31 agosto, 2006

O grito e o silêncio


Roubando gritos, silêncios ganhos
Por Solange Pereira Pinto
Fico pensando o que significa roubar um grito. É, isso mesmo. Furtar um som penetrante, voluntário. Aquele emitido com força, um berro, um brado, como diria Houaiss. Ou larapiar um clamor, um alarido. Talvez surrupiar uma opinião forte, proclamada, um protesto veemente. E se apossar de um grito de dor, de angústia? Alguém se habilita? Apelos gritados bem sei que não são lá bem ouvidos (neste país de surdos). Ou nos faltam gritos dignos de primeiras páginas? Eu mesma tinha um blog “Se for preciso grite”. Abandonei, pois eram gritos travados de tecnologia limitada. O que dizer então dos silêncios. Aqueles arracandos à força. Vilipendiados, vendidos, forjados. Assim como os gritos. Vamos lá.

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Mas, finalmente acharam O Grito (foto), um dos mais famosos quadros do pintor expressionista norueguês Edvard Munch (1863-1944). A tela foi roubada em 2004 e foi encontrada pela polícia de Oslo. Segundo matéria, em 2005, o roubo de "O Grito" e Madonna" apareceu em quarto lugar numa lista do FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, entre os dez maiores crimes cometidos contra as artes no mundo. Dizem que o setor criminoso das artes movimenta por ano entre R$ 1 e R$ 2 bilhões.

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Ninguém é de ninguém quem é de quem

Deduz-se daí que roubar gritos pode render dinheiro, grana alta. É por isso que tantos blogueiros estão preocupados e temerosos. Precisam decidir: se seus gritos ficarão presos na garganta (no silêncio, na mente), ou ganharão outros ouvidos, o mundo, de forma solta (livre) ou pelo menos presos às coleiras de seus donos (autoria, aspas e direitos autorais).

O plágio entra nessa discussão. Recentemente, houve o caso do blog Querido Leitor de Rosana Hermann que foi plagiado por Miltinho Cunha. Um caso que vai para a polícia.



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Por outro lado, há silêncio que ensina. Diz a notícia que o russo Grigory Perelman (foto), 40 anos, levou 10 anos para resolver a conjectura de Poincare (que descreve o formato do universo e intriga especialistas há 100 anos) e por isso ganhou um dos maiores prêmios mundiais de matemática ao resolver um dos sete “problemas do milênio”.


Perelman, que divide o aluguel de US$ 74 com a mãe e está desempregado desde dezembro, recusou o prêmio de US$ 1 milhão a ser entregue pelo próprio rei da Espanha e alega que não fez nada de extraordinário. "Eu não acho que eu seja de interesse público", disse o matemático ao London Telegraph.

"Eu não falo isso por causa da minha privacidade, não tenho nada a esconder. Só acho que o público não deve se interessar por mim. Jornais deveriam ter mais discernimento sobre o que publicar, deveriam ter mais requinte. Até onde eu sei, não ofereço nada que acrescente à vida dos leitores", completou.


Depois de 10 anos de trabalho, o modesto Perelman, ao invés de publicar seu achado em um importante jornal, jogou tudo em uma página da Internet, para que todos tenham acesso. "Se alguém tiver interesse na solução do problema, está tudo lá. Deixe-os pesquisar livremente."


Perelman vive recluso em São Petersburgo e mantém-se afastado da mídia. "Publiquei meus achados. É isto que ofereço ao público." A solução do problema pode ser vista nos sites aqui, aqui também, e ainda aqui . Devido ao tráfego intenso, pode haver instabilidade no acesso aos links.

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São inevitáveis as reflexões. Colocarei depois o texto que elaborei sobre "plágio". Agora o "Mal de Montano" me aguarda. Boas reflexões e comentem: "O que você acha do plágio?"

bjuns

Solange

Blog day (31/08)




Hoje é o Blogday. Soube desse dia porque fui “encontrada” pelo César, do Fudeblog, neste universo virtual. Ele olhou, gostou de Idéias e Ideais e pimba, postou lá uma recomendação a este blog. Legal, né? Por isso, vou fazer o mesmo e escolher outros blogs (que não indiquei ainda) para selar o dia:


Café Docente – é um blog feito por professoras. Inteligente e bem-humorado faz verdadeiras críticas (fundamentadas) ao ensino superior. Um verdadeiro circo!


Mulheres Fêmeas – Além do humor da Rosângela, encontramos um texto leve recheado de literatura e cotidianos. Muito bom.

Proseando –Para quem gosta de reflexões, conheci hoje (me visitando) e confesso: é muito interessante. Vale conferir o blog da Juliana.

Impostor – Vaculhando aqui e ali encontrei o impostor. Fala de filmes, livros, teatro e, claro, o mundo real. Vamos lá?

Lé-ri-bi – É um blog muito divertido. Danielle sabe contar a vida como ela é.
Boas visitas!
Feliz Blog Day!
Mais informações sobre blogday: vejam no Fudeblog

30 agosto, 2006

Balaio Café encontro de escritores

Na próxima quinta-feira (31/08), a partir das 20h, um grupo de escritores de Brasília se reunirá no Balaio Café na 201 norte. O grupo "Mal de Montano" é formado por uma geração de contistas, poetas, cronistas que se interessam pela troca literária e pela interatividade entre os atuais produtores de textos da cidade. Publicaremos depois os resultados desse encontro. Aguarde!

29 agosto, 2006

Feira do Livro de Brasília

Fotos e texto por Solange Pereira Pinto



A 25ª Feira do Livro de Brasília começou sexta-feira (25/8). Ontem passei por lá. Confesso que para um domingo à tarde achei o evento muito vazio. Esperava encontrar mais gente e produções culturais. Mas, sabemos que livro não é lá uma coisa que atrai muitas pessoas em nosso país. Melhor pagode, futebol e cerveja. Se fosse um sertanejo na Esplanada estaria lotado. Talvez certo esteja Octávio Paz “a sociedade expulsa aquilo que não pode assimilar”.





O ponto alto da feira (apesar do calor insuportável do “museu”) é a exposição “Evolução da Escrita”, projeto Sesc/DF que mostra os percursos da escrita desde sua origem até os tempos de internet. São 200m² de textos e imagens apresentando que a “escrita surge da necessidade do homem de se expressar tornando-se mais poderoso instrumento de sua evolução pela transmissão e perpetuação dos conhecimentos, bem como facilitador da comunicação e interação social”. Uma opção interessante para crianças também.





No Café Literário, assistimos Ronaldo Cagiano falar sobre a Antologia (que ele organizou) reunindo 100 contistas de Brasília. No encontro, Cagiano explicou os critérios que utilizou na seleção dos autores, enfatizando a qualidade textual e o fato de morar em Brasília. Junto a ele estavam outros escritores integrantes da coletânea, que puderam falar um pouco sobre o que é a qualidade em um texto literário. Características como qualidade da linguagem, concisão, e narrativa bem elaborada foram destaques. Assim como, a maioria concordou que a análise sempre passará pelo “juízo de valor” daquele que seleciona. Ou seja, qualidade acaba sendo algo mais subjetivo que mensurável objetivamente.







Neste ano o homenageado é Mário Quintana que se descrevia assim “nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora me pedem que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Há! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai ! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade”.


Espelho

Por acaso, surpreendo-me no espelho:
Quem é esse que me olha e é tão mais velho que eu? (...)
Parece meu velho pai - que já morreu! (...)
Nosso olhar duro interroga:
O que fizeste de mim? Eu pai? Tu é que me invadiste.
Lentamente, ruga a ruga... Que importa!
Eu sou ainda aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra,
Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!
Vi sorrir nesses cansados olhos um orgulho triste...


(Mário Quintana)








No mais a feira é praticamente a mesma de todos os anos. Um pouco piorada. Cheia de estandes de livrarias querendo vender. Vender. Vender. Caixas no chão e estandes lotados de livrinhos infantis de baixíssima qualidade, daqueles com muitas figuras óbvias, textos incompletos e superficiais, por cinco reais, para atrair o fundo que o GDF liberou para as escolas. Tudo made in China. Uma farsa! Pouca programação cultural. As mesmas figurinhas circulando. Uma feira escassa de novidades interessantes. Poucos acervos. Por exemplo, encontrar o livro de Marcelino Freire - Contos Negreiros - premiado Jabuti não foi nada fácil. Atendimento ruim. Será influência do mês? Brasília nesta época é muito seca. Mas outros convidados atuantes virão por ai. Vamos conferir!

28 agosto, 2006

Do Gates ao Bucaneras...por que hoje é sábado

Imagens e texto por Solange Pereira Pinto



Semana finda. Noite de sábado. Pensamentos cruzando fios. Telefonemas insistentes. Muitos ainda mudos. Silêncios opcionais. Solidões compulsórias. TVs acesas. As possibilidades cadentes, feito estrelas. Bar? Boate? Pub? Festa? Vídeo-locadora? Cinema? Edredom? Motel? Calmante? Antidepressivo? As ruas largas do Eixão abrigam faróis em oposição. Vestido ou saia? Blusa pólo, camisa ou camiseta? Sutiãs e cuecas selecionadas. Os solteiros se preparam. Alguns casados mais afoitos também. Casais inteiros idem.

