30 julho, 2006

O Desespero Humano



Título: Olhar o sol para ver o sol
Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: Fotografia
Data: 24.07.2006
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"Ou o homem se desespera de si e busca fugir de sua angústia,
ou se desespera em si e assume essa angústia que é existir".




Soren Kierkegaard
Em "O Desespero Humano"
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No Orkut... comunidade de Kierkegaard:
1) "O que faz o sujeito necessitar de um Outro para além de seu olhar mais profundo?
O que o leva a ter uma religião, temer a um "Deus" senão o desespero diante de sua própria existência?
Do ponto de vista semântico seria o desespero a negação da espera?
Ou seja DES - ESPERO?
Isto é não saber lidar com a espera de ver ( no sentido de ter que concluir) o que é óbvio?
De fato, EXISTIR DÓI".
2) "O verdadeiro desespero é ter um eu".
3) "Não é à toa que o desespero é a própria possibilidade da salvação, sendo que a salvação é o estado em que você é você mesmo, embora este estado só seja possível através da "entrega" do seu ser ao "poder que o criou"".
4) "Não estaria Kierkeegaard fugindo desse nada?
Querendo em vão a eternidade do que ele enxerga como espírito e carrega no intelecto?"
5)"Desespero é isso, querer deixar de existir (não querer ter um eu), ou querer existir de outra forma (querer ser outro que não o que se é), ou ainda querer existir sem fundamento (querer ser o que se é sem a referência ao poder que o criou".
6) "Desespero é a doença do eu". A única maneira de se livrar disso é se desapegando do eu, aceitando a “perecidade” da condição humana".
7) "Sem dúvida o emaranhado neurológico humano é um grande mistério, rico e surpreendente...os valores únicos de cada um direcionam e moldam as atitudes e ideologias...contudo a certeza da nossa despedida desse plano acaba por gerar o absurdo de sentir o desconcerto do mundo".
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Como fazer a síntese?
Como erguer-se do paradoxo?
Se fazer por si é fazer por ti...
Ou se... ou se...
Como unir o "ou" ao outro "se"?
Soll
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28 julho, 2006

BOEING-BRASIL

Em caso de despressurização...
Há saídas de emergência sobre as asas...



Brasília pode ser lembrada por seu avião com assentos de primeira classe, executiva e econômica. Diariamente se luta por vagas na terra seca do planalto central e no Brasil continental. Contudo, em época de vacas mirradas, socialmente falando, e de um povo sedento por um leitinho, há uma disputa que envolve milhões de “gentes e dinheiros”. Esse fenômeno competitivo é aparentemente salutar, se visto pelo ângulo da tentativa democrática. Mas...

As vagas “da hora” são as de primeira classe. Aquelas bem perto do piloto, do comando, onde há o serviço de bordo com requinte, champanhe, pratos e talheres de verdade. Com direito a sobremesas de renomados chefes.

Mais de dez candidatos por vaga é a estimativa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para o preenchimento das 513 vagas da Câmara dos Deputados para este ano. São Paulo lidera a lista com mais de mil candidaturas e o Acre está na lanterna com 51.

Para o Senado Federal, onze candidatos concorrem no Distrito Federal por uma única vaga. Em todo o país, 225 candidatos concorrem a uma vaga no Senado, que este ano terá um terço (27) de suas 81 cadeiras renovadas - uma para cada estado. São Paulo é o estado que apresenta o maior número de candidatos, 19, seguido pelo Rio de Janeiro, com 17 candidatos. Acre, Tocantins, Amazonas, Espírito Santo e Rondônia apresentam o menor número de candidatos: cinco por estado.

Na comissaria de bordo tem gente disputando as partes nobres do avião. Do que servirá ao piloto até o que empurrará os carrinhos de bebidas e salgadinhos, são 208 concorrentes. Ser governador é uma boa pedida, e os candidatos estão convictos de que sabem todos os procedimentos de emergência em caso de pane (embora alguns sejam praticamente analfabetos).

Já a vaga de piloto da aeronave é disputada por apenas sete candidatos, o que prometer uma decolagem de às, sem muitas turbulências durante o vôo, e melhor pouso, talvez conquiste a insígnia de Presidente da República. Tem até gente oferecendo céu de brigadeiro como se possível fosse (parece que para competir a esse cargo tem que ser meio deus, meio santo).

Na parte traseira do avião, estão os lugares reservados para as vagas das assembléias legislativa e distrital, são mais de 13 mil candidatos. As restantes, da classe econômica, ficam para os outros afortunados, que ainda possuem alguma condição de disputa e barganha. Lá estão alguns profissionais e outras categorias.

Na busca do bilhete, que garante a vaga no vôo, estão palmo a palmo disputando – nos balcões de negócios – assessores, cargos comissionados, ministros, presidentes de estatais, banqueiros, empresários. Uma gama imensa de indivíduos tentando garantir sua viagem paradisíaca.

Enquanto se decide a lotação do boeing-brasil (enferrujado e sem manutenção), outras vagas são pleiteadas nas imediações. Longas filas se formam. É a plebe que mantém motores, troca o óleo, conserta turbinas, faxina os carpetes das orgias, limpa os banheiros, carrega as malas, abastece.

Lá estão, bem abaixo do horizonte, disputando vagas em hospitais, com alto número de candidatos por leito, internação, consulta, transplante. Outros competindo às vagas da aposentadoria. No fosso, as vagas para matricular crianças nas escolas públicas são concorridas quase a tapas, madrugada adentro. Vagas para emprego, vixe, melhor nem falar.

Há, também, outras buscas por vagas. Neste semestre, por exemplo, o curso de medicina teve uma demanda de 82 candidatos por vaga para o vestibular da Universidade de Brasília, seguido pela disputa de 45 em Direito e 26 por vaga para relações internacionais (faz-de-conta que todos os formados terão emprego depois).

Da mesma forma, em Brasília, os editais de concurso público são assediados por grande parte da população que clama por “estabilidade” e “bons salários”. Cargos de fiscais, técnicos, auxiliares, do nível fundamental ao superior, burocratas de toda espécie, transformam-se em sonho de consumo. Vagas nos estacionamentos nem se fala.

Se, por um lado, durante todo o ano (principalmente nas últimas décadas) vagas e mais vagas são disputadas para a sobrevivência das famílias que nunca entraram no avião, por outro os passageiros cotidianos não querem largar seus lugares numerados. Pleitear uma vaguinha mandatária pode garantir uma estabilidade financeira por várias gerações, basta olhar os clãs Sarney, Magalhães, Siqueira, etc.

Dizem que para se preencher uma vaga existem critérios. Para o vestibular se observa a capacidade de decoreba (ou no caso das particulares a capacidade de pagar a mensalidade); nos concursos públicos a habilidade de fugir de pegas (ou de comprar as provas); nos hospitais a premência da morte (ou ter uma boa rede de relacionamentos). Mas, quais os critérios para preencher uma vaga eletiva? Existem critérios para se lançar um candidato pelo partido a, b ou c? O que se mede na disputa eleitoral? Carisma? Popularidade? Experiência? Compromisso? Ética? Calibre financeiro? Ou vale mesmo é a cara-de-pau para vender ouro de tolo?

Em tempo de centenário do 14 Bis, de Santos Dumont, os brasileiros – tão bons e competentes avaliadores – exercerão sua cidadania (talvez fosse melhor e mais real escrever sidadania), com mais bis, escolhendo os integrantes do esquadrão (ou esquadrilha?) pelo aperto de mão, palavras bonitas e rosto simpático.

Mais uma vez, estarão espremidos na cerca do aeroporto eleitoral milhões de brasileiros, com seus olhares miúdos e vestes rotas, mirando (hipnotizados) a sofisticada invenção que voa tendo peso maior que o ar, acenando mãos e bandeirinhas, assistindo ao espetáculo.

Sequer imagina, a maioria da platéia, que o avião pesado, sucateado, contrabandeado, desgovernado pode cair a qualquer momento na sua cabeça, e que nesse momento os tripulantes e nobres passageiros (certamente) já saltaram de pára-quedas, ou fizeram outra conexão, e que sair dos escombros pode ficar cada vez mais difícil. Alguém sabe onde fica a descarga do avião?


Solange Pereira Pinto, diretamente do Pico da Neblina.

O QUE EU ESTAVA PROCURANDO MESMO?


Meu desespero não é calculado. Caso fosse, seria depressão. Um suicídio planejado com antecedência é assassinato.

Eu não sei quando vou explodir, costuma acontecer no momento em que não estou preparada. Naquele instante em que controlei a respiração e restabeleci a paz, que baixei a guarda e me vi salva de mim, dos meus colapsos e iras infernais de dizer a verdade mesmo quando ela não me fará falta e diferença ao mundo. Uma frase que entra torta, um cumprimento dissimulado, uma pergunta maliciosa e gritei bobagem e queimei os manuais de geladeira.

Nenhuma vontade de freqüentar o supermercado na sexta de noite, porque significa cozinhar no dia seguinte. Superei a fobia para não reclamar depois da geladeira vazia. A fila me irritou um pouco, mas não foi isso que me irritou completamente. Irritou-me perceber que esquecerei duas ou três coisas que sempre esqueço de comprar e que só me lembro quando guardo os mantimentos no armário. Mas não foi isso que me irritou completamente.

