23 março, 2007

As pessoas surtam

Hoje recebi um e-mail “desaforado” de uma pessoa que julgava ter “bom-senso”. Ah, a tal relatividade! O que é bom-senso? De repente você encontra alguém na vida virtual e admira um texto, um artigo, uma postura. Em outras vezes acontece exatamente o contrário, você percebe que aquela pessoa não tem “nada importante a lhe dizer”. Até aí tudo bem. Não somos obrigados a concordar com tudo que nos deparamos no grande palco que é a internet. Todos com direito a expressar o que bem quiserem.

Depois da internet, acredito, as relações tomaram outras dimensões. Pessoas com dificuldades a, b ou c se se sentiram capazes de externar suas problemáticas. Outras continuaram a ser quem eram da mesma forma. Por outro lado, há quem se transfigure em múltiplos personagens, e por aí vai...

No mundo virtual se pode ser homem, mulher, criança, adulto, famoso, anônimo, a personalidade que se deseje apresentar. Não há um “checar” instantâneo como nas relações presenciais.

Eu já conheci e fiz grande amigos pela net. E, posso dizer que admiro a capacidade das pessoas que têm o “dom”, a predisposição, de formar vínculos, de interagir, de comunicar. Afinal, somos seres humanos sociáveis e comunicativos, produtores de linguagem complexa, o que nos diferencia das outras espécies animais.

No entanto, nem todos os indivíduos possuem o talento das relações humanas. Existem fobias, patologias, limitações, e uma série de dificuldades que impede uma pessoa de estabelecer interatividade e troca com seres da mesma espécie. Nem todos são iguais. É algo a ser respeitado.

Existem eremitas que resolvem viver longe da “civilização”. Há quem prefira o isolamento. Mas, em tese, precisamos conviver com o outro para sobreviver na condição de humanos, seres gregários.

O que me chama à atenção é a projeção. Segundo a psicanálise, é aquele mecanismo de defesa que consiste em atribuir a terceiros ou ao mundo que o rodeia os erros ou desejos pessoais. Aquilo que “inconscientemente” fazemos, atribuindo ao outro uma dificuldade nossa.

Vejo que a intolerância é crescente. O simples fato de receber e-mails “desagradáveis” pode tirar uma pessoa de sua compostura. Receber um panfleto pode fazer alguém ter uma atitude exacerbada. Levar uma fechada no trânsito pode terminar em tiro. Pergunto-me: cadê a racionalidade e o equilíbrio?

Talvez sejamos, na verdade, puros animais instintivos como são as antas, vacas, cavalos e rinocerontes etc. As formigas e as abelhas ainda são cooperativas. Mas, nós, mortais humanos ainda não descobrimos que certas posturas podem nos aniquilar. Há quem sobreviva dando coices, mas também poderá levar uma chifrada. A vida é incerta e a internet nos possibilita um lugar plural com animais de todas as espécies. As pessoas surtam!


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Abaixo o e-mail que eu recebi e toda minha lista de contatos teve a oportunidade de ler. O detalhe é que conversei com a autora da mensagem algumas vezes, inclusive por MSN. Uma "pessoa" que se dizia escritora e mandou esse texto em resposta à divulgação que fiz de um lançamento de livro.
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Cara Solange,

Creio que você seja a pessoa que um dia elogiou um texto de minha autoria que postei no "Recanto das Letras". Nessa ocasião, você obteve meu endereço eletrônico devido ao envio que fiz, a seu pedido, do texto em questão. Desde lá, você vem me enviando sistematicamente convites/propagandas de eventos no Brazil.
Por nunca termos conversado antes, prática importante para que duas pessoas venham a trocar emails, você não chegou a saber que moro na américa do norte, e que reservo esse meu endereço eletrônico para asuntos pessoais que façam parte do meu universo; universo que você desconhece. Sou da opinião de que o envio de emails pessoa > grupo deva ser feito com o consentimento de cada componente da lista de destinatários. Tenho fé, também, de que as trocas de emails pessoa <> pessoa devam ser preservadas e até fomentadas, para que a comunicação virtual que, a priori, tinha tudo para sustentar o mundo sensível de todos nós, não se torne canal de divulgação pessoal, propaganda política, comercial, religiosa, correntes etc. Acho tão desagradável receber correntes de boa sorte, quanto receber convites de uma pessoa que não quis trocar comigo mais de vinte palavras, para que se achasse no direito de encher minha caixa postal com mensagens que estão fora do meu universo. É mais do que válido mandarmos convites de eventos de amigos nossos, para nossos amigos, mas não sou sua amiga Solange, nada sabemos uma da outra, e, se um dia eu tivesse que te mandar um email seria primeiramente para saber um pouco de você e te falar um pouco de mim. Discordo desse expediente de se obter o endereço eletrônico de uma pessoa usando um caminho, para depois usar um caminho totalmente diverso para chegar a esse mesmo endereço. Hoje, quando nos cadastramos em algum site, respondemos um questionário onde informamos se queremos receber divulgações e também a natureza delas. Solange, você não me consultou a respeito. Não gostei do que aconteceu, dei um prazo, acreditando que os emails parariam de chegar. Mas isso não ocorreu. Sendo assim, por favor, visto que não houve de sua parte interesse algum em me conhecer, não gostaria de fazer parte de sua lista de contatos, uma vez que, nada que você envia faz parte do meu interesse.

Creio também, que não seja uma boa prática expor os endereços de sua lista de amigos, nos emails que você envia. Seria mais justo que você preservasse a todos usando a cópia oculta.

Desde já agradeço sua atenção, certa de sua compreensão

Helena

4 comentários:

Anônimo disse...

Acho que preciso urgente de um treinamento para não me surpreender com mais nada. O que acabei de ler me deixou pra lá de... sei lá o que. Nem sei o que dizer. Pessoas assim não merecem a minha atenção. Cruzes!!!

\o/ disse...

as pessoas surtam!!!!

Anônimo disse...

Vixi!

Anônimo disse...

todo dia eu levo um esporro duma no email, já tou acostumado. Tem uma até que me ameaçou processar