13 fevereiro, 2008

A insensatez de viver - da menarca à menopausa



Foto-arte e texto de Solange Pereira Pinto

Entre um pedaço de bolo e outro brigadeiro, a adolescência é uma fase de escolhas insensatas (somente ela?). Estava lembrando dos namoricos, rolinhos e paixonites agudas. Eu, minhas amigas, nossos amigos, em geral, concretizavámos a "Quadrilha" do Drummond. No estilo comum: despreza-se quem gosta de você e apaixona-se por quem não lhe retribui. Sai-se da juventude (será?) e na maturidade podemos rever o passado como quem folheia um livro. Ou melhor, para quem tem hábito de fotografia, rever as fotos.

Lá está o menino cheio de espinhas no rosto, caçoado pela turma do prédio. Quieto. Bondoso. Gentil. Mas com "pus na cara". Do outro lado a menina magrela, dentuça, sacaneada pela geral. Inteligente. Tímida. Solidária. Mas com ossos grandes demais. Eles se olham. Ele quer namorá-la. Mas ela quer namorar o menino-bonito-olhos-verdes da turma. O menino-verde quer namorar a garota-morena-de-sardinha-no-rosto. Ela também quer.

Por trás de espinhas, dentões, óculos-fundo-de-garrafa, gordurinhas, vesguice, orelhas-de-abano, pernas tortas, altura a mais, altura a menos, branquelice e negritude, estão seres humanos carentes, indecisos e insensatos, esfomeados de vida, com hormônios “apaixonados”.

Ao que parece o tal bom-senso para bem se viver não vem no DNA. Aprender as regrinhas do "esbarrar-se em sociedade" é custoso. A diplomacia, a hipocrisia, a conveniência são substantivos necessários, porém difíceis de juntar a alguns princípios e valores (pelo menos para uns).

Do outro lado da praça, a menina de tranças e aparelho escreve um bilhete aceitando o namoro. Seria seu primeiro beijo. Rapidamente, Léo atravessa a pista. Estava de mãos dadas com a loirinha da rua abaixo. Os tiquinhos de papel são jogados na lata de lixo do parque. Ela chora de amor pela primeira vez. Não, não. Sarinha leva um fora e fica com muita raiva. Rasga o papel com mágoa. As lágrimas vêm do ódio da rejeição. Assim será por muito tempo.

Todos crescem. As árvores da pracinha fazem mais sombra. A última página do álbum mostra o casamento da Marcinha com Tiago. Eram vizinhos. O menino espinhento virou juiz e é casado com uma loirona gostosa, que não chegou a ver as espinhas em seu rosto (certas marcas se tornam charme). O garoto de olhos verde se tornou viciado em cocaína. A menina de sardas no rosto, guardete no subúrbio, está no terceiro casamento. A magrela engordou, continua dentuça e inteligente. Dizem que, atualmente, ela gasta horas a escrever estórias sobre o quanto viver pode ser insensato. Não se casou no papel e certos substantivos... deixa prá lá.



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Carlos Drummond escreveu:

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.


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QUADRILHA (C.D.A)

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

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3 comentários:

Fernanda disse...

magrela, meu mundo de adolescente gira... a magrela e dentuça aqui se apaixonou pelo garoto da quadrilha, que tinha olhos pra bonitinha do bairro... mas a magrela dentuça aqui, nao desistiu, provocou o destino e beijou o garoto 3 anos depois, aos 18, depois aos 24, e depois aos 30 quando a coisa virou coisa de verdade... rsrsrsrs ... beijos amiga

Anônimo disse...

Eu adorei o blog! E que texto! Maravilhoso! É tão bom identificar com esses textos! Passa lah no meu blog depois! Beijoos!

Anônimo disse...

que bom luz, mas qual é o seu blog? bjs