O que me irritou não tem nada a ver com quem disse. Não tem nada a ver com a tensão pré-menstrual. Nada tem a ver com o mercado, ou com as bolsas como bóias na esteira. Nada tem a ver. Ia tudo bem, havia assinado o cartão de crédito, deixava o balcão quando a atendente soltou o riso e perguntou: "Ah, encontrou tudo o que procurava?".

Ela atrasou a fala automática na hora de passar todos os produtos e tentou recuperar o tempo perdido. Deve ter sofrido o pânico de contrariar a orientação do gerente. Ou o receio de uma cobrança dos colegas. Falou rapidinho, como quem diz tchau. Falou rapidinho, assim como se aprende na auto-escola a dar o pisca-alerta mesmo que já tenhamos dobrado a rua. Já ouvi a frase tantas vezes e nunca me incomodei. O problema foi o atraso da pergunta, que acentou sua gratuidade.

"Encontrou tudo o que procurava?". Retornei o rosto para ela e não menti: não encontrei dois quilos a menos, não encontrei um namorado que não seja casado, capaz de responder mensagens no final de semana, não encontrei algo de novo para entreter minha mãe e não escutar que está ficando tarde para que tenha filhos, não encontrei um trabalho que me pague mais e me inspire a trabalhar menos, não encontrei um livro que não me faça dormir, não encontrei uma calça 38 que me sirva, não encontrei minha infância quando não pedia permissão para ser mulher, não encontrei minha amiga que morreu cedo no acidente de carro, não encontrei um motivo fora de mim para que justificasse o esforço de ser bonita, não encontrei uma frase inteligente em nenhum pára-choque de caminhão, não encontrei o orgasmo vaginal, não encontrei gentileza quando chorava, não encontrei um par para dançar, não encontrei um vinho que melhorou depois de abrir a rolha na noite anterior, não encontrei um segredo que não se transformou em gripe mal-curada, não encontrei uma manicure que não tire lascas quando chego atrasada, não encontrei uma tristeza que arrume a cama, não encontrei um nome para pôr como beneficiado no seguro de vida, não encontrei paciência para cachorro ou gato, paciência para flores na jardineira, não encontrei um restaurante que o garçom olhe primeiro para mim, não encontrei uma vingança pontual (minha maldade demora a elaborar respostas), não encontrei uma forma de segurar meus seios, não encontrei uma foto que não me veja assustada.

Aqui, ou na minha casa, não encontrei. Trinta e três anos sem reposição. Mas volto outro dia.
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Ps. Adoro homens inteligentes e textos brilhantes!
ahhhhhhhh, delícia!


autoeu


Na palheta escolho a face
humor lilás
dor marron
alegria amarela
tristeza neon
Em arco-íris
levitam pensamentos
dos negros aos incolores
dos ácidos aos indolores
Na palheta escolho a face
das tintas tão misturadas
dentro de mim.
soll

Sobreviventes

Para Vinícius de Moraes

Disformes, nascemos. Nus.
A caixinha de música, repetitiva a embalar sonos. Arregalantes novidades diárias a encher berços.
Tecidos enrolados esperando a tesoura social. Em cortes moldados vamos crescendo. A máquina do pensamento bordando minuto a minuto. Vamos nos convertendo. Tornando letras, números, nomes.
Com o tempo surgem os recortes, as passamanarias, os galões, as borlas. Transformamo-nos em adornos a serem apreciados. Sol a sol as melhores vestes. Emoções e instintos represados, no alinhavo. Na marca do giz. No patchwork cotidiano, um dia nos descobrimos trapos. Pedaços de nós se amontoando nos varais da existência. Partes de outros se enviesando em nossas costuras. O pânico de ver, ou mostrar, a alma desnuda, encardida, mal acabada. Com agulha e linha passamos os dias a emendar e remendar buracos, fissuras. A sedução para encontrar a armadilha, a aceitação. Pessoas rotas caminhando sem suas rotas.
Na melancolia da lua, na noite se encontram os avessos. Bailando na corda bamba...vai...vai...vai...
Lá estão... os amantes impulsivos. Os artistas instintivos. Os neuróticos assumidos. A dor da lucidez buscando regalo na embriaguez. Almas descosturadas, puídas pela sensibilidade. A compulsão de amar. A poesia. A paixão. O prazer. Esfarrapados de desejos desfilando na boemia. Ah, Vinícius...Ah, sensata insensatez... As contradições. O caos. A ambivalência. O conflito. econhecer que os botões podem se soltar. O zirzimento se abrir. O viés desenviesar. Ver que a segurança é falsa sensação. As linhas velhas. Tecelagens finas. Costuras toscas. Aceitar-se rasgado para, imediatamente, viver. Os aspectos sombrios. A carne viva. A consciência aguda. Vão caminhando corajosamente os maltrapilhos da razão.
Quem costura agora é a engenhoca dos sentimentos. Juntando retalhos, tecendo coloridos mantos de emoções. A espontaneidade do alfaiate de vida transbordante. Somos a matéria com que são feitos os sonhos. A sensação de impotência insistindo em nos manter vivos. A impulsão da vida. A impulsão da morte. É preciso, mais que talento, permanente inquietude para desnudar a alma e revelar-se um trapo humano na melhor tradução de amor e poesia.

Um dia como outro nem sempre qualquer

Uma das maiores tristezas, e das maiores belezas, é descobrir que sabemos exatamente quem é quem. É você olhar para a pessoa e saber: ela é assim, ela pensa assim. E, depois, se deitar na cama, ainda que meio pretencioso, e dizer: eu sabia. E, confirmar que sabia mesmo, ainda que tenha se fudido em saber. Mas, você, sabia. você realmente sabia. E, ela, esta, a pessoa é como exatamente você a via.

um suco de laranja

Queira não ou acreditar, o suco da laranja é ingênuo. Sim. Ele é ingênuo porque pensa não se misturar. Ele é suco de laranja natural. Mas, sempre vem aquele descolado que diz:
- Quero maracujá com laranja.
- Quero abacaxi com laranja.
A pobre fruta, específica, da laranjeira, se vê diante do hibridismo e diz:
- OK, não serei mais laranja. Ok, eu topo me misturar.
O carinha anotante do pedido, simpático, e atencioso, diz:
- Que ótimo que a laranja não criou maiores problemas. O que seria de mim?!
A pobre laranja, que nem metade tinha, resolve compor-se ao impasse.
- Melhor que eu não seja uma laranja autêntica, do que sequer ser uma laranja qualquer.
O bar calorosamente brada a opção da fruta e percebe que se ela não regredisse a um estágio anterior, o bar jamais teria a mesma graça.
A laranja incontida na sua decepção e infortúnio se joga a ser espremida ao bel prazer da máquina de suco.
- Ufa!, pensa o garçom. Que mal quer um suco ou bebedores contumazes de fim noite?
Enfim, a laranja está livre para mim.
Entre uma espremida e outra, a laranja se espreita, faceira, ácida, redonda, sulcosa, semi-liquída àqueles que desejam devorá-la.
Um alívio para o garçom, um alívio para a moça casta, um martírio para a simples laranja. Mas, nada disso importa. Lá vem ele com o copo alaranjado, com gelo, e gracioso, mostrar que laranja finalmente está no suco, no copo.
E, ela bebe como se o mundo estivesse limpo e lindo aos seus pés.
Num gole. Num ácido. Num doce.
Numa laranja cobiçada que o dinheiro pagou, e a pobre fruta, enfim, morreu trucidada, acalentada, mortificada, num rompante de bar. Pois, o que restaria a uma laranja, senão o espremedor e o copo?
Sim!! ela foi digna, e bebida até o fim. Queira não ou acreditar, um suco da laranja é ingênuo.

do outro lado do outro lado

"Enquanto sopro fumaça, milhares sopram imbecilidades".


Soll

27 julho, 2006

Insone




Oh insônia que agita minha alma e berra intranqüila essa vida de fila que não se finda a buscar pelo pão mais um dia de lida encurvando os ossos as bocas oprimidas dessa existência fajuta que aprisiona e imita nem as pálpebras cerram para um consolo ou desdita a imaginação se entrega para uma outra partida que neste tempo está perdido o alcance do objetivo o pensamento atordoado por silêncio grita que acabe essa farsa diária de lutar pela vida que não seja o sono apenas um intervalo para outra ida a ficar na cama insone pela lucidez que não alivia o fato da amanhã continuar a ser o mesmo dia.

Solange

Frase do dia

"O planeta tornou-se uma grande esfera de loucura e de devastação"

Rogério Silvério de Farias

26 julho, 2006

Diagnóstico de uma demissão

Rompendo o pacto da mediocridade




Com o advento do marketing, da publicidade, da qualidade total, muitas instituições de ensino estão confundindo seu papel social. Atualmente, com um investimento financeiro pequeno ou médio, se abre uma faculdade na esquina, uma escola em casa, um curso de informática fantasma.