O roteiro da dúvida se traça. Vamos no mesmo carro? Pego você em meia hora? Seu cartão tem crédito? Mãe cadê meu sapato rosa? Elisabeth já falei para você não usar meu perfume todos os dias. Ih, o creme de barbear acabou. Essa meia tá furada porra. Caretas no espelho. A cidade está inquieta. As filas se formam. Bonés. Carecas. Escovinhas. Chapinhas. Cabeludos. Cachos. Celulares nas orelhas. Brincos também. Cera quem sabe? Dialetos ocupando os ares. Carros em filas duplas. Manobristas. Buzão. Carona. Metrô. Táxi. Finalmente decidem. Gates. Rock. Tum. Tum. Tum. Pam. Pam Pam. Yeah. Yeah.

Bebidas se atropelam nos balcões. Sorrisos se desencontram. Olhares se perdem. Bocas se acham. Mãos tateiam. Beba mais. Beba menos. Vodkas lambendo vinhos. Chopps. Água. Tum. Tum. Tum. Desejos caindo na pista de dança. Corpos à procura de prazer. Sacolejantes. Paralisados. Alternantes. É madrugada. De repente um vazio. Onde foi parar aquela gata morena? Cadê aqueles olhos azuis da última música? E o… O número de gente diminui. A conta cresce. Parada obrigatória. Aplicar o plano B. Bucaneras. Dancing. Tam. Tam. Tam. Pem. Pem. Pem.

Suores. Horrores. Tropeços. Gargalhadas. Vista ao longe. Esbarrões descuidados. Esbarradas escolhidas. Oi. Oi. Tudo bem? Tudo bem. Plano C. O ataque. Vencem. Perdem. Desistem. Sobram. Soldados em final de batalha. Guardanapos molhados. Copos esquecidos. Trincheira vazia. Todos camuflados. Míopes. Falas atrapalhadas. Solidariamente se unem. Comunicação ébria. Quase manhã. Acerto de contas. Fechamento de caixa. Encerra a madrugada. Ressaca no domingo. O balanço ao acordar. Sozinho. Acompanhada. Perdido. Apavorada. Apaixonado. Arrependida. Pelado. Descabelada. O sol nasce. Sujeitos confusos. Verbos conjugados. Adjetivos mastigados. Palavrões reservados. Redação sem título. Texto sem conclusão. Melhor começar outro parágrafo. Semana finda. Acabou o sábado…

27 agosto, 2006

Eduardo






Conheço muitos Eduardos. O primeiro foi coleguinha do maternal. Depois dele tive outros tantos Eduardos. Conhecidos na escola. Na rua. Em casa. Tio Eduardo eu não tenho. Mas, um sobrinho sim. Primo Eduardo, talvez distante. Em primeiro e segundo grau certamente não. Namorado tive. Virou até quase noivo. E foi um só Eduardo. Noivos três. Marido de amiga tem. Virtual, vixe, também. Mais que todos. Tem Eduardo simples, tem Eduardo composto. Junto a eles os diminutivos. Du. Dudu. Dudi. Edu. Duardo. Além dos personalizados. Piolho. Bola. Cavaco. Ponta. Bandeira. De sobrenome uns poucos sei. Suplicy. Galeano. Gomes. Rangel. Do futebol, deve ter. Não conheço. Tem Eduardo político. Tem Eduardo artista. Escritor. Compositor. Tradutor. Tem Eduardo e Mônica. Se tem poeta, comerciante, ladrão acho que também tem. Mas desse não me lembro não. Deve ter outro nome. Conheci um, que de desconhecido passou a colega até chegar a ex-amigo. Tem Eduardos no meu MSN. Dois deles eu adoro. Os outros estão bloqueados. Tem Eduardo amigão, professor na Faculdade. Alunos, meus, têm uns seis. Ex-também. Reprovado nenhum. Ainda não vi Eduardo pobre. Tem Eduardo que visita meu blog. Mais de um. Outros têm blog. Mais de um também. Têm blogs de Eduardos que gosto muito de visitar. Especialmente um é fantástico. Parece que Eduardo escreve bem. Já vi muito Eduardo moreno. Loiro ainda não. Conheço dos baixos e dos altos. Enfim, são vários Eduardos. Gordos e magros. Mas, o que realmente me chateia nesse universo de Edus é "o" Eduardo. Por causa dele me lembrei de todos os outros Eduardos do mundo. E Robertos. E Pedros. E Fábios. E, também. Vou sair agora com os amigos. Nessa turma não tem Eduardo. Ufa! Quem sabe não encontro um outro prenome por ai. Boate cheia deve ter Eduardo. Vodka com energético. De costas. Oi! gata. Qual é o seu nome? Amanda. E o seu? Virando-me. Eduardo. Aquele que ligaria no dia seguinte. Que me fez esperar mais de duas horas numa noite de sábado.
Solange Pereira Pinto (2006)

26 agosto, 2006

Mestrado





O calouro comeu a teoria. Mastigou a verdade. Cuspiu o projeto. Inovou demais. Texto rejeitado. Dano colateral: reprovação. Foi internado. Diagnóstico: indigestão do saber. Indicação: obedecer ao orientador e à academia. Proibição: integrar idéias próprias ou revoltar-se. Interações medicamentosas: efeito tóxico se associado com ousadia; efeitos reduzidos ao ignorar vaidades alheias. Advertência: esquecer dúvidas durante o tratamento. Alergia à prepotência será tratada em outro momento. Reações adversas: emburrecer. Apesar do coma induzido o rapaz passa bem. Apenas alguns delírios de citações. Engoliu aspas demais. Meses depois da alta. Pergunta ao veterano: - Você acredita em tudo que eles dizem? À beira da banca o outro responde: - Cara, relaxa, veja a tudo isso como se fosse ficção.


Solange Pereira Pinto (abril/2005)

23 agosto, 2006

A pelada




Boteco cheio. Olhares. Duas da madrugada. Beijos. Em campo, a postos. O jogo começou há 30 minutos. Ida ao banheiro. Combinado. Segundo tempo. Excitação. Tiro de meta. Ricardinho dribla. Passa por um. Passa por dois. – Posso chupar aqui? Lá vem ele, chegando na grande área. Torcida animada. – Posso meter aqui? Falta! Uhhhhhhh! – Vou lamber atrás. Silêncio. Pênalti. – Posso... “Porra!”, pensa Catarina. Cartão amarelo pro Ricardinho. Placar 1x0. Semana passada viu o narrador sexual marcando uma pelada. Com a mesma chuteira furada.



por Solange Pereira Pinto (maio/2006)

Blog: literatura rápida e vitrine para livros

Blog: literatura rápida e vitrine para livros
Por Roberto Moreno (21/08/2006)


Primavera dos Livros, no Centro Cultural São Paulo - teve até gente pendurada para assistir ao debate entre as blogueiras.Veja mais imagens no Fotoblog


A principal conclusão do debate "Blog e Literatura - Blog é Literatura?", durante a Primavera dos Livros, no último sábado, em São Paulo, foi quanto à forma de elaboração dos textos para os meios eletrônico e papel. Que os dois são literatura, não restou dúvida.

Participaram da conversa as blogueiras Bruna Surfistinha, Rosana Hermann, Índigo e Ivana Arruda Leite, com moderação do jornalista e escritor Marcelo Duarte.

Generalizando, textos rápidos vão para o blog e aqueles mais trabalhados, que passam dias e semanas em preparação, são reservados para publicação em livros.

Apesar do consenso, a jornalista Rosana Hermann, do "Querido Leitor", vê uma distinção dentro do formato para internet: quando publica, enlouquecidamente, mais de vinte posts por dia, é blog. Quando se senta, tranqüila, e pensa na crônica que vai mandar para o "Blônicas", é literatura.

A escritora Ivana Arruda Leite, que "precisa de silêncio" para sua literatura, começou resistindo aos blogs, mas cedeu por insistência dos leitores. Hoje diz que a ferramenta é um alucinógeno e, em alguns momentos de "ira" com as editoras, chega a publicar textos inéditos, daqueles que seriam guardados para os livros, em seu "Doidivana".

O silêncio pretendido por Ivana é quebrado, nos blogs, pela participação direta dos leitores através dos comentários. Índigo, escritora que atualmente mantém o "Diário da Odalisca", abordou a compensação afetiva dessa participação. Um pequeno conto, escrito em cinco minutos, pode atrair milhares de leitores e gerar comentários sobre como aquele texto "mudou o dia do leitor", quase no limite da auto-ajuda. Já um livro, que pode demorar anos para ser gerado, normalmente é comentado em apenas três palavras: "adorei seu livro".

