09 janeiro, 2008

Antes tarde do que nunca - Entrevista com Mônica


Antes tarde do que nunca ou nunca antes do que morta?
por Solange Pereira Pinto

As mulheres estão em crise? Ficam em dúvida entre carreira e maternidade? Entre casar e se solteira? Sim. Mas ao que parece a mídia ainda nos empurra para crer no SUCESSO. E o que o comporia? Será que uma mulher gorda pode ser feliz nos dias de hoje? Uma mulher feia pode ter sucesso com os homens?

Hoje, mais do que nunca, conceitos de beleza, magreza, riqueza, realização profissional embalam os sonhos infantis, juvenis etc. A sociedade oprime com firmeza berrando: seja bonito, rico, inteligente e bem-sucedido.

Atrás deste pacote de ofertas impossíveis corremos todos os dias, derrubando valores, somatizando frustrações, entupindo consultórios médicos, alimentando a indústria farmacêutica, implorando aumento de cheque especial para o gerente, pedindo empréstimo para trocar de carro, puxando um saco aqui outro ali para aumentar a "networking".

Até quando nos submeteremos e a qual preço ainda não se sabe. Nova era virá e nossos descendentes mais distantes dirão: "houve uma época de pessoas esquisistas que ficavam em dúvida entre casar, ter filhos, trabalhar, comer, malhar. Tempos estranhos aqueles...".

Leia a seguir partes que selecionei da entrevista da Marie Claire com a atriz Mônica Martelli, protagonista da comédia "Os homens são de Marte e é para lá que eu vou", com o título Antes tarde do que nunca. Será?


Link para a entrevista na íntegra: Marie Claire entrevistou neste mês Mônica Martelli
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Antes tarde do que nunca

Por Milly Lacombe. Foto: Nana Moraes





Mônica Martelli estava perdida, desestimulada e deprimida. Sem trabalho, sem um grande amor, semperspectivas e prestes a fazer 40 anos, parecia a protagonista de uma louca tragicomédia de fracassos. Então, escreveu um monólogo e se atirou em empreitada solo. Agora, prepara-se para abraçar o estrelato.


É preciso perder o medo de se expor, de se debochar. O sucesso vem nessa hora'
Fama? Poder? Dinheiro? O que você quer da vida? Para o escritor suíço Alain de Botton, a única resposta possível é esta: amor. Porque, ao sairmos em busca de fama, dinheiro e poder, tudo o que buscamos, na verdade, é receber amor em doses proporcionais ao status elevado. Nessa linha de raciocínio, a jornada da atriz carioca Mônica Martelli poderia facilmente render um livro de auto-ajuda para quarentões frustrados.

Rotulada informalmente por amigos e familiares como 'a fracassada', Mônica só conseguiu preencher as exigências sociais de uma vencedora à beira dos 40. Depois de muitas derrotas, rejeições, falta de grana, fases de dúvidas e melancolia, juntou os caquinhos e resolveu protagonizar a própria vida.

Assim, aos 37, largou tudo -que não era muito- e sentou em sua quitinete em Ipanema para escrever um monólogo. Passava dez horas, todos os dias, digitando no computador, ainda sem saber exatamente o que fazer com o material. Decidiu então dar a cara para bater: alugou uma pequena sala de teatro no Rio, arrecadou um dinheirinho com familiares, chamou amigos para ajudar na produção e, em 2005, estreou 'Os Homens São de Marte... e é para Lá que Eu Vou', monólogo divertido que narra as aventuras amorosas e sexuais de uma balzaquiana à procura do grande amor.

O resto é história. Uma história que a atriz, que está no elenco de 'Beleza Pura', a nova novela das sete da Globo, conta aqui em detalhes tragicômicos.

Hoje, aos 39 anos, sua criação ganhou vida própria: vai ser representada em outros países, virar filme, e, depois, talvez, série de TV. Os anos de amargura ficaram para trás e Mônica, que agora tem fama, poder e dinheiro, concorda com Botton. 'Nada disso importa: a redução de tudo é o amor.' Diz isso com a segurança de quem encontrou o seu ao lado do produtor musical Jerry Marques, 50, marido, amigo, parceiro de trabalho e, acima de tudo, cúmplice.

Aqui, ela explica por que os verdadeiros fracassados são aqueles que, com tanto medo de sair derrotados, sequer chegam a tentar.
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"Eu estava ali, mas ninguém via" .

"ou seja, até meus 37 anos, sempre precisei de ajuda financeira da família. Não conseguia me sustentar sozinha".

"No fundo, algo me dizia que ia rolar".

"Era uma frustração atrás da outra e você já não era mais uma iniciante".

"Se você não aconteceu pelo caminho tradicional até os 25, não acontece mais. Está na hora de buscar uma outra saída".

