29 novembro, 2006

escrever pra quê?

Criação feita por mim no livro do artista: "fome e sede de quê?"
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Poemete para dias fracos

quero escrever mas...
tenho preguiça
tenho vertigem
tenho limitação
incompetência mesmo.

quanto mais leio,
menor fica minha escrita.

as palavras dos outros crescem,
minha voz diminui.

fico procurando nos cantos das páginas
um buraco que me caiba,
mas não vejo.

é solidao.
há lotação.
desperdício.
imensidão.

e eu bem que tento escrever mas...
os pensamentos se confudem,
enquanto os dedos se desesperam,
resultando num branco.

sobrando um invisível de mim mesma
sobre os papéis vazios.

fica ao lado a caneta.
da ansiedade.
do passivo.
da ausência.

eu quero escrever mas...
tudo foi dito e eu preciso do silêncio...


Solange, novembro/2006 (ainda no rascunho...)

26 novembro, 2006

Remexendo esboços do passado...





Ontem dei uma "geral" nos desenhos guardados.
Houve um tempo (mais de 20 anos) em que eu pensava que seria artista.
É. Eu tentava uns desenhos com grafite.
Tentava umas telas a óleo.
Tentava lápis de cor.
Eu realmente acreditava que tinha talento para trabalhar com criação artística.
Arte, cultura, imaginação... atraíram-me desde muito nova.
Além de ler, que sempre foi um vício, perder-me nas horas do dia, das aulas chatas, do trabalho rotineiro, com lápis e papel era um prazer.
(ainda é).
Por motivos variados não investi na "profissão" de artista.
Tomei outros rumos. "Mais promissores". Me garantiam.
Vendo agora meus exercícios livres e auto-didatas (pois nunca estudei desenho etc), percebo que não era genial, mas também não era uma porcaria, digamos.
(ou era? rsss).
Acontece que esse vírus da arte não quis sair de mim.
Já mudei de profissão algumas vezes. E a arte sempre se manteve por perto.
Do meu jeito. Sem academia. Sem técnica. Sem rigor.
É no meu ateliê que eu me perco da realidade e me acho.
É lá, que passo horas e horas, tentando... criando... esquecendo que o mundo além daquela porta existe.
Embora seja exatamente esse "mundo do lado de fora" que me inspire a criar.
É, talvez, uma tentativa de recriar a realidade, que definitivamente não me agrada.
Passar o tempo com papéis, tintas, cola, sucatas e imaginação é acreditar que vale a pena viver.
Para quê?
Não faço idéia! Sei que me faz bem. Muito bem.
Olhar para o que já criei, ainda que amadorísticamente, me dá um prazer.
Prazer que acho tão raro encontrar no dia-a-dia do relógio que me obriga a sobreviver.
Prazer transformar.
Prazer de me entregar.
Prazer de olhar um "esboço" do passado e me encontrar nele, com alegria.
Prazer de me refazer a cada traço.
Prazer silencioso de olhar e dizer "eu fiz, e gostei de fazer".
Quantas coisas na vida realmente nos dão prazer?
Sei que fechar a porta do ateliê me leva por um templo de paz.
É minha religião.
É a forma que encontro de me encontrar.
Posso não ser "artista", mas sem arte não sei viver...

Soll, novembro/2006

Festival de cinema

Rapideira:

O Festival de Cinema continua em Brasília (aqui a programação)
Apesar de não ter visto nenhum filme, posso dizer que o Cine Café está muito interessante.
Lugar bom para tomar uma cerveja, bater um papo e rever velhas e novas figuras da cidade.
Confira!

24 novembro, 2006

Um agosto passado...


Noite

Hoje dormimos juntos pela primeira vez. Minha pele e sua voz. Num descompasso no peito, enchi-me de ternura e tesão. O coração bombeava desejos, os pulmões se comprimiam ao ar quente do seu corpo teso. A derme tremulante a cada beijo molhado. Macio. Sua língua sapeca por meu céu sedento. Minha brancura entregue ao seu deleite. Seus olhos verdes fitando minhas sardas. Meus dentes conhecendo o seu pescoço. Nossas mãos apalpando a fantasia. O cheiro da afinidade teclada me recordava os ouvidos. O timbre da sua delicadeza. A cumplicidade de signos gêmeos. A ousadia da solidão. Rolávamos sob os lençóis da ansiedade. Uma, duas, três horas de excitação contida. O ar não sossegava. Os pensamentos voavam. O medo de ser feliz. O silêncio das canções. A penumbra das cavernas. Lembravam-nos de amar. Paixão. Amor. Afeto. Alguém especial. Seu sangue todo pulsando, o meu se renovando. Minha voz e sua pele, do outro lado. Perto. Longe. Logo chegou a manhã sonolenta e gosto ensolarado de alegria na boca. (Soll, agosto...)
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Tá meio melado, né!
Mas, parece que paixão aboba e tesão mela...
Ai, ai, ai... saudade piegas!
...Da alegria na boca....
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22 novembro, 2006

Renato Russo



Reeditado recentemente, "Renato Russo, o trovador solitário", do jornalista e escritor Artur Dapieve (Ediouro), traça mais um perfil do consagrado músico do rock-pop-anos-80 da Legião Urbana. Mesclando depoimentos, entrevistas, recortes de jornais e letras de músicas (trechos) vai se construíndo um Renato, às vezes igual, noutras diferente daquele que "conhecemos".
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Vai aí um pedacinho:
"...Ele estava boicotando o próprio trabalho", concluiria Rafael. E embora ele mesmo, os colegas de banda e os amigos tentassem preservar e proteger Renato, isso era impossível. Pois o inimigo não estava "lá fora". "A gente sabia muito bem do que protegê-lo: da própria cabeça", contaria Denise Bandeira. "A única coisa que funcionava com Renato era trabalhar, era transformar sua vida em arte, era compartilhá-la"[...] "A idéia era mantê-lo sempre ocupado", explicaria Dado [...] "Então, a gente sempre incentivou muito essas coisas, que engrandeciam, davam força para ele"...
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"Você faz amor com 30 mil pessoas e vai para casa sozinho" (Janis Joplin)
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Para pensar...