Numa receitinha caseira, como quem faz um arroz com feijão e bife, montar o negócio nem é tão complicado. Pegue um indivíduo seja ele padeiro, marceneiro, advogado, economista, comerciante, político etc, não importa, com dinheiro na mão, acrescente mais duas ou três cabeças iluminadas, para se formular um projeto “educacional”. Espere o aquecimento do mercado. Registre o plano. Em seguida, quando estiver quase no ponto, contrate um publicitário (ou peça para aquele amigo bom em corel) para fazer uma logomarca, uns cartazes, folderes, outdoor, para dourar o produto. Quando sentir o aroma de sucesso no ar, está pronto para servir. Em alguns casos há quem prefira o bife mal passado, então sirva assim mesmo. Telefone para os amigos, abra as portas da cozinha, ponha a mesa e chame seus convidados. Se a comidinha estiver boa, diga que foi você mesmo quem fez, se não estiver diga que a cozinheira é novata. Após a sobremesa, corra ao MEC para tentar aprovação dos pratos que você está oferecendo. Se houver alguma indigestão, não se desespere, podia ser uma indisposição passageira que logo, logo, um sal de frutas dará o jeito de reformular uma ou outra linha torta do documento. Quando o número de convidados crescer muito, chame os vizinhos, primos, parentes, para ajudarem no cozimento das iguarias.

Em se tratando do “mercado da educação”, não acho exagero algum dizer que a receita acima é quase infalível. Há 20 anos, quando fiz a primeira graduação superior, existiam em Brasília no máximo cinco faculdades. Lembro que, na época, tinha uma apelidada de “pagou passou”. E, outra, era chamada de “insiste só mais um pouquinho que tem até quarta chamada para o vestibular”.

Com o passar do tempo, o crescimento populacional, a globalização, a pós-modernidade, o capitalismo, e todos os outros blábláblás que escutamos dos estudiosos, aliados às pseudo-reformas educacionais, repercutiram, e a demanda pelo ensino superior ganhou dimensões. Abrir “escola” (instituições ditas “sem fins lucrativos”) dava mais lucro que restaurante. Daí, surgiram as Facisso, Facquilo, Facfácil, Univenha, Isdiploma, e similares. Algumas, sem dúvida, com projetos mais sérios e outras com o departamento financeiro mais apurado.

O que se torna difícil em meio a essa avalanche de ofertas, como em balcão de feira, é escolher a peça com menos defeito. A promoção, os preços convidativos, o pagamento facilitado, os tamanhos P, M, G, GG, para caber todo mundo (do que não sabe praticamente escrever ao que não sabe realmente entender o que lê), dificultou a seleção pela qualidade, seriedade e compromisso real com a formação do aluno.

Por um lado, não sou exatamente contra o acesso facilitado ao terceiro grau. O que me assusta é a saída facilitada do aluno que está na faculdade. Antigamente eu ouvia: “entrar na faculdade é fácil, difícil é sair”. Hoje vejo, na prática, que sair também é tão fácil quanto entrar.

Isso demonstra que poucas faculdades estão verdadeiramente preocupadas com a formação de qualidade, e grande parte teme manter em seus quadros professores que deixam alunos para testes finais ou reprovam. Ao que parece, professor bom, de nível, competente é o que passa todo mundo, para não ter aluno reclamando na coordenação e direção.

Ora veja, sabemos que a maioria da população brasileira não sabe escrever e nem ler, independente do grau de escolaridade. São poucos os que dominam a língua materna para estabelecer uma comunicação adequada por escrito (ou até mesmo falando) e, também, é a minoria que entende um texto que lê e consegue absorver algo, e, pior ainda, utilizar o conhecimento para transformar a própria condição, a própria vida.

No entanto, existem aos montes, nos cursos superiores em geral, alunos semi-analfabetos aprovados em todas as disciplinas com notas superiores a sete. Lá, também, estão futuros professores, alunos de Pedagogia e Normal Superior, com uma defasagem suficiente para retornar ao fundamental. Mas, sairão diplomados e habilitados a alfabetizar os outros.

Contudo, ouve-se “se o aluno chegou até aqui, foi passando, eu que vou reprovar?”, “deixe que o mercado reprove”. Pergunto: onde está a responsabilidade do professor? O professor vê e se cala, para não ser “reprovado” pelo empregador. Cada vez mais, o professor está proibido de falar. São as mordaças invisíveis. É a lei da sobrevivência do mercado. Todavia, o “discurso” institucional diz “aqui não admitimos isso, o professor tem toda a liberdade em reprovar”. Ledo engano! Experimente, e se o seu coordenador de curso ficar incomodado com as pressões exercidas pelos alunos que não tiveram notas suficientes, seu pescoço vai para a direção terminar de degolar. Feito um frango no canto da cozinha, primeiro é arrancada cada pena, depois de amolada a faca, crau, é só esperar o sangue espirrar! Normalmente, às vésperas das férias, para o depenado ficar sem possibilidade de encontrar outro rumo melhor.

Outra prática conhecida, para demitir professores comprometidos e empenhados com a formação de qualidade, é desviar o assunto, “insatisfação do aluno por causa das notas” ou “perseguição pessoal da coordenação com o professor X” etc, para “você não se relaciona bem com os alunos”, ou ainda, “você não tem a graduação adequada” (ainda que o professor tenha especialização na área das disciplinas que ministra). Tentam dar um “tom profissional” para dispensar aquele que incomoda, que rompe o padrão, a média, que denuncia, que deseja mudanças, tão somente para esconder os aventais sujos do chefe de cozinha despreparado e lambão.

É repulsiva a inversão de valores, aliás, a falta deles. Para acobertar inseguranças pessoais, melindres institucionais, e a farsa do outdoor, parte-se para a injusta desqualificação profissional do professor. Não sou contra demissões, ao contrário, desde que feitas com princípios, lisura, justa motivação. Incompetentes de fato não devem ser mantidos. Ou ainda, que seja, por motivo pessoal (o que é até aceitável), que este seja dito e não transvertido em “incompetência” do professor, quando esta pertença à instituição e seu representante.

Se, estamos hoje vivendo e praticando o pacto da mediocridade, da opressão, da dominação, da ignorância, da miséria, é, também, porque os sistemas, autorizados pelo governo, e seus componentes, responsáveis pela transformação social e humana a partir da educação, não estão de fato cumprindo cada um o seu papel. Mas, infelizmente, estão todos ganhando para isso. Quem perde? Eu, você, a sociedade, o país, diante da avalanche de futuros profissionais despreparados e com diploma debaixo do braço.

Vejo que, o professor tem sido considerado mero prestador de serviços para essas empresas com discursos de transparência, qualidade e profissionalismo, mas que na prática estão mais preocupadas é com a satisfação do cliente e com as fofocas do corredor. Mensagens não ditas verbalmente, mas comprovadas por atitudes.

O que não imaginava é que o pacto da hipocrisia atingia camadas mais extensas. E, que o pacto da mediocridade vai do aluno ao corpo docente, passando pela coordenação e direção, inclusive. Enquanto esse pacto não for rompido, o que resta é a frase de Marcos Gouvêa de Souza, especialista em marketing, publicidade e administração, “não existe empresa nota 10 com empregados nota 5”. E, depois, ainda perguntam por que a educação no Brasil não vai para frente.


Solange Pereira Pinto

25 julho, 2006

A má educação

"Os debates acéfalos sempre me encantaram. Bom, esses debates sem fundamento e a má qualidade dos representantes públicos são a razão maior do meu amor pela política partidária do Brasil. Eu sinceramente gostaria de encontrar um povo que seja representado de forma tão ruim como nós somos. Esse título é nosso, ao menos. Confesso que tive uma educação cara e de péssima qualidade, que excluiu disciplinas indispensáveis como a sociologia e o latim em momentos preciosos na formação de um indivíduo. A educação que recebi apenas me desgastou em horas improdutivas para realizar cálculos sem sentido. Quando, por fim, deixei o colégio para prestar o exame vestibular, sabia a diferença exata entre as ligações das moléculas de carbono. Mas não sabia a diferença entre um deputado federal e um senador". Leia mais....

Rodolfo Torres

Um dia após o outro

Qual é a saída do Brasil?
AEROPORTO
Talvez, por isso, criaram Brasília no formato de avião...
Soll...

Imagem





Olhares cruzados

Um rosto.

Uma imagem.

O que se passa por dentro do sujeito?

o que vê quem é visto?

Um rosto.

Uma imagem.

Uma miragem.

Autofotos em 24.07.06

Soll

23 julho, 2006

Hoje é domingo

Brisa fria.
Edredon quentinho.
Três travesseiros macios.
Um livro sensacional.
Preguiça no corpo.
Pijama de seda.
Cheiro de azeite e alho na panela.
Música ao longe.
Um telefonema carinhoso.
Quatro suspiros.
Uma caipirinha.
Mil sorrisos.
Hoje é domingo.

