27 julho, 2007

Até que enfim

Ainda não entendo o motivo de tanto drama e comoção por causa da queda do avião da TAM, da GOL, o caso Renan, Gautama, a renúncia do corrupto Roriz, as vaias para o “chateado” Lula, seca no sertão, a fuga dos atletas cubanos, o mensalão, o Medina e os caça-níqueis, vampiros da Saúde, e por aí segue.

Se os políticos estão falando asneiras, se o tráfico está incontrolável, se o apagão aéreo cria transtornos e tal e coisa, o fato é que vivemos no Brasil. Um país de Língua Portuguesa com uma gramática praticamente insuportável e complexa, cheia de exceções, com palavras de difícil compreensão, para uma população com a maioria de miseráveis, analfabetos e sobreviventes.

Todo país passa por problemas. Por que o nosso seria diferente? Comumente há mortes no Iraque, terremoto no Japão, furacão nos EUA, guerra civil na África...

No Brasil não podia ser diferente. Há a mortalidade por seca, por fome, por trânsito, por chacinas, por armas... O interessante é quando a classe média é afetada porque jovens “bem nascidos” agridem mulheres em pontos de ônibus, aviões caem com deputados e “gente do bem”, o custo de vida aumenta, o desemprego atinge o médio. Se não fosse assim, continuaríamos paralisados.

O filme Hotel Ruanda retrata bem o comportamento humano: “se não chega algo até você não há ação”. Vemos as desgraças na TV e continuamos nosso jantar durante o plim-plim global. Somos movidos quando a catástrofe bate à nossa porta. Quando sentimos de perto a perda, o medo.

Aplaudo o governo Lula que tem conseguido manter a mídia (e o povo) atualizada quanto aos escândalos, o desgoverno, a visibilidade da podridão brasileira, da ineficiência, do amadorismo.

É isso que somos: amadores buscando imitar americanos e europeus. Acredito que em primeiro lugar deveríamos “abrasileirar” de uma vez por todas o bendito Português. Levá-lo para mais perto dos “nós vai”, “nós foi”, “dois pão”, “pobrema”, “catiguria”, “descer pra baixo”.

Temos que assumir nossa identidade. Li um americano fazendo piada no Brasil dizendo que quem fala só uma língua é americano. E, nós aqui tentando ser poliglotas sem saber a língua mãe. O povo do “uei ofi laife” não sabe nada sobre o Brasil, África ou qualquer país de terceira “catiguria”.

Claro que os “oprimidos” conhecem os opressores. Óbvio que quem apanha lembra e quem bate esquece. Mas, até quando viveremos nessa? O vôo da Gol não teve repercussão internacional, pois bateu numa aeronave pilotada por americanos.

Faz tempo que estudiosos, antropólogos, sociólogos (exceto o FHC), tentam falar sobre “identidade nacional”. Acho que finalmente chegamos até ela. Somos um país de Lulas, com vasta costa marítima, tropical, com lugares escaldantes, abaixo do equador, com história escravagista, feudal. Essa é cultura brasileira. Só não entendo a causa de um hino nacional tão inatingível e de uma língua tão inacessível para um povo tão cordial, noveleiro e carnavalesco como nós. Nosso vocabulário não precisa ser rico, as palavras principais praticamente conhecemos: corrupção, preconceito, exclusão e desigualdade social. Né, brother?

Com todo respeito aos que sofrem as catástrofes que acometem o país nos últimos tempos, até que enfim “parece” que a “bela adormecida” está por despertar. “Brasil, um sonho intenso, um raio vívido De amor e de esperança à terra desce... Deitado eternamente em berço esplêndido Ao som do mar, e à luz do céu profundo, Fulguras, ó Brasil, florão da América”...

Até quando?

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