demais.

Eis que começa a chover.

O cunhado da aniversariante não teve dúvida.

Sacou o guarda-chuva vermelho e protegeu as damas.

Isso que é atitude!!

Em outras mesas do bar também se avistavam outros guardas-chuva.

Disposição é o que move o ser!

Amém!

06 dezembro, 2006

O velho Mal... por anos... Parte I – Gustave Flaubert

Por Solange Pereira Pinto

Não sei que nome dar a este texto. Nem o título eu consegui conceber muito bem. O fato é que estou encantada (ou viciada?) pelos “desabafos” de Gustave Flaubert. Por isso, resolvi fazer uma escavação e apresentar no Mal de Montano pedaços de trilhas.

A vontade mesmo era dizer a todos: LEIAM. Então, eu digo: LEIAM.

No entanto, para quem sabe despertar um desejo, não me contenho e vou divulgar uns sublinhados. (É. Eu tenho o péssimo hábito de marcar os livros que me marcam. Talvez, uma doce vingança. Além de fazer meus comentários nos mínimos espaços brancos que circundam as palavras impressas, sejam agradáveis ou não).

Não quis “interpretar”, pois como disse Kierkegaard cada um que leia (de preferência o original, que não é aqui o caso) e tire suas próprias conclusões. Apesar de que “selecionar” já é uma maneira de induzir o outro a um olhar “prévio”. Tatarará! Vamos nessa!

Gustave Flaubert (1821-1880) começou a escrever “Madame Bovary” em 1851 (aos 30 anos) e finalizou a obra em 1856. Isso é o que diz “Cartas Exemplares” (Ed. Imago, 2005, tradução de Carlos Eduardo Lima Machado). Mas, a verdade é que Flaubert inicia sua devoção pela escrita ainda menino, por volta dos dez anos.

As correspondências estão “divididas” em três partes. Infância. Os anos de aprendizado (1821-1851). Os anos de Madame Bovary (1851-1856). De Salammbô a Bouvard et Pécuchet (1856-1880)

Na primeira parte do livro, as correspondências enviadas a Ernest Chevalier, Gougaud-Dugazon, Louis de Cormenin, Alfred Le Poittevin, Maxime du Camp, Louise Colet, Louis Bouilhet, Mme. Anne-Justine-Caroline Flaubert (sua mãe) revelam a ansiedade, os obstáculos, a obsessão e as dúvidas do futuro autor de Bovary em relação à arte de escrever.

Em muitos trechos ficam claros os conflitos vividos tão jovem. Ele que, por assim dizer, já “sofria do Mal de Montano”, a “doença diagnosticada” na obra de Enrique Vila-Matas. Então, nessa brincadeira do “Mal”, vamos a algumas passagens.

Diz para Ernest Chevalier, aos 18 anos: “[...] se eu vier a tomar alguma parte ativa no mundo será como pensador e desmoralizador. Eu serei obrigado a dizer a verdade, mas ela será horrível, crua e nua.” (p. 18).

Aos 21 anos escreve à Gougaud-Dugazon: “[...] Mas o que me freqüenta a cada minuto, o que me tira a pena das mãos quando estou tomando notas, o que me faz deixar o livro quando leio, é meu velho amor, é a mesma idéia fixa: escrever! É por isso que não faço nada, embora me levante bem cedo e saia muito pouco” (p. 19).

À Alfred Le Poittevin revela: “[...] A única maneira de não ser infeliz é encerrar-se na Arte e contar como nada todo o resto; o orgulho substitui tudo, quando está assentado sobre uma base firme. Quanto a mim, estou de fato muito bem, depois que aceitei estar sempre mal”. (p. 21).

“[...] Estou me tornando artista com uma dificuldade que me desola; vou acabar sem escrever uma só linha. Creio que poderei fazer coisas boas; mas me pergunto sempre, para quê?”. Trecho da carta enviada à Máxime du Camp em 1846. (p.24).

Já Louise Colet, poetisa, amante e confidente de Flaubert, recebe a maioria das correspondências disponíveis na primeira parte do livro. É para ela que ele descreve mais profundamente a si mesmo, das contradições, paradoxos, aos “piores e melhores” sentimentos quanto à vida, aos críticos, e ao ato da escrita. A angústia, decepção, instabilidade, euforia e persistência acompanham suas linhas. Alguns fragmentos a seguir:

“[...] A deplorável mania de análise me esgota. Eu duvido de tudo, e até mesmo de minha dúvida.” (p. 25).

“[...] Eu sempre evitei colocar algo de mim em minhas obras, e no entanto coloquei muito.” (p. 27).

“[...] Eu escrevo para mim, só para mim, como eu fumo e como eu durmo. É uma função quase animal, de tão pessoal e íntima”. (p. 34).

“[...] Há dias em que fico doente e em que, à noite, tenho febre. Mais eu avanço e mais eu me acho incapaz de alcançar a Idéia. Que mania esquisita essa de passar sua vida a trabalhar sobre as palavras e a suar todo dia para arredondar períodos! Há momentos, é verdade, em que se goza, desmedidamente; mas em troca de quantos desencorajamentos e amarguras não se compra este prazer!”. (p. 35).

