05 fevereiro, 2008

Saldo do carnaval 2008 - Brasília






Bom-senso de menos, spray demais!
Bem-vindo ao carnaval do século XXI
Creu.

O carnaval em Brasília não tem tradição. Quer dizer, não tem tradição de ser bom carnaval. No Planalto Central se tem a fuga dos moradores "mais animados" para outras cidades com folia fogosa ou descanso oportunista. Salvador, Rio de Janeiro, Pernambuco, praias, Pirenópolis e Alto Paraíso são destinos certos e muito procurados. Para quem fica na cidade restam as "tradicionais" opções do "CarnaDF". Na rua: Baratona, Baratinha, Pacotão, Galinho de Brasília. Nos "salões": matinês em shoppings (dois ou três e nem todos os dias) e em clubes. Isso é tudo. Ah, tem também um trio elétrico que corta o eixo sul numa animação de Domingão do Faustão.

Nestes dias, o que vimos? O BOPE nas ruas e não era bloco de foliões. Tiros de borracha, spray de pimenta nos olhos, gás lacrimogênio, dança a "creu" e "tropa de elite" para crianças de 0 a 9 anos no clube Vizinhança, spray de espuma na cara, olhos, boca, ouvidos, falta de educação, falta de bom-senso, falta respeito, falta de saber brincar... Ignorância. Muito creu. Creu no seu direito aqui. Creu na sua liberdade ali. Creu na sua cara acolá.


Está visível que a festa profana, a alegria coletiva, cedeu à "massificação do tudo igual" da Era-do-consumo-globalizado-descartável. É só ver os desfiles das escolas de samba na TV. O Rio de Janeiro traz um desfile de penas na cabeça. Tudo igual. Sem animação. Uma "alegria" artificial como corante de pirulito vagabundo. Bem-embalado, sim. Um luxo para enfeitiçar olhos e encobrir a receita barata. Uma competição para gringo ver e governo bancar. Creu. Em São Paulo, um desfile mais animado, mais espontâneo (talvez por não ter chegado ao "alto-nível-técnico" do Rio), mais original. Porém caminhando para o "mais do mesmo". Creu-creu-creu.

No palco da gentalha a onda do tal spray de espuma (que FAZ MAL À SAÚDE, sim). A mera cobertura da preguiça. Eu explico. Pais/mães/responsáveis preguiçosos, que não tinham spray quando eram crianças, e que a cada dia menos pensantes, mais massificados e mais bêbados, "cuidam" de seus filhos comprando brinquedinhos made in china para a meninada de fraldas "aquietar". Creu. Creu.

Pit-babies vestidos de palhacinhos e odaliscas. Creu. Vemos blocos de crianças birrentas, abobalhadas, paradas no meio do salão tendo que administrar: lata de espuma, caixa de estalinho (de festa junina), spray para tingir cabelo etc. Resultado: ninguém brincando! Creu. Mães com máquina fotográfica (registrando o nada), adultos provocando crianças com espuma para elas correrem na melhor disputa "quem sacanea mais e melhor", creu, creu, creu, outras várias chorando com olhos ardendo, estalinho no pé entre as serpentinas, sustos, apreensão. Uma verdadeira guerra armada. Talvez, por isso tudo, a seleção do DJ esteja de fato adequada com o funk adulto e as outras musiquinhas de quinta. Creu. Inadequada era eu, já sei. Creu.

Enquanto isso, se alguém reclama ouve "oh, minha filha os incomodados que saiam, pois não é PROIBIDO spray aqui". Creeeeeeeeeeeeeu. Melhor nem tentar argumentar com a ignorância. Melhor voltar à ditadura. Cre-creu. Por isso burro merece cabresto. Creeeeu. Liberdade não é para todos. Creu. Saber o que o seu direito termina no mesmo ponto em que começa o direito alheio exige bom-senso, boa-vontade e sabedoria. Creu. Creu. Creu. Saber que um lugar de crianças e para crianças deveria ser saudável, motivado, inocente, não é para todos. Afinal, creu, se coloca criança na pré-escola para aprender inglês, creu, e informática, creu, o que se esperar do carnaval infantil? Guerra! Cre-creu.