"A gente lê o que precisa ou precisa daquilo que lê?" (Soll)

20 novembro, 2006

Lançamentos...


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Não perca também o SEMPRE UM PAPO, na terça-feira (21/11), no Teatro da CAIXA (SBS), 19h30min, com o jornalista e escritor Aírton Ortiz, lançando "Na Trilha da Humanidade" (Ed. Record). A entrada é franca, numa realização da CAIXA Cultural, e apoio do jornal Correio Braziliense, Radiobrás e TV Câmara.
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Ah, visitem também o fotolog do artista plástico carioca Gustave Canelli com desenhos e imagens de "cair o queixo". Aqui.
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Então, vamos nos movimentar!

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18 novembro, 2006

Nem todo computador dá pau....(miniconto)


Ao abrir a caixa de mensagens ela responde ao pai do bebê
(aquele que queria sempre notícias
e,ainda, marcar a "presença" pelos meios virtuais):
"- Ei! Não fiz filho por e-mail, certo?"
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17 novembro, 2006

Dias de fama e de fome... Carolina Reston...

Foto da internet sem identificação
(clique para ampliar a imagem)
Dias de fama e fome

Industrialização. Capitalismo. Consumo. Dinheiro. Sucesso. Dias de fama e de fome. Moda. Magreza. Passarela. Fama. Glamour. Modelo. Padrão. Seguidores. Obsessão. Compulsão. Dias de fome e de fama. Fast-food. Obesidade. Fracasso. Depressão. Bulimia. Anorexia. Distúrbios. Jovens. Tribos. Dialetos. Inclusão. Pobreza. Marginalidade. Exclusão. Século XXI. Dias de fama e de fome. Milão na mídia proíbe manequins magérrimas. Estilistas repudiam a novidade. Ana Carolina Reston morre. Jornais vendem. TV exibe. Dias de fama e de fome. Favelas. Coberturas. Carroças de sucateiros. BMWs. Pés no chão. Tênis importado. Dias de fome e de fama. Fotografias. Notícias. Arte. Cultura. Analfabetismo. Ignorância. Lixo. Caviar. Luxo. Feijoada. Suor. Perfume. Dias de fama e de fome. Tráfico de drogas. Tráfico de animais. Perita assassinada. Funcionários baleados. Corrupção. Escândalos. Dias de fome e de fama. Limites. Falta deles. Repressão. Ditadura. Liberdade. Fé. Igrejas. Fiéis. Amantes. Casamentos. Divórcios. Dias de fama e de fome. 15 minutos. Ícones. Estrelas. Big Brother. Chapinha. Plataforma. Anabolizantes. Músculos. Escopetas. Pó. Bonés. Correntes no pescoço. Dias de fome e de fama. Adoção de africanos. Hollywood. Queda de aviões. Assassinatos de jovens. Negros. Brancos. Gringos. Turismo sexual. Dias de fama e de fome. Xuxa. Barbie. Novela. Pagode. Best seller. Diploma. Emprego público. Propina. Dias de fome e de fama. Anos 60. Twiggy Lawson. Além de 2000. Jolie. Pitt. Madona. Jackson. Dias de fama e de fome. Maria. João. Pedro. Eu. Você. S/A. Vítimas. Algozes. Dólares. Desenvolvimento. Progresso. Dias de fome e de fama. Capitalismo. Consumo. Dinheiro. Sucesso...

Notícias sobre a morte de Carol Reston aqui. E mais... e mais...


16 novembro, 2006

Pensando no tempo...


"Talvez seja este o aprendizado mais difícil: manter o movimento permanente, a renovação constante, a vida vivida como caminho e mudança".

(Maria Helena Kuhner)
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14 novembro, 2006

Desafetos não dão parabéns?


Pessoal, está aí o bolo do niver (hehehhe). Estava muito bom! Brigadeiro! E a vela de uma formiguinha dançando em frente à árvore da floresta. Será que consegui, enfim, juntar formiga e cigarra?

Depois vou postar o balanço dos 39 anos! Pois, agora, a formiga vai trabalhar (dar aulas) e lá pelas 23h a cigarra entra em cena para voar pela madrugada (obaaaa! rsss).
Enquanto isso, algumas idéias me vieram a partir dos tipos de mensagens e de parabéns que recebi hoje...

Então, farei um texto explicando a foto "das duas eus prefiro a outra" que foi tirada num momento histórico familiar regado a frutos do mar (rimou? hahaha e é rima pobre! hahahha).


Fiquem aguardando curiosos. Assim que a ressaca trintenoveana passar, eu posto!


Um brinde aos 40! porque 39 já se foram! Estou de fato na quarta década de vida! Vestida de cor de rosa, como a menina da capa do livro que ganhei hoje "A louca da casa" (Rosa Montero, Ediouro, 2004.