Para Bruna Surfistinha, pseudônimo de Raquel Pacheco quando era garota de programa, auto-ajuda é o foco de seu blog e livros -o segundo título deve ser lançado nos próximos meses- acreditando que o relato de suas experiências sexuais sirva para quebrar tabus e melhorar a vida das pessoas.

Independentemente do tempo dedicado ou do estilo de cada um, os blogs também são vistos pelas participantes da mesa como vitrine para suas atividades principais. Através deles ganham maior visibilidade e ampliam seu público, como no caso de Índigo, que publica livros infanto-juvenis e tem seus blogs visitados principalmente por adultos, ou como Raquel Pacheco que, a partir do blog, já vendeu mais de 140 mil cópias de seu "O Doce Veneno do Escorpião". E todas esperam que o próximo passo seja a profissionalização dos blogs, para que, além de vitrine, também possam ter ali o caixa de seus trabalhos.

Engarrafamento


Texto e imagem por Solange Pereira Pinto




Manhã seca. Brasília. Preguiça redundante. Mais uma semi-noite. Árida de descanso. Daquelas que não se dorme com dois olhos fechados. Os pensamentos se atropelam no travesseiro. Nem sei quais se perdem nos lençóis, arrancam a camisola, batem uns nos outros, e os que acordam comigo. É uma confusão danada. Corro pro chuveiro. Molhar o corpo e derreter as idéias. Bom banho de A a Z. Sigo pela rotina do dia. Uma pesquisa. Um texto. Um telefonema. Uma leitura. Uma bronca. Uma comida. Um suco. Uma raiva. Um sorriso. Um desespero. Hora de ir. O trabalho chama. Entro no velho Santana. Ligo o som. Não quero pensar. Melhor cantar. “Se fosse resolver iria lhe dizer foi minha aaaagonia se eu tentasse entender...”. Já é noite. Pimba. Chuva. Engarrafamento. Outro. Carros. Carros. Carros. Caminhões. Motos. Ônibus. Gente. Relógio apressado. Tempo parado. Arght. Lá vêm eles novamente. Os pensamentos. Na lentidão do trânsito. Superaquecimento do motor. Da cabeça também. A fila de cones. Um acidente. Agora entendo. Todos passam devagar para ver a desgraça alheia. Os ponteiros já passaram do ponto. Atrasada novamente. “... E a amargura e o tempo vão deixar meu corpo minha alma vaziaaaaaaa...”. Giro o dial. Freada brusca. Meto a cabeça no pára-brisa. Pensamentos estilhaçados. “... Vida é um souvenir made in Hong Kong...”

22 agosto, 2006

O bilhete





O pai enfiou no bolso da criança um bilhete. Dizendo-lhe: “não perca”. A festa estava animada. Uns subindo em árvores. Outros brincando de pega-pega. Estripulias da garotada. Trinta e cinco anos após. Repete a experiência com o próprio filho. Aniversário do coleguinha da escola com a turma do Menino Maluquinho. Recomenda-lhe: “não perca”. Tarde finda, volta o garoto. Sujo, suado, imundamente feliz. O papel do bolso se foi. O pai sorri aliviado. Melhor do que eu fui. Pensa. Relembra. Naquela manhã de um passado distante ficou imóvel. Limpo. Cuidado. Assistiu à diversão dos outros. Não perdeu o bilhete. Aquele que seu filho lhe fizera agora o favor de sumir.




por Solange Pereira Pinto (22.08.06)

Um frango às cinco






Tem dias que começam sempre iguais. Levantar cedo. Levar criança na escola. Ir para o trabalho. Hoje é terça-feira. Setembro. Quente. Seco. A paisagem meio cinzenta. Muitas folhas pelo chão. Já é quase primavera. O país também caminha meio cor de chumbo. Uma crise política de estrelas vermelhas. Meio dor. Meio sangue. Meio tomate. Um momento meio. Meio até estranho. Verdades ao meio. Mentiras ao meio. Partidos ao meio. Mas a minha manhã começou em ponto. Às sete. Nem mais. Nem menos. Depois das mochilas e lancheiras, rumei à faculdade. As alunas à espera da aula de TIC's. O sono ainda se encostava em meu corpo. Nem banho gelado. Nem agenda cheia. Lá vinha ele amolescente, me perseguindo. Trânsito louco. Tocando em frente no rádio. Chego na sala, surpresa: uma palestrante no meu lugar! Todos os alunos do curso no auditório ouvindo sobre alfabetização. Ninguém me avisou. Lá estava eu. Meio professora, meio ouvinte, meio perdida. A coordenadora me dispensou. Voltei. Trânsito menos louco. No som o bêbado e a equilibrista. O dia prometia. Visitei uma amiga, um papo meio na pressa e voltei à realidade. Peguei a filha na escola. Engoli o almoço. Corri para a loja para bolar mais uma vitrine. Pensei em algo meio rústico. Meio renda. Meio bege. Meio branco. Na CPI do Congresso Nacional deputados meio cassados se defendendo meio pálidos. Meio confiantes. Meio exultantes. Eram três horas quando entrei no supermercado. Massas. Molhos. Arroz. Feijão. Biscoito. Leite condensado. Pipoca. Pizza, fiquei em dúvida. Um tanto comum. Congelada demais. Na esteira do caixa ao lado, uma mulher e dois frangos assados. Hummm. Cheirando quente o sabor da pele torrada. Moço, vá passando as compras. Volto já. Corri peguei um frango. Paguei tudo. Pedi que entregassem os volumes em domicílio. Entrei no carro. Trânsito calmo. A música era Cio da Terra. A tarde caía terrena. Fértil. Alaranjada. Cheguei às quatro e meia, com o assado nas mãos. Esse eu mesma quis levar. Assim como o pão e a manteiga. Abro a porta. Ninguém em casa. Com os desejos salivantes arranco o frango da sacola. Agarro suas asas e escuto. Purullummpurummpullurumm. Era o computador ligado desde cedo. O messenger apitando. Feito peru perto da ceia. Aquele desejo de comemorar. Em azul a janelinha piscava. Meu coração palpitava. Sento-me em frente à tela. Em arte surge alguém esperado. Teclo para um oi. Mordo a primeira asa. As palavras carinhosas começam a deslizar pelo monitor. O gosto do frango aplacando a vontade. A fome. Os dedos lambidos. Os olhos sorrindo. A outra asa me provocando. Parto pra cima dela como quem sonha acordado. Vou degustando palavras. Vou me deliciando com a pele. Às cinco da tarde. O mundo pára. A realidade apaga. Tudo que estava ao meio, inteiro fica. No meio desta crônica o entregador chega. Atendo. Volto. O frango partido. O Brasil também. A fantasia correndo. Nas asas, vou. Vôo. O dia não terminaria igual. Mas, quem disse que tudo tem que terminar igual...em pizza...ao meio...melhor devorar um frango assado às cinco da tarde em plena terça-feira...o verão está chegando...


por Solange Pereira Pinto(06.09.2005)

21 agosto, 2006

Dica e foto


Título: Se for preciso grite
Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: Fotografia digital manipulada
Data: 11/agosto/2006
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Blog do dia:
"Danilo levava uma vida estável. 10 anos de um casamento monótono. 1 ano com a amante-coroa. Pouca ambição. Pouca emoção. De repente, perde a mulher, a amante e a faxineira. Faz 40 anos. Descobre a crise dos 40. Volta a freqüentar a noite. Conhece mulheres estranhas em festas estranhas. Começa a se achar estranho. Sua vida muda. Ganha vida".
Visitem Vida que muda. É imperdível!

A festa

Título: Mambo
Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: Fotografia digital manipulada
Data: 19/agosto/2006
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A festa de sábado foi sensacional.
Como diz uma amiga querida:
uns tiveram 70% de aproveitamento
e outros 110%.
Acho que estou na segunda opção.
hahahhahaha!!!
A vida é um banquete:
sirva-se!
hahahahhaha

Vida a dois...



Vaso entupido... Quantos baldes de água serão necessários para fazê-los novamente funcionar? Vários... Será que o importante é força com que se joga a água? Ou será a freqüência ininterrupta com que se derruba os baldes? Faço as duas tentativas. Ora, o vaso solta um ar parecendo arroto. Penso... para arroto é preciso esperar um pouco, pois o ar precisa sair para nova derrocada d’água. Ora, o ar solto parece soluço. Então, o melhor é água sobre água para fazê-lo cessar. No entanto cada “respiro” desses, invade-me a alma de esperança que o trabalho está a findar. Novamente, jogo outro balde de água. E pela lentidão com que a água esvai, percebo que o entupimento continua. A coluna já reclama de carregar baldes cheios de água - da área ao banheiro. Contudo, a esperança do sucesso empurra-me a buscar mais um balde. Lá volto a jogá-lo. E nada! Parece que no início a água descia mais rapidamente do que agora. Ou será o meu cansaço de baldes carregar? Não... Afinal, o que entendo de vasos entupidos? Vou mudar a estratégia. Entre soluços e arrotos, jogo baldes com mais força e maior freqüência. Não deu resultado satisfatório. A água parece descer mais lentamente ainda. Melhor sentar, acender um cigarro. Tentar não pensar no problema. Impossível! Quem sabe chamar um especialista na arte de desentupir privadas? Porém, pode ser melhor jogar mais um balde, quem sabe - agora - funciona!? Não resolveu. Acreditava que sozinha solucionaria problemas banais desse tipo. Quanta presunção! Quem sou eu afinal para entender disso? Deixar o problema de lado? Mudar temporariamente de vaso? Pode ser uma saída...