Oficina de pintura







Título: Natureza morta na pós-modernidade
Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: óleo sobre tela
Data: 22.07.2006
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Hoje foi dia de oficina no CCBB, paralela à mostra Giorgio Morandi e a Natureza Morta na Itália.
Desanimada que estou, resolvi pintar para espantar os males.
Lembro-me que a última vez que pintei tela foi em 1999, com acrílica.
Da tinta a óleo eu não passava perto há mais de 20 anos.
Sei que a pintura assim como o desenho necessitam de treino.
Como tudo na vida...
Quanto menos se pratica, mais enferrujadas ficam as mãos.
Fazia tempo também que não me metia em oficina "dirigida".
Bom, vou tentar relatar a experiência.
Tarde ensolada, fria, ateliê ao ar livre.
Agradável sensação.
Vontade de pintar e encontrar novamente pincéis e tintas.
Embrenhar em cores e lambuzar as idéias.
De repente, me vejo novamente com carvão nas mãos para fazer esboço.
(coisa que já aboli há tempo, pois prefiro ir direto sem muito ensaio. Contudo, foi sugerido se fazer o esboço. Então topei, né)
Fazer rascunho é interessante, principalmente, para alguém (como eu) que não sabe desenhar.
Olha daqui, olha dali. Está lá. Rascunhada a tela.
A proposta era pintar a tal "natureza morta". Essa foi minha primeira vez. (Sempre preferi paisagens, temas livres ou abstratos).
Lancei-me ao desafio.
Lembrava algo sobre primeiro pintar o fundo, para depois dar corpo aos "objetos em primeiro plano". (técnica também sugerida hoje pelos monitores).
Lá fui eu brincar com o branco, um pouco de amarelo cádmio, óleo de linhança, solvente...
Depois passei para a base (a mesa) com branco e "grees" (um cinza escuro meio azulado).
Na minha cabeça a vontade de não fazer uma "natureza morta padrão".
Perguntei se poderia.
A monitora me olhou um pouco "espantada".

E, disse: "a proposta é observar os objetos, luz, sombra etc...".
Entendi.
Pensei, mas não farei um fundo padrão, pelo menos esse deve ser livre.
Passei em seguida para os objetos.
Nesse momento, o outro monitor (eram dois, uma moça e um rapaz) disse: "é melhor você ter cuidado com as cores, talvez esses tons não combinem com as cores dos objetos depois..."
Hum. Será?

O quadro deve seguir a linha de quem?

Não poderia então mudar as cores do objetos?

Não poderia destacar o fundo?

Precisaria mais uma vez na vida seguir o referencial?


Já comecei a achar que eu estava no lugar errado.
Mas, continuei no desafio.
Do vaso preto passei para o cinza, fui para a garrafa verde e, finalmente, cheguei na louça branca.
Dar volume era algo de louco.

Nossa, teria que ser "realismo"?

Precisaria pintar como os "mestres"?

Onde estava eu?

Só queria me divertir...
Dei o quadro por terminado ao pintar o último objeto.


Foi quando a monitora me disse: "precisa fazer a sombra dos objetos na mesa"
Ahn? pensei.
Completei dizendo: "precisa mesmo?". "Para mim está bom".
Ela retrucou delicadamente: "assim eles ficarão voando".
Então tá. Põe a sombra aí.
Foi quando a toalha, que eu queria lisa, ganhou as primeiras rugas.
Vem o outro monitor e me diz: "esse grafismo do fundo destoa do restante, deveria ser mais neutro, e a garrafa pode ganhar mais luz".
Ahn? pensei novamente.
Então tá. Põe a luz aí.
Foi quando a garrafa verde ganhou amarelos.
Eu que pensava havia concluído a "minha obra" antes da última foto, resolvi carregar a mão no tal "grafismo".
Se ele destoava, se as cores não combinavam, se não havia harmonia, se... se... se...
Eu ia agora era destoar de uma vez, para não ficar nos ahn? ahn? ahn?
Peguei os tons que estavam na palheta e comecei a pincelar mais forte o fundo.

Quebrar de uma vez a tal da "harmonia".
Quando me viu "carregando" a mão no fundo, o rapaz ficou em silêncio (e continuou observando).
Eu terminei os riscos, dei mais uns riscos na toalha, mais outros nos objetos e pensava: "agora vou riscar tudo".
Eu tinha perdido o interesse no quadro.

Ele já não era mais a "minha" pintura (do meu jeito).


Afastei, olhei de longe e comentei com o monitor: "veja ficou ótimo, o fundo está completamente diferente do resto".
Ele disse " é. está muito 'destacado'".
Sim, está, completei.
(por que as coisas têm que seguir um mesmo padrão? por que não experimentar o diferente?)
No final, expusemos todos os quadros no chão para olharmos os resultados, as várias leituras.


Sem dúvida o meu era o único com "fundo destoante".

Fiquei feliz por isso.
O quadro que mais gostei foi o de um outro rapaz que fugiu completamente do referencial, do volume, da luz, da sombra.

Era um tipo mais geométrico, moderno.

Pena que não tinha mais como fotografar.
No mais, foi muito válida a oficina, os monitores foram muito atenciosos.
Enfim, uma tarde gostosa sem pensar na vida.
Peguei meu quadro, saí de lá, fui para uma festinha de criança pensando: por que toda flor é vermelha com o caule verde?

Blog do dia

"Normalmente a maternidade vem cercada de ursinhos, perfuminhos
e o povo esquece de dizer que tem:
fraldinha suja, vômito, febre, flacidez, estria, peito caído, gordura localizada...
eu gosto de falar o que não costumam dizer".


Mãe 24 horas. Confira!

As sombras



20.07.2006

________________
Quando crianças brincamos e nos encantamos com as sombras,
uma vez adultos temos medo das próprias...
Soll

21 julho, 2006

Autor convidado de hoje...

Quando começa uma amizade?
por Francisco Barbosa

Você já parou para pensar quando começou sua amizade com aquela pessoa que você adora? Quando ela deixou de ser um colega, um mero conhecido, um companheiro de trabalho, de faculdade, de escola e tornou seu amigo?
Esta é uma fronteira que ultrapassarmos sem exatamente saber como, onde. Uma amizade pode levar anos para acontecer, ou apenas horas. Amizade mais do que de tempo, ela necessita de afinidade, de cumplicidade, de saber calar, de saber ouvir, de murmurar ou gritar quando o momento pedir. Quantas pessoas você não conhece há anos, convive quase que todo dia e não pode chamá-la de amiga e de repente alguém que entrou na sua vida hoje, você tem a certeza que será para sempre.
A fronteira para o início de uma amizade é ultrapassada de várias formas. Ela ultrapassada em um momento de dor, em uma hora de alegria. Ela é ultrapassada numa viagem, numa cola durante uma prova, numa carona, na mesa do bar. Ela é ultrapassada numa dança, num sorriso despretensioso. Ela é ultrapassada num email, num telefonema em um momento que você precisava, que te fez sorrir, que levantou seu astral.
Mas uma vez ultrapassada esta fronteira, não tem mais retorno, pois amizades verdadeiras, ao contrário do que dizia Vinicius quando falava que "as paixões são eternas enquanto duram", ela se perpetua, "pois não é chama que se apaga", mas porque é calor, que pode até esfriar, mas você sabe que um dia ele vai voltar a te esquentar.
Falar "amizade verdadeira" é redundância, não existem falsas amizades, isso pode ser coleguismo, convivência. Amizades superam tempo, superam distância, superam ciúmes de esposas, maridos, noivos, namoradas. Shirley Mclaine já comparava amizades com um barco, que pode até se afastar de seu porto, demorar, mas um dia você sabe que ele estará lá, firme e forte.
Dizem que ao contrário dos irmãos, amizades nós escolhemos, mas pode ter certeza que não, ou você quando entra numa sala de aula, num novo emprego você diz vou ser amigo desse, dessa, daquela. Amigos, assim como irmãos, são nos dado por Deus, ou você acha que aquela pessoa foi sentar ao seu lado na sala de aula, caiu na teu mesmo grupo de trabalho por um mero acaso? E por isso que a importância de cultivá-la, de agradecê-Lo pelo presente, de curti-la, de vivê-la.
A fronteira para o início de uma amizade é ultrapassada de várias formas. Ela ultrapassada em um momento de dor, em uma hora de alegria. Ela é ultrapassada numa viagem, numa cola durante uma prova, numa carona, na mesa do bar. Ela é ultrapassada numa dança, num sorriso despretensioso. Ela é ultrapassada num e-mail, num telefonema em um momento que você precisava, que te fez sorrir, que levantou seu astral.
Mas uma vez ultrapassada esta fronteira, não tem mais retorno, pois amizades verdadeiras, ao contrário do que dizia Vinicius quando falava que “as paixões são eternas enquanto duram", ela se perpetua, "pois não é chama que se apaga", mas porque é calor, que pode até esfriar, mas você sabe que um dia ele vai voltar a te esquentar.
Falar "amizade verdadeira" é redundância, não existem falsas amizades, isso pode ser coleguismo, convivência. Amizades superam tempo, superam distância, superam ciúmes de esposas, maridos, noivos, namoradas. Shirley Mclaine já comparava amizades com um barco, que pode até se afastar de seu porto, demorar, mas um dia você sabe que ele estará lá, firme e forte.

Dizem que ao contrário dos irmãos, amizades nós escolhemos, mas pode ter certeza que não, ou você quando entra numa sala de aula, num novo emprego você diz vou ser amigo desse, dessa, daquela. Amigos, assim como irmãos, são nos dado por Deus, ou você acha que aquela pessoa foi sentar ao seu lado na sala de aula, caiu na teu mesmo grupo de trabalho por um mero acaso? E por isso que a importância de cultivá-la, de agradecê-Lo pelo presente, de curti-la, de vivê-la.
Não interessa o momento em que vamos ultrapassar uma nova fronteira, mas quando ultrapassá-la tenha certeza que é para sempre.
Feliz Dia dos Amigos, que não é apenas hoje. Mas todos os dias.

