12 dezembro, 2006

Ficção ou realidade?



Por Solange Pereira Pinto

Há muito queria escrever sobre o que distingue a ficção da realidade, se é que isso é possível. Vamos ao esboço dessa idéia.


Quem é escritor sabe que muitas vezes é tênue o limite que leva o leitor a "acreditar" que as cenas, ou os acontecimentos narrados no texto, foram totalmente inventados ou baseados em experiências reais.

Posso dizer, por mim, que vários dos meus textos são totalmente inventados, embora pareçam vividos. Acredito que essa é a arte de escrever, trazer uma verossimilhança que transporte o leitor à “ilusão da verdade”. É aí que ele se identifica e se apropria da história, reflete e transforma.

Mas, quando um texto parece absurdo e é relato “ficcionado” de algo experimentado por alguém? O escritor pode por firulas, pode acrescentar nuances, pode apimentar, porém a “trama”, o enredo precisa de algo, digamos, “lógico”.

No entanto, a vida da atualidade está recheada de “verdades inacreditáveis”. Distinguir ficção de realidade é cada vez mais difícil. Quantas vezes já ouvi histórias de amigos, conhecidos, que jamais supus serem possíveis.

Escrever é um exercício de criatividade, imaginação, e, mais do que isso, coragem. Confundir o protagonista de uma obra, o narrador, ou outros personagens, com o indivíduo que escreve (o autor) é um tanto comum. Até mesmo porque várias obras têm algo de “autobiográfico” (outras não).

O repertório que se utiliza para a escrita não necessariamente vem da própria vida do escritor, porém de alguma forma esta ligado a algo que ele acha “possível” existir. Os temas vêm dos mais diversos olhares. De releituras. De observações. De experiências (suas ou alheias). De pura imaginação.

Eu, por exemplo, que estou sempre blogando tenho a mania de inventar “fatos”. Exercitar a capacidade de reinvenção da existência. Sonhos? Fantasias? Desejos? Viagens surreais? Memórias? Um pouco de tudo isso e mais. Lembrando Pessoa, “o poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente”.

Por isso, hoje lendo a notícia do “Caso Litvinenko” (que supera a ficção, dizem escritores) fiquei pensando nas inúmeras possibilidades da escrita que podem e devem ir além da realidade, pois viver nos surpreende dia após dia. E, as bizarrices estão a solta.

Veja a nóticia abaixo.
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Por Paul Majendie



LONDRES (Reuters) - A vida supera a ficção. Para os escritores de romances de mistério, o envenenamento por material radioativo do ex-espião russo Alexandre Litvinenko é um caso típico em que a realidade supera a criatividade literária.

Cada novo desdobramento da trama macabra vem dando origem a novas teorias da conspiração, ressuscitando lembranças dos tempos da Guerra Fria e abalando as relações diplomáticas entre Rússia e Grã-Bretanha.

Litvinenko, enterrado na semana passada no mesmo cemitério londrino onde está Karl Marx, acusou antes de morrer o presidente Vladimir Putin pelo envenenamento, o que o Kremlin negou com veemência.

A caça a vestígios de radiação passou por aviões, hotéis e hospitais, de Londres a Moscou, de Roma a Hamburgo.

Frederick Forsyth, um dos escritores de suspense mais famosos do mundo, disse que seus editores jamais acreditariam numa trama dessas. "Acho que meu editor me aconselharia a abandoná-la e preferir alguma coisa mais realista", disse o escritor, que fez fama com "O Dia do Chacal", sobre um plano para assassinar o presidente francês Charles de Gaulle.

"Acho que meu editor me diria que eu estava exagerando e que eu devia dar um tempo. Está ficando muito difícil escrever alguma coisa que não fique superada, por mais bizarra e maluca que seja", disse ele à Reuters.

Fascinado pelo caso Litvinenko, ele afirmou: "É o que sempre aconteceu, e está ficando pior, primeiro dentro da Rússia, e agora, parece, para além de suas fronteiras. Não vimos esse tipo de assassinato por encomenda no exterior há 20 anos".

"Mas por que preferir esse jeito bizarro de executá-lo, deixando toda essa confusão como rastro?", questionou.

John Le Carré, cujos livros como "O Espião que Veio do Frio" evocam o clima da Guerra Fria, evita se envolver no caso. "Decidi resistir às perguntas sobre esse assunto", disse ele à Reuters, respondendo a um pedido de entrevista por email. "Com as provas que temos diante de nós confesso minha total perplexidade e não considero minhas conjecturas mais críveis que as de qualquer outra pessoa".

O soldado britânico que virou escritor Andy McNab, que ficou famoso com o livro de 1993 "Bravo Two Zero", onde narra uma missão fracassada do SAS (Serviço Aéreo Especial) na Guerra do Golfo, disse: "A realidade é sempre mais estranha que a ficção".

Assim como Forsyth, ele acha que não conseguiria vender a história para seus editores. "Tentar explicar essa trama para eles seria um pesadelo", disse McNab. "Todo mundo ficaria confuso".


2 comentários:

Anônimo disse...

Este texto é muito interessante....

\o/ disse...

valeu Dudu! bjs