Ah, ganhei também "Mastigando humanos" (Santiago Nazarian, Nova Fronteira, 2006) e "Como as grandes corporações decidem o que você lê" (André Schiffrin, Casa da Palavra, 2006). Todos a minha cara!

Além de flores e uma blusa azul!


Vem mais por aí... Até agora acertaram na mosca, que ainda bem não caiu na sopa. rsss.


Beijoes, beijinhos, beijocas


Soll, quase quarentona!

ganhei este poema de niver...

SELVAGEM SOLANGE


Não domada, não domesticada!
A fera que há em ti estraçalhou
Os dias que levam ao nada!
Flutuas na noite que te ilumina,
No clarão da lua tua alma cintila
Tanto quanto a estrela magnânima
Que brilha no abismo de flores dos teus olhos!
Feroz, bravia, moras nas nuvens
E no arco-íris ígneo que pintaste no teu sonho!
Evocas a ternura azul da criança adormecida,
Bailando sob as lágrimas douradas da Poesia.
Atravessas a alameda do tempo
Cortando os liames do mundo,
Este mundo encavalado de dores!
E encastelada ricamente
No fundo de teu maravilhoso ser
Gargalhas, zombeteira,
No êxtase do silêncio da solidão,
Alcanças assim o zênite de teu próprio ser!
E assim, noite após noite,
Treva após treva,
Sombras após sombras,
Nos mistérios da vida,
Tu, selvagem Solange,
Voas com tua mente
Nas supremas selvas da liberdade!




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ah, Roger, obrigada, me sinto mesmo selvagem nessas paisagens da vida!
bjao

13 novembro, 2006

Dentre tantos outros uma lista de livros....

EXPRESSAO E SIGNIFICADO (em Português) (2002) SEARLE, JOHN R. MARTINS FONTES FILOSOFIA
Preço = R$ 43,60

FILOSOFIA, RACIONALIDADE, DEMOCRACIA (em Português) (2005) HABERMAS, JURGEN / SOUZA, JOSE CRISOSTOMO DE / RORTY, RICHARD UNESP FILOSOFIA
Preço = R$ 37,00

CONSCIENCIA MORAL E AGIR COMUNICATIVO (em Português) (2003) HABERMAS, JURGEN TEMPO BRASILEIRO FILOSOFIA
Preço = R$ 40,00

AGIR COMUNICATIVO E RAZAO DESTRANSCENDENTALIZADA (em Português) (2002) HABERMAS, JURGEN TEMPO BRASILEIRO FILOSOFIA
Preço = R$ 31,00

CINZAS DO NORTE (em Português) (2005) HATOUM, MILTON COMPANHIA DAS LETRAS LITERATURA BRASILEIRA-ROMANCES
Preço = R$ 41,00
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Por que livro é tão caro, né?
Então, alguns amigos pediram sugestões de livros que quero ler.
Rapidamente, aí, estão uns poucos diante da infinidade que falta para conhecer...

Amanhã: 39!
Almoço no Camarão (13h).
Noitada no Beirute (dpois das 23h).
Dormir até cansar na quarta-feira! (dia todo hehehehe)

Inté, né rsss

11 novembro, 2006

Resenha - Milan Kundera - A identidade

A fronteira entre o precipício e a terra firme existe?

Por Solange Pereira Pinto


Fui digladiada nesta madrugada. É tão difícil confessar uma violência! Eu bem sei. Foi ontem que minha cunhada me disse: “expor as feridas é para poucos, pois ao divulgar nossas fragilidades mostramos aos outros que eles também as têm, ou poderão tê-las”. É? Perguntei. “Não somos o que somos e vivemos o que procuramos?” Crua ela rebateu: “não!”. Não compreendi a sua negativa, essa possibilidade de não existência ou de existir pelo não. Afinal, ser era ainda “absoluto”, uma identidade imutável. Naquele momento me preparei para o tombo. Ensangüentada, horas depois, senti o soco que levei muito antes. Cai de quatro. Múltipla. Inocente. Perdida.


Cinco horas, o sol estava por nascer. Confusa. Reflexiva. Atormentada. Passava meus olhos em pisca-alerta ao redor. Tentando reconhecer. Procurando fixar-me em algum ponto seguro. Não havia. Estava cara a cara com um outro eu possível. Assustador. Gostaria de ter outra identidade? Seria outro alguém desconhecido até por mim mesma? Teria prazer na sordidez? Fazia-me de vítima em lugar de algoz? Mataria? Fugiria? Tentaria morrer? Onde estava meu eu , ou melhor, onde eu me colocava?


Foi no momento do pânico que me identifique com Chantal e Jean-Marc. Lembrei-me agora que não foi só diante da agonia, mas também do prazer, que me fiz multiplicar em faces. Camaleoa de mim mesma. Pela sobrevivência. Pela conveniência. Pela vontade. Assim como Chantal produzi sonhos esquisitos e memoráveis. Da mesma forma que Jean-Marc esqueci-me de ditos passados, atos juvenis. Milan não me poupava. Lançava as palavras, os tabefes, e eu consentia. Por quê?


Muitas vezes o pesadelo se transpunha para o sonho, e vice-versa. Quantas vezes o grito virava silêncio, e este me ensurdecia? Eu também fugi da minha vida para tentar viver outra. Não como Chantal. Ela, sim, botou tarjas no passado. Evitando olhares. Por outro lado, Jean, seu marido, sabia da própria condição marginal e aceitava viver outros enquadramentos. Coisa difícil para mim aos 40.