20 julho, 2006

CONSUMIDORES CONSUMÍVEIS







Pessoas - seres descartáveis...
Consomem e são consumíveis.
Tentam buscar sua eternidade no consumo de si mesmos.
Enquanto vivos, consomem a vida.
Uma vez mortos, são consumidos por vermes.

Assim como a propaganda induz ao consumo,
os humanos elaboram e mantém sua imagem
para serem escolhidos por outros.

Somos produtos de consumo.
Tendo por missão ser usados, consumidos...
O tempo todo estamos nos utilizando uns aos outros.

Alguns possuem maior poder persuasivo de venda,
uns poder aquisitivo de compra,
outros maiores qualidades de uso.

Somos objetos - SIM!
Seja corpo, seja alma ou mente.

Preocupamo-nos sempre para com as imagens:
“Ser bonito, ser bom e ser inteligente”.

Para que a preocupação com as qualidades,
que não para sermos escolhidos pelo outro?

Escolhidos para quê?
Para sermos consumidos!

Há produtos sujos, estragados ou defeituosos.
Cada qual tem seu destino.
Seja a gôndola privilegiada ou a lata de lixo.

Aquele, da prateleira mais cara, só entra no carrinho de quem pode pagar.
Os que vão para a lixeira de uns são comidos por outros.
Contudo, até aquele produto que possui a melhor embalagem pode não nos satisfazer no gosto.
Outro que não possui uma publicidade convincente pode ser extremamente atraente.
Ainda, aquele que nos garante alta durabilidade pode ficar obsoleto.
Já os perecíveis podem causar imensa saciedade e prazer.

Não há produtos bons ou ruins, existe a diferença de gostos.
Não há produtos úteis ou inúteis, existe a necessidade e o desejo.
Não há produtos “in” ou “out”, o que impera é a mídia e o modismo.

Porém, há a irreverência.
Somos produtos, enfim, para sermos consumidos...
Caso contrário, não estaríamos na vitrine da vida
exaltando nossas qualidades e escondendo nossos defeitos.
Ou, ainda, tentando ser aceitos pelo outro.
Cada produto tem seu preço e é preciso pagá-lo para levá-lo para casa.

O único problema é que - ainda - não possuímos certificado de garantia,
manual de instrução de uso,
e órgão de defesa do consumidor para possíveis reclamações.
Porque, se tivéssemos tudo isso,
teríamos que parar de fazer a propaganda enganosa
a qual estamos acostumados, ou, ainda,
estaríamos sujeitos a ficar empoeirados na prateleira por anos a fio.

Meus conselhos?
Use e seja usado - o máximo possível - antes de perder o seu prazo de validade.

E, não se aborreça se não lhe derem a destinação desejada.
Talvez lhe falte os ingredientes necessários para ser eficaz.
Nesse caso, altere sua fórmula para ter o uso que almeja.

Por outro lado, se o produto adquirido não lhe satisfaz, você pode ter escolhido mal.
Ou seja, comprado sal para matar a sede.
Nessa situação, o melhor é trocar rapidamente para um outro mais adequado.

Em contrapartida, você pode ter adquirido o produto certo,
mas talvez não esteja sabendo usá-lo corretamente.
Então, aprenda a dirigir antes de comprar uma Ferrari.

Não se esqueça: existem vários produtos bons e de qualidade em oferta, basta saber procurar...

Entretanto, se o produto que você procura é raro e caro,
veja a quantas anda a demanda e a sua conta bancária.
Quem sabe você não tenha condições de adquiri-lo ou possuí-lo?

Ainda assim, sonhe...

Porém, talvez, o produto que irá resolver o seu problema
pode ser o mais rudimentar e caseiro do que o que você imagina.
Antes o experimente.

O mundo é um imenso supermercado
onde uns estão nas prateleiras,
alguns dentro do carrinho na fila,
outros sendo empacotados,
e, ainda, há os da dispensa de cada casa.

Resta saber qual será levado à mesa
ou se preferiremos continuar a comer em restaurantes ou congelados.

Só não podemos negar há muitas opções...

E O QUE IMPERA É O CONSUMO!




Solange Pereira Pinto
Em 07.08.1997
(o que mudou em quase dez anos?)

Plantando sementes... a fala de um ex-aluno...


Noite fria. Cansaço. Vontade de vencer.


Já passam das vinte e três horas, a noite esta gelada. Não era para menos, pelo menos nessa época. Depois de um dia cheio, trânsito, stress do serviço, enfim, naturalmente não estaria na minha melhor forma.

Entretanto, tornar-se diferente é justamente isso. É fazer diferente.

Mesmo gostando muito de aprender coisas novas, de buscar conhecimento, não é fácil buscar a vitória. E, também, não poderia ser para menos. Afinal, nem todo mundo está preparado para a verdade.

O conhecimento não é uma coisa que aprende do dia para a noite. Não é uma mercadoria que se compra em um mercado luxuoso ou botequim. Muito menos a pílula azul, que toma e cresce.

Para ser ter uma idéia de como é importante ter o conhecimento e aprender a organizar as idéias, faço-me de exemplo. Já faz mais de quinze minutos que busco algo para expressar o que penso e sinto. Mesmo com tanta demora, e cuidado para expressar apenas essas poucas linhas, posso, ainda sim, ser incompreensível. Estranho, não?

Justamente pela vontade, pela busca incansável do conhecimento e da cultura que suporto a noite gelada e o cansaço físico. Enfim, se for preciso chegar ao meu limite para que eu faça “a diferença”, pode apostar que eu vou até lá.

Rodrigo Pimentel

Blue... Blu... Blues...Bu...Buá....


Título: Túnel II
Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: Acrílica sobre tela
Data: 1999
_______________________



Reflexões aos cinco anos



Trechos de um diálogo:


a criança na volta do segundo dia de colônia de férias,
indagando sobre
"porque a vida é assim?"



"Mamãe, por que essas brincadeiras que as tias da colônia de férias inventam são sempre em rodinha?

Rodinha, rodinha, rodinha... ,mãe, é muito chato!

Por que elas não inventam outra regra?

Ah, na hora de ir para o lanche tem que ir em fila segurando no ombro do coleguinha, horrível, todo mundo tropeça, pisa no calcanhar do outro, por que a tia manda andar desse jeito, se de mãos dadas é muito mais fácil?

Todas as brincadeiras têm umas regras muito sem graça. Por que a tia não deixa a gente brincar livre, do que quer?

Quatro horas da madrugada II


Título: A mulher e o desejo
Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: Fotografia
Data: 20/7/2006
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Ontem de madrugada,
três mulheres de 24, 38 e 51 anos
perceberam que ser mulher não tem idade.



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"Ocupar-se de seus desejos,
reconhecendo que eles lhe ensinarão a respeito de suas limitações,
de sua vulnerabilidade e de seus conflitos,
bem como de suas forças,
levará à descoberta de sua própria natureza,
de quem você é."

Polly Young-Eisendrath

19 julho, 2006

CARTA ABERTA AO BRADESCO

Circulando na internet....

Senhores Diretores do Bradesco,


Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal, pela existência da padaria na esquina de sua rua, ou pela existência do posto de gasolina ou da farmácia ou da feira, ou de qualquer outro desses serviços indispensáveis ao nosso dia-a-dia.

Funcionaria assim: todo mês os senhores, e todos os usuários, pagariam uma pequena taxa para a manutenção dos serviços (padaria, feira, mecânico, costureira, farmácia etc). Uma taxa que não garantiria nenhum direito extraordinário ao pagante. Existente apenas para enriquecer os proprietários sob a alegação de que serviria para manter um serviço de alta qualidade.

Por qualquer produto adquirido (um pãozinho, um remédio, uns litros de combustível etc) o usuário pagaria os preços de mercado ou, dependendo do produto, até um pouquinho acima.
Que tal?

Pois, ontem saí de seu Banco com a certeza que os senhores concordariam com tais taxas. Por uma questão de equidade e de honestidade.

Minha certeza deriva de um raciocínio simples. Vamos imaginar a seguinte cena: eu vou à padaria para comprar um pãozinho. O padeiro me atende muito gentilmente. Vende o pãozinho. Cobra o embrulhar do pão, assim como, todo e qualquer serviço. Além disso, me impõe taxas. Uma "taxa de acesso ao pãozinho", outra "taxa por guardar pão quentinho" e ainda uma "taxa de abertura da padaria". Tudo com muita cordialidade e muito profissionalismo, claro.

Fazendo uma comparação que talvez os padeiros não concordem, foi o que ocorreu comigo em seu Banco.

Financiei um carro. Ou seja, comprei um produto de seu negócio. Os senhores me cobraram preços de mercado. Assim como o padeiro me cobra o preço de mercado pelo pãozinho. Entretanto, diferentemente do padeiro, os senhores não se satisfazem me cobrando apenas pelo produto que adquiri.

Para ter acesso ao produto de seu negócio, os senhores me cobraram uma "taxa de abertura de crédito" - equivalente àquela hipotética "taxa de acesso ao pãozinho", que os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar.

Não satisfeitos, para ter acesso ao pãozinho, digo, ao financiamento, fui obrigado a abrir uma conta corrente em seu Banco. Para que isso fosse possível, os senhores me cobraram uma "taxa de abertura de conta".

