15 abril, 2007

Trilhas em interseção


Não queria esvaziar o peito das emoções para escrever. Depoimentos longos, em geral, são enfadonhos.
Quando entro muito em mim, quero sair. Desaguar. Sem retornar à casa, lugar pretenso do acolhimento.
Quero ir para a rua, para o movimento, para a noite das almas perambulantes. Ir.
Fugir decerto da angústia que me toma para dizer. Escoar. Enxergar o que não se vê para olhar o que nubla. Não sou pássaro de cercas, tampouco de gaiola. Canto bonito na liberdade. Não sou rio margeado. Sou enchente. Sou também noite tranqüila, estrelada, com lua cheia. Jamais minguante. Permito-me ser nova ou crescente. Sou feita de brisa e tempestade, conforme os acordes do peito. Sou solidão e multidão. Mas ilha não sou. Prefiro continente, planeta, universo.
Conjugo os verbos na primeira pessoa da singular. Porém, me encanto ainda mais ao decliná-los em todos os pronomes. Sou visão e cegueira, variando de acordo com a dor. A minha. A sua. a nossa. Sou palco e protagonista. Posso sustentar histórias alheias ou representar as minhas. Sou anjo e diabo, na medida em que necessite alterar a "ordem". Sou lágrimas e sorrisos, em cada partida de lucidez ou loucura.
No fim das contas, sou mesmo interseção das dualidades que habitam em mim. Caminho pelas trilhas que me levam a quem fui para voltar a ser o que serei. Sou túnel, avenida ou ruela. Só não sei parar de caminhar...
Soll, sexta-feira 13 de abril de 2007.

Um comentário:

Anônimo disse...

oi soll! como estão as coisas por aí? me conta, saudade de vc... bjooo