14 fevereiro, 2010

Criticando o crítico

21/01/2010

Criticando o crítico (texto da Folha on-line)

Cinema não é apenas entretenimento. Não é apenas arte. Essa forma de expressão, que muitas vezes tenta recriar o real, acaba gerando reações mais do que reais. Todos têm uma opinião sobre determinado filme. É o futebol do mundo das artes. Sai o papo de boteco, entra o papo em cafés ou cinemarks da vida. Por isso, textos de jornalistas/críticos de cinema mexem tanto com os leitores cinéfilos.

Basta uma rápida olhada nos comentários deste blog, por exemplo. Não são poucos os leitores que reclamam de determinados posts; às vezes, um ou outro mais ousado parte para o ataque pessoal. “Como assim, o que esse mané está falando desse filme que EU amo tanto?” ou “Por que esse imbecil recebe um salário para ficar assistindo a filmes e escrever bobagens?”, são algumas das questões dos críticos dos críticos de cinema.

Não só para eles, mas para todos que gostam de pensar sobre cinema, recomendo o documentário “Crítico”, de Kleber Mendonça Filho. Teve passagem relâmpago aqui em São Paulo, mas deve estrear em breve em Porto Alegre, Salvador e Recife, “para uma pequena carreira nos cinemas”, segundo seu realizador.

Kleber coletou, entre 1998 e 2007, depoimentos de 70 críticos e cineastas sobre “o conflito que existe entre artista e o observador”. Do lado dos cineastas, tem gente como Gus Van Sant, Richard Linklater, Tom Tykwer, Walter Salles, Cláudio Assis e Carlos Reichenbach, entre outros. Do outro lado, críticos franceses, brasileiros e norte-americanos de importantes publicações.

Kleber, cineasta que também é crítico, ou crítico que também é cineasta, conhece os dois lados da moeda. As principais questões para quem pensa cinema como algo além de entretenimento estão lá. A “ditadura” das cotações/estrelinhas/ bonequinhos. A função da crítica (falar se um filme é bom ou ruim? analisar, complementar o pensamento do cineasta?). O poder do crítico (“auto-masturbação”?). O crítico dentro da engrenagem das grandes distribuidoras. A diluição da importância da crítica com a proliferação de blogs e sites. E por aí vai.

Fernanda Torres conta: “Tem uma frase do Oscar Wilde que me curou para a crítica: ‘Toda crítica é uma auto-biografia’”.

Hector Babenco polemiza: “Eu raramente leio [críticas], às vezes leio o início, o final (...) Fico muito nervoso, meu coração dispara (...) É raro achar jornalista inteligente”.

Samuel L. Jackson aparece no momento mais hilariante do filme. Um jornalista pergunta para ele como foi trabalhar na série “Matrix”.... (isso porque quem trabalhou em “Matrix” foi Laurence Fishburne).

Para mim, que trabalho com texto e filmes, “Crítico” serviu como uma sessão de auto-análise. Mas, em determinado momento, senti que o documentário estava excluindo um elemento importante na discussão. Nenhum representante do público “comum” está presente.

Questionei o Kleber, e ele me respondeu:

“Meus filmes são todos muito pessoais. Por conhecer bem as tensões entre o realizador e o crítico, sou os dois, queria fazer um registro exatamente disso. Incluir o público seria algo meramente burocrático (“Ok, temos que ouvir o público”). Outra coisa, procurar um cineasta e/ou um crítico é uma coisa, procurar ‘o público’ é uma outra bem diferente. A ideia de registrar uma senhora na porta de um cinema e creditá-la como ‘público’, ou ‘advogada’ não me agradava. Acho que o público está no filme apenas como o observador que ele sempre é, o que não impede que reaja positiva e negativamente em relação a qualquer filme, inclusive esse. Por último, quando a gente faz um filme, é o filme que vai pedindo as coisas, e esse pareceu estar confortável com os dois lados representados no filme”.

*Aliás, este meu post não se configura como uma crítica de "Crítico".

Escrito por Bruno Yutaka Saito às 11h51 PM






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