Como só é possível fazer negócios com os senhores depois de abrir uma conta, essa "taxa de abertura de conta" se assemelharia a uma "taxa de abertura da padaria", pois, só é possível fazer negócios com o padeiro depois de abrir a padaria.

Antigamente, os empréstimos bancários eram popularmente conhecidos como "Papagaios". Para liberar o "papagaio", alguns gerentes inescrupulosos cobravam um "por fora", que era devidamente embolsado. Fiquei com a impressão que o Banco resolveu se antecipar aos gerentes inescrupulosos. Agora ao invés de um "por fora" temos muitos "por dentro".

- Tirei um extrato de minha conta - um único extrato no mês - os senhores me cobraram uma taxa de R$ 5,00.

- Olhando o extrato, descobri uma outra taxa de R$ 7,90 "para a manutenção da conta" - semelhante àquela "taxa pela existência da padaria na esquina da rua".

- A surpresa não acabou: descobri outra taxa de R$ 22,00 a cada trimestre - uma taxa para manter um limite especial que não me dá nenhum direito. Se eu utilizar o limite especial vou pagar os juros (preços) mais altos do mundo. Semelhante àquela "taxa por guardar o pão quentinho".

- Mas, os senhores são insaciáveis. A gentil funcionária que me atendeu, me entregou um caderninho onde sou informado que me cobrarão taxas por toda e qualquer movimentação que eu fizer.

Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os senhores esqueceram de me cobrar o ar que respirei enquanto estive nas instalações de seu Banco.

Por favor, me esclareçam uma dúvida: até agora não sei se comprei um financiamento ou se vendi a alma?

Depois que eu pagar as taxas correspondentes, talvez os senhores me respondam informando, muito cordial e profissionalmente, que um serviço bancário é muito diferente de uma padaria. Que sua responsabilidade é muito grande, que existem inúmeras exigências governamentais, que os riscos do negócio são muito elevados etc e tal. E, ademais, tudo o que estão cobrando está devidamente coberto por lei, regulamentado e autorizado pelo Banco Central.

Sei disso.

Como sei, também, que existem seguros e garantias legais que protegem seu negócio de todo e qualquer risco. Presumo que os riscos de uma padaria, que não conta com o poder de influência dos senhores, talvez sejam muito mais elevados.

Sei que são legais.

Mas, também sei que são imorais. Por mais que estejam garantidas em lei, tais taxas são uma imoralidade.


Brasília, 30 de maio de 2006.
Delman Ferreira

Blog do dia

A indicação de blog para hoje é: Livro Arte

Uma maravilhosa exposição virtual e uma artista porreta e criativa. Além de modesta, é claro!

Curtam! Opinem! Babem!

Fui!

Rascunhos de um bate-papo



Hoje fui ao Teatro Cultural da Caixa ver o escritor gaúcho Moacyr Scliar lançando, em Brasília, o livro Vendilhões do Templo (Ed. Companhia das Letras), no Projeto Sempre um Papo.

Sempre que ouço um escritor falar sobre o seu processo de criação, e do seu fascínio por livros, entro em êxtase.

Ler, para mim, sempre foi mais que um lazer, um prazer, mas uma forma de me perceber humana, gente, na tentativa de entender o que há nesta existência caótica.

Claro que compulsiva que sou por escrever, anotar idéias e pensamentos, não podia deixar de registrar algumas falas do Scliar.

Então vamos lá, compartilho com vocês algumas linhas do meu rascunho (sem revisão ou não seria rascunho), a minha edição e interpretação das falas desse genial escritor:

"Antigamente havia mais o senso de comunidade, e a falta de recursos materiais era compensada pelos recursos internos e emocionais. Na minha infância, éramos pobres, podia faltar de tudo exceto livros. Era assim que pensava minha mãe".

_________________


"Livro era um amuleto com significado mágico. O escritor era um ser sobrenatural, para mim. Sempre tive muitos estímulos para ler e escrever".


_________________
"Comecei a escrever os Vendilhões do Templo há 12 anos. Fui motivado quando li uma passagem na bíblia, na qual Mateus descreve como Cristo expulsou os vendilhões do templo. O ataque de fúria que Jesus teve, mostrando que não era tão pacífico como pregam".
_________________

"A bíblia é um livro escrito há mais de três mil anos, com vários narradores e tem por característica textos sintéticos, objetivos, que vão direto ao ponto e são, sobretudo, carregados de emoção. É um livro interessante".
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"O que caracteríza o escritor é a capacidade de ver o ângulo insólito de um episódio cotidiano".
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"Escrevo em qualquer lugar, em qualquer momento livre.
A inspiração está em nossa mente, no inconsciente, pode ser estimulada, mas não ensinada".
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"Penso que os ingredientes para um bom livro são humor, emoção e boas idéias".
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"Cada pessoa só lê o que gosta, interessa, ou necessita. Cada um tem seu próprio caminho como leitor".
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"Acredito que encontros como esse, com o escritor, são importantes para mostrar que quem escreve é uma pessoa normal, não é um E.T. Temos que mostrar que a literatura está viva. Antigamente, quanto mais morto e enterrado era o escritor mais recomendada era a sua obra".
_________________

Quatro horas da madrugada

Bêbados na madrugada.
Uma segunda-feira. Uma cena. Um beijo. Um lugar qualquer. Uma platéia.
17.07.2006

18 julho, 2006

Arte e questionamento...




Título: Tigre
Autora: Lú
Técnica: Recorte e desenho
Data: 15/7/2006
_______________________
"Mamãe, por que meninos só gostam desses animais selvagens,
que vivem nos zoológicos e na África?
... Por que eles só gostam desses desenhos chatinhos de luta, de briga,
e não gostam de brincar de castelo e conto de fadas?"

Tudo isso me passa...

Pessoas e pessoas
casos e casos
Em alguns sobram
em outros escassez....
de brilho
de garra
de vontade

Dádivas mundanas

Amor aconchego
Vazio tristeza
Saudade esperança




Ana Genaro

17 julho, 2006

Escolhido no palheiro...

A gente sabe que a net é uma rede de infinitas ligações.

Se entra por uma porta, abrem-se as janelas e de repente perdemos o fio de Ariadne ...

Estamos no labirinto e a volta é difícil. (haverá volta?).


Hoje, navegando sem rumo certo, para fugir das obrigações diárias (rumo sempre em mira), encontrei uma pérola.


Dei de cara com uma das preciosidades que a internet nos apresenta,
e que sem essa imensidão virtual, com poucas chances, conheceria.

Encontrei A saga de um artista impublicável e catador de sucatas.


Fiquei vidrada! Li por horas o seu blog.

Olhei suas fotos.

E, admirada fiquei com a capacidade de existir que alguns seres têm.

Uma vida de dureza e arte.

Uma vida com mais razões que a própria razão consegue explicar.

Uma vida vivida, vívida, vivaz.

Eu, aqui, com vontade de correr, de gritar, de sucumbir, de chorar, de morrer.

Ele, lá, com vontade de viver, de viver, de viver.

Nossa...

Vejo lá um homem, jovem, com verdadeiro senso crítico e sem as firulas de um discurso bem-arranjado.

"Eu sou um poema de sangue... Nunca me ajoelharei diante dos meus sonhos".

Seu auto-retrato.

Ele, de lá, na metrópole, jogado aos leões no Coliseu da grande São Paulo, sobrevivendo quase imune, estufa o peito e diz: vem!

Ele, que se ressente revelando que pobres discriminam pobres, me ensina que meu poema é de dúvidas.

Ele, o artista impublicável, encontra rimas a cada hora para não desistir dos seus versos.

Sim.


Morando em 37m2, esse rapaz contém um universo dentro de si.

Ele não se cala. Não se intimida.

Ele ousa. Ele grita com tintas.

Ele corre com sonhos.

Ele não morre, ele transforma lixo em arte.

Ele transforma tragédia em beleza.

Fico agora pensando: que vontade de vida é essa?

De onde vem sua força?

De onde retira seu ânimo?

Que capacidade de transformar...

E, ele mesmo já havia dito:

"Eu sou um poema de sangue... Nunca me ajoelharei diante dos meus sonhos".


Será que me faltam os sonhos ou o sangue?

Qual é o meu lema? (já derrubei tantas certezas...)


Dormirei com o meu poema de dúvidas....


Solange

Noite de sábado...




Um frio lá fora.
Uma preguiça amarela.
Um frio aqui dentro.
Uma tela.
Um sorvete.
Uma taça.
Um papo.
Uma risada.
Um pensamento.
Uma tragada.

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Onde foi parar o trema?
Aboliram? Meu teclado não tem trema...
rsss
A foto foi três vezes deletada.
Êta post!
Êta madrugada!

______________________

Quem advinha o sabor do sorvete, que lance resposta à charada!

A ponta...


A ponta


Para se fazer a ponta se tira a casca.
Para afinar ainda mais a ponta ainda mais se aponta.
O lápis vai rodopiando, rodopiando, rodopiando
entre a lâmina cortante, certeira
para resultar em flecha...


