13 setembro, 2006

Ciúme sob pedra

Imagem e texto por Solange Pereira Pinto




Mais uma página do diário. Particularmente as memórias vieram também com um guardanapo. Um desenho feito em mesa de bar (provavelmente). Uma abreviatura. Duas iniciais. Um sorriso, digamos, indecifrável. Envergonhado? Tímido? Sarcástico? Irônico? Brincalhão?
As páginas me contam que eu estava especialmente feliz naquele dia. Fato nem sempre registrado, pois meus diários se parecem mais com muro de lamentações. Digo, os antigos diários. Faz tempo que não abro um em papel (rssss). Às vezes penso em voltar às canetas. Quem sabe?
Gosto de canetas coloridas, recortes, lápis de todas das pontas. Essas coisas. Sou tarada em papelaria. Maluquice total. Se eu tenho uma compulsão (uma das... rsss) é por novidades de papelarias. Furadores. Colas. Réguas. Papéis de todos os tamanhos. Êta vício!
Mas, hoje me lembrei de ciúme. Navegando na net e na vida, vi o quanto de amor exclusivo e sufocado se deseja nesse mundo. Até cansa. Tem testemunho ciumento em MSN, orkut, telegrama, diário, telefonema, carta anônima, bilhete em pará-brisa, espelho, guardanapo, papel higiênico, saco de pão, porta de banheiro, caderno de faculdade, quebra-sol, talão de cheque, porta de elevador, até em flanela eu já vi. E, porque não dizer, na nova onda: blogs.
O ciumento encontra espaço e cria situações para "gritar" medo, insegurança e raiva. Lá vai ele, na fúria emotiva do ciúme, escolhendo adjetivos, descompondo substantivos, achincalhando pronomes para compor seu texto de "olha só para mim".
Eu confesso. Já senti muito ciúme. Alguns justificados. Outros surtados. A maioria, talvez, invencionice da minha imaturidade. Não vou aqui defender ou atacar o tema. Falta paciência para isso agora.
Noto que quanto mais forte é a queda d'água mais pedras se deslocam. As menores, mais frágeis, são lançadas metros longe. As rochosas, mais robustas, vão perdendo lascas. Por isso, as pedras não podem parar. Ser pedra que espera? Presa? É preciso movimento. É necessário se polir. Seja pela ventania, seja pelo riacho.
E o ciúme? Que fique sob a pedra, bem longe de mim. Estou mais para água e vento. E as pedras vão rolar para o bem. Que atire a primeira pedra... quem nunca sentiu ciúme... Este substantivo quero bem longe do meu dicionário!

2 comentários:

Anônimo disse...

Um livro de crônicas de suas memórias seria tudo de bom!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1

Anônimo disse...

E viva quem tem vida!