16 fevereiro, 2008

Os textos que não fiz

Hoje eu tinha alguns temas para escrever. É que o meu senso crítico não me deixa dormir. No paradoxo do comichão de falar sobre o que penso, eu me adio, fico com sono e querendo tirar o sonso da sonsice. Estrepo-me! Então, por hoje resolvi não dizer.

Hoje eu falaria sobre o mito da caverna de Platão ao século XXI e diria que o senso crítico é inato, que escola não serve para nada. Tentar tirar da ignorância o outro é bobagem e perda de tempo.

Hoje eu diria sobre o caso Timothy da UnB e seu apartamento de luxo, cobertura, não para criticar e sim para apoiar e acabar com essa mania burra de brasileiro com síndrome de pobreza. Tudo que é público tem que ser uma merda? Negativamente, eu argumentaria.


Hoje eu escreveria sobre o dever de casa da minha filha que pede para ela citar quais são os meios de notícia que ela utiliza aos 6 anos de idade, para mostrar o quanto imbecil está nossa sociedade, acreditando que criança que vê a Globo e lê a Veja é bem-informada ou faz a diferença.

Hoje eu faria um abaixo-assinado contra a operadora a cabo Mais TV e todos os usuários imbecis que, ao escolherem "ser mais um", decidiram acabar com a transmissão do canal brasileiro TV Ratimbum e colocar em seu lugar mais enlatados americanos e desenhos violentos, ruidosos e chatos, como o Jetix, retrato da suprema alienação.


Hoje eu contaria com mais detalhes às minhas amigas solteiras desesperadas, na fase dos trinta, que a carência nessa fase é normal e achar que filho é solução é hormonal.


Hoje eu publicaria sobre a "utopia da aceitação das diferenças", pois quem pretende mudar o mundo é sempre mégalo-ego-cêntrico-maníaco e quer um lugar que lhe caiba, assim como ele acha certo, melhor, correto, do tipo "igual eu sou e penso". Mudar o outro para ser como eu quero! Diferenças? Ao escambau! Afinal, eu sei melhor o que é um lugar melhor PARA TODOS.


Hoje eu destacaria o dilema de ensinar valores de honestidade e ética a uma criança, pois isso pode inviabilizar a sobrevivência dela amanhã (e por longo tempo, tipo eternamente).


Hoje eu confessaria que não sirvo para este mundo na mesma medida em que ele não me serve.


Hoje eu me calaria diante de tanta coisa a falar, simplesmente porque não adianta porcaria alguma e minha coroa já foi encomendada.

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