Por Solange Pereira Pinto (28.07.97)

Re(s)saqueadas questões...

Imagem e texto por Solange
___________________

O casaco pendurado.
o vulto escondido.
um biombo fechado.
Vai?

...


Saqueei minha alma
para matar um desejo.
Meu?

...

Entrei na rua errada.
Agora dei com a cara no muro.
Onde estava a entrada?
Certa, a ressaca.
...

Sou fantasma que cruza tijolos.
O álcool parece argamassa
dessa tal vida queixosa.
Muda?
...

Começa outra semana.
Tudo dói.
Ainda não sei quem morreu
Se a vontade ou a esperança.
As duas?
...


Tudo junto na mesma cama.
Quem levanta primeiro?

...

O desejo de dormir, sempre alerta,
empurrando os outros para o edredom.
Sufocados?
...

Hoje nunca mais.
Amanhã tudo de novo.
Ontem passou.
Eu ou você?
...

Essa semana tem mais.
Terá? Será?

19 agosto, 2006

Garimpando...

Márcia Denser: "Uma vez que você termina um grande texto ou uma grande transa, você só quer dormir, é o refluxo da alma e do corpo. Tem que deixar o reservatório encher. No campo da criatividade e do amor o refluxo é idêntico".




Fonte

No crème de la crème



Deixe o chantili escorrer sobre os seus lábios. A boca sedenta, vermelha, come ouro e mastiga vento. Deixe escorrer sobre as pernas o esperma do gozo improdutivo, que desliza da sua cabeça. Deixe correr o catarro da sua estirpe, que aprofunda a desgraça. Deixe correr as lágrimas, sua paz depende dos miseráveis.


por Solange Pereira Pinto (17.09.1999)

18 agosto, 2006

Agora há tempo

Imagem: tela de Van Gogh



No ralo escoa-se o restante da espuma, ainda quente. O sangue corrido da vivência em papéis tais se tumultua nas veias do silêncio, da quietude. A coluna sinuosa estraleja ao sobressalto do descansar. O ritmo do bombeio dissona assaz em notas desafinadas de preguiça livre. A boca seca das palavras desditosas engole pálida o pavor ermo. Na fumaça da chaleira de pedra se descreve o passado do cheiro quente de pão pontual. Está lá no cinderol, o chinelo surrado desencontrado de atitudes arrastadas. Nos fios brancos do espelho bacento um olhar arrugado não mira mais. Deitados nos tabuleiros os quitutes amassados já não esperam por bocas gulosas. A fornalha acalora a saudade dos cristais traquinados. Cortinas alvas esvoejam adornadas de bainhas meticulosamente prendadas, espreitando a vidraça gélida que soprou em dúvida raios matinais. Não há hoje cantoria para a escuta entretecida, suas conchas só calam vozes inéditas de outros cantos. As mãos tremediças espalmam a face dos desejos empoeirados, perdidas no cerzimento daquilo que falta de vida a costurar. Encostada na treliça do balanço arfa-se de ares à volta do ponteiro maior. Incrédula expira sua febre escarlate numa longa risada.


por Solange Pereira Pinto (2003)

Frase da madrugada

Paul Valéry dizia
que a função de um livro
é surpreender o seu autor.
...

Balaio Café - 201 norte

Uma noite deliciosamente cultural




Imagem de divulgação


Cena I - Abertura da exposição RE-GRAVURA
(Teatro Nacional Claudio Santoro)


Apreciamos as belas e instigantes gravuras de Alexandre Ricciardi, Manoela Afonso e Daniel B. (Re-fluxo) no Mezanino da Sala Villa-Lobos. Pude dar um abraço bem apertado na Manô, que admiro prá lá de muito.







Fotos: Solange Pereira Pinto


Cena II - Inauguração do Balaio Café (201 norte)


Gente interessante. Decoração de primeira. Cinema. Cyber. Comida e bebida. Assistimos dois documentários: "Rádio Muda da Unicamp" e "Funcionárias do Prazer". O primeiro vídeo (interessantíssimo) fala da rádio comunitária fechada recentemente pela Anatel (reaberta depois). O segundo mostra depoimentos de travestis do Setor Comercial, feito pelo Mídia Independente de Brasília. Muito bom!


Cena III - Escrever, blogar e ler



Estava de carona. Cheguei em casa cedo. Noites assim me levitam os miolos. Vou agora publicar postagem. Depois me jogar na cama. Agarrar Enrique Vila-Matas para ele me contar o Mal de Montano. Qualquer dia conto para vocês. Boa noite. Bons sonhos.

Anônimos






Eles se olharam. Ela contou. Ele ouviu. Sem apresentações. Muitas histórias. Ele contou. Ela ouviu. Saíram. Sabiam. Pronomes se entendem melhor que nomes próprios.




por Solange Pereira Pinto (1995)

17 agosto, 2006

Porque a arte não pode ser foda

Quanto mais um indivíduo cultiva as artes, menos fode.
Acentua-se o divórcio entre o espírito e a bestialidade.
Só o animal é que fode bem: a foda é o lirismo do povo.

* * *

Foder é querer entrar noutro, e o artista nunca sai de si.

(Baudelaire, Escritos Íntimos)

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Texto garimpado no blog de Carlos Besen

Blog do dia

Navegar é preciso, e quando alguém indica bons portos no caminho, ainda melhor. Pois então, a Fernandinha me indicou um blog que realmente vale a pena. Na ponta da espada do sol, como diria Palomar, está Marcelino Freire autor de Contos Negreiros considerado o melhor livro de Contos do ano passado, vencedor do 48º Prêmio Jabuti de Literatura - 2006. Confiram!

Quarta-feira Sollamente



Ah! Como eu queria neste momento de taças caídas
Jogar minhas pernas sobre sua alma desvalida
E cantar as canções de outrora falidas
Ah! Como eu poderia sugar seus lábios
Numa tarde sofrida de calores infernais
E botar nos seus olhos numa secura outonal
Ah! Sim você gritaria e diria não pare jamais
Nesse tempo inquieto de corpos sofridos
Meu gozo geme por tempos matinais
Ah! Mas minha alma sucumbiria ao termo
De uma pausa de um não lhe quero e jaz
Para deitar sobre as flores do campo em paz
Ah! Você me libertaria com suas mãos de homem
Na noite irreverente de trôpegos cais
A me contar seus reveses sussurrando vem mais
Ah! Eu correria pelos bosques das fadas
Pensando na espada do cavalheiro fugaz
Que não teme a batalha e corre feroz
Ah! Vem a luta e não descansa o herói
Em sua causa de canto encanto maior
Joga o corte e assassina o algoz
Ah! Desfila em mim sua força melhor
Derrube nos becos a esperança do pó
Faça de nós uma bebida na noite fria...
Que teme o calor de uma esquina qualquer.

Soll (agosto/2006)

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Sollamente
Sol-lamente
Sol-la-mente
Soll-amente
Soll-a-mente
Solla-mente
Soll-ame-nte
Soll-amen-te
So-llamente
Sollamente

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16 agosto, 2006

Na mídia...

Globo paga o resgate: ibope às avessas?


I – Dois saem da padaria, outros entram na sinuca


Quando vemos a poderosa Rede Globo pagando o “resgate” (publicação do vídeo em horário nobre a mando do Primeiro Comando da Capital, o PCC) para a libertação do seu funcionário, repórter Guilherme de Azevedo Portanova, que ficou em poder dos seqüestradores por 40 horas, é sinal que salvar uma vida (dependendo de quem) dá Ibope.


O diretor de jornalismo da TV Globo São Paulo, Luiz Cláudio Latgê, disse que a decisão de atender a reivindicação dos criminosos foi da emissora, sem participação do governo de São Paulo ou da polícia. Em nota, a emissora informou ter sido orientada por órgãos internacionais a ceder à pressão.


Hum, fator interessante, falta de confiança na polícia e no governo? Sabemos que a Globo “depende” apenas das verbas públicas, e não precisa pedir conselhos às instituições “inoperantes” que está cansada de acompanhar diariamente. Melhor mesmo é pedir conselhos aos órgãos externos, pois foi assim que sua história de grande mídia começou no Brasil, com capital estrangeiro e favores. Na hora do aperto o remédio importando cura mais rápido...