“[...] Me vejo tentado a abandonar tudo e fazer coisas mais fáceis”. (p. 36)

“[...] Não é um negocio fácil ser simples. Eu tenho medo de cair em Paul de Kock ou fazer Balzac ao modo de Chateaubriand.” (p. 43). Parte final da carta escrita à Louise Colet, em 1951, quando começa o romance Madame Bovary.

Em seguida, “Cartas Exemplares” traz o escritor atormentado com a elaboração do seu mais famoso romance. Contudo, essa parte eu ficarei devendo (nem vou prometer fazê-la tão breve! Às vezes me falta o ânimo tão bem descrito por Gustave).

Posso adiantar que as correspondências desse segundo período são fascinantes. Mostra um escritor refletindo profundamente sobre sua atividade. Um Flaubert mais maduro, e ainda assim com todos dilemas e inseguranças que parecem jamais abandonar quem decide viver para e pelas palavras. A terceira parte lerei amanhã.

É ler para ver além do que eu vi. Combinado?

04 dezembro, 2006

Frase do dia

"Estou bem depois que aceitei que tudo está mal"

(Gustave Flaubert)

03 dezembro, 2006

Momento comida... ai ai ai Jejum

Bom, como estou em jejum desde 20h para fazer uma pancada de exames (sangue! que meda!) amanhã, o que me resta é olhar comida!

Por que será que quando não podemos comer só pensamos nisso?

Aliás, qualquer coisa que não podemos fazer é a que mais nos vem ao pensamento...

Eta doideira!

Então, aí ficam as dicas de hoje em homenagem à minha abstinência temporária:


Blog do Marcelo Katsuki, maravilhoso!!!



Empório da Mata criado pelos especiais amigos Péricles e Lídia. Um lugar para amigos. Ambiente caseiro e com muita natureza a apreciar. Almoço aos sábados, domingos e feriados. Happy hour sextas-feiras. Vale a pena conferir.


E, Moinho Café (114 norte). Quitutes feitos por minha prima Onésia. Eu garanto que a moça sabe o que faz! Uma delícia para levar para casa ou mesmo comer por lá... Hum, já até sinto o cheiro do bolo e do pão de queijo...



Então, está com água na boca? Eu também! Mas não posso comer por 13 horas seguidas! ai ai ai!

Que a lua me encha os olhos para que eu não precise encher o céu da boca!

Até amanhã!

02 dezembro, 2006

Roger no Recanto das Letras, inconfundível!



Se você ainda não conhece o Rogério Silvério não sabe as gargalhadas que está perdendo!

Ele é um "agitador" do Recanto das Letras!

O "home" não pára!

Agora tem até Fã Clube Oficial!

ahahaahahahah

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Frase do Roger mandada pelo MSN: "o riso é o orgasmo da alma, SEM DEDOS VIU?"

Tá bom Roger, sem dedos rsss.

Resenha - desenho Disney - Carros



Carros máquinas humanas humanos carros

Por Solange Pereira Pinto



A gigante Disney comprou os estúdios Pixar (antes eram parceiros) e lançou no meio deste ano “Carros” (Cars), um desenho animado com excelente trama (já em DVD). Embora se trate de uma comédia censura livre, a animação nos faz refletir sobre o tipo de vida que levamos.


O protagonista Relâmpago McQueen é um carro de corridas estreante, ambicioso e arrogante que se acha capaz de ser campeão sem uma equipe. Ele tem talento e mostra seu poder. Mas, em um campeonato (a “Copa Pistão”) McQueen empata com seus adversários principais Rei, o ídolo e Chicks, o traiçoeiro.


Uma disputa na Califórnia é marcada para o desempate. No entanto, Relâmpago, que queria ser o primeiro a chegar ao local, acaba se “perdendo” no caminho para Los Angeles. Nisso conhece a Rota 66, praticamente desativada e a cidadezinha Radiator Springs, na qual é levado ao tribunal e tem que cumprir pena alternativa.

A partir da visão peculiar dos grandes centros urbanos, aos quais está acostumado, Relâmpago é desafiado a olhar um ambiente que lhe parece pobre e medíocre. Um lugar pequeno demais para caber sua prepotência e auto-suficiência.

É nesta parte que o filme começa a nos dizer onde estamos, cada um, nessa temporada competitiva que se chama vida. Podemos, por intermédio das alegorias dos carros esportivos e suas poderosas corridas rumo ao sucesso, verificar qual é o pedaço de estrada que nos pertence e quais cones queremos evitar ou derrubar durante os percursos que escolhemos andar, ou melhor dizendo, correr.

“Carros” é um desenho sensível, com diálogos e cenas bem-articuladas, além de uma beleza plástica em se tratando de recursos de animação. É realmente muito bem-feito. Da escolha dos personagens às paisagens percebe-se que houve uma preocupação com forma e conteúdo. Algo fundamental para que uma obra se torne importante.