Certo momento ele disse: “a única razão de ser da amizade é fornecer ao outro um espelho em que ele possa contemplar sua imagem de antigamente, a que, sem o eterno blábláblá das lembranças entre colegas, estaria apagada há muito tempo”. De fato. As rodas de reencontros eram círculos de memórias. Como brincadeira de tiro ao alvo em que não se pode mais retornar após marcado o centro ou feito o desacerto. Todos viram e anotaram. Ele contava com certa frieza. O que de certa forma não me incomodava. Eu também desamava pessoas e amigos como ele fizera. “O olhar do amor é o olhar do isolamento”.


Eu estava numa posição desconfortável (eterna sensação) e mesmo assim não saía de cena. Queria o desfecho. Por mais cruel, duro, espantoso que fosse, não largaria a angústia daquela hora. Precisava sentir a pulsão daquele incômodo para me livrar dele.
Chantal foi implacável. Em um ato misto de doçura, auto-complacência, dignidade, lucidez ou loucura, narrou o dia em que foi ao cemitério e parou diante do túmulo do filho que morrera aos cinco anos: “Meu querido, meu querido, não pense que não te amo ou que não te amei, é precisamente porque te amei que não poderia ter me tornado aquela que sou se você ainda estivesse aqui. É impossível ter um filho e desprezar o mundo como ele é, pois foi a este mundo que o destinamos. É por causa do filho que nos prendemos ao mundo, pensamos no seu futuro, participamos de bom grado de seus ruídos, de suas agitações, levamos a sério sua estupidez incurável. Com a sua morte, você me privou de prazer de estar com você, mas ao mesmo tempo me tornou livre. Livre diante do mundo que não amo. E, se posso me permitir não amá-lo, é porque você não está mais aqui. Meus pensamentos sombrios já não podem lhe trazer nenhuma maldição. Quero lhe dizer agora, tantos anos depois que você me deixou, que compreendi sua morte como um presente e que acabei aceitando esse terrível presente [...]”.


Eu não tinha palavras depois disso. Mas, eu guardava comigo a certeza de que jamais teria a ousadia e a coragem de Chantal, em fazer tal declaração, sem me sentir perpetuamente culpada e apedrejada pelos coros invisíveis. Ou teria? Já havia aqui embaralhado completamente a minha identidade. Eu infelizmente entendia perfeitamente a confissão de Chantal. O que me aguardava depois dessa compreensão? Não sabia.


A vontade de chorar e correr dali para um bosque imaginário, perfeito, paradisíaco, se entrelaçava com minha curiosidade de continuar a provar daquela trama pérfida que meus olhos testemunhavam. Meu fôlego se alternava entre afoito e paciente. A carne ardia. Milan continuava demolindo as estreitezas da razão e da lógica. Batia com mais força. Meu peito rasgava. Certamente eu não seria a mesma após compartilhar as histórias de Chantal e Jean-Marc. Também não, antes?


Fosse o que fosse. Por amor. Por morte. Por tédio. A vida dos dois se consumando para mim. Em mim. Eu neles. Entranhados naquela madrugada de quinta-feira. “Os homens não se viram mais para olhar para mim”, ela disparou. Enrubesceu. Entre o ciúme e a compaixão ele avaliou sua mulher. Estaria o envelhecimento ardendo, queimando, a ponto de destruir quem eram antes do espelho ou da consciência que paira como raio, feito clarão num instante, quando a juventude nos parece eterna? A mutação da identidade? Talvez fosse uma pista.


Abatia a auto-qualquer-coisa (traição, engano, verdade, ilusão). Em Chantal, Jean-Marc, em mim, provavelmente em Milan. Ou em você. “A palavra vida é a rainha das palavras. A palavra-rainha rodeada de outras grandes palavras [...] contra o futuro defendia um passado”. A totalidade permeada pela imaginação, guia dos viventes no túnel do real e das irrealidades. Tateando a existência, qual venda usar?


“Se, antes desse único encontro a sós, ele a tivesse encontrado muitas vezes tal como ela era com os outros, teria reconhecido nela o ser amado?”. Os “ses” sem respostas atravessando nossas vistas para desespero ou conforto. A necessidade de uma inundação de olhares. Sedução, aventura, erotismo, transgressões, fugas, segredos desafiando outros quereres, digamos, mais “sólidos”. Vida de ambigüidades. De identidades. Eu perscrutava.


Enquanto as páginas mudavam de lado, eu derretia quadradinhos de chocolate no céu da boca. Um após outro. Os olhos atentos. A alma em dúvida. As pálpebras lubrificando as idéias. “Cada um de nós está imerso num mar de salivas que se misturam fazendo de nós uma única comunidade de salivas, uma única humanidade úmida e unida”, dizia Leroy. Ri dissolvendo mais um tabletinho na língua.


Os andarilhos exaustos da existência entrando e saindo da obscuridade. Assim somos? O passar ilógico do tempo, dos atos e suas confrontações. Assim vivemos? O sentido da vida que não se sabe imaginária, ficcional ou real nos expondo a explicações indisponíveis, desagradáveis ou não. “Por mais desprezível que seja o mundo, precisamos dele para poder conversar”. Ainda não era o fim, mas fazia pensar sobre os elos que nos unem à humanidade. As convenções. As provocações. A liberdade de escolha. A identidade.


Tornando eu, alma, corpo, consciência, esquecimento, destino, excitação, indiferença ... encontrei o narrador, no final, questionando o que havia vivido até ali. “Qual é o momento preciso em que o real se transformou em irreal, a realidade em sonho? Onde era a fronteira? Onde é a fronteira?”.