II - Sabemos o que dizer, nem sempre o que fazer...


Nesse ínterim, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, tentou evitar que a Rede Globo exibisse o vídeo com o manifesto do PCC. E, o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, coordenador do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos), também defendeu a não exibição da fita. Ele argumentou que a exibição abriria um precedente arriscado, porque significaria atender, sob ameaça, a uma exigência do PCC. "Isso vai abrir um precedente grande", afirmou Gonçalves, que esteve na sede da emissora. Ele foi enviado pela secretaria para falar com a Globo.


Claro, melhor arriscar a vida de um jornalista que ceder ao poder de criminosos. Não é assim que eles recomendam quando qualquer cidadão é diariamente seqüestrado? A tentativa de mostrar “poder e controle da situação” à sociedade é imperativa. Agora, agir é mais complicado diriam, a escassez disso, daquilo. Reclamar as mazelas tem momento oportuno, demonstrar fortaleza também.



III – Conspirações dão voto...


Enquanto isso, os candidatos ao governo de São Paulo se posicionaram no melhor estilo as eleições estão chegando. Aloizio Mercadante (PT) analisa que "não é possível o Estado ficar o tempo inteiro fazendo acordo e se rendendo à pressão de organizações criminosas. Eu pergunto se esse é o caminho para nós colocarmos ordem nesse Estado. Não é."


Por outro lado, José Serra (PSDB) diz que "o crime organizado não gosta do PSDB. Esse é um dado da realidade e que aparece em todas as gravações e conversações que até hoje vieram a público. Tem lá gente do PCC conversando, dizendo que se o presidente da Câmara dos Vereadores é do PSDB, deve matar", afirmou, quando questionado se o crime organizado estaria declarando guerra ao PSDB.


Pergunto-me, bom, e daí? Quais as propostas de vossas excelências? O crime organizado da corrupção está declarando paz? O Estado deve continuar fazendo os acordos com parlamentares acusados de corrupção e se rendendo aos conchavos de coligações para inocentar A, B ou C? As CPIs inocentadoras são o caminho para a ordem e democracia? Bandidagem legalizada é melhor que a informal?





IV – Nem todos são nobres, para uns casa-grande para outros senzala


O pagamento do resgate, que não foi em dinheiro vivo (embora custe uma boa bolada veicular qualquer coisa em horário nobre), foi a exibição de um vídeo criticando o sistema penitenciário. Em parte dizia "como integrante do Primeiro Comando da Capital, o PCC, venho pelo único meio encontrado por nós para transmitir um comunicado para a sociedade e os governantes... Não estamos pedindo nada mais do que está dentro da lei. Se nossos governantes, juízes, desembargadores, senadores, deputados e ministros trabalham em cima da lei, que se faça justiça em cima da injustiça que é o sistema carcerário, sem assistência médica, sem assistência jurídica, sem trabalho, sem escola, enfim, sem nada... O sistema penal brasileiro é, na verdade, um verdadeiro depósito humano, onde lá se jogam seres humanos como se fossem animais”.


Talvez, o conteúdo seja novidade para parte da população que sequer pisou em um presídio para conhecer e saber as condições reais dos falidos sistemas prisional e judiciário. Contudo, não é mentira dizer que se trata mesmo de um depósito de pessoas. No entanto, muita gente “estudada” dirá que “bandido” merece isso mesmo, pois distribuição de renda e oferta de oportunidades, dignidade para todos, passa longe do vocabulário daqueles que oprimem. Até mesmo porque tem muito criminoso no ar condicionado do Congresso e de outras instituições públicas.



V – Enhem enhem enhem


Já o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) foi um dos raros integrantes da cúpula do governo federal a se manifestar sobre a mais recente ação do PCC. Disse que demonstra uma "ousadia inaceitável" por parte do crime.


Melhor nem comentar o que seja “ousadia inaceitável”.


VI – Já fui melhor nisso, agora quero o meu de novo...


Na outra ponta, vem o jornalista Alberto Dines, no seu Observatório da Imprensa, que tem por objetivo “acompanhar o desempenho da mídia que tem responsabilidades sociais e conscientizar os cidadãos”, por meio de um texto “curto” dizer que o “terror ataca a mídia”, que a Globo agiu bem, mas a democracia foi golpeada. Um trecho aponta “o ataque dos narcoterroristas a jornalistas é a forma mais abjeta de intimidação, ameaça ostensiva aos fundamentos do Estado de Direito, tentativa de golpear uma democracia alcançada justamente graças ao destemor dos profissionais de imprensa”.



Muito se pode concluir desse seqüestro. Um ponto é que a mídia serve aos interesses de uns, enquanto outros ficam realmente excluídos e sem voz. No entanto, há audiência quando se dá espaço para o sórdido, estranho, inusitado, degradante.
Faz tempo que a TV se utiliza de desgraça para enriquecer, mantendo sempre um viés parcial voltado para o maior número de moedas na conta. Será que a Globo está abrindo espaço, ainda que forçado, a outros clamores? Ou tudo não passou, mais uma vez, de audiência?
Definitivamente poder, mídia, dinheiro e política ascendem os letreiros e os aplausos, e criminosos de toda espécie já sabem disso. Terá conseguido o PCC chamar a atenção aos seus propósitos? Ou tudo não passa de um Ibope às avessas beneficiando vários segmentos?
Quem viver, verá!



VII – As vozes de outros Zés


Nesse caso vamos ouvir as vozes de outros “Zés Ninguém” que comentaram o texto de Dines no site do Observatório. Selecionei aqueles que dizem também por mim.

Antonio Esses bandidos seqüestradores são filhos deste modelo falido que vc (Alberto Dines) que já trabalhou nos chamados GRANDES MEIOS DE COMUNICAÇAO também contribuiu para fabricá-los.


Luiz Carlos O que se precisa combater é a corrupção em todos os níveis e tornar claro que o crime não compensa.


Bezaliel Não tenho um comentário e sim uma pergunta ao brilhante jornalista Alberto Dines: Quando outros profissionais, como médicos, religiosos, engenheiros, e os trabalhadores comuns, forem seqüestrados, a Rede Globo vai divulgar as possíveis fitas para salvarem as suas respectivas vidas? Ou as vidas dos jornalistas valem mais?


Marco Antônio Essa democracia existe somente para algumas classes privilegiadas pelo sistema capitalista, pois, para a grande massa de espoliados, ainda vivemos sob o jugo da ditadura cível.


Calypso Jornalistas concubinados com governo, governo amasiado com Pcc,a política é o bacanal irreconhecível do Zé Povinho.Estou pra lá de enojada.


Pablo Pergunta que os jornalistas não querem responder e que o Observatório ainda não propôs: se o seqüestro foi trocado pela exibição de uma matéria com pouco conteúdo ofensivo, tratando-se apenas de uma pauta de reivindicações, algumas delas bem justas (discordo de Dines: o mutirão judicial é importante num Estado praticamente sem defensoria pública), será que isso não indica uma cobertura jornalística até aqui absolutamente parcial? Dito de outro modo, se os bandidos precisam seqüestrar (ação desproporcional e espúria) para serem ouvidos, será que não deve haver alguma coisa de errado com a imprensa?


Luiz Richards Lamentável Dines que vc diga, sem justificar, que o manifesto dos bandidos é uma peça cínica, politicamente primária e tosca. Onde está o cinismo e a idéia rudimentar?? Talvez, na verdade crua do manifesto quando diz: "se faça justiça em cima da injustiça que é o sistema carcerário, sem assistência médica, sem assistência jurídica, sem trabalho, sem escola, enfim, sem nada". Incrível como vcs da imprensa têm um comportamento de superioridade, como se estivessem acima da lei, quando a vítima são vcs. Vc chega a ponto de defender o fato de a Globo não ter escutado a polícia, comportamento, insistentemente, condenado pela imprensa quando o seqüestrado é o cidadão comum. Pense se o seqüestrado fosse um padre, um lixeiro, um empresário, uma criança, o governador... Qualquer outro cidadão, de qualquer classe, por qualquer motivo, a sua recomendação seria não avisar a polícia??? Lembre-se, sempre, da sua frase: “Este programa nasceu sob o signo do compromisso da imprensa com a melhoria da humanidade. E, exatamente em função deste compromisso, queremos lembrar o papel dos jornais e dos jornalistas na construção da paz. Os dois lados têm as suas razões, mas a razão só pode estar com aqueles que acima de tudo querem a paz.”

14 agosto, 2006

Intervenções urbanas - Arte

A partir desta segunda-feira (14/08), os brasilienses terão a oportunidade de curtir uma exposição ao ar livre, montada no gramado e na marquise do Complexo Cultural Funarte. Trata-se do projeto Ocupação 2006, que segue até 14 de setembro, todos os dias. Serão sete obras abstratas, provocativas. De dentro do carro, do ônibus, a pé, não importa. Quem passar por perto com certeza perceberá suas presenças. Um sistema de iluminação vai permitir que as obras sejam visualizadas também durante a noite. Leia mais...