Embora eu não tenha a mínima idéia em termos de bilheteria e audiência, ou até mesmo conhecimento sobre a crítica, posso dizer que “Carros” deveria se tornar um livro, um clássico moderno das histórias infantis, assim como tivemos os contos de fadas transformados em filmes pela própria Disney. Mostra valores, sem ser moralista demais ou piegas em excesso.

É raro um filme ser melhor que um livro, mas por que não transformar uma boa película em uma história impressa?

Ao terminar de assistir me recolhi entre os pneus e fui avaliar como estão minhas ferrugens, meu volante, o óleo, o combustível, e a lataria que tem me levado por autopistas e por trilhas de terras incertas. Fiz um balanço das minhas rotas para ver se ando atropelando cones e quebrando meus pára-brisas e amortecedores. Olhei minha quilometragem para verificar se ando desistindo da poleposition ou me arriscando ao podium. Parei no velocímetro para sentir como está minha velocidade. Correndo demais? Desgastando o motor? Fazendo reposição de peças? Dei uma parada no box para olhar minha equipe.
De repente, vi que preciso de algumas reformas. McQueen me ensinou, aliás, seus amigos de Radiator Springs me mostraram alguns parafusos que preciso apertar e a limpeza que devo fazer no porta-malas. Quem sabe trocar os faróis para enxergar asfaltos com novas cores e dimensões. Ou até mesmo me reconhecer um carro que já foi possante e que agora prefere passear por campos. Talvez, tenha me aberto as portas para sair velhos passageiros da minha existência e dar lugar a novos motoristas.
Afinal, quem guia é que sabe para onde o carro vai, se ele fica, ou se perde. Mas, que às vezes preciso de um caminhão Mack para me carregar, ah, isso é a pura verdade!

01 dezembro, 2006

Eclipse de fim de ano


Eclipse
por Solange Pereira Pinto
Num dezembro passado



Numa madrugada qualquer, um sorriso aberto, um olhar castanho.
Fala mansa. Beleza. Inteligência. Fino humor. E, atitude. Muita.
Conheci um sedutor. De alma. De gente. De amor.

Abri a gaveta das sensações.

Feito espelho da memória, reconheci. Minha face antiga.
Cai nos braços do meu esquecimento. Da sua vivacidade.

Abri a gaveta da entrega.

Cheiro de ilusão perdida. Pele firme. Corpo jovem. Mão habilidosa. Boca sedenta. Um desespero de amar guardado em labirintos de infância; quem sabe triste, de adolescência conturbada, de amadurecimento endurecido pela vida. Conheci um homem. De paixão. De arrebatamento. De inundação. Numa tarde decente, um sorriso singelo, um olhar tranqüilo. Um amor proprietário.


Abri a gaveta de limites a romper.

Deitados em travesseiros desfronhados de sonhos, sobre lençóis amarrotados de tempo, saídos de edredons de segredos. Juntos fomos. Mesclando sabores diversos. Sorvetes. Pistaches e chicletes. Maracujá e chocolate. Misturando samba, suor e cerveja nos clichês de orgasmos e coca-colas. Cantando ao vento alegria, descompromisso, prazer. Beijos de fumaça inebriada. Deleite das melodias dionisíacas. Alternando gargalhadas, supermercado, pernas entrelaçadas. De um coração inquilino.

Eclipse de meninice e maluquice.

Conheci a delicadeza. Do carinho. Do acolhimento. Do feitiço do bem-querer. Numa manhã amarela, um sorriso meigo, um olhar apaixonado. De um despejo intuído.

Abri a gaveta do contentamento quase incrédulo.

Os dias andavam por si mesmos. Na borra do café surgiam insígnias. Na linha do subliminar, insídias. Na caixa de mensagens o veto. Caiu o véu do pavor. A alma saltou do corpo. O coração embolou as batidas. O peito se contraiu. A garganta engasgou. Desconheci. Um outro ser surge. A dúvida. O medo. A decepção. Espalhada em cacos. Meias-verdades. Mentiras inteiras. Verdades plenas. Um cabaret de ciúmes, traições, sexo, correndo em um videoclipe do pensamento.

Eclipse de fantasia e loucura.


Conheci um homem-menino. De olhar confuso. De coração perdido. De aparição nublada. Numa noite chuvosa, um sorriso gelado, um olhar vago.

Perdi a chave de todas as gavetas.

Ressaqueada a alma perambulando erma. A alquimia dos golpes vividos no tribunal das incertezas. A réstia de lucidez. A compulsão de amar para ser amado. Um eclipse de dor e saudade. Num ponteiro árido, um sorriso duro, um olhar futuro.

Estava aberta a gaveta da razão.

Reconheci-me novamente. Minha angústia. Minha perdição. Minha busca ensandecida. Separados. Embalados em pesadelos particulares. Num amanhecer ensurdecedor. De olhos acordados. De sorrisos estremecidos.

Estava escancarada a última gaveta
da minha incapacidade de amar de qualquer jeito.

Eclipse de medo e consciência.
No meio de um dezembro passei.