É assim que Milan Kundera, em “A Identidade” (1998, Companhia das Letras), lança o leitor ao calabouço e ao mesmo tempo lhe entrega as chaves da cela. Paradoxo. Encantamento. “Tenho medo quando pisco o olho”. E você? Quem é antes, e depois de piscar?

09 novembro, 2006

Frase para MSN e outros fins.....

Caixa. De pandora?







Gente, meu primo Gustavo é demais! Além de divertido, e artista brilhante, é escorpiano! haahaha!!! como euzinha! O Gus hoje faz niver!!! Parabéns primooooo! Saúde e paz!!!! e ele já começa o papo no MSN hoje assim:


GUSTAVE CANELLI® diz:
oi
GUSTAVE CANELLI® diz:
prima
GUSTAVE CANELLI® diz:
beleza
GUSTAVE CANELLI® diz:
aew
GUSTAVE CANELLI® diz:
saka essa
Pandora diz:
oi
GUSTAVE CANELLI® diz:
Não tenho medo de perder amigos!Não quero perder é meu tempo!
GUSTAVE CANELLI® diz:
ehehhehehe
Pandora diz:
hahaha
Pandora diz:
boa
GUSTAVE CANELLI® diz:
bacana
Pandora diz:
tbm é sua?
GUSTAVE CANELLI® diz:
rs
GUSTAVE CANELLI® diz:
sim
Pandora diz:
já vou blogar rssss hahahahahaha


É isso ai Gus, perder tempo jamais!!! grande beijo daqui do Planalto! Ah, ele que me mandou a caixinha ai de cima, depois eu mostro como abri-la hahahah

Karlheinz Stockhausen - um músico apenas?



“[...] Minha composição é uma obra aberta, assenta sobre áreas múltiplas, é o novo aspecto da Arte. Assim, voltando à sua pergunta, estas pessoas, os performers, materializam conceitos musicais, para além das academias. Nas academias diz-se o que e como se deve fazer, exigem uma obediência estrita, limitam. Com a música/perfomance temos outras formas de interpretação fora dos complexos cristalizados na interpretação acadêmica. [...]
[...] Em todas as cidades e aldeias há os loucos, pessoas que falam duma maneira estranha, criticam a maneira de ser das pessoas ditas ‘normais’, inventam uma maneira original de estar com o mundo. Seria necessário, e significado de liberdade, integrar esses loucos, fazer da vida social um novo conceito de teatro [...]
[...] Eu não estudo, não tenho mestres, observo, estou presente, vivo e experimento. Fiquei como uma criança quando, pela primeira vez, assisti a um espetáculo de teatro Gagaku no Japão. [...]
[...] Deve-se aprender com a autenticidade dos diversos conceitos que cada povo tem na música. [...]
[...] Os partidos políticos, a meu ver, deviam deixar de existir, dividem as pessoas e guiam-nas para a luta ideológica. Todas as pessoas de classes, raças e povos estão representados na minha música. Há dias, eu votei por carta na minha aldeia, com cujos habitantes estabeleço a mais cordial relação. Mas eu pergunto, porque é que o meu voto tem o mesmo valor que o deles? Eles querem ter um carro, fartarem-se de comer, menos trabalho e eu quero o contrário: não quero um carro, quero comer frugalmente e sem carne, quero trabalhar mais. É impossível, é ridículo, devia desaparecer a Guerra[...]"
Trechos de uma entrevista com o músico, compositor alemão Karlheinz Stockhausen

Fonte

Autonomia e educação - blog de Paulo Ghiraldelli


“[...] Mas decidir o que é bom e o que é ruim não pode ser algo de antemão retirado do poder de cada indivíduo. As pessoas querem ser educadas não para ficarem a vida toda sendo educadas. Eles querem ser educadas para, em determinado momento, poderem optar. [...] Aprender a fazer da educação um processo de favorecimento da autonomia é algo prático, da seguinte ordem: mantenha a mente aberta, desconfiada; pergunte sempre as razões de qualquer proibição; e se a proibição vem por parte dos seus professores, tratem de desconfiar ainda mais [...]”.
Paulo Ghiraldelli Jr. “O filósofo de São Paulo”
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Aqui o texto na íntegra. É um blog que vale ser lido! Anote esta dica!

08 novembro, 2006

Reflexões...

"Oh, quanta gente detém a verdade, e essa gente se diz tão mais lúcida que eu. Mas quando olho as varandas vejo tantas folhas secas, que já nem sei quem mais sucumbe. Lá estão as árvores nuas. Lá estão as flores não germinadas. Lá estão prometendo verões. Não duvido. Mas, de cá vejo os invernos. As geleiras fechando o tempo. Acizentando os céus. Ainda que saiba de caminhadas eternas sobre o arco-íris. Porém, só aqueles que andam sobre ervas daninhas sentem o gozo de pisar onde se definham roseiras. Seja vítima ou não. Seja sábio ou não. Cada um percorre o terreno no qual consegue manter-se em pé. E, é agora que alguém vai duvidar? Não ande por onde se saiba andar?! Se a trilha é lama, há de ser lesma, minhoca ou qualquer outro ser que se vire na escuridão. Existem os lamacentos! A luz é para quem corre ao vento. Noutro acaso, quando a escuridão acomete, há aqueles que procuram as vítimas do tempo. Do veneno. Do breu. Nem toda larva vira borboleta" .

07 novembro, 2006

Poesia e vida...

