15 julho, 2006

Sou reflexão do começo ao fim (atendendo a pedidos...)


Soren Kierkegaard


“Não conheci a imediatidade; por conseguinte, de um ponto de vista estritamente humano, não vivi. Comecei de imediato pela reflexão; não a adquiri aos poucos com a idade; sou reflexão do começo ao fim. Nos dois períodos da imediatidade (infância e juventude), eu me muni, por necessidade, de um certo sucedâneo com a flexibilidade própria à reflexão e mesmo, ainda mal instruído a respeito da parte que me coubera, sofri a dor de não ser como os outros; teria dado tudo na juventude para sê-lo, ainda que por um momento.

Um espírito pode perfeitamente aceitar não ser como os outros, e é esta, do ponto de vista negativo, a determinação do espírito; mas a infância e a juventude se relacionam às categorias de gênero, de espécie, e é por isso que nessas idades o maior tormento consiste em não ser como os outros ou, como foi meu caso, em começar por um contra-senso singular, no ponto em que alguns acabam em cada geração: a maioria, que conhece na sua vida apenas os momentos da síntese do corpo e da alma, não chega nunca à determinação que é o espírito. Mas, assim, a vida se apresenta para mim agora sob uma outra luz.

Nada me é mais desconhecido e estranho que essa melancólica aspiração à infância e à juventude; agradeço a meu Deus por ter superado esse desejo e sinto crescer minha felicidade a cada dia que envelheço, ainda que apenas a idéia da eternidade me encha de felicidade, pois a temporalidade não é e, jamais será o elemento do espírito, mas em certo sentido seu sofrimento.

Um observador verá também como tudo foi dialeticamente posto em ação: eu tinha um espinho na carne, os talentos do espírito (sobretudo a imaginação e a dialética), uma experiência muito grande de observador, uma educação cristã verdadeiramente rara, e uma atitude especialmente dialética com relação ao cristianismo; tinha aprendido desde a infância a obedecer com uma obediência absoluta; estava munido de uma fé quase temerária em minha capacidade de poder todas as coisas, salvo uma, tornar-me um pássaro livre, ainda que um único dia, ou romper as cadeias da melancolia em que uma outra força me retinha; enfim, eu era para mim mesmo um penitente.

Parece-me agora que uma outra força ocupou-se desde o primeiro momento desse adiamento, semelhante nisso ao pescador dizendo do peixe: deixe-mo-lo, ainda é muito cedo para pescá-lo. E, fato curioso que também remonta a muito longe na minha lembrança, sem que eu possa de modo algum indicar a data ou dizer como sua idéia me veio: constantemente, isto é, a cada dia, eu pedi a Deus que me concedesse o zelo e a paciência necessários para realizar a tarefa que ele me designaria. Foi assim que me tornei autor.” (Escrito em, 1849).


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Está aí amiga, mais um trecho da minha nova paixão. (rsss)
Delicie-se!
Qualquer semelhança é mera coincidência...
Foi assim que me tornei blogueira (rsss)
Beijão!
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3 comentários:

Anônimo disse...

Realmente ....estou me deliciando!
Obrigada querida por compartilhar!
Te adoro...
beijos mil
Cacau

Anônimo disse...

Muito legal, muito legal!

Anônimo disse...

Hi! Just want to say what a nice site. Bye, see you soon.
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