Nossa vida dupla...

“Fernando Pessoa dizia que em cada um de nós há dois seres: o primeiro, o verdadeiro, é o de seus devaneios, de seus sonhos, que nasce na infância e prossegue por toda a vida, e o segundo, o falso, é o de suas aparências, de seus discursos e de seus atos. Diremos de outro modo: dois seres coexistem dentro de nós, o do estado prosaico e o do estado poético; esses dois seres constituem nosso ser, são suas duas polaridades, necessárias uma à outra: se não houvesse prosa, não haveria poesia: o estado poético só se manifesta como tal em relação ao estado prosaico.” (Edgar Morin)

Fonte

13 agosto, 2006

Calidoscópio de visões:


A teia interminável do saber e da verdade



Numa sexta-feira estava na Toca do Chopp com uma amiga, discutíamos episódios nada, digamos, convencionais da vida. Gargalhadas depois, em certo momento analisávamos um fato específico: se naquele instante o proprietário do bar resolvesse contratar alguém para narrar sobre como “é ou está” o seu estabelecimento? Decerto histórias contraditórias, complementares, semelhantes, estranhas, apareceriam.

Um cliente mais sóbrio e solitário poderia dizer que o ambiente está neutro demais. Já as amigas animadas, na primeira fileira, poderiam superficialmente dizer que nem repararam muito, mas que iriam escrever uma análise. O garçom atarefado podia revelar o quanto gosta de equilibrar bandejas em um ambiente noturno. Ou não. O caixa daria sua versão econômica, talvez. A menina de óculos, sozinha, esperando a lua baixar, poderia romanticamente dizer sobre noite, as nuvens e os chopps iluminados e seus colarinhos espumantes. O senhor da mesa ao lado do banheiro narraria uma história de entra-e-sai no melhor estilo a cevada e seus poderes diuréticos. O jovem enamorado diria que o caldinho de feijão não pega tão bem nessa hora de hálitos ingênuos. E, ainda, tantas outras versões seriam possíveis.

Mas, qual seria a história melhor? Ou a melhor história... Quem deteria a verdade em linhas escritas a partir de olhares e parcialidades de uma noite espreitada da cadeira de um bar? Todos e ninguém.

Relatar, compor uma narrativa, seja de fatos reais ou imaginários, é uma costura de cenas e detalhes selecionados pelo autor. Observar, escolher, analisar, escrever são verbos que passam sempre pelo sujeito.

Voltando à hipótese lançada no início, qual composição seria escolhida para representar aquele momento? Depende. Quem faria a seleção? Se um júri fosse formado tentando-se um “julgamento mais imparcial”, mais perto do “senso comum”, ainda assim passaria pelo crivo dos julgadores, suas referências, cultura e preferências.

O que se passa pelo olhar, se passa simultaneamente pelo ser e o contexto. Quem dá significado às coisas, também aos acontecimentos, é o indivíduo (sua percepção e o momento). É pela interação com algo/alguém que os organismos vivos “apreendem”, transformam e são transformados. Sendo que não há exatamente em uma conseqüência previsível para as inúmeras combinações e possibilidades.

Estamos, ultimamente, tão acostumados (treinados) ao senso de utilidade e à busca de “resultados” que passamos parte do tempo a procurar a serventia de tudo, formulando teorias e disseminando dogmas. E, o pior, acreditando que os olhares dos outros estão mais “corretos ou incorretos” (maniqueísmo) diante do nosso. Para que serve a arte? Para que serve a poesia? Para que serve a literatura? Para que serve uma cadeira...

As histórias da humanidade e das culturas, de cada ser humano e dos grupos, são permeadas de subjetividades. São cacos coloridos, recortados e pintados por pessoas com atributos variados, que formam um grande calidoscópio. Cada giro pode gerar nova cena, num jogo ótico sucessivo de reflexos que formam imagens em constante mutação.

“Conter a verdade” é o mesmo que não poder piscar em plena ventania. Fazer história, viver, talvez seja simplesmente manusear um calidoscópio de visões multifacetadas, e olhar por uma interminável teia de saberes e verdades, acrescentando, se possível, mais um pedaço, no tom que for lhe mais belo. Ou não...


Solange Pereira Pinto

Frase do dia

sem título
Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: Fotografia digital manipulada
Data: 11/agosto/2006
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Bertolt Brecht escreveu:
"Diz-se das águas dos rios serem violentas,
nada se diz das margens que as comprimem".
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Educação: um sistema falido

"A escola deveria ser uma instância de igualdade de oportunidade, mas, em sua maioria, aprofunda e agrava as desigualdades, quando confirma o potencial dos alunos que vêm de um meio sociocultural favorecido e deprecia os que vêm dos meios desfavorecidos".

José Pacheco, Escola da Ponte (Portugal)

11 agosto, 2006

Um domingo com Marçal Aquino (Resenha)

O domingo acordou preguiçoso, como sempre. O sol numa alegria incontida entrava por toda a casa gritando a urgência de sair um pouco da poeira do desânimo habitual. O telefone tocou. Tomei um café, fiz uma careta (algumas coisas cheiram melhor que o próprio gosto). Rendi-me. Calcei o tênis, vesti o short e a camiseta, peguei o boné, nessa espantada ordem e chamei o paulista Marçal Aquino para uma volta no parque.

Sabe como é, domingo de sol no parque da cidade, lugar perfeito para famílias, crianças, patins, bolas, bicicletas, pipas, casais, pais, mães, tias, avós, desocupados, ambulantes, churrascos, piqueniques e duchas... Lá fomos nós ao encontro das Famílias terrivelmente felizes.

Cada raio ia se alongando sobre o corpo e Aquino me contando a primeira de muitas histórias do dia. Logo diz “meu tio morreu em um hospício numa tarde de segunda. Conversando com seus fantasmas, a única coisa que aprendeu na vida”. E, num ato contínuo, foi relatando tudo o que ele poderia ter sido.

A cada passo dado, minha atenção redobrava, e novos cotidianos iam surgindo. Os onze jantares, o escritor saxofonista, a mulher com ar de quem é absolutamente íntima de incêndios, e ressaltou “o homem é uma criatura solitária. Muito embora viva procurando se amparar nas mais diversas coisas. Até mesmo numa página em branco”.

Fiquei pensativa. Quantas escoras fabricamos! Como um traçado de vida pode se complicar a cada parágrafo vivido? Foi quando ele me contou sobre a família no espelho da sala, “é, não tem jeito, viver não permite escolhas. Não se esqueça. Antes de sair, olho a redação: todos envolvidos na tarefa febril do fechamento. As pequenas tragédias pessoais – e, por que não, as grandes também -, adiadas por algumas horas. Para recomeçar tudo amanhã”. (Marçal é também jornalista e sabe bem o que é inventariar as causas alheias, esquecendo das próprias em nome do ofício).

Ora leve, ora intenso, o tempo vai caminhando entre traduções de silêncios e verdades. São expostos os cacos, as colagens. Numa pausa me fixo nessa fala “...Mas hoje eu sei que a vida trapaceou com eles. Lembrando um relance aqui e um flagrante ali...”.

Suas histórias vão me fascinando sob a paisagem dominical de crianças saltitantes e de casais enamorados debaixo de copas verdes. No mesmo instante, vem ele contar de um dia de casamento, para em seguida narrar noites, acontecimentos em casas, em bares, falar das conspirações, dos casos, dos amantes, dos desejos urbanos, das emoções rurais. “Mortos não respondem por jogos perdidos em vida”. Entre risadas e tamanha curiosidade me torno voyeur daqueles seres de papel.

Algumas nuvens se unem cobrindo a tarde. A água de coco chega ao fim. Eu me apresso em ouvir a última história que meu novo amigo tem a contar “Miss Danúbio”. Em meio às diversas finitudes possíveis de mais um dia, despedi-me de Marçal, que com seu jeito enigmático, surpreendente e simples, passou o domingo a mostrar os entrelaces do dia-a-dia de pessoas comuns. Famílias terrivelmente felizes. Vários contos numa teia de vida. “Até mesmo os cheiros envelhecem...”, ele disse em algum momento. Alguém duvida?

Solange Pereira Pinto

Euphoria - pós-moderna ou primitiva?