"Nunca soube me defender, mas sempre consegui vencer o medo e o nervosismo para evitar ataques aos outros. Quando havia algum colega sendo discriminado, me tornava seu melhor amigo. Estar do lado mais fraco é poesia. Poesia não combina com o senso comum".
"A literatura não substitui a vida, ela nos prende mais a ela. Não entendo quando um escritor se sente realizado ao escrever um livro. Eu me sinto cada vez mais irrealizado aumenta a fome. O desejo não pretende se satisfazer para continuar desejando".
"Aumentamos a voz quando alguém grita com a gente. Os livros gritam - raros notam. Os leitores que escutam e respondem serão os novos autores".
"Tive que chamar atenção de mim para somente assim chamar atenção dos outros. Eu me esforcei o dobro. Hoje não olho para baixo para evitar a vertigem. Me perco mais voltando do que indo para frente".
"Não preciso impressionar para ser feliz".
Fabrício Carpinejar
Leia a entrevista completa com Carpinejar
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Frase do bar

"Eu não sou príncipe, mas bato colocado".

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Bem, cada um interprete como quiser.
Essa frase eu ouvi hoje de um jovem de 32 anos.
Um verdadeiro Dom Juan!
Cerveja vai, cachaça vem, e eis que a frase é colocada na mesa!
O que seria bater colocado?
rssss

Atendendo a pedidos...


"Criar para recriar", eis a palavra-chave para se entender e apreciar como merece a arte que aqui fica registada.
E porque não pegares nestas imagens e recriá-las uma vez mais?
Fica a sugestão.
Um abraço
Jorge de Lisboa


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Então Jorge, essa é para você! A minha recriação a partir de Anish Kapoor.
Gostou?
beijo grande!
solange

06 novembro, 2006

Anish Kapoor - Ascension

Imagens e texto por Solange Pereira Pinto
Esculpindo fumaça ou vento...

Esculpindo cores e ecos...


Esculpindo olhares...


Esculpindo cera e sensações...

Não tenho receio em dizer: as imagens que eu hoje vi ninguém mais verá.

Pode parecer estranho, mas entrar em contato com as esculturas e instalações de Anish Kapoor é o mesmo que caminhar por outra dimensão. Clichê desnecessário, mas lá estão as obras. Expostas. “Fixas”. Aparentemente, simples até. Ousadia. Criatividade é pouco para definir. Além disso, são minuciosamente trabalhadas. Polidas. Erguidas. Planejadas.

De uma matéria-prima que pode variar de acrílico, metal, cera, luz até fumaça, Kapoor utiliza qualquer meio para definitivamente nos transportar.

Apesar das controvérsias, o artista convida à co-criação, ainda que para além da faixa branca fincada no chão, no que há de melhor da linguagem contemporânea. O feito (e muito bem-feito) não está feito. Precisa do “expectador”. Necessita do outro para se completar. Embora, também surpreenda à distância.

Minha percepção é que não é possível ser mero observador, é imperativo participar. Tomar corpo. Comungar. O que Anish principalmente esculpe são sensações, olhares, cores, imaginação.

O encanto está em presenciar que as obras, ainda que as mesmas, serão sempre novas, diferentes a partir de cada interação do olhar. Refletem a busca incessante e concretizam a possibilidade do ainda não visto constante. Criar para recriar. Demonstra o talento de se utilizar a linguagem da atualidade de forma inusitada, quando já envelhecemos por pensar que tudo está pronto e criado, nesse tempo de releituras.

Kapoor prova que não. Ele pega o vento. Mas é a gente que dança com ele.

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Hoje (5/11/2006) estive no Centro Cultural Banco do Brasil (Brasília/DF) na mostra “Ascension”, do escultor indiano Anish Kapoor.

Para saber mais....


05 novembro, 2006

Obrigada a todos!

O humano se faz de linguagem e palavras
Imagem da Internet
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Olá, queridos leitores e amigos!
Registro aqui meus agradecimentos a todos que votaram neste blog na última semana! Conquistamos o selo dourado de novembro!
Sem vocês não seria possível!
Grande beijo!
Soll

Florbela Espanca - poesia portuguesa

Florbela Espanca


“O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que nem eu mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade...sei lá de quê!”.
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"Viver é não saber que se vive".

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Uma Biografia e outra aqui também

Sem palavras... Há remédio?

"Os planetários (ou planetentes?)
necessitam de tarja preta.
A loucura deu com os dentes.
Já tocaram a sineta?
Ou mundo está doente?"
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(Solange - 4/11/2006)

Contomentário...

Antes de perguntar (Por Solange Pereira Pinto)