Os adultos sentados entregam aos filhos as armas que os ocupem por mais tempo. Creu. O dinheiro vai para o ralo feito espuma. Creu. A alegria de hoje dura como espuma. Creu. A satisfação dos pequenos se embala em spray volátil. Creu. Criança feliz? Creu? Adulto feliz? Creu? Chinês feliz? Creu? Camelô feliz? Creu? Sim, tanto quanto um estalinho perdido sob a havaina ou salto alto mesmo (tinham muitos por ai). creu. creu. creu. creu.

Enquanto isso, o BOPE atira na multidão ao cair da tarde para "liberar a rua" de uma entrequada comercial, fechada, em plena segunda-feira de carnaval, numa cidade deserta que não precisa dessa via para nada. Tiram o carnaval da rua à força. "Estamos cumprindo ordens e era para liberar a pista as oito horas". Ahn? É, melhor voltar à ditadura. Bom-senso pra quê? Creu.

O carnaval em Brasília não tem tradição. Aliás, já tem. É uma porcaria! Creuuuuuuuu. Pelo resto do país, parece que também seja. Novamente aliás, a vida nos tempos atuais está um tanto "made in china, aspartame e colorantes artificiais". Pessoas repetidas, engarrafadas, embaladas com papel pardo. Acho que nunca se vendeu tanta bebida para disfarçar a insensatez da realidade em que vivemos. Acho que nunca se vendeu tanta espuma para mascarar a infelicidade e a pressão nas quais as crianças vivem. É um carnaval de tropas. De creu.

Carnaval já foi interessante. Para mim, o terceiro milênio traz um carnaval-lixo. Fedido. Raso. Baixo-astral. Ordinário demais. Ouvir em Brasília "axé" nas ruas? Não faz sentido. Massificar. Massificar. Massificar. Tornar tudo o mesmo. Não faz sentido. Ou melhor, faz o sentido do século XXI. O saldo? Com mais creu, latas espalhadas no chão para quebrar pernas, tampas de spray camufladas entre confetes e serpentinas de papel para dar tombos, cabelos tingidos num mal gosto-adulto-frustrado. E, ainda, madrinha-mirim-com-bunda-de-fora rebolando para a bateria da Mocidade Alegre "levantar", no melhor estilo "pedofilia já". Ah, a escola vencedora de São Paulo, a Vai-vai, falou de educação sem levar um livro à avenida. Ler pra quê, se uma letra só tem creu? Cra-cre-cri-cro-cru. Creu.


É a dança do creu, mané. É creu. É creu nelas. É creu nelas...




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2 comentários:

Anônimo disse...

Brincar carnaval, amiga? Parece até coisa de nerd. Brincar virou coisa de nerd faz tempo. Criança normal passa horas e horas guerreando com seus games modernos. Chutes, socos, pontapés, tapas na cara. Assistem BBB e acham a coisa mais legal do mundo. Quando jovens se mandam para sua segunda life na internet serem quem nunca foram sei lá por qual vez. E quando adultos o funk vira uma expressão cultural. Vão pra faculdade, se formam e não sabem o que fizeram nos ultimos 4 anos. Diplomados, brincam com a cara do professor, e de todos que lhes são inferiores. E tudo bem, porque os outros adultos, superiores, fazem o emsmo com ele, e se eles podem, todos podem, e tudo fica certo no final. Vem uma escola de samba falando sobre a música, um dos instrumentos para a educação, mas foda-se a educação. Livros, leitura, política? Na avenida? Pra quê? Tá, bonito o trabalho na favela, realmente comovente, até aí isso ser uma critica à educação? Me poupem. Os livros não chegaram à avenida de um país de analfabetos. Gente que daqui pra frente vai saber ler paritura musical, mas não vai entender uma frase sequer da primeira pégina do jornal. Ah é, eles são a primeira página do jornal. Educação... crítica à educação? Sejam honestos. Contaram apenas um porjeto musical, em apoio à educação, que se manteve estanque, insípida, volátil como sempre. Creu.

\o/ disse...

creu.