Quantas vezes a lâmina da vida me fez ser a ponta afiada?
Portadora das mensagens...
Quantos riscos certeiros lancei por aí?
Quantos rascunhos em ponta grossa, insegura e borrada já deixei?
Quantos desenhos tortos imprimi em papéis limpos?
Quantas cadernetas de bolsa fui companhia?
Quantas palavras lamentadas já ouvi?
Quantos verbos conjuguei por aí?


Sim...
A vida me faz sentir um lápis,
precisando constantemente da lâmina,
para ser cada vez mais afiado.
Até virar um toco cheio de história para contar.

Não...
Para evitar a lâmina
poderia ser um lápis de ponta grossa.
Aquele que não se pega mais para escrever.
Ou que se gasta até dar raiva do toque da madeira no papel.
Poderia também ser um de ponta quebrada,
ou grafite moído por dentro... quem sabe...

Mas não...
Pouco me revezo.
Vou me gastando.
Diariamente sendo consumida.
Apontada.
Sem descanso.
Afiada.
Pronta para espetar. (rsss)

Esperando a lâmina cegar,
ficar cansada
de me lenhar!

Soll

15 julho, 2006

Dia 18/7 - Teatro da Caixa Cultural - 19h30min

A vingança....

circulando na internet por e-mail....


Toca o celular...
- Alô- Alô, Senhor Guilherme?
- Sim
- Sr. Guilherme, aqui é da VIVO, estamos ligando para oferecer a promoção VIVO 1.382 minutos, onde o Sr. tem direito...
- Desculpe - interrompo, mas quem está falando?
- Aqui é Rosicleide Judite, da VIVO, e estamos ligando..
- Rosicleide, me desculpe, mas para nossa segurança, gostaria de conferir alguns dados antes de continuar a conversa, pode ser?
- .... bem, pode.
- Vc trabalha em que área, na VIVO?
- Telemarketing Pró Ativo.
- VC tem número de matrícula na VIVO?
- Senhor, desculpe, mas não creio que essa informação seja necessária.
- Então terei que desligar, pois não posso ter segurança que falo com uma funcionária da VIVO.- Mas posso garantir...- Além do mais, sempre sou obrigado a fornecer meus dados a uma legião de atendentes sempre que tento falar com a VIVO.
-Minha matrícula é 6696969.
- Só um momento enquanto verifico.
- ....(Dois minutos)
- Só mais um momento.
- ...(Cinco minutos)
- Senhor?- Só mais um momento, por favor, nossos sistemas estão lentos hoje.
- Mas senhor...
- Pronto, Rosicleide, obrigado por haver aguardado. Qual o assunto?
- Aqui é da VIVO, estamos ligando para oferecer a promoção VIVO 1382 minutos, onde o Sr. tem direito a falar 1.300 minutos e ganha 82 minutos de graça,além de poder enviar 372 VIVO Torpedos totalmente grátis. O senhor está interessado, Sr. Guilherme?
- Rosicleide, vou ter que transferir você para a minha esposa, por que é ela que decide sobre alteração de planos de telefones celulares. Por favor, não desligue, pois essa ligação é muito importante para mim.


Coloco o celular em frente ao aparelho de som, deixo a música Festa no Apê do Latino tocando no Repeat e vou para o bar tomar uma cervejinha...

Um lugar para cada coisa...

Na madrugada, Kierkegaard revelou que para cada idéia, cada trabalho que realizava, tinha uma mesa específica preparada com papéis, pena e tinteiro. E, provavelmente, muitos livros. Ele era rico, e viveu para pensar, escrever e produzir. Morreu pobre, defendendo suas idéias e lutando por um mundo que considerava melhor, mais justo.

Seria uma forma de organizar melhor seus pensamentos?
Uma maneira de não se perder na fecundidade de sua existência?
ou apenas uma mania?

Sinceramente, eu saudavelmente o invejei.

Quisera eu ter espaço!
Para caber a minha loucura.
Para acolher minha lucidez.
Quisera eu ter estantes!
Para ninar meus preferidos.
Para mirar os desafetos.
Quisera eu ter mesas!
Para libertar os papéis e as tintas dos armários escuros.
Para concretizar minhas fantasias.
Quisera eu ter dinheiro!
Para dedicar meu tempo ao pensar.
Para mostrar ao mundo minha infinitude.
Ou, melhor, quisera eu não pensar!
para não precisar de espaço, estantes, mesas e dinheiro para criar.

Contudo, não posso lançar a maldição,
ainda me restam um laptop e um blog,
para esta vida não atrofiar ainda mais.

Soll

Qual é a melhor posição?




Título: Túnel
Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: Acrílica sobre tela
Data: 1999
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Inadequado


Aquele quadro torto na parede. Bonito, mas torto. Parede reta, mas des-ni-ve-la-da. Prego reto, mas inclinado. Empurra para a direita. Continua torto. Um pouquinho para a esquerda. Ainda está torto. Alguém sugere: dois dedos para o lado. Outro grita: Não!! Um dedo para o outro lado. Continua torto. Que diabos!!!
A parede imóvel.
Dizem, é perfeita. Reta, branca! Aparentemente estática. Construída exatamente para o quê? E o quadro, continua lá. Torto. Ah, um pouquinho para cima. Ou quem sabe para baixo... Ele nunca se deu em lugares certos.



Por Solange Pereira Pinto (17.09.1999)

Sou reflexão do começo ao fim (atendendo a pedidos...)


Soren Kierkegaard


“Não conheci a imediatidade; por conseguinte, de um ponto de vista estritamente humano, não vivi. Comecei de imediato pela reflexão; não a adquiri aos poucos com a idade; sou reflexão do começo ao fim. Nos dois períodos da imediatidade (infância e juventude), eu me muni, por necessidade, de um certo sucedâneo com a flexibilidade própria à reflexão e mesmo, ainda mal instruído a respeito da parte que me coubera, sofri a dor de não ser como os outros; teria dado tudo na juventude para sê-lo, ainda que por um momento.

Um espírito pode perfeitamente aceitar não ser como os outros, e é esta, do ponto de vista negativo, a determinação do espírito; mas a infância e a juventude se relacionam às categorias de gênero, de espécie, e é por isso que nessas idades o maior tormento consiste em não ser como os outros ou, como foi meu caso, em começar por um contra-senso singular, no ponto em que alguns acabam em cada geração: a maioria, que conhece na sua vida apenas os momentos da síntese do corpo e da alma, não chega nunca à determinação que é o espírito. Mas, assim, a vida se apresenta para mim agora sob uma outra luz.

Nada me é mais desconhecido e estranho que essa melancólica aspiração à infância e à juventude; agradeço a meu Deus por ter superado esse desejo e sinto crescer minha felicidade a cada dia que envelheço, ainda que apenas a idéia da eternidade me encha de felicidade, pois a temporalidade não é e, jamais será o elemento do espírito, mas em certo sentido seu sofrimento.

Um observador verá também como tudo foi dialeticamente posto em ação: eu tinha um espinho na carne, os talentos do espírito (sobretudo a imaginação e a dialética), uma experiência muito grande de observador, uma educação cristã verdadeiramente rara, e uma atitude especialmente dialética com relação ao cristianismo; tinha aprendido desde a infância a obedecer com uma obediência absoluta; estava munido de uma fé quase temerária em minha capacidade de poder todas as coisas, salvo uma, tornar-me um pássaro livre, ainda que um único dia, ou romper as cadeias da melancolia em que uma outra força me retinha; enfim, eu era para mim mesmo um penitente.

Parece-me agora que uma outra força ocupou-se desde o primeiro momento desse adiamento, semelhante nisso ao pescador dizendo do peixe: deixe-mo-lo, ainda é muito cedo para pescá-lo. E, fato curioso que também remonta a muito longe na minha lembrança, sem que eu possa de modo algum indicar a data ou dizer como sua idéia me veio: constantemente, isto é, a cada dia, eu pedi a Deus que me concedesse o zelo e a paciência necessários para realizar a tarefa que ele me designaria. Foi assim que me tornei autor.” (Escrito em, 1849).


____________
Está aí amiga, mais um trecho da minha nova paixão. (rsss)
Delicie-se!
Qualquer semelhança é mera coincidência...
Foi assim que me tornei blogueira (rsss)
Beijão!
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Quanto tempo dura?

Parece feita de sopros. Está lá. Sem forma. Vazia. Esperando. Que dela se apropriem. Alguns enchem os pulmões com vontade. Vão tão forte que estoura. Outros não têm coragem. Chegar perto. Medo. Possível pipoco. Há aquele que já ouviu estampidos. Não desiste. Tem quem nem perceba. Ela está a sua frente. Para ser preenchida. Um que chega. Olha. Curiosamente se encanta. Pega. Arfa. Transforma. Agarra. Brinca. É sua. Única. Goza. Como se jamais fosse extinguir. A vida.



Por Solange Pereira Pinto (14/07/2006)
Arte: Lili, 6/07/2006

Uma tarde de quinta-feira

Andar sem tempo
Dirigir sem trânsito
Buscar mais um diploma
Rir sozinha de contentamento
Passear com a prole
Comer folheado com morango e chocolate
Ter idéias e pensar soluções
Iluminar os olhos e o rosto
Sentar no chão entre livros
Desejar que o tempo pare
Contar histórias de fadas
Sentir que tem asas
e realmente poder voar...
Numa tarde de quinta-feira.
Soll 13 de julho de 2006

13 julho, 2006

Novamente apaixonada...

