22 agosto, 2006

O bilhete





O pai enfiou no bolso da criança um bilhete. Dizendo-lhe: “não perca”. A festa estava animada. Uns subindo em árvores. Outros brincando de pega-pega. Estripulias da garotada. Trinta e cinco anos após. Repete a experiência com o próprio filho. Aniversário do coleguinha da escola com a turma do Menino Maluquinho. Recomenda-lhe: “não perca”. Tarde finda, volta o garoto. Sujo, suado, imundamente feliz. O papel do bolso se foi. O pai sorri aliviado. Melhor do que eu fui. Pensa. Relembra. Naquela manhã de um passado distante ficou imóvel. Limpo. Cuidado. Assistiu à diversão dos outros. Não perdeu o bilhete. Aquele que seu filho lhe fizera agora o favor de sumir.




por Solange Pereira Pinto (22.08.06)

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei muito.