Imagem da sombra de uma escultura
- ferro tubular -
(suspensa)
em exposição no CCBB
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Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: Fotografia digital
Data: agosto/2006
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"No que difere a perspectiva de uma artista aos 92 anos em relação a alguém que está começando a carreira? O que você ainda pretende descobrir como artista?
Hoje eu tenho mais facilidade para iniciar e terminar um trabalho. Porém existem outras coisas difíceis de superar: crise e renovação. Quando o que eu faço não me satisfaz mais, ou esgotei aquela etapa de trabalho, fico um tempo rodando em falso até acertar o novo caminho, uma renovação na trajetória. Esses períodos são extremamente variados, tanto da progressão que, em geral, dura anos, como da procura que dura de alguns meses a alguns anos". (Tomie Ohtake)

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Euphoria



Vc
Silêncio
Pto
Tic-tac
Tic-tac
Tremedeira
Contração
Dor
Tic-tac
Tic-tac
Tum-tum-tum
Tum-tum-tum
Química
Medo
Tum-tum-tum
Rápido
Tum-tum-tum
Paixão
Não
Desejo
Não
Espera
Sim
Tum-tum-tum
Tum-tum-tum
Vc
Palavras
Pto
Tic-tac
Tic-tac
Tarde
Noite
Fria
Tum-tum-tum
Tum-tum-tum
???????????
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
***************
ooooohhhhh
Suspiro
Tic
Abraço
Tac
Calor
Tum
Beijo
Tum
Tum-tum-tum
Tic-tac
Fugir
Ponto
Resolver
Ponto
Agora
Tic-tum
Amanhã
Tac-tum
Ontem
Tum-tum-tum
Tic...
Tac...
Hummmmmm
tummmmmm


Solange, em 27.07.1999.

10 agosto, 2006

O quintal do vizinho






Rua I

A mangueira do lado tem mais mangas, mas a goiaba do meu pé não tem bicho. Esse parece ser o lema do presidente Lula rumo à reeleição. Segundo a Reuters, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou nesta quarta-feira na disputa com o governo de São Paulo sobre quem deve ser responsabilizado pela atual onda de violência no Estado, após a terceira noite de ataques.

Falar de humildade é o clichê que o metalúrgico presidente da fábrica de corrupções do Brasil adora repetir. Assim disse, hoje, numa entrevista à rádio Capital "acho que o secretário devia ser mais sensato na hora de abrir a boca ... e tentar evitar essas coisas que estão acontecendo em São Paulo. Essas pessoas estão cuidando da segurança de São Paulo há muitos anos. Ele deveria, de forma mais humilde, perceber que houve uma falha. Ele poderia tirar o telefone celular dos presos."

Sim, senhor Lula, poderia também vossa excelência perceber suas falhas e tirar o celular das negociatas do seu governo.


Avenida B

Por outro lado, informa também a Reuters que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, visitará Beirute na terça-feira, quando levará ajuda humanitária e se reunirá com autoridades libanesas para discutir "perspectivas de uma solução para o conflito". Amorim entregará às autoridades libanesas a doação brasileira de 2,5 toneladas de medicamentos, que incluem antiinflamatórios, antibióticos e kits de primeiros socorros, suficientes para atender emergências de 145 mil pessoas.
Neste caso, o quintal do outro é cheio de mazelas e nos serve de consolo para não enxergar o próprio cercado cheio de mato alto e ervas daninhas.

Fazer política internacional pode ser um grande recurso em tempos globalizados, enquanto a população brasileira morre silenciosamente de fome, doenças e outros males. Mas, olhar para a guerra do outro lado do oceano nos garante, digamos, certa supremacia.

Assim, Lula se mete no quintal paulista porque outubro está chegando, Amorim se mete cheio de “boas intenções” em Beirute, enquanto os mercados de ações da Europa recuam mais de um por cento nesta quinta-feira após a divulgação pela polícia britânica da descoberta de um plano para explodir aviões em pleno vôo entre o Reino Unido e os Estados Unidos.



Praça III

Ao mesmo tempo o presidente da Fecomercio, Abram Szajman, avalia que "como o cenário econômico é estável, a queda nos indicadores de confiança do consumidor só pode ser atribuída à fragilidade da segurança pública em São Paulo". Do outro lado da praça, para preservar seu ganho, o Unibanco manteve o freio puxado no financiamento ao consumo e fez sua carteira crescer com crédito de atacado. Optando pelo menor risco foi o que fez o Unibanco reduzir a oferta de crédito, principalmente na modalidade sem comprovação de renda, operada pela sua financeira, a Fininvest. Com isso, a carteira de crédito ao consumidor encolheu 3,1 por cento no trimestre.


Beco

Fala sério! Esse planeta está parecendo um grande cortiço com um monte de compadres (sim os homens estão no comando) comentando o quanto a filha oxigenada da outra é gostosa, mas interesseira e vai pega-la mesmo assim, como ter o carro turbinado do filho do padeiro e como ele conseguiu tal façanha, outro dando guarida para o sobrinho distante que precisa guardar umas coisas, todos exaltando suas virtudes e apontando as misérias alheias. E, por fim, cada um está medindo o tamanho do ..., do... quintal do vizinho para ver quem tem o maior... o maior poder de tomar conta da vida alheia para encher o próprio bolso... É o bolso! Por falar nisso, outro dia me contaram que as praças do monumental estão cheias de camisinha... Será?

Solange, sem teto

08 agosto, 2006

sobreviver no Brasil...

"A fórmula de sobrevivência do país é a trilogia emprego público, de preferência com aposentadoria acumulada, condomínio fechado e plano de saúde. Esse é o apartheid construído por uma elite analfabeta e totalmente irresponsável que entregou nossa cultura. Nem estou falando da nossa classe média, que tem dinheiro para gastar em boates e shows e sair de lá gargarejando cultura".

Bruno Tolentino

vida...

"Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem"




Alberto Cunha Melo

Ilusões para todos os gostos

Anéis de Lula

Massa com passas


Título: Ilusões

Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: Fotografia digital manipulada
Data: agosto/2006
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As imagens falam.
As cores explicam.
A legendas completam.
O enigma é descobrir:
a quem serve a ilusão?
Soll
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Caridade... frase do dia...

"Aqueles que pretendem ou tentam salvar a humanidade,
na verdade buscam a salvação de si mesmos".
Solange Pereira

Nada além de uma ilusão

"Acreditar na política brasileira é o único conto de fadas que perdura até o último dia de vida da grande maioria das pessoas. Enquanto os monstros e os duendes não chegam até a adolecência como certezas, existe um estranho mecanismo de promoção da política como caminho único para as mudanças de vida. A política é ilusão, assim como a bondade dos homens". Leia na íntegra...

07 agosto, 2006

onde vivemos...






Título: Abrigos modernos
Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: Fotografia
Data: agosto/2006
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Decerto as pessoas precisam de caixas para lhes contornar.
Na vida e na morte.
Dos túmulos verticais às covas horizontais.
Os prédios se dizem inteligentes para a pessoa não precisar se mover.
Aliás, que bom que alguma coisa seja inteligente nesta vida.
Ainda que sejam as coisas, os cães, os pombos-correios.
Já repararam que biblioteca não faz parte dos projetos arquitetônicos?
Os apertamentos são entregues com sala, quartos, banheiros e cozinha.
Um tanque.
Uma varanda.
Há quem diga que ter uma churraqueira na varanda é mais importante que uma estante de livros.
o que faz sentido, pois somos trogloditas mesmo.
E vamos nos empilhando ou nos enfileirando nas ruas.
Mas como isso não causa estranheza, está tudo mesmo certo.
Assim como deve ser.

Parada





Parei.
Parei sim!
Sim, para ver os estilhaços
as faces rasgadas
as almas penadas

Sim
Parei
Parei para ver o óleo derramado
os peixes afogados
o mar apavorado

Parei
Sim
Sim para ver os pedaços
os corpos
os copos

Parei
Parei
Sim
Parei
Parei no canal dez
e vi sim plim-plim
o jornal nacional...


soll

05 agosto, 2006

colorindo a tarde...




sem título
Autora: Lulu
Técnica: tinta de tecido sobre madeira
Data: agosto/2006
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04 agosto, 2006

Eu não vi nada, você viu alguma coisa?




Nosso país é um cacarejo. Quanto mais alto o cargo menos se enxerga, mais se pia. O presidente não viu nada, não sabia de nada e fala pelos cotovelos. Os ministros idem. Os assessores também. Pensava que quanto mais do alto, mais se podia ver.

No Brasil, só quem bem enxerga é caseiro, faxineiro, ascensorista, secretária, motoristas, meninos de entrega, cafetinas. Enfim, todos os subalternos. A era do “Você sabia? Nem eu!” foi brilhantemente inaugurada pelo companheiro Lula.

Enquanto a estátua cega, que enfeita o STF, está lá em cima sentadinha de olhos vendados, debaixo das bacias do Congresso há nos discursos inflamados uma repetição exaustiva de “repugnante, imoral, absurdo, asqueroso, indecente, blábláblá, tititi, cócócó”.

Da mesma forma, nos meandros ministeriais da Esplanada, a papelada corre solta “superfaturando, propinando, corruptando, coaptando, engavetando, liberando”. Tudo andando no andar que mais interessa.

Por isso, a justiça é cega, os subalternos mudos e os políticos surdos. Cada macaco no seu galho. Quem quer banana? Olha a casca!