O motoboy de uma pizzaria talvez não tivesse descanso após o dia de finados. O fim-de-semana se aproximava. Era sexta-feira. O jovem de 19 anos morava no Rio de Janeiro. Das belas praias. Do Samba. Da MPB e Bossa Nova. Dos morros recortando a paisagem. Vivia com os pais na Favela do Jacarezinho. Lugar violento, apontava o noticiário. João e Célia se orgulhavam do filho. Bruno Macedo. Trabalhador. Dedicado. Estudante. Logo após o almoço algo não ia bem em casa. Seu João passava mal. 77 anos. O rapaz sai a toda. Desesperado convence um colega. “Precisamos procurar ajuda”, talvez tenha dito. Subiram na moto e foram ao cruzamento. Rua Viúva Cláudio com José Maria Belo. Um derrame prenunciava o pai. A idéia urgente: chamar um táxi. Teria que ser rápido. A angústia não poderia levar muito tempo. “Socorro, precisamos de ajuda”. Era o pensamento. Coração aos pulos. Finalmente, chegaram até o taxista. Pálidos. Aflitos. O pai perecendo. A mãe rezando. Nesse mesmo instante, bem perto dali, um fuzil dispara. Uma vez. Duas vezes. Três... Bem que podiam ser as batidas agoniadas no peito. Mas, não. Não só. Eram os policiais patrulhando a área. Júlio César, PM, cumpria seu ofício. Seu João piorava. Dona Célia inquieta. Do alto do Jacarezinho não se sabia ainda qual tragédia tomaria o dia. Rio de janeiro, ano 2006. Novembro. Dia 3. Dois policiais avistam um motorista de táxi sendo abordado por dois rapazes. Não tinham dúvida. Pardos. Negros. Apressados. Favelados. Só podia ser assalto. Um tiro certeiro. Uma face rasgada. A outra perplexa. Dois mortos, a caminho do Hospital Salgado Filho. Dona Célia em estado de choque. Início de infarto. Tudo quase instantâneo. Como um flash. Antes mesmo de perguntar.

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O texto acima poderia ser um conto.
Uma ficção.
Mas é uma narrativa baseada nas últimas notícias que li.

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PM mata jovem por engano no Rio de Janeiro - Um jovem de 19 anos foi morto nesta sexta-feira por um policial militar no Rio de Janeiro. Bruno Ribeiro de Macedo corria em busca de socorro para o seu pai, que passava mal. Foi neste momento que ele foi confundindo como um assaltante. Bruno era entregador do pizza e morava na Favela do Jacarezinho, um dos locais mais violentos do Rio de Janeiro. Segundo moradores da favela, o rapaz saiu de moto da favela à procura por um táxi. Um amigo o acompanhava na busca por socorro. Quando avistaram um taxista, os dois se aproximaram do carro para pedir ajuda. Neste momento, dois policiais que faziam patrulha na região pensaram se tratar de um assalto. Júlio César de Oliveira Lima, um dos PMs, disparou algumas vezes contra a moto. Um dos tiros acertou o rosto de Bruno. Em seu depoimento ao delegado, Júlio César admitiu ter efetuado os disparos. Segundo o PM, quando os dois jovens se aproximaram do táxi, ele disparou duas vezes para o alto e depois atirou em direção à moto para impedir a fuga. João Rodrigues de Macedo, de 77 anos, o pai de Bruno, acabou morrendo no hospital sem saber o que aconteceu com o filho. Quando soube da morte do marido e do filho, Célia Ribeiro de Macedo teve princípio de infarto. Foi levada ao hospital, medicada e já passa bem. O delegado que cuida do caso disse que não prendeu o PM porque ele se apresentou espontaneamente para prestar esclarecimentos.

Leia mais sobre o caso aqui, aqui, aqui e aqui.

03 novembro, 2006

Pátria é língua






Milton Hatoum: "Antes de mais nada, a noção de pátria está relacionada com a língua e também com a infância. O que mais marca na vida de um escritor, talvez seja a paisagem da infância e a língua que ele fala".


Leia aqui uma antiga entrevista com o escritor Milton Hatoum, vencedor do prêmio Bravo! com o recém lançado Cinzas do Norte.

Arte... Arte... Arte... O que é....

Título: Arte é amarra ou risco é?
Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: mista
Data: outubro/2006
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obs: intervenção feita por mim no livro do artista Wallace
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"Arte paga é arte vendida?" ( Wallace)
"Arte dada é arte sem valor?" (Solange)
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"A arte aprisiona ou liberta?" (Solange)
"A arte cura ou enlouquece?" (Solange)
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Se arte não se define, o que (ou quem) é o artista? (Solange)
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Olho-me no espelho. Não há alguém.
Apenas se reflete um rosto.
Um par de olhos, um nariz, uma boca, duas orelhas e vários pelos e cabelos.
Essa sou eu. Uma imagem comum. Um esboço qualquer.
Não há mais que isso na tela espelhada.
Olho a mesa e vejo-me.
No papel em branco. No vazio.
Lápis, carvão, tesouras, colas, tintas, pincéis de vários pelos e larguras.
Ali estou. Onde ainda se criará. Um rabisco prenhe.
Estão por nascer. Quase juntos. A arte e eu.
(Solange Pereira Pinto - novembro/2006)
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"Quem nasce antes: a arte ou o artista?" (Solange)

trimmmmmmmmmm trimmmmmmmmmmmm


Semana dos telefonemas! Continua tocando. Atendo ou não?

