16 abril, 2008

Escrever dá trabalho, trabalhar não dá...




Minha necessidade de escrever me atabalhoa. É que preciso (do verbo necessitar para sobreviver) de fazer outras coisas e me pego pesquisando pra escrever um texto novo ,cujo tema me entope veias e entala a garganta.


Escrever é como ar para mim. Se o tema vem à baila, tem que bailar. Melhor dizendo, tem que bailar lindamente, de salto alto, traje a rigor, um bom perfume, um brinco adequado, para rodopiar no salão sem tropeço e receber aplausos no final (ainda que seja o auto-reconhecimento).


Por isso, fico parecendo madame em dia de festa. Corre daqui. Ajeita dali. Sua acolá. Uma trabalheira que só! Praticamente um sofrimento. Aliás, um masoquismo, por que no meio de tudo isso há prazer.


Escrever dá trabalho! É fundamental pesquisar o tema. É essencial usar o dicionário. É recomendado olhar a gramática. É aconselhável pedir alguém que leia para ver se o dito está de fato dito como deve ser dito (traduzindo: se a mensagem está do jeito que você quer). É indispensável revisar, revisar, revisar.


Nessa ida e vinda de dedos saltitantes pelos teclados, idéias pululantes na cabeça e ponteiros agitados numa pressa que não compreendo o motivo (hahahaah), vou me perdendo do senso de realidade (?) e obrigações (!).


Obviamente, a dona responsabilidade fica se metendo entre cada parágrafo, obrigando-me a correr com o texto, pois é hora de outros afazeres mais importantes (?).


Dou uma driblada nela. Peço um minutinho a mais, emendo mais um parágrafo. Mas o alarme está ali "bléimmmmmmmmm, pára! Chega! Tá passando da hora!". Estou quase na conclusão do texto quando se faz urgente me levantar e sair para mais um compromisso remunerado (ainda que insuficiente).


Nessa toada vou me frustrando e tentando compreender por que escrever dá trabalho e não é reconhecidamente um trabalho, e por que trabalhar nem dá tanto trabalho, na maioria das vezes mais aporrinhação. Ou por que não pode ser este o meu trabalho diário remunerado (já que o faço diariamente). Ou por que tenho a incontrolável necessidade de me ocupar com algo que não me sustenta o corpo, porém indescritivelmente me alimenta o ser.


Enquanto não entendo esse mundo vou me perdendo entre as linhas de mais um pensamento para alinhavar outro argumento. Se a existência é mesmo incompreensível, gastar mais uns minutos a traçar novos períodos não deve ser crime ou objeto de castigo.


Assumo as penalidades e vou para o grande final, pois o baile já vai começar. Quer dançar?
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