Soll

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Ao falar que o Brasil se tornou "um país do faz-de-conta", exemplificou: "Perplexos, percebemos, na simples comparação entre o discurso oficial e as notícias jornalísticas, que o Brasil se tornou um país do faz-de-conta. Faz de conta que não se produziu o maior dos escândalos nacionais, que os culpados nada sabiam, o que lhes daria uma carta de alforria prévia para continuar agindo como se nada de mal houvessem feito". O ministro Marco Aurélio de Mello, fez essas afirmações ao tomar posse, em maio, na presidência do TSE, cargo no qual comandará estas eleições.

Hoje Freud me visitou

Quando convidamos alguém a visitar a nossa casa o fazemos pela satisfação e pelo prazer que iremos sentir em tal companhia. É certo, também, que nem sempre conhecemos bem nossos convidados e podemos nos decepcionar. Mas, é preciso arriscar-se ao gozo do que ficar na ausência. Por isso, hoje convidei Sigmund Freud para tomar um chá.


Confesso que não me sentia muito a vontade. Tinha certa resistência e preconceito, pois muitas versões ouvi a seu respeito. Era mesmo a minha ignorância que me afastava de tão ilustre homem. Como hoje eu estava um tanto excitada, resolvi chama-lo assim mesmo, pois se há alguém que desvendou certas nuances do sexo e da libido (energia vital) foi ele.


Embora eu ainda rejeite muitos de seus pensamentos, foi interessante encontrar o homem desnudo do mestre, do teórico. Ele disse que se sentiu incompreendido durante toda a vida, e que realmente viveu dificuldades financeiras ao longo do tempo. Mas seu pensamento nunca foi escasso, seu trabalho foi sua fortuna.


No alto dos seus 70 anos, o pai da psicanálise explicou que “a morte nos parece menos intolerável do que os fardos que carregamos. Tudo o que vive perece. Porque deveria o homem constituir uma exceção?”. Disse ainda que não se considerava um pessimista, pois esse tempo lhe ensinou a aceitar a vida com serena humildade. E, completou “ainda prefiro a existência à extinção”.


Apesar de ser considerado genial, não via a fama como algo conquistado em vida, mas após a morte. Em seguida, destacou “não aspiro à glória póstuma. Minha modéstia não é virtude”. Antes que servisse a terceira xícara de chá revelou que “nossos complexos são a fonte de nossa fraqueza; mas, com freqüência, são também a fonte de nossa força”.


Eu já tinha ouvido algo sobre fraqueza é força. Pedi que me falasse mais, pois quando certas palavras agitam meus pensamentos minha ânsia de chegar ao fim do enigma aumenta. Delicadamente ouvi “a sua busca é a busca do seu coração”. Com essa frase quase perdi o fôlego ao tentar procurar por meu peito e decifrar as batidas da minha procura. O que estaria buscando? Quais os meus complexos? Qual minha força-fraqueza? Era um carretel de perguntas se desenrolando. Comi um pedaço de bolo para perceber que aroma me levava por esse mundo.


Diante de minha pausa, educadamente ele falou “nossa vida é necessariamente uma série de compromissos, uma luta interminável entre o ego e seu ambiente. Por exemplo, os animais não sofrem de uma personalidade dividida, da desintegração do ego, que resulta da tentativa do homem de adaptar-se a padrões de civilização demasiado elevados para o seu mecanismo intelectual e psíquico. O selvagem, como o animal, é cruel, mas não tem a maldade do homem civilizado. A maldade é a vingança do homem contra a sociedade, pelas restrições que ela impõe. As mais desagradáveis características do homem são geradas por esse ajustamento precário a uma civilização complicada. É o resultado do conflito entre nossos instintos e nossa cultura. Muito mais desagradáveis são as emoções simples e diretas de um cão, ao balançar a cauda, ou ao latir expressando seu desprazer. As emoções do cão lembram-nos os heróis da Antiguidade. Talvez seja essa a razão por que inconscientemente damos aos nossos cães nomes de heróis como Aquiles e Heitor”.


Nossa, eu fiquei extasiada. Há muito já vinha lucubrando sobre os males da racionalidade, da complexidade do pensamento e da inteligência. Era isso, havia algo de instinto e civilidade em guerra, em choque, em contradição. Fiquei agradecida ao constatar que eu não caminhava sozinha por esse terreno obscuro. Indaguei-me porque não tinha um cão. (risos).


O sol estava se pondo e o encontro chegando ao fim. Citando Nietzsche ele me acalentou dizendo que o filósofo foi um dos primeiros psicanalistas. “É surpreendente até que ponto a sua intuição prenuncia as novas descobertas. Ninguém se apercebeu mais profundamente dos motivos duais da conduta humana, e da insistência do princípio do prazer em predominar indefinidamente. O Zaratustra diz: A dor grita: Vai! Mas o prazer quer eternidade Pura, profundamente eternidade.”


Minha libido aflorava ainda mais ao compasso de cada palavra colocada no seu devido lugar. Olhei para ele profundamente como a um espelho procurando o reflexo ele sorriu e disse “não, eu não sou um pessimista, enquanto tiver meus filhos, minha mulher e minhas flores! Não sou infeliz – ao menos não mais infeliz que os outros”.


Ele se foi e eu fiquei aqui com o eco das últimas frases... não, eu não sou um pessimista... não sou infeliz... não mais infeliz que os outros... Tomei o último gole do chá, bati um papo com o meu ego e assumi minha busca incessante pelo prazer.

Solange Pereira Pinto


Fonteeditada

03 agosto, 2006

Histórias saindo do baú da memória...


Todos nós temos muitas histórias para contar. Algumas inventadas, outras vividas. De fato viver é criar narrativas, às vezes engraçadas, noutras alegres, e ainda algumas tristes.

A cada dia estamos reinventado a vida, buscando caminhos para finais felizes. Senão que sentido teria existir, não é mesmo?

Então, pensando nisso a Arte & Alternativas lhe oferece a possibilidade de registrar suas histórias, memórias e até pequenas biografias, com muita originalidade, em livros-arte personalizados.

Você conhece alguém que vive um espetáculo diário? Seu pai tem muita história para contar? A vida dele é fascinante? Seus filhos lhe pedem para repetir aquela velha história todas as noites? Sua amiga ou seu amigo são tão interessantes que merecem uma homenagem?

Consulte-nos e faremos a vida contada ganhar forma de livro. Um livro único, especial, para mostrar que os momentos são fotografias da memória que podem ser eternizados em páginas de vida e arte.

Esperamos você e suas histórias...

02 agosto, 2006

A vida precisa de reedição...reeinvenção...

Título de hoje: Sonhar entre estilhaços
Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: Lápis de cor
Data: 1999
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A ilha do beco



Ano acabando. Férias por perto. Capital parece não parar. Nem a cidade. Nem o sistema. Feito formigas trabalhadeiras sobre montes de papéis e de contas nos pomos sol a sol. Os afetos se perdendo no passar do ponteiro. Os fios brancos se acentuando ao passar do pente. As gavetas se entupindo. Os ralos também. As ruas fervilhantes comprimindo o tempo. A paisagem em seu movimento linear. Estática. Os prédios. As avenidas. As janelas. Os edifícios. O concreto argamassando os sentidos. As emoções se endurecendo a prazo. A cidade. Ar de escapamento. Poeira de desilusão. Buzinas de realidade. Almas em perpétua autocontravenção.

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Dizem que beco é lugar ruim. Estranho. Perigoso. Proibido. Escondido. Rua estreita e curta. Às vezes, sem saída. Toda cidade parece ter seus becos. Até as mais planas e planejadas. Brasília das ruas largas tem também suas ruelas. No centro mesmo da cidade, nos lugares ditos nobres. Para muita gente beco é local assustador. Para outros, mera passagem. Pessoas também têm suas galerias e ruazinhas.

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É dezembro. Soturno. Chuvoso. Cinza. As noites, contudo, sempre negras. Berço de renitentes.

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O mapa indica na estreiteza da noite aonde atravessar o espelho. Mudar a rota. Logo atrás de uma grande antiga avenida, está a ilha. A casa com sua fachada suave e luzes chamejantes. A delicadeza se alternando à intensidade. Mesas cuidadosamente postas. Elegância e simplicidade. Nos olhares sorrisos. No aroma, banquete. Artistas. Dançarinos. Pintores. Atrizes. Poetas. Cenógrafos. Professores. No palco estrelando a cumplicidade de afetos. Encontro.

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A ilha do beco acolhendo a possibilidade da vida. Páginas abertas para outras histórias. Capítulos de prazer. Nas entrelinhas vozes de liberdade. Nas ilustrações tradução de outra dimensão de tempo limpo e feliz.

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Naquele beco tem uma casa, uma ilha, uma passagem para além do comum, para onde se vive.

Solange, dezembro/2005.

01 agosto, 2006

Frases do dia

"Já me cansei de fazer funerais (amorosos)". Adelaide



"Os inteligentes são proscritos". Tamar