02 novembro, 2006

Trimmmmmmmmmmmm trimmmmmmmmmm

Às quatro horas da tarde alguém liga para sua casa e diz: “estou preocupada”. Essa pessoa não sabe. Mas, você passou o dia enfurnada, ensimesmada, enfraquecida. E, ainda, assim você pergunta: “o que foi?”. A sua amiga-irmã lhe responde: “a voz da sua filha está triste, não percebeu?”. Você diz: “está? Não notei.” E, completa, “como poderia notar a tristeza alheia se a minha me impede?”. Nessa toada as horas caminham. Vem um, vem dois, vem três, vem quatro, vem um monte de gente lhe dizer o que fazer, como agir. Tá bom! Já lhe disseram todos os seus deveres. Há alguém que possa lhe dizer seus direitos? Seus direitos de ser fraca, de ser incompetente, de ser incapaz, de ser humana, de ser falível... Não. Não mesmo. Não há espaço para isso nessa roda gigante de minutos que passam antes dos segundo invertendo a ordem natural do relógio. A questão é que isso dói. Isso magoa. Ser cobrado machuca, principalmente, quando você não pode dar mais do que já dá com o que lhe sobra de força. De repente, é nesse instante que a vontade de sumir sobe com você no altar do “para sempre”. O badalo toca. Você percebe que tem que vestir a fantasia e sair para o trabalho. Nada difícil em dias normais. Contudo, a veste de hoje lhe pesa. Você arrasta as bolas de ferro e correntes e segue. No pensamento a culpa. A culpa de ser fraca. A culpa de ter nascido. A culpa de ter parido. A culpa de existir. O tempo sagrado que remedia aponta outras chances. Você se afasta do deserto e bebe. Toma da fonte junto àqueles que na mesma anarquia se martirizam em lucidez. Mas que se erguem em guias tortas. Cai a lua. Agora, juntos, riem. Sem culpa. Sem responsabilidades. Sem pesares. Não há estrela. Não há sol. Há esquecimento. Não existe acorde que lembre valsa. Não há tom que remeta à canção da manhã. Há surdez. Há cegueira. Há mudez. Tão necessárias a conduzir os passos daqueles que não têm paz. O tilintar dos sinos não ressoará para quem em leito vive e em vida morre. Calar-se-ão. O telefone ficará quieto. Ou se ao tocar você não mais atenderá, tampouco ouvirá. Pelo menos, não agora. Agora que sua sede transborda e sua alma anestesia. Passará um dia novamente. Até que sua boca seca diga outro alô para quem insiste em lhe dizer que... Você já sabe. O outro não.

Microconto






Relógio biológico


"Pulei o dia caí na noite".
Solange Pereira Pinto

01 novembro, 2006

Fusão ou confusão?


Título: Olhando para todos os lados
Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: Fotografia
Data: outubro/2006
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Hoje à tarde um amigo me ligou.
- E ai linda, quer fazer um frila?
- Claro! Sobre o quê?
- Liga para o Nico. Ele sabe os detalhes.
- Certo! bjs
- Tchau...
Um mintuto depois...
- Oi, Nico! Quanto tempo, né? [...] Qual é a história do frila?
- Ah, sim, é para cobrir um congresso de educação. Sua área né...
- Obaaaa! É mesmo, gosto muito do tema.
- Aliás, né Solange, qual não é a sua área... advogada, jornalista, psicologia, professora...rsssss.
- hahahahhahaha. É verdade, o pior é que atiro para todo lado em não acerto em nada. afff!
- Que isso! Liga lá para agência, eles precisam com urgência.
- Valeu! Beijo
- Beijo
Dois minutos depois...
- Alô, aqui é a Solange, amiga do Nico...sobre o frila...
- Oi Solange, tudo bem? Mas, eu já organizei isso. Fiz um remanejamento na equipe e está tudo certo. Mesmo assim obrigada.
- Ah, tá. Boa sorte, se precisar é só ligar.
- Beijos
- Beijos
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Well, não rolou o freelancer, mas continuo olhando para todo lado. Será isso visão sistêmica, fusão do conhecimento, ou confusão sistemática? Sei não... Melhor ler "A Descoberta do Fluxo" (Mihaly Csikszentmihalyi), depois que eu fizer um frila para comprá-lo, é claro... Ou quem sabe ganhar de aniversário (que está chegando hehehe)...
Diz o resumo: "A arte de discernir o que nos proporciona o fluxo é também a possibilidade de alcançar a sabedoria de viver plenamente".
O problema é quando a criatura tem fluxo diversificado igual mangueira furada!
Hahahahaa
Tô me sentindo a própria mangueira, e vermelha, hahahaha.

Não sou Leila mas quebro a cara...

"Quebro a cara toda hora. Mas só me arrependo
do que deixei de fazer por preconceito, problema e neurose."
Leila Diniz

Selo de ouro - votação





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beijões

Soll

Frase de bar


"Tem gente que acha que bebida alcoólica é espinafre"

um email... uma resposta...

De:xxxxx
Para: Solange Pereira Pinto
Data: 31/10/2006 18:23
Assunto: RES: VOTEM EM MIM - SOLANGE

Nunca mais a gente saiu né ? Outro dia tava lembrando como foi gostoso dançar a noite toda e ver o sol nascer na margem do rio... até os urubus do porto estavam com ares de gaivotas...rs
Tempim bão.
Bjao.



De: Solange Pereira Pinto
Enviado por: gmail.com
Para: xxxx
Data: 01/11/2006 03:20
Assunto: Re: VOTEM EM MIM - SOLANGE
entao, podemos reinventar a vida, apesar das nuvens que cobrem os céus, há tempo para se ver um raio de sol, se quisermos olhar bem olhado a fresta daquilo que nos impede de enxergar. sei que os tempos não andam tao bons, nem pra vc, nem pra mim, nem pra muita gente... mas se não tivermos algo de doce e quente pra lembrar na existência, o vento pode nos levar para as brumas do esquecimento. talvez eu ainda não queira ser apenas lembrança, ou você, ou aqueles que gostamos. nem sempre é fácil abrir as retinas, nem sempre é fácil enxugar as lágrimas, mas sempre é tempo ou possibilidade de abrir a janela e gritar. to aqui para ouvir seus gritos e lamentos. assim como espero ter conchas que ouçam meus relentos e ais. isso tá quase virando poema, mas é mais um dito para vc que perfeitamente entende o que digo. cansei de falar para os temporais. beijo grande! soll