MC E qual foi a chacoalhada que fez você sair desse ciclo?
MM Foram duas. Em 2002, eu estava melancólica, cabisbaixa, nada rolava. Um dia, tocou o telefone e uma voz falou: 'Mônica Martelli? Estou selecionando atrizes bacanas da Globo para fazer uma festa agropecuária. É o seguinte: mulheres bonitas que vão chegar montadas em um cavalo'. E eu: 'Mas não tenho que falar um texto?'. 'Não, não, é só entrar montada.' Amor, aí eu vi que o negócio tinha desandado. Eu era a alegoria no cavalo. Parei e falei: 'Bom, aqui é o fundo do poço. Trinta e cinco anos e minha carreira não decolou. Solteira, perdida, sem ser chamada para nada'. Foi uma época dura demais. A uma certa altura, passei a ter duas opções: ficar melancólica e recalcada, como existem vários profissionais por aí, que gastam o tempo deprimidos e reclamando de quem está fazendo sucesso. Ou outra opção: mudar o foco da minha vida. E nisso minha mãe foi muito importante. Um dia, me vendo triste e desanimada, ela disse: 'Querida, muda a história da tua vida! Pega os seus textos, vai para a praça, sobe num caixote e fala. Eles são teus'. Nessa hora, a ficha caiu! E foi o que fiz. Isso aconteceu em 2002. Eu estreei 'Os Homens São de Marte…' em 2005.

"Via meus amigos se dando bem, com grana, estabilidade, muita gente que veio depois de mim se dando bem, e essa coisa começou a pegar num lugar muito forte".


"Eu escrevia os contos e, lá no fundo, sabia o que queria fazer com eles, mas eu não tinha coragem de dizer nem de mostrar a ninguém. A gente tem medo de se expor, de ser rejeitada, de fracassar, né?"

"Em nossos almoços de família, alguém sempre dizia:'Sabia que abriram concurso no Banco do Brasil?"'


MC Nessa sociedade que mede sucesso por dinheiro arrecadado e propriedades adquiridas, como é ser vista como 'a fracassada' da família por tanto tempo?
MM Eu sempre fui considerada 'a diferente' da casa. Meu pai é comerciante, minha mãe é professora, minha irmã é médica e meu irmão é matemático. Imagina. Todos bem encaminhados e bem-sucedidos muito cedo na vida. E eu, que tinha feito seis meses de Direito, trancado, me mandado para ser babá na Califórnia, voltado e me formado em Jornalismo, querendo viver da arte aos 30 e lá vai. Nos almoços de família, sentia que todo mundo tinha pena mim. Sabe aqueles comentários baixinhos?, 'Meu Deus! A Mônica não aconteceu ainda'. As pessoas me falavam: 'Sabe, tem um jornal em Cabo Frio que está contratando'. Ou: 'Querida, abriram concurso para o Banco do Brasil'.

"O Jerry falou: 'Vamos produzir isso!'. Resgatou meu computador que ficava escondido debaixo da mesa, porque eu não usava para nada, e disse: 'Olha, hoje, quando eu chegar do trabalho, quero ver a primeira história digitada'. Eu tinha encontrado um homem para produzir a minha vida, você tá entendendo? Ele me organizou. Isso é importantérrimo. Passei oito meses escrevendo durante dez horas por dia".

"Então tem isso também. Tem gente que não tem olhos pra gente. Temos que ir atrás de quem tem. Essa mulher é uma puta diretora, mas ela não me viu"

"Marquei a data da estréia: abril de 2005. Me dei um ano. Zero de dinheiro. Saí pedindo. Minha mãe deu 4 mil, meu pai, 9, o Jerry, 2... juntei 18 mil. O negócio é marcar a estréia".

"Pedi demissão, fiquei sem ganhar nada. E eu e o Jerry morando num apartamentinho de quarto e sala, ele me bancando".


MC Por que você acha que a peça faz tanto sucesso?
MM Estamos vivendo soterrados em mentiras e hipocrisias. E a peça é muito erdadeira, e simples demais. Verdade e simplicidade estão em falta. Então, se alguém joga a verdade na sua cara, vira um sucesso.

"Está na hora de sacar que nós, mulheres modernas, queremos, sim, um grande amor"


MC O seu texto também permite uma leitura careta, machista e antifeminista. Essa coisa de procurar um homem desesperadamente, de não conseguir ser feliz sozinha, por exemplo.

"Essa mulher é independente, ganha sua grana, dá pra quem quer, é livre para ir e vir e tomar decisões, e quer desesperadamente casar. Talvez seja hora de a gente sacar que, depois de todas as conquistas, de tanta luta, de tanta revolução, nós, mulheres, queremos, sim, um grande amor. Admitir isso, mesmo que não consigamos chegar lá, não é vergonha alguma. É o que o Jerry me falou: tentar e não conseguir não constitui fracasso. Fracasso é não tentar'.

MM Sua mãe ainda precisa ajudar financeiramente?
MM [Risos] Não mais. Acho que estou ficando rica.

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