23 janeiro, 2008

Uma falência que comove




Há três dias ele me dizia:
- olha bem, ele não está bem...
Hum. E daí? o que eu entendo disso para achar que está ou não está?
Ele repetia:
- amor, acho que ele morreu. Veja só a cara grudada na superfície.
E, eu, bestamente, pensava "respirar na superfície?".
Ele insistia, no terceiro dia:
- acho que devemos dar uma limpada, ele não tá legal...
Fiquei pensando sobre seguro de vida, sobre plano de saúde, respiração boca-a-boca, primeiros socorros e... verdadeiramente chorei quando me dei conta que o peixinho de minha filhinha de seis anos havia partido.
Ela está em férias há duas semanas. Curtindo sol. Areia. Mar. Vermelhidão. Conchinhas. E todas as noite me ela lindinha liga:
- Mamãe, como está o peixinho? Está dando comida a ele? (pois eu disse que o peixe era dela que eu não cuidaria dele, com ela por perto e tal e coisa, essas coisas que mãe diz para dar responsabilidades para filha - sei lá pra quê, de ve ser para tarnsferir culpas! - porque nossa mãe nos deu e o mundo é cruel para a porra).
- Sim, filha, mamãe deu comidinha e conversou com ele (será?)
- Mãeeeeeeeeeeeeeê como está o bibi? (o ursinho com cheiro gostoso de baba de filha que só filha e mãe adoram).
- ah, filha, o bibi tá lindo! Falo com ele todos os dias!
- Sabe, mamãe, dadá (apelido dela) está adorando as férias. A praia.
- Que bom filha, mamis tá no trabalho! divirta-se.



Ai. O peixinho morreu. Poderia ser besteira. Mas a minha filha o desejou desde os três anos de idade e só o teve aos seis anos quando o bom velhinho (papai noel) lhe trouxe o presente. E, agora, aqui está ele morto. Sem respirar sob as águas. Sem movimento. Sem guelras flutuantes. Que medo. Que pena. Que solidão. E, pior, que IDENTIDADE. Lá estava eu morta feito um peixe solitário em um aquário pequeno e minha "dona" a brincar nas férias. E, isso está certo. Eu sou peixe, ela é criança, ela é gente.



O pior de tudo isso foi ter assistido antes da morte do peixe o filme "Meu nome não é Johnny – a viagem real de um filho da burguesia à elite do tráfico". Logo eu que vi limbo. Eu chorei no filme. Eu sofri a morte do peixe. E falei com Fernanda que se sentia mal porque um carinha ficante dela esteve na Hebe Camargo e ela foi ligeiramente cobrada por isso. Eu encerrei a cena. Encerrei o vidro. Encerrei o post. E fui para o word porque eu desesperadamente preciso escrever. O meu nome não Jonny e o Tráfico de elite poderia ter me matado, ou não?

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