Ainda levarei você para a cama por muitos dias...



Já perdi a conta dos meus amores. De alguns me lembro com mais emoção e sempre os procuro para um reviver. Quando o peito aperta e me sinto muito aturdida e sozinha é deles que me recordo. É neles que busco um colo, o consolo, a palavra amiga. Um outro enlace possível. Eles me fazem crer que não só um E.T. e que tenho e já tive pares.

São encontros quase insólitos. O primeiro, grande e verdadeira emoção, eu tinha uns 13 anos, era estrangeiro, e foi uma amiga da escola quem o apresentou. Depois, tive paixões que nasceram de tardes perambulando em shoppings. Mais tarde, em meio a uma confusa separação, foi me revelado aquele que mudaria totalmente minha forma de agir no mundo, dessa vez um homem sem nacionalidade certa. E, ainda, um mineiro virginiano, que, especialmente, me conquistou pela internet, o Rubem. O último (e atual) encontrei em um café, no início desta semana.

Estava lá procurando gente atual, que ouvisse as minhas angústias e falasse das próprias. Estava praticamente sem esperança quando, de repente, uma voz vinda do longe, de uma prateleira de canto, me chama “é preciso duvidar de tudo”... Olhei para aquele “nanico”, quase encolhido perto dos grandalhões que estavam próximos e pensei é você! Uma roupagem lilás e sóbria, ao mesmo tempo aconchegante.

Na mesma hora, fiquei encantada pensando o que seria aquela senha “é preciso duvidar de tudo...”. Imediatamente não consegui mais tirar meus olhos dele e, feito sede de deserto, comecei a sugar suas palavras. A primeira frase foi “minha vida foi produzir”. E eu queria que ele me dissesse mais.

Comecei, então, atentamente a sorvê-lo, me deliciando a cada nova fala. Quis saber tudo sobre sua vida. Onde nascera, quem eram seus pais, se tinha irmãos, o que motivava sua vida, se tinha filhos, mulheres. Tudo. Senti-me novamente com 13 anos quando conheci Friedrich.

Na medida em que eu mais sabia sobre ele, ainda mais curiosa ficava. Ele era um dinamarquês, nascido em maio (taurino!), filho de um comerciante e de uma doméstica. Caçula de sete irmãos, quando nasceu seu pai tinha 56 anos e sua mãe 45.

Apesar de melancólico como seu pai, dizia não poder ser mais um homem entre tantos outros homens (não era mesmo!). Não aceitava idéias vindas de cima para baixo, sem questionamento. Aos 28 anos, fez sua tese de doutorado sobre Sócrates. Eu começava a admirar seu brilhantismo.

Para ele, o mais importante que a busca de uma, ou algumas verdades gerais, era a busca por “verdades” que fossem significativas para a vida de cada indivíduo, para cada um. O que interessava era o existir, experimentar, vivenciar e não seguir “teorias”. Completava dizendo que os teóricos eram como construtores de grandes castelos, mas que na realidade moravam em celeiros e que a verdade é subjetiva, pois o que é realmente importante é pessoal.

Nossa! Como ele me lembrava Moreno, um amor que conheci aos 32 anos e que repetia a importância do aqui-agora, do ser espontâneo e criativo, e da verdade do sentir de cada um.

Eu ficava cada vez mais inebriada e sua história continuava. Descobri que gostava de usar muitos pseudônimos e que cada um era responsável por defender uma idéia diferente para não haver “confusões” com sua própria pessoa, pois não passaria um dia sequer de sua vida sem escrever pelo menos uma linha. Talvez, uma forma de se proteger e ao mesmo tempo não se calar (será?).

Atentamente eu o ouvia falar das escolhas em ser o que se pode ser ou “uma cópia” daquilo que ditam a sociedade e a pressão cultural. Dizia das inúmeras possibilidades, da liberdade de ir por um ou outro caminho e a angústia que vem daí, pelo fato de se “existir”. As transformações pessoais, as mortes e renascimentos diários, que "a angústia é a possibilidade de liberdade: somente a angústia, através da fé, tem a capacidade de formar, enquanto destrói todas as finitudes".

Meus olhos brilhavam, minha paixão estava consumada. Eu queria aquele homem cada vez mais perto de mim para ouvi-lo, absorvê-lo, enamorar. Assim, foi meu primeiro encontro
Sören Kierkegaard. Levei-o para casa. Deitei-me ao seu lado. Tivemos nossa primeira noite, entre tulipas de cerveja bem gelada.

À meia luz, compartilhamos nossas incertezas, medos, desejos. Lá estava ele, jovem, me ensinando que "Se alguém souber tirar proveito da experiência da angústia, se tiver CORAGEM de ir mais além, então dará à realidade outra explicação: exaltará a realidade e, até quando ela pesar duramente sobre ele, recordar-se-á de que ela é muito mais leve do que era a possibilidade". É preciso duvidar de tudo... Exceto de mim mesma!


Solange Pereira Pinto
Brasília, 18 de julho de 2006.




11 julho, 2006

A vida é bela....um clichê necessário...





Embalada pelo Geraldo Azevedo, CD Raízes e Frutos, entrei na caravana do vinho Bolla Cabernet Sauvignon safra 2004. “Corra não pare, não pense demais...”. Um toque no MSN, pela mensagem de “luto” daquela que luta, está feito o convite. “Repare essas velas no cais...”. Um incenso de alfazema para espantar coizim ruim. À taça pela metade, se junta a outra antes vazia, nas brumas anoitecidas de insônia e um rastro de tristeza. Vamos ao papo... “Que a vida cigana... É caravana...”. Do encontro virtual à amizade real. Gargalhadas, existência, divergências, convergências, planos sobre loucura e responsabilidade... “É pedra de gelo ao sol... Degelou teus olhos tão sós”...Logo, logo, precisamos do Santa Helena, pois Baco nos inspirava a degustar mais doces uvas de prazer. “...Num mar de água clara...”. Muda a trilha... "um pedaço de qualquer lugar... nesse dia branco...". Massagem nas costas, mãos carinhosas, corpo macio... o som... a melodia... o mel... “talvez seja real... chegou... por quanto tempo... amanheceu...o impossível não é pecado...” Acordei... leve... flutuante... “abra as janelas do quarto...como a laranja e a sede a gente ainda quer se encontrar...”. Bom Dia!!! Assim, maiúsculo, doce, necessário...

Soll, linda, leve e solta... sorridente!
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Brasil: por quanto você aluga o seu quintal?

Photo ADEME: Gilles MERIODEAU


Brasil, terreno baldio da Europa


Ouvi outro dia uma notícia sobre a importação de pneus usados e descobri que o Brasil é “lixão”, uma verdadeira lata de lixo do “primeiro mundo”. A conversa é a seguinte: o camarada vai consumindo coisas, descartáveis, de uso determinado, e, de repente, tem que se livrar da coisa. Contratar um container é caro. Então, o que ele faz? Vende a sucata para o vizinho do outro lado do quarteirão dizendo que tudo aquilo é um grande negócio. O vizinho que é pobrezinho de marré marre marré de si, vai lá e compra.

Em 2005, o país comprou cerca de 11 milhões de pneus usados por meio de liminar. O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Cláudio Langone, explica que cerca de 30% dos pneus usados que chegam ao Brasil não podem ser reutilizados, por estarem em más condições.

O interessante é que a entrada de resíduos sólidos no Brasil não está prevista na legislação. Existem instrumentos que proíbem a importação, mas um grupo de parlamentares articula a regularização.

O assessor tecnológico do deputado Ivo José (PT-MG), Walfrido Assunção, diz que a importação do pneu europeu se justifica porque a carcaça do brasileiro não tem condições de ser reformada. Ele explica que os pneus usados da Europa rodam menos e em estradas melhores.

Nessa hora não entendi nada. De um lado, o MMA lutando contra a importação e, de outro lado, parlamentares a favor. É isso? Decerto, está faltando balanço para a criançada em Minas Gerais.

As notícias dizem que a União Européia, interessada em abrir as fronteiras brasileiras para os seus pneus, solicitou a realização de um painel arbitral e o Brasil, que pretende mantê-los longe, será representado na OMC, em Genebra, por uma delegação composta pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e outros integrantes do governo. Os brasileiros usarão um argumento ambiental para tentar ganhar o direito de continuar proibindo a entrada de pneus de segunda mão.

Pelas estatísticas do MMA, a Europa produz anualmente cerca de 300 milhões de carcaças e despeja 26% em aterros sanitários – o que agora é proibido por uma lei que entrou em vigor no mês passado. "As destinações que eles podem dar dentro da Europa são todas muito caras. A alternativa é enviar esse lixo para países em desenvolvimento e, por isso, querem que o Brasil autorize a entrada", explica Langone, que prevê conclusão do processo até outubro.

Então, minha gente, será que além de quase tudo por aqui terminar em pizza, continuaremos sentados nos pneus? Parece que a colonização continua, o tráfico agora é de pneus usados. Ah, não serve mais? Manda lá para o Brasil... Lá pode tudo! É um pessoal bem-cordato...Um país recauchutado...



Notícias na íntegra:

Brasil quer barrar a importação de pneus usados

Importação de pneus usados não é legalizada, mas ocorre em grande escala