03 junho, 2007

Domingo na Torre - por Solange Pereira Pinto

Das clausura do apartamento resolvemos tomar ares frescos. Passava das 16h, os restaurantes fechados na Capital Federal. Nós, mortais, com fome. Restava arriscar as comidas para lá de oleosas da feira.




Em companhia às centenas de anônimos, após churros intragávei, pipocas sem graça e pastéis mais ou menos, subimos até o mirante da Torre de TV, um dos cartões postais de Brasília.
O pôr-do-sol brindava o finzinho da tarde domingueira. Meus sonhos deslizavam sobre seus raios até a grande bola amarela. Eu pedi à Natureza que os esforços não sejam vão.



A vida não é uma reta. A natureza é movimento. É angulosa. O sol escorre pelo horizonte oblíquo. Os obstáculos não impedem a beleza da paisagem. Ao contrário, a redefinem. O céu se divide em tons. As nuvens compõem o espetáculo. Certifico-me dos ciclos. Do tempo. Da passagem. Pela lente da máquina digital espreito que os raios, abaixo da linha do plano de fundo, são mais fortes, carmim-de-brasa. Percebo que o astro rei é o mesmo. Meu olhar não mais.


Projetada por Lúcio Costa, para a transmissão sinais de rádio e TV com boa qualidade, foi construída esta torre, com 224 metros de altura em aço. A Feira Hippie (como prefiro chamar) ou Feira da Torre (como os turistas chamam) sempre me trouxe magia. Ver a coragem daqueles artesãos que madrugam seus fins de semana para vender sua capacidade criativa. Cada barraca contém horas de esforços, de trabalho manual, de energia inventiva. Cada barraca tem perseverança.



Afasto-me e sento na borda da inativada fonte luminosa, aquela que tantas vezes visitei quando criança. Contra a luz, a torre mostra sua silhueta afilada. A ponta que toca o céu amarelo me conduz olhar para cima. Páro por uns minutos e vejo surgir a estrela brilhante (Vênus). O universo acima de mim. O movimento das nuvens faz a torre "balançar". Meu pensamento pega carona no vento. Sou lançada no próximo ciclo. A metade do ano deixará para trás a poeira, a sombra. O segundo semestre virá novo, reciclado. Com alegria no peito e brilho nos olhos. Invertendo a ótica. Como a terra que gira nos faz pensar